terça-feira, 27 de novembro de 2012


Ola catequistas! Li este texto sobre e espiritualidade do Advento e me encantei: que texto magnífico, que construção mistagógica que nos faz mergulhar no mistério desse tempo litúrgico! Partilho com vocês essa preciosidade escrita pela Pe. Adroaldo Palaoro, sj. Abraços

Um Advento a mais ou uma nova oportunidade?
 “Levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima” (Lc. 21,28)

1º Domingo do Advento
Com a liturgia deste domingo inicia-se o “tempo do Advento” e um novo “ano litúrgico” (Ano C – centrado no evangelista Lucas). Mais uma vez nos disponibilizamos, através da oração e da vivência litúrgica, a viver mais intensamente o Tempo do Advento e alargar nossas vidas para nele caber o mistério do Natal.

Advento nos revela a presença da eternidade no coração do tempo. O Eterno continua vindo, pelos caminhos mais imprevisíveis, iluminando a dura rotina e a sequência do cotidiano. Advento é tempo de espera, de preparação e de chegada. Tempo forte carregado de sentido, que nos faz ter acesso àquilo que é mais humano em nós: o sentido da esperança, a travessia, o encontro com o novo... tempo que nos arranca de nossas rotinas e modos fechados de viver.

A Vinda de Cristo é o grande evento que agita os corações, sacode as inteligências, inquieta as pessoas, move as estruturas... Toda a nossa vida se transforma na história de uma espera e de um encontro surpreendente. Por isso, o Advento deveria ser um tempo para voltar-nos para o interior em meio à agitação, e olhar para dentro de nós mesmos. Aí, no nosso interior, há tanto de eterno. A eternidade dialoga com a gente, fala por dentro. Caminhamos para o “Senhor que vem” à medida que mais nos adentramos ao fundo de nós mesmos e da realidade. Advento nos convida a “contaminar-nos” da realidade; e isso nos humaniza.

Somos “seres de travessia”. O Advento nos convida a não perder de vista nosso horizonte, nossos objetivos, nosso propósito de investir a vida, gratuitamente, naquilo que vale a pena. Cada momento é o “hoje” de Deus; por isso o “fim” está sempre chegando. O Esperado traz uma novidade que envolve e que se revela em cada rosto humano e em cada fragmento de tempo, deste tempo colocado em nossas mãos. Contemplando o “hoje” de Deus, o coração se alarga até o assombro, os braços se abrem para a acolhida, os pés se movem para o encontro, os olhos se aquecem para o reconhecimento.

A liturgia nos propõe, neste começo do Advento, um texto que fala dos “últimos dias”, como um convite a estarmos atentos, numa vigilância esperançosa, para acolher “Aquele que vem”. Este relato pertence ao chamado “gênero apocalíptico” que, para muitos, à primeira vista, pode significar o “fim do mundo” acompanhado de catástrofes que desestabilizam tudo (o céu, a terra e o mar), provocando medo e angústia.

No entanto, a palavra “apocalipse” (literalmente “levantar o véu”) significa “revelação”. Os textos apocalípticos pretendem revelar o sentido profundo (oculto) na história, pessoal e coletiva, e indicar que é Deus quem, a todo instante, dirige os destinos da mesma. Tais textos são uma mensagem de esperança. Lido e rezado em chave libertadora, este texto nos fala do surgimento de um “mundo novo” que nos é dado de presente, depois de sacudir e derrubar o velho mundo.

O “discurso apocalíptico” é uma mensagem de sabedoria que nos desperta e nos faz sair de nossos medos, ansiedades, embotamentos... e experimentar a Plenitude e a Libertação que o Presente contém e é. O decisivo é que Cristo está vindo sempre. Se o encontro com Ele não acontece é porque estamos adormecidos ou com a nossa atenção centrada em outras coisas (“gula, embriaguez, preocupações da vida” – v. 34), apegados ao caduco e ao transitório que não plenifica.

Diante do surgimento de um  novo mundo requer-se “estar despertos” e “levantar a cabeça”; e a pessoa “desperta” é, justamente, aquela que vê a novidade em tudo; quem tem a cabeça erguida vislumbra novos horizontes. Ao contrário, quem permanece adormecido, move-se no terreno da rotina, com o coração atrofiado e a mente embotada pelos vícios e preocupações vazias. Adormecidos, debatemo-nos entre o passado que se foi e o futuro que nunca chega, escravos da ansiedade que nos faz viver fora do presente.

O Advento vem nos dizer que não há outra coisa a fazer senão viver intensamente o momento presente. A plenitude está na consciência do instante presente, onde o “Filho do Homem” se revela. No presente pleno, tudo tem sabor de novidade, a percepção da própria identidade se amplia sem limites, a consciência da comunhão com tudo e com todos se alarga...

Nesta perspectiva, o “discurso apocalíptico” nos alerta que somos destinatários de um chamado para viver despertos em meio às dificuldades e incertezas de nossos tempos. Muitas vezes, como “anciãos encurvados” e com a “cabeça baixa” nos movemos sob o peso do legalismo, das tradições passadas, dos fracassos, marcados pelo desalento e pela desesperança.

Há maneiras de viver que impedem a muitos de caminhar com a cabeça erguida confiando nessa libertação definitiva: acostumados a viver com um coração insensível e endurecido, buscam preencher a vida de bem-estar e falsas seguranças, de costas ao Pai do Céu e aos seus filhos que sofrem na terra. Este estilo de vida os fará cada vez menos humanos.

Advento é o momento de escutar o chamado que Jesus nos faz a todos: “levantai-vos”, animai-vos uns aos outros”, “erguei a cabeça” com confiança. Deus é Salvação e já está em nós. Basta despertar-nos e descobri-Lo. Esta descoberta nos descentra de nós mesmos, nos projeta para o outros, para o infinito e nos identifica com tudo e com todos.

O momento do encontro com “Aquele que vem” nos introduz na soleira de um futuro novo e carregado de esperança, aquela esperança que dá sentido às nossas atividades, liberta o coração da preocupação, expulsa toda ansiedade e impulsiona a buscar o Reino. O fundamento da segurança e da serenidade reside na consciência de estar nas mãos providentes de Deus.

O fiel discípulo de Jesus, descobrindo-se amado e protegido pela ternura providente, se sente sempre a caminho, isto é, pronto a acolher cada fragmento de luz e de vida, que fala da presença e da passagem de Deus. O presente, tecido de partilha, solidariedade, misericórdia, mansidão, reveste o futuro de luz.

A verdadeira segurança cresce no coração e na confiança de sermos protegidos por um Deus que sabe o que precisamos e nos aguarda. É esta a relação fundamental, fecunda e criativa, que possibilita o “êxodo” de nós mesmos e a acolhida do “advento” do Outro e dos outros.

Texto bíblico:  Lc. 21,25-28.34-36

Na oração: “Advento”: o Senhor vem... em sua direção! Ou melhor, já chegou! Basta despertar-se para descobri-Lo e descobrir-se n’Ele. Tome consciência do momento presente, deste único instante, aqui e agora, carregado de Presença e permaneça nele. Deus é Salvação que se dá a todos em cada instante.

Pe. Adroaldo Palaoro sj
Coordenador do Centro de Espiritualidade Inaciana - CEI
Fonte: Regional Leste 2

sexta-feira, 23 de novembro de 2012


Atenção amigos e amigas Catequistas! Postei hoje dois textos bem interessantes para refletirmos e estudarmos: Eucaristia, fonte e ápice da vida cristã, ajudando-nos a pensar a teologia do sacramento da Eucaristia a partir do Concílio Vaticano II, e um texto do Pe Videlson, trabalhando a animação Bíblica na Liturgia, valorizando a Liturgia Palavra na celebração do mistério pascal de Jesus! Boa leitura, boa reflexão


A ANIMAÇÃO BÍBLICA DA LITURGIA

A Constituição Dogmática Dei Verbum, do Concílio Vaticano II (1962-1965), afirma que “a Igreja sempre venerou as divinas Escrituras, da mesma forma como o próprio Corpo do Senhor, já que, principalmente na Sagrada Liturgia, sem cessar toma da mesa tanto da palavra de Deus quanto do Corpo de Cristo o pão da vida, e o distribui aos fieis (DV 21).

Historicamente, porém, constatamos que a reverência em relação à Eucaristia é muito maior. Há um cuidado especial em relação à presença de Jesus no Santíssimo Sacramento que não se verifica quanto à presença de Jesus, a “Palavra que se fez carne”, na Sagrada Escritura. A Bíblia, em geral, não tem um lugar de honra e destaque em nossas igrejas. E, muitas vezes, não se trata a Palavra sagrada com veneração, substituindo o Lecionário por folhetos e livros descartáveis.

Penso que podemos começar a animação bíblica da vida e da pastoral de nossas comunidades cristãs pela liturgia. O Concílio Vaticano II enfatizou a importância da Sagrada Escritura, incluindo em cada celebração sacramental a leitura e explicação da Palavra do Senhor. Precisamos valorizar todas as celebrações litúrgicas e a proclamação da Palavra de Deus que está prevista em cada uma delas: “Cristo está presente pela sua palavra, pois é Ele mesmo que fala quando se leem as Sagradas Escrituras na igreja” (Constituição Sacrosanctum Concilium, n. 7).

Como seria bom que o Ministério da Palavra fosse apreciado e contasse com pessoas devidamente preparadas. Aqui cabe mais uma vez uma comparação com a Eucaristia. Que bom termos ministros extraordinários da comunhão eucarística bem preparados, que aprendem a exercer sua missão com amor e competência. Não seria adequado fazermos o mesmo quanto à proclamação da Palavra na liturgia?

O primeiro passo é preparar a assembléia litúrgica para escutar a Palavra de Salvação que nos é dirigida em cada celebração sacramental. Uma atitude de reverência à voz do Senhor que nos fala se manifesta no silêncio atento: “E Samuel não deixava sem efeito nenhuma das palavras do Senhor” (ver 1Sm 3,19).

Faz-se necessário preparar leitores aptos a anunciar a Palavra de Deus nas celebrações. Como é triste ver pessoas sem a devida preparação ler o texto bíblico sem expressão, sem vida. Onde fica o anúncio da Palavra do Senhor, quando não compreendemos palavra alguma? Ler não é decifrar e juntar letras, palavras e frases! Ler é compreender! Só pode ler bem em público quem entende o que lê. O papa Bento XVI, na exortação apostólica pós-sinodal Verbum Domini, quando trata da proclamação da Palavra e do ministério do leitorado, afirma: “A formação bíblica deve levar os leitores a saberem enquadrar as leituras no seu contexto e a identificarem o centro do anúncio revelado à luz da fé. A formação litúrgica deve comunicar aos leitores uma certa facilidade em perceber o sentido e a estrutura da liturgia da Palavra e os motivos da relação entre a liturgia da Palavra e a liturgia eucarística. A preparação técnica deve tornar os leitores cada vez mais idôneos na arte de lerem em público tanto com a simples voz natural, como com a ajuda dos instrumentos modernos de amplificação sonora” (VD 58). Biblistas, liturgistas e técnicos em comunicação social podem contribuir na preparação de todos os ministros da Palavra para atuar nas diversas celebrações: batismo, eucaristia, matrimônio... Sem esquecer as celebrações da Palavra.

O cuidado com a homilia também foi assunto do Sínodo sobre a Palavra de Deus na Vida e na Missão da Igreja, realizado em outubro de 2008. O papa retomou este assunto na Verbum Domini, n. 59: “pensando na importância da palavra de Deus, surge a necessidade de melhorar a qualidade da homilia; de fato, esta constitui parte integrante da ação litúrgica, cuja função é favorecer uma compreensão e eficácia mais ampla da Palavra de Deus na vida dos fieis. A homilia constitui uma atualização da mensagem da Sagrada Escritura”.

Que o Senhor nos inspire e guie nossos passos, a fim de que tenhamos coragem de realizar a conversão pastoral de que necessitamos para colher os frutos no devido tempo: “... a Liturgia é o cume para o qual tende a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, é a fonte donde emana toda a sua força” (Sacrosanctum Concilium, n. 10).

Pe. Videlson Teles de Meneses
Coordenador da Animação Bíblica da Pastoral da Arquidiocese de Aracaju-SE
 Fonte: Blog Regional Nordeste 3

EUCARISTIA: FONTE E ÁPICE DA VIDA CRISTÃ

A Eucaristia é a fonte (de onde nasce) e o ápice (donde termina): é a expressão sacramental máxima da vida cristã. Os ministérios e serviços eclesiais culminam na celebração do mistério pascal de Jesus Cristo, celebração da vida, célebre momento de ação de graças. Obedientes ao pedido de Jesus, façam isso em memória de mim, a Igreja continua fazendo, em sua memória, até a sua volta gloriosa, o que ele fez na véspera de sua paixão: ao celebrar a Última Ceia com seus apóstolos, durante a refeição pascal, Jesus deu sentido novo e  definitivo à páscoa judaica - a passagem de Jesus ao Pai, por sua Morte e sua Ressurreição, páscoa antecipada na ceia e celebrada na Eucaristia que realiza e antecipa a Páscoa final da Igreja na glória do Reino.

A Eucaristia é sacramento do encontro comunitário e pessoal com Jesus, é comunicação de Deus que deseja reunir seu povo, como discípulos incorporados a Igreja e configurados a Jesus (ritos iniciais); deseja exortar seu povo, ensinando os caminhos da verdade e da justiça (Liturgia da Palavra); deseja partilhar de sua vida, alimentando seu povo com o pão partido e repartido (Liturgia Eucarística); deseja enfim, enviar seu povo em missão para dar testemunho do mistério celebrado no cotidiano (Ritos finais).

Toda essa teologia do sacramento da Eucaristia, inicialmente vivenciada de forma profunda, e iniciática pelas comunidades no primeiro milênio, sofreu um deslocamento de eixo, sendo vivida como prática devocional no segundo milênio, sem compromisso ético, sem uma catequese celebrativa e experiencial, sem enraizamento na realidade do povo. Conforme Frei Areovaldo, em suas diversas reflexões, a centralidade do mistério pascal, o caráter comunitário, a centralidade da Palavra, a simplicidade, a “fração do pão”, a celebração da vida e da comunhão comunitária, foi substituída pela devoção a Eucaristia, pela preocupação doutrinal, essencialista, racional, com cerimônias complexas, em que o povo era passivo e meramente expectador de um rito não entendido, não celebrado e não vivenciado.

O Concílio Vaticano II iniciou uma volta à unidade perdida entre teologia e ação ritual, apontando para mudanças significativas na teologia da eucaristia e convidando-nos a rever nossa maneira de celebrar, pensar e viver a eucaristia: retomando a centralidade do mistério pascal, a celebração da Eucaristia como fonte de espiritualidade, encontro da comunidade celebrante. Destacou na Sacrosanctum Concilium a dimensão fundamental da participação do povo de Deus no mistério celebrado, de forma madura, consciente, ativa e plena : “É desejo ardente na mãe Igreja que todos os fiéis cheguem àquela plena, consciente e ativa participação nas celebrações litúrgicas que a própria natureza da Liturgia exige e que é, por força do Batismo, um direito e um dever do povo cristão, ‘raça escolhida, sacerdócio real, nação santa, povo adquirido’ (1 Ped. 2,9; cfr. 2, 4-5). Na reforma e incremento da sagrada Liturgia, deve dar-se a maior atenção a esta plena e ativa participação de todo o povo” (SC 14).

Ione Buyst, no texto O Sacramento da Eucaristia, raiz e centro da comunidade cristã, destaca entre os elementos mais importantes resgatados e destacados no Concílio Vaticano II, para a teologia do sacramento da Eucaristia estão: a) a inserção da aclamação memorial após a narrativa da ceia na Oração da Aliança: eucaristia é celebração do mistério de nossa fé, o mistério pascal de Jesus Cristo celebrado e vivenciado; b) a ênfase na Oração eucarística ou Oração da aliança como ação de graças: eucaristia é ação de graças ao Pai pela salvação realizada por Cristo, com Cristo e em Cristo, na unidade do Espírito Santo; c) a Epiclese: eucaristia é ação do Espírito Santo na Igreja para recriar a Igreja e o mundo; d) o gesto da fração do pão e comunhão: eucaristia é partilha, comunhão de vida com Deus e entre nós; existe para formar comunidade e organizar o mundo na solidariedade; e) Palavra e eucaristia, um só ato de culto: eucaristia é identificação com Jesus Cristo, compromisso no seguimento, na caminhada perseverante em todas as circunstâncias de nossa vida pessoal e social; f) destaque a assembleia litúrgica, sujeito da ação eucarística: eucaristia é ação comunitária, eclesial, de um povo sacerdotal agradecido, participante do sacerdócio de Cristo.

Assim, com o resgate da teologia pascal da Eucaristia, compreendemos seu sentido de memorial do mistério pascal, atualização memorial da entrega de Cristo, banquete, ação de graças, encontro teândrico, comunhão, exigindo de nós uma atitude de simplicidade, silêncio, concentração e desejo para celebrar tamanho mistério com toda dignidade que tal sacramento exige.

Eucaristia é memorial do Mistério Pascal de Cristo: “Na Última Ceia [fundamental de ser entendida a partir da ótica de libertação judaica], na noite em que foi entregue, nosso Salvador instituiu o Sacrifício Eucarístico de seu Corpo e Sangue.  Por ele, perpetua pelos séculos, até que volte, o sacrifício da Cruz, confiando destarte à Igreja, sua dileta esposa, o memorial de sua morte e ressurreição: sacramento de piedade, sinal de unidade, vínculo de caridade, banquete pascal em que Cristo nos é comunicado em alimento, o espírito é repleto de graça e nos é dado o penhor da futura glória” (SC 47).

Eucarista é atualização memorial da entrega Cristo e de sua glorificação (façam isso em minha memória): “Enquanto ceavam, ele tomou um pão, pronunciou a bênção, o partiu e o deu a seus discípulos, dizendo: Tomai, isto é meu corpo. E, tomando o cálice, pronunciou a ação de  graças, deu-o, e todos dele beberam. E disse-lhes: ´Este é o meu sangue, o sangue da Aliança, que se derrama por todos’... Façam isto para celebrar a minha memória.”

Este relato da instituição da eucaristia, como destaca Ione Buyst, é encontrado em vários textos do Novo Testamento: Mc 14, 12- 31; Mt 26, 17-35; Lc 22, 7-20.31-34 e 1Cor 11, 23-26. E com variações de detalhes, este texto é encontrado, em essência, em todas as nossas eucaristias. Fazer o que Ele fez e, em memória dele! É o mandamento que Ele nos deixou. Este sentido central da ação eucarística como memorial do mistério pascal, está concentrado e, deve ser professado com entusiasmo por toda a assembleia na aclamação memorial, logo depois da narrativa da instituição: Eis o mistério da fé!  Anunciamos, Senhor, a vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição, Vinde, Senhor Jesus!

Eucaristia é banquete pascal, refeição: a Eucaristia se expressa como realidade sacramental no simbolismo do banquete, que, no imaginário bíblico, plastifica o acontecimento do Reino. Em torno de uma mesa e de uma refeição, os convivas estreitam os seus laços de amizade e podem compartilhar a vida. Conforme Francisco Taborda, (Eucaristia e Igreja, Revista Perspectiva Teológica 17, 1985, p.29-62), Eucaristia é ação de graças ao Pai, com Cristo, por Cristo e em Cristo: Dar graças é adorar, louvar, bendizer... Celebramos para adorar, louvar... Agradecer o dom da vida, celebrar nossa vida no mistério de Deus, santificar o nosso tempo. Taborda ainda destaca: como ação de graças, na Eucaristia reconhecemos a Deus como Deus e como único absoluto (tudo dele provém, até o bem que realizamos), dispondo-nos a realizar a sua vontade, ou seja, a vivificação do homem (viver em ação de graças = viver em solidariedade). Ação de graças é desapropriação suprema (contrária a idolatria e a mesquinhez): nada temos de nosso, tudo é de Deus, tudo é dos irmãos.

Eucaristia é encontro teândrico, como destaca Sérgio Valle, Deus e o homem: Theos + antrophos= momento relacional, encontro profundo, experiência de entrelaçamento simbólica (elementos materiais) e sacramental (ação divina).

Eucaristia é comunhão: ação de Cristo Ressuscitado na força do Espírito Santo, fazendo de nós participantes de seu mistério pascal e de sua comunhão com o Pai. A Eucaristia é, por conseguinte, o sacramento de nossa comunhão com Deus e com os irmãos; nela se fundamenta a solidariedade eclesial para com todos os pobres.

Para concluir: como memória, presença e sacrifício de Cristo, a Igreja faz a Eucaristia e a Eucaristia faz a Igreja...

** Roberto Bocalete

terça-feira, 20 de novembro de 2012


Ola catequistas! Olhando um pouco o blog Catequese e Bíblia (da CNBB), gostei muito da reflexão da amiga Lucimara Trevizan e postei para que vocês também possam saborear: ela desenvolve o texto sobre espiritualidade de uma maneira delicada e muito bonita! Abraços e parabéns a autora pelo ótimo texto!

O CULTIVO DA ESPIRITUALIDADE DO CATEQUISTA

O cuidado com a Espiritualidade do Catequista se faz prioridade no Ano da Fé. É a Espiritualidade que mantém acesa a chama do Amor-Encontro com Deus e da Missão do Catequista. Sem espiritualidade o cansaço, o desânimo, o ativismo, tomam conta.

O que é Espiritualidade?
 Será importante explicitar aqui, brevemente, o que é a Espiritualidade. A Espiritualidade é o oxigênio do coração. É viver segundo o Espírito. É uma maneira determinada de viver a globalidade da vida, com seus afazeres, dificuldades, objetivos e desafios, orientando-a pela luz da nossa fé cristã. Espiritualidade é nossa dimensão divina em tudo o que é humano.

Numa bela definição, Pe. Adroaldo Palaoro sj, nos diz: “É a espiritualidade que reacende desejos e sonhos, que desperta energias em direção ao algo “mais”; é a espiritualidade que faz descobrir, escondida no cotidiano, a presença amorosa do Deus Pai-Mãe que nos envolve; é a espiritualidade que projeta a vida a cada instante, abre espaço à ação do Espírito, nos faz ser criativos e ousados em tudo o que fazemos e dá sentido e inspiração a cada ação humana, por mais simples que seja; é a espiritualidade que nos desperta e nos faz descobrir que nossa vida cotidiana guarda segredos, novidades, surpresas... que podem dar novo sentido e brilho à vida.

É um modo de “ler” e interpretar a mensagem que cada experiência de vida pode nos comunicar. Essa dimensão espiritual se revela pela capacidade de diálogo consigo mesmo e com o próprio coração, se traduz pelo amor, pela sensibilidade, pela compaixão, pela escuta do outro, pela responsabilidade e pelo cuidado como atitude fundamental”.

Espiritualidade consiste primariamente não na recitação piedosa e humilde de determinados exercícios devocionais religiosos..., mas num modo de se posicionar na vida e ver todas as coisas. Olhar o mundo com os olhos do coração, ver o sagrado mistério da realidade... Então, espiritualidade não é momentos de oração, é a definição mais capenga. Nem se reduz a sacramento, retiro, silêncio...

Espíritualidade é o cultivo das coisas do Espírito. A palavra espiritualidade vem de espírito. Na Bíblia, “Espírito” quer dizer vida, movimento, força, presença, sopro, ardor. Espírito é a força que leva a agir. Espiritualidade é uma força que nos anima, inspira. Ela vem de dentro de nós e nos impulsiona para a ação. Na vida do Cristão, esta força é o Espírito Santo. Ele acende em nós o fogo do amor: amor a Deus, amor aos irmãos, amor a Catequese. E o amor nos faz atuar, agir.
          
Quem experimenta o encontro com Deus-Amor deseja estar com Ele. A oração é a conversa mais particular e íntima com Deus, que realimenta e fornece combustível para a dinâmica do encontro permanente com Ele e da leitura da sua presença na vida. Pondo diante de Deus o que somos e vivemos, ele nos ajuda a ver mais claramente, a identificar seu apelo nos chamados sinais dos tempos, que estão aí na nossa história pessoal e na sociedade. A oração mais do que palavras é estar com Deus. Como diz Santa Tereza é “querer estar a sós com aquele que sabemos que nos ama”.

Sem espiritualidade a catequese perde o rumo
Sem o cultivo da Espiritualidade é muito difícil a catequese caminhar bem. As coisas se transformam em rotina, o desânimo vai minando o trabalho, os conflitos tumultuam o grupo. Sem Espiritualidade as pessoas vão ficando endurecidas, descrentes, desgastadas. A Espiritualidade mantém viva o “porquê” e o “para que” somos catequistas. A causa (a paixão por Jesus e pelo Reino de Deus) nos mantém no caminho do seguimento e da paixão pela educação da fé da comunidade cristã.

Quem cultiva a espiritualidade, sente-se habitado por uma Presença, que irradia ternura e amor, mesmo em meio a maior dor. Tem entusiasmo porque sabe que carrega Deus dentro de si. Mesmo com desafios, dores, sofrimentos, um catequista assim sabe-se a caminho e um eterno aprendiz do Amor.

Algumas ações possíveis para o cultivo da Espiritualidade:
- Pode ser preciso realizar algum tipo de formação sobre Espiritualidade (o que é e o que não é; o que é experiência de Deus; a oração cristã...). Mas, é importante ter presente que um curso sobre Espiritualidade não irá resolver o cultivo da Espiritualidade do grupo de catequistas.

- Iniciar todas as reuniões com o grupo de catequistas (da paróquia, da comunidade) com um belo tempo de oração-celebração. Para isso, é importante preparar com antecedência o ambiente e a celebração. O “Catequese Hoje” tem postado belas sugestões em “Tempo da Delicadeza”.

- Organizar Manhãs ou Tardes de Espiritualidade, de maneira bem catequética, cuidando da centralidade da Palavra de Deus. Cuidar para ter espaço de silêncio e oração pessoal. É possível convidar alguém para ajudar na reflexão, mas cuidado para não transformar tudo em palestra e lição de moral. Seria bom se fosse planejado uma vez por semestre, pelo menos.

- Organizar retiros (um dia, um final de semana) com o grupo de catequista. O catequista precisa sair da rotina diária, ter espaço para saborear o encontro com Deus e consigo mesmo. Retiro não é curso ou palestra. Podemos pedir ajuda de algum pregador. Pode ser agendado uma vez ao ano. Quem experimenta o gosto bom de um retiro não irá fugir dele.

- Cuidar especialmente da Acolhida dos catequistas, catequizandos, famílias. Isto é parte integrante do cultivo de uma Espiritualidade da Comunhão.

- Desenvolver o cuidado com cada catequista e também catequizando, percebendo cada um como uma delicada obra de arte de Deus. Escutar as pessoas, ser sensível ao que estão passando.

- É necessário aprender a “gastar tempo” diante do Senhor e de sua Palavra. Podemos cultivar a espiritualidade através de pequenas coisas:
 a) A oração ao amanhecer e ao dormir;
b) A leitura cotidiana de trechos da Bíblia,
c) Leitura Orante da Bíblia;
d) Ofício divino das comunidades;
e) A contemplação e a adoração silenciosa ao Santíssimo;
f) Os momentos de silêncio interior para escutar os apelos de Deus;
g) A escuta de músicas, orações ou reflexões de um CD de meditação;
h) A participação na Celebração Eucarística;
i)  E outros;

Temos que ter o cuidado para não cair na rotina de usar somente as orações “decoradas” ou simplesmente lidas. É importante rezar a vida e rezar com a vida, trazendo para o nosso interior, portanto, a realidade em que vivemos. Perceber a presença e atuação de Deus na vida, no mundo.

- A oração em comum alimenta em todos a comunhão na vivência em comunidade. A Celebração Eucarística é a que mais expressa e realiza a comunhão com Deus e com os irmãos. Mas a Espiritualidade da Comunidade não se reduz a participação na missa. Toda a vida do cristão deve ser um culto agradável a Deus.

Lucimara Trevizan
Comissão Regional Bíblico-Catequética do Leste 2
Fonte: Catequese Hoje

domingo, 18 de novembro de 2012


Ola Catequistas! Postei, para uma leitura meditada e contemplada, catequeses de São Cirilo de Jerusalém. Eram exortações proclamadas no quarto tempo do catecumenato (Tempo da Mistagogia), dirigidas ao novos cristãos no tempo pascal, após terem celebrado os sacramentos de iniciação cristã na Vigília! Boa leitura!

CATEQUESES MISTAGÓGICAS
Das catequeses de Cirilo de Jerusalém

O Batismo, sinal da paixão de Cristo.
Fostes conduzidos à santa fonte do divino Batismo, como Cristo, descido da cruz, foi colocado diante do sepulcro. A cada um de vós foi perguntado se acreditava no nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Vós professastes a fé da salvação e fostes por três vezes mergulhados na água e por três vezes dela saístes; deste modo, significastes, em imagem e símbolo, os três dias da sepultura de Cristo.

Assim como nosso Senhor passou três dias e três noites no seio da terra, também vós, na primeira emersão, imitastes o primeiro dia em que Cristo esteve debaixo da terra; e na imersão, a primeira noite. De fato, como aquele que vive nas trevas não enxerga nada, pelo contrário, aquele que anda de dia está envolvido em plena luz. Assim também vós, na imersão, como mergulhados na noite, nada vistes; mas na emersão, fostes como que restituídos ao dia. Num mesmo instante, morrestes e nascestes, e aquela água de salvação tornou-se para vós, ao mesmo tempo, sepulcro e mãe.

Apesar de situar-se em outro contexto, a vós se aplica perfeitamente o que disse Salomão: Há um tempo para nascer para morrer (Ecl 3, 2). Convosco sucedeu o contrário: houve um tempo para morrer e um tempo para nascer. Num mesmo instante realizaram-se ambas as coisas e, com a vossa morte, coincidiu o vosso nascimento.

Ó fato novo e inaudito! Na realidade, não morremos nem fomos sepultados nem crucificados nem ainda ressuscitamos. No entanto, a imitação desses atos foi expressa através de uma imagem e daí brotou realmente a nossa salvação. Cristo foi verdadeiramente crucificado, verdadeiramente sepultado e ressuscitou verdadeiramente. Tudo isto foi para nós um dom da graça, a fim de que, participando da sua paixão através do mistério sacramental, obtenhamos na realidade a salvação.

Ó maravilha de amor pelos homens! Em seus pés e mãos inocentes, Cristo recebeu os cravos e suportou a dor; e eu, sem dor nem esforço, mas apenas pela comunhão em suas dores, recebo gratuitamente a salvação. Ninguém, portanto, julgue que o batismo consista apenas na remissão dos pecados e na graça da adoção filial. Assim era o batismo de João que concedia tão-somente o perdão dos pecados. Pelo contrário, sabemos perfeitamente que o nosso batismo não só apaga os pecados e confere o dom do Espírito Santo, mas é também o exemplar e a expressão dos sofrimentos de Cristo. É por isso mesmo que Paulo exclama: Será que ignorais que todos nós, batizados em Jesus Cristo, é na sua morte que fomo batizados? Pelo batismo na sua morte, fomos sepultados com ele (Rm 6, 3-4).

A unção do Espírito Santo
Batizados em Cristo e revestidos de Cristo, vós vos tornastes semelhantes ao Filho de Deus. Com efeito, Deus que nos predestinou para a adoção de filhos, tornou-nos semelhantes ao corpo glorioso de Cristo. Feitos, portanto, participantes do corpo de Cristo, com toda razão sois chamados cristãos, isto é, ungidos; pois de vós que Deus disse: Não toqueis nos meus ungidos (Sl 104,15).

Tornastes-vos cristãos no momento em que recebestes o selo do Espírito Santo, e tudo isto foi realizado sobre vós em imagem, uma vez que sois imagem de Cristo. Na verdade, quando ele foi batizado no rio Jordão e saiu das aguas, nas quais deixara a fragrância de sua divindade, realizou-se então a descida do Espírito Santo em pessoa, repousando sobre ele como o igual sobre o igual.

O mesmo aconteceu convosco: depois que subistes na fonte sagrada, o óleo do crisma vos foi administrado, imagem real daquele com o qual o Cristo foi ungido, e que é, sem dúvida, o Espírito Santo. Isaias, contemplando profeticamente este Espírito, disse em nome do Senhor: O Espírito do Senhor está sobre mim, porque o Senhor me ungiu; enviou-me para dar a boa nova aos humildes (Is 61,1).

Cristo jamais foi ungido por homem, seja por óleo ou com outro material. Mas o Pai, ao predestiná-lo como salvador do mundo inteiro, o ungiu com o Espírito Santo. É o que nos diz Pedro: Jesus de Nazaré foi ungido por Deus com o Espírito Santo (At 10,38). Cristo foi ungido com o óleo espiritual da alegria, isto é, com o Espírito Santo, chamado de óleo da alegria, precisamente por ser o autor da alegria espiritual. Vós, porém, fostes ungidos com o óleo do crisma, tornando-vos participantes da natureza de Cristo e chamados a conviver com ele.

Quanto ao mais, não julgueis que este crisma é um óleo simples e comum, depois da invocação, já não é um óleo simples ou comum, mas um dom de Cristo e do Espírito Santo, tornando-se eficaz pela presença da divindade. Simbolicamente, unge-se com ele a fronte e enquanto o corpo é ungido com o óleo visível, o homem é santificado pelo Espírito Santo que dá a vida.

O pão do céu e a bebida da salvação.
Na noite em que foi entregue, nosso Senhor Jesus Cristo tomou o pão e, depois de dar graças, partiu-o e deu-o a seus discípulos, dizendo: “Tomai e comei: isto é meu corpo”. Em seguida, tomando o cálice, deu graças e disse: “Tomai e bebei: isto é o meu sangue” (cf. Mt 26, 26-27; 1Cor 11, 23-24). Tendo, portanto, pronunciado e dito sobre o pão: Isto é o meu corpo, quem ousará duvidar? E tendo afirmado e dito: Isto é o meu sangue, quem se atreverá ainda a duvidar e dizer que não é o seu sangue?

Recebamos, pois, com toda a convicção, o Corpo e o Sangue de Cristo. Porque sob a forma de pão é o corpo que te é dado, e sob a forma de vinho, é o sangue que te é entregue. Assim, ao receberes o corpo e o sangue de Cristo, te transformas com ele num só corpo e num só sangue. Deste modo, tendo assimilado em nossos membros o seu corpo e o seu sangue, tornamo-nos portadores de Cristo; tornamo-nos, como diz São Pedro, participantes da natureza divina (2Pd 1,4).

Outrora, falando aos judeus, dizia Cristo: Se não comerdes a minha carne e não beberdes o meu sangue, não tereis a vida em vós (cf. Jo 6, 53). Como eles não compreenderam o sentido espiritual do que lhes era dito, afastaram-se escandalizados, julgando estarem sendo induzidos por Jesus a comer carne humana.

Na Antiga Aliança havia os pães da propiciação; por pertencerem ao Velho Testamento, já não mais existem. Na Nova Aliança, porém, trata-se de um pão do céu e de um cálice da salvação que santificam a alma e o corpo. Assim como o pão é próprio para a vida do corpo, também o Verbo é próprio para a vida da alma.

Por isso, não consideres o pão e o vinho eucarísticos como se fossem elementos simples e vulgares. São realmente o corpo e o sangue de Cristo, segundo a afirmativa do Senhor. Muito embora os sentidos te sugiram outra coisa, tem a firme certeza do que a fé te ensina.

Se foste bem instruído pela doutrina da fé, acreditas firmemente que aquilo que parece pão, embora seja como tal sensível ao paladar, não é pão, mas é o corpo isto. E aquilo que parece vinho, muito embora tenha esse sabor, não é vinho, mas é o sangue de Cristo. Antigamente, bem a propósito, já dizia Davi nos salmos: O pão revigora o coração do homem, e o óleo ilumina a sua face (Sl 103, 15). Fortifica, pois, teu coração, recebendo esse pão espiritual e faze brilhar a alegria no rosto de tua alma.

Com o rosto iluminado por uma consciência pura, contemplando como num espelho a glória do Senhor, possas caminhar de claridade em claridade, em Cristo Jesus, nosso Senhor, a quem sejam dadas honra, poder e glória pelos séculos sem fim. Amém.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012


Olá catequistas: estudando e refletindo um pouco este texto do padre Domingos Ormonde, achei interessante postar e convidá-los a uma leitura atenta: aprofundar Iniciação cristã e catecumenato é urgente e importante! Boa leitura...

INICIAÇÃO CRISTÃ E CATECUMENATO
(Pe. Domingos Ormonde)

O tema do catecumenato interessa a todos os que se dedicam à evangelização e especialmente aos catequistas. A Igreja de hoje está redescobindo o catecumenato, uma prática pastoral dos começos do cristianismo. No Ritual da Iniciação Cristã de Adultos, no famoso RICA, estão não só os ritos da iniciação cristã como também as orientações básicas para organizar um catecumenato. Importa conhecer o catecumenato mais de perto. Ele é considerado o “modelo inspirador” ou “fonte da catequese pós-batismal”.

1. Caminhada
A palavra “caminhada”, muito usada por nós hoje, ajuda a entender o catecumenato. Usamos essa palavra quando nos referimos a alguém (adulto ou jovem) que está chegando na Igreja e deseja mesmo seguir o caminho de Jesus em comunidade. Percebemos que é fundamental que essas pessoas façam uma caminhada inicial como nós próprios fizemos.  Catecumenato é exatamente uma caminhada inicial na fé, que acompanha a iniciação cristã e é organizada pela comunidade cristã.

O catecumenato é oferecido, em primeiro lugar, aos que se sentem chamados a ser cristãos, a ter sua vida unida a Jesus e à Igreja, a comunidade de seus seguidores. Usando nossa linguagem mais comum: essa caminhada é feita sobretudo pelos que não são batizados. A entrada no catecumenato é o começo da iniciação cristã dos candidatos ao batismo, através de ritos. Nele a pessoa começa a ser discípulo do Senhor e membro da Igreja, aprendendo “a ter os mesmos sentimentos de Jesus Cristo” e procurando viver “segundo os preceitos do evangelho”. O ponto culminante dessa caminhada é a celebração dos sacramentos de iniciação (batismo, crisma e eucaristia), preferencialmente na vigília pascal e em uma única celebração. Veremos na próxima ficha que o catecumenato pode ser oferecido também aos já batizados.
                              
2. O começo de tudo
Podemos ter uma ideia de como acontece essa caminhada na fé, de acordo com o ritual da iniciação. A proposta é que ninguém entre direto para o catecumenato. Quando surge um simpatizante na comunidade, este deve ser acolhido pelo catequista responsável e apresentado a um introdutor que, pessoal e informalmente, vai ajudá-lo no caminho da fé. É feito, então, o anúncio (ou o novo anúncio) do mistério de Cristo, de tal modo que Cristo passe a ser o centro da vida dessa pessoa e de sua compreensão da existência.

Não há duração determinada para esse tempo de evangelização. Quando o iniciante demonstra um início de fé em Jesus Cristo, mudança de vida, oração pessoal, ligação com membros da Igreja e desejo de ser batizado, ele é considerado participante do mistério de Cristo pela fé. Chegou a hora de ser reconhecido pela Igreja como iniciante na vida cristã, ou seja, catecúmeno. Celebra-se a entrada dessa pessoa no catecumenato, a primeira etapa da iniciação cristã.

Na celebração de entrada no catecumenato os candidatos ao batismo fazem sua primeira adesão pública a Cristo e, pela cruz marcada sobre todo o corpo, tornam-se catecúmenos. Pelo rito de entrada na Igreja, são recebidos como membros da família de Cristo. Celebram a palavra de Deus junto com a comunidade, como se fosse a primeira vez, e cada um recebe uma bíblia como sinal do tempo novo inaugurado, tempo de escuta do Senhor. O catecumenato pode ser compreendido como uma introdução na escuta da palavra de Deus.

A breve descrição da entrada no catecumenato e seus antecedentes dá uma ideia da riqueza do catecumenato. Para exemplificar melhor, podemos lembrar os quatro “meios” básicos indicados pelo RICA para realizar o “tempo de catecumenato”. Interessa perceber como no catecumenato a formação acontece inseparavelmente unida com a prática da vida cristã .

3. Catequese unida à liturgia e à vida

Como primeiro meio do catecumenato é apontado pelo RICA a catequese, que não deve ser confundida como mera transmissão de dogmas e preceitos. É preciso que a catequese ajude na vivência do mistério de Cristo, do qual os catecúmenos desejam participar plenamente pela iniciação. Para isso, a catequese deve ser distribuída por etapas, integralmente transmitida, relacionada com o ano litúrgico e apoiada em celebrações da palavra. As celebrações da palavra, inseridas nos tempos litúrgicos e com um elenco próprio de leituras bíblicas, ajudam a assimilar os conteúdos da catequese (por exemplo o perdão, a solidariedade...), ensinam  prazerosamente “as formas e os caminhos da oração”, aproximam dos “símbolos, ações e tempos do mistério litúrgico” e introduzem “gradativamente no culto de toda a comunidade”.

4. Conversão de vida e acompanhamento pessoal
Um segundo meio do catecumenato é a própria prática da vida cristã. Durante o tempo do catecumenato, como diz o ritual, os catecúmenos “acostumam-se a orar mais facilmente, a dar testemunho da fé, guardar em tudo a esperança de Cristo, seguir na vida as inspirações de Deus e praticar a caridade com o próximo até a renúncia de si mesmos”. A formação é compreendida como um “itinerário espiritual” de passagem “do velho homem para o novo que tem sua perfeição em Cristo”, “uma progressiva mudança de mentalidade e costumes, com suas conseqüências sociais”.

E como isso é incentivado para não virar apenas uma intenção? Pelo exemplo e acompanhamento pessoal de alguns membros da comunidade, sobretudo os “introdutores”, indica o ritual. O ministério do introdutor continua durante o catecumenato.

5. Vida litúrgica não só pedagógica
O terceiro meio de formação na fé, privilegiado pelo catecumenato, é a própria participação litúrgica. Nem o interessado que está chegando, nem o que já é catecúmeno, são levados imediatamente a participar da liturgia da comunidade, especialmente a missa. Tal participação deve ser gradativa, como apontado acima. A catequese sobre a liturgia e as celebrações que a compõem são pedagógicas com relação aos sacramentos de iniciação e à futura vida litúrgica. Mas não só.   

Os ritos que acompanham o catecumenato (orações de libertação do mal, bênçãos, unções, entregas, celebrações de arrependimento) são uma ajuda da mãe Igreja na caminhada. Através deles Deus age gradativamente purificando e protegendo os catecúmenos. Neste sentido, os catequistas do catecumenato não são apenas instrutores, mas também ministros da oração (em favor do grupo e de cada um individualmente) e ministros da celebração da palavra de Deus.

6. Testemunho de vida
O catecumenato inclui em sua formação, segundo o RICA, um quarto meio: o aprender “a cooperar ativamente para a evangelização e edificação da Igreja”. O catecumenato inclui o aprendizado para a missão, mas não é ainda participação em uma pastoral determinada. O ritual propõe aquilo que é fundamental e elementar na missão cristã: “o testemunho da vida e a profissão de fé”; algo que é realizado no meio em que se vive e trabalha e não exige preparação especial, apenas a convicção da fé inicial.

Assim, com os três meios indicados, realiza-se o tempo de catecumenato. Este é sucedido pela preparação imediata, uns quarenta dias antes dos sacramentos: o tempo da purificação iluminação. A iniciação cristã atinge assim o seu ponto culminante em uma única celebração dos sacramentos de iniciação (batismo, crisma e eucaristia), cujo prolongamento é o tempo da mistagogia.

7. A quem interessa o catecumenato
Os catequistas de iniciação, sobretudo, não podem deixar de conhecer o catecumenato e o RICA. Este será um dos seus manuais para a realização do catecumenato batismal, e com as devidas adaptações, o pós-batismal. Aqui estão incluídos os catequistas que se dedicam ao prosseguimento da iniciação cristã inaugurada no batismo (preparação para a primeira comunhão e para a crisma) e todos os que se dedicam à catequese nas suas diferentes formas, e de modo particular à catequese de jovens e adultos.

O RICA tem muito a ensinar com a sua proposta de catecumenato. Toda iniciativa catequética deve ter os sacramentos de iniciação como referência fundamental, deve incentivar a indispensável maternidade espiritual da comunidade cristã, deve ter suas raízes na vigília pascal e em sua espiritualidade batismal, e possibilitar vinculação da catequese com ritos, símbolos e sinais, especialmente bíblicos, além de constante referência à comunidade cristã.

8. Modelo inspirador e adaptação

Apresentam-se também características complementares do catecumenato, como a atenção à formação integral e vivencial, a dimensão orante, a prática da caridade e a renúncia de si mesmos. Para isso a catequese deve ir além do conhecimento de verdades e preceitos através da dimensão bíblica, orante, celebrativa, e relacionar-se profundamente com o ano litúrgico. Há também o acompanhamento dos introdutores, a contribuição dos padrinhos e membros da comunidade, a participação gradativa nas celebrações da comunidade e estímulo ao testemunho de vida. Entre catequese e liturgia deve haver íntima cooperação: elas se reforçam mutuamente no processo catecumenal.

É um modelo inspirador, aberto a adaptações. Em muitos lugares já há experiências que estão pondo em prática o espírito catecumenal da iniciação cristã, com criatividade e adaptação. É um modelo deve ser estudado e aplicado na medida do possível, na ação normal da Igreja: não é restrito a alguns grupos, movimentos, e nem é só para situações especiais ou excepcionais... Ressalta-se que esse processo, seriamente assumido, traz grande renovação e qualidade para a vida paroquial.



A importância que se dá à dimensão orante-ritual-celebrativa não pode deixar esquecidos outros aspectos da pastoral. Não se pode implantar um processo com esse nível de exigência sem a correspondente preparação e contínua reflexão e revisão de vida dos agentes, de todos os níveis, e sem uma grande atenção à qualidade do testemunho da comunidade inteira. Um catequista que não passou pelo processo catecumenal dificilmente irá desenvolvê-lo eficazmente.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

VÍDEO PREPARADO PELOS ALUNOS DA IV TURMA DA EBICAT (ESCOLA BÍBLICO-CATEQUÉTICA)
11 DE NOVEMBRO DE 2012 - CONCLUSÃO DA IV TURMA



Parabenizo aos alunos catequistas da IV Turma da Escola Bíblico-Catequética pela conclusão dos 02 anos de processo formativo. Foi muito bom conviver com vocês, aprendemos juntos e crescemos juntos: uma turma perseverante, séria e comprometida! Grato pelo carinho, pelas palavras e pela homenagem feita a mim e toda a Equipe Diocesana da EBICAT. Cada gesto expressa o quanto nossa escola tem sido fecunda na formação e iniciação dos catequistas: nos sentimos motivados, realizados e fortalecidos para continuar nossa missão.

Catequistas, contamos com vocês para que o projeto da Iniciação à vida cristã aconteça em nossas comunidades! Abraços e até os próximos módulos de aprofundamento! Que Deus abençoe nossa missão... estamos juntos! 

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Ola catequistas! Abaixo, alguns elementos que podem ser refletidos sobre a espiritualidade do catequista, fundamental para a catequese de inspiração catecumenal! Boa Leitura e abraços...

A ESPIRITUALIDADE DO CATEQUISTA

BASES DA ESPIRITUALIDADE DO CATEQUISTA:
1. Experiência com a pessoa de Jesus (ponto de partida)
2. Missão do catequista (inspiração)
3. Pedagogia catequética e suas perspectivas (referencial)
4. As fontes da catequese são inspiradoras (iniciação)

ESPIRITUALIDADE DO CATEQUISTA: DNC
O Diretório Nacional de Catequese ressalta a importância da espiritualidade situando-a na dimensão do Ser do catequista: o catequista coloca-se na escola do Mestre e faz com Ele uma experiência de vida e fé (DNC 264).

CARACTERÍSTICAS DA ESPIRITUALIDADE DO CATEQUISTA
A experiência com a pessoa de Jesus e missão do catequista se entrelaçam
Iniciação à fé - catequista precisa ser iniciado (disposição ao crescimento, renovação e dinamismo)
Dimensão experiencial – somos capazes de favorecer ao outro o que já experimentamos
Catequista como referencial/ testemunha (consciência moral e qualidades humanas – paciência, respeito, confiança e alegria)
A espiritualidade do catequista é marcada pelas notas de sua missão: a partir da experiência, anunciar, fazer ressoar para que o catequizando faça adesão a Jesus e a comunidade

A Pedagogia Catequética
Pedagogia catequética: caminhar nos passos de Jesus mestre (espiritualidade da atividade apostólica, do discipulado)
Espiritualidade baseada em Jesus catequista (acolhe, educa, escuta, perdoa, dialoga, respeita, liberta, sana, desperta, relaciona-se)
Espiritualidade da dimensão de pastor (cuidado e restauração – acompanhamento personalizado)
Espiritualidade que baseia-se nas perspectivas da catequese: perspectiva sócio-transformadora: espiritualidade de pertença a realidade; ou se transformam as pessoas e a sociedade, ou não há fidelidade a mensagem e ao projeto de Jesus Cristo; perspectiva inculturada: é na realidade cultural que acontece a obra evangelizadora, a adaptação da mensagem,  o anúncio do Evangelho conforme a sensibilidade dos catequizandos; perspectiva comunitário-participativa: a comunidade é condição necessária para catequese e para o catequista; por essa razão, a catequese corre o risco de esterilizar-se se o catequista ou a comunidade não dão testemunho de fé, discipulado, compromisso e responsabilidade para uma maturidade daquele que está em processo.

Bíblia e liturgia: fontes da catequese
Bíblia: espiritualidade da Palavra
Centralidade da Palavra na vida do catequista (experiência com a Palavra)
Transmissão da palavra (anúncio)
Leitura orante ao preparar o encontro de catequese (baseado em 1 texto bíblico)
Leitura Orante: leitura, meditação, oração, contemplação – O que a Palavra diz a mim? O que ela me comunica? Qual o compromisso que me inspira?
Oração: O que a palavra precisa dizer ao catequizando? O que essa palavra comunica?

Liturgia: espiritualidade mistagógica
Introduz no mistério a ser celebrado
Santificação do tempo (vivência do ano litúrgico, com suas festas e solenidades, e do domingo)
É místico na ritualidade
Espiritualidade do simbólico
Dimensão central da Eucaristia
Celebração da Reconciliação
O catequista, a partir da espiritualidade litúrgica, tem uma tarefa de iniciação na vida litúrgica em três dimensões principais - no plano da celebração: iniciar nos diversos ritos e formas de expressão; no plano do mistério: favorece e ilustra experiências bíblicas e eclesiais significadas pelos ritos; no plano da existência: educa na acolhida, no agradecimento, na comunhão, na escuta.

**Roberto Bocalete

terça-feira, 6 de novembro de 2012


Ola amados e amadas catequistas: proponho uma reflexão sobre a catequese e a cultura, o humano e seu desafio de manter-se pessoa diante da realidade que desintegra. Ser catequistas é também contribuir para o sentido da vida! Um pouco de antropologia também ajuda. Abraços e boa leitura!

CATEQUESE E CULTURA
(Roberto Bocalete - PUC-GOIAS)

Ser humano é entender-se como ser de relações, contingência, necessidades e possibilidades; é perceber-se como pessoa, síntese de uma vida social, política, econômica, permeada pela cultura, linguagem, trabalho, lazer, educação, arte, e também de uma vida espiritual, racional, presente em um determinado tempo, que tem como instrumento de relação a comunicação com o divino por meio da religião. O homem é aquele que, tendo consciência de sua racionalidade, estrutura valores éticos, tem sede da verdade, busca a “salvação” apesar de suas limitações e anseia pela felicidade.

A cultura, em específico, pode ser definida como a atividade essencialmente humana de “ir além” de um determinismo genético ou geográfico para a assimilação do progresso e renovação do mesmo por meio da história e do projeto para o futuro. Sendo uma das principais características da pessoa humana, a cultura é o seu habitat, local onde se apreende uma maneira de ver a realidade, onde se estabelece relações, onde se convive, aperfeiçoa, enriquece, enfim, humaniza-se. Tratar de cultura é apresentar a ponte para a construção da existência humana, é aprofundar-se nos valores, teorias, instituições, contratos humanos, situações das quais, o homem não pode ser “apartado” para tornar-se homem.
                
A cultura é apreendida nas relações sociais e transformada pelo homem por meio da linguagem, que o faz comunicar-se com o mundo, interpretar, compreender a realidade e agir sobre ela, e também, é fortalecida pelo trabalho, maneira que o homem encontrou para a produção qualitativa do mundo e de si mesmo. Esmiuçar o termo cultura é explorar o agente homem e seu conjunto de símbolos, relações essenciais, lugares, tempos, momentos, também religião; é apontar o dinamismo e a diversidade que essa maneira de ser pessoa assume no decorrer da evolução e nas diversas formas de organizações sociais.

Após uma definição de homem, do conceito de cultura, no qual a catequese está inserida, é interessante também definir o que seria esse processo de educação na fé e quais seus objetivos para, conforme esse texto, propor um modelo de catequese humanizadora. A catequese é um processo evangelizador que se desenvolve em comunidade, é dinâmica, sistemática e permanente. É um anúncio e um serviço para provocar um vivo contato com Jesus, levando ao compromisso  e ao engajamento na comunidade cristã. 

A ação catequética procura dedicar-se a uma educação para a fé que fortaleça a responsabilidade cristã por meio conhecimento, fruto de uma experiência celebrada, compreendida, sentida e assumida, respeitando sempre a dignidade e os direitos humanos. O objetivo desta ação, então, é catequizar as diversas dimensões da vida cristã, a luz da Palavra de Deus, para construir comunidades catequizadoras comprometidas com a verdade e a justiça, sinais do reino já presentes entre nós.
         
É evidente que a cultura influencia e cria uma maneira ideológica de ser, modos de expressão, julgamentos, preconceitos, valores, regras, e sempre deixa como herança o que já foi construído pelos antepassados. O homem, no entanto, não é obrigado a seguir os padrões pré-estabelecidos quando estes não o trazem felicidade. A criatividade e a produção racional humana são características de sua pessoalidade, para tanto, a liberdade, que se dá por meio da consciência da realidade e pressupõe a responsabilidade e atitudes morais particulares, caracterizadas pelo respeito e o “sair-de-si”, independem da cultura onde estiver e são escolhas humanas. Assim, a ação catequética nesse contexto, educa para consciência do bem e opta pela ideologia do amor, que seria a mais coerente.
  
Para culturas mais humanas, e por consequência, uma catequese mais humanizadora, há necessidade de homens mais éticos: daí a urgência de uma catequese que seja resposta aos anseios humanos, que favoreça o encontro da criatura com o Criador que a ama, e ainda, que  conduza para um encontro  urgente com o bem e a felicidade, que são frutos das decisões tomadas pelo próprio homem. Na existência humana, procura-se o sentido da vida: a fé cristã, quando bem vivenciada e compreendida em sua mística do amor, faz o homem reconhecer um propósito na existência - não somos frutos do acaso, fazemos parte de uma história que se desenrola sob o olhar amoroso de Deus.
            
Conforme o Documento de Aparecida, as mudanças culturais dificultam a transmissão da fé por parte da família e da sociedade: são grandes as trevas da realidade - o egoísmo, a indiferença, hedonismo, injustiça social, corrupção, cultura de morte, relativismo, desumanização... e diante disso, faz-se importante uma catequese iniciática, conforme a proposta da Catequese Renovada, do Diretório Nacional de Catequese, da 3 Semana Brasileira de Catequese, que seja transformadora e libertadora, com a mensagem de fé que ilumine a existência humana, eduque para consciência crítica diante das estruturas injustas e leve a uma ação transformadora da realidade social. A catequese tem por tarefa introduzir o cristão nestas ações, inspiradas pela experiência de Deus na caminhada da comunidade.

Outro fator interessante para a construção da catequese humanizadora está na proposta de uma catequese inculturada, que deve valorizar e assumir os valores positivos da cultura, a linguagem, os símbolos, a maneira de ser e de viver do povo nas suas diversas expressões culturais. Expressar o evangelho de forma relevante para a cultura é uma exigência metodológica da catequese. Não se trata só da cultura popular, ligada mais ao ambiente rural e às vezes pré-moderno, mas também da cultura surgida da modernidade e pós-modernidade, cujo lugar privilegiado são os grandes espaços urbanos. Na interação fé e vida, o conteúdo da catequese compreende dois elementos que se interagem: a experiência da vida e a formulação da fé. A afirmação do princípio de interação é a recusa do excesso de teoria, desligada da realidade e do dualismo, optando por uma catequese mais celebrativa-vivencial, que resulte no compromisso comunitário com a realidade e suas transformações.

Para construção de uma catequese que humanize as relações e por conseqüência a cultura, precisa-se de catequistas, catequetas, padres, bispos e religiosas conscientes e competentes. O catequista é o educador, o auto-falante da Igreja que anuncia Jesus Cristo aos seus catequizandos; é ser chamado por Deus a uma vocação de amor, enraizada na comunidade cristã.    O catequista para os novos desafios da atualidade precisa ser “humano”, afetivo, acolhedor, dinâmico, que testemunhe com sua vida as verdades que proclama em seu encontro; deve ser criativo, organizado, desenvolver uma espiritualidade completa, promover a vivência do amor fraterno em grupo, ser comunicador, amigo, que conhece o interlocutor do processo catequético e faz com que ele seja o protagonista da fé. O catequista sempre estuda, cuida de sua formação, é alegre, sabe trabalhar em equipe, tem grande motivação de fé, participa efetivamente da comunidade cristã, enfim, é ser humano de coragem, seriedade, determinado e em busca de aperfeiçoamento.

Conforme o Diretório Nacional de Catequese, o Evangelho se destina em primeiro lugar à pessoa humana concreta e histórica, radicada numa determinada situação. A atenção ao indivíduo não deve levar a esquecer que a catequese tem como interlocutor a comunidade cristã como tal e cada pessoa dentro dela. A adaptação tem sua motivação teológica no mistério da encarnação e corresponde a uma elementar exigência pedagógica. Vai ao encontro das pessoas e considera seriamente a variedade de situações e culturas, mantendo a comunhão na diversidade a partir da unidade que vem da Palavra de Deus. Assim, o Evangelho será transmitido em sua riqueza e sempre adequado aos diversos ouvintes. A criatividade e arte dos catequistas estão a serviço deste critério fundamental. A pedagogia da fé precisa então atender às diversas necessidades e adaptar a mensagem e a linguagem cristãs às diferentes situações dos interlocutores.

Sentimos a urgência de desenvolver em nossas comunidades uma catequese que comece pelo querigma guiado pela Palavra de Deus, que conduza a um encontro pessoal, cada vez maior, com Jesus Cristo, perfeito Deus e perfeito homem, experimentado como plenitude da humanidade e que leve à conversão, ao discipulado, isto é, ao seguimento em uma comunidade eclesial e a um amadurecimento de fé na prática dos sacramentos, do serviço e da missão.

O caminho para uma catequese humana e humanizadora que dê sentido a vida está traçado. O que se deve alimentar para a prática catequética é a possibilidade de fazer crescer no cristão as virtudes humanas que influenciem a cultura para a adesão à vida em abundância, sinal da graça do Reino de Deus. Todos são convidados a ser pontes para esse processo de produção de uma realidade mais coerente com o projeto de Cristo: formar discípulos a partir da realidade para transformação eficaz dessa realidade.

BIBLIOGRAFIA

BOFF, Leonardo. O destino do homem e do mundo. 8. ed. Petrópolis: Editora Vozes, 1998.

CHAUÍ. Marilena. Convite à Filosofia. 13.ed. São Paulo: Ática, 2003.

CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Diretório Nacional de Catequese. Brasília, Edições CNBB, 2006.

____. Catequese Renovada.  25. ed. São Paulo: Paulinas, 1997.

CURY, Silvia de Melo Lemos. Filosofia da fidelidade ao ser. Noções de humanismo. São Paulo: Loyola, 1986.

DOCUMENTO DE APARECIDA. Texto conclusivo da V Conferência do Episcopado Latino-Americano e do Caribe. Tradução de Luiz Alexandre Rossi. 5.ed. São Paulo: Paulus, 2008.

GALANTINO, Nunzio. Dizer “homem” hoje: novos caminhos da antropologia filosófica. Tradução de Roque Frangiotti. São Paulo: Paulus, 2003.

JOÃO PAULO II. Catechesi Tradendae – Exortação Apostólica. 8.ed. São Paulo: Paulinas, 1983.

LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.

MAY, Rollo. O homem a procura de si mesmo. Tradução de Áurea BritoWeissenberg. 31 ed., Petrópolis: Vozes, 2005.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Conclusão do Gênesis e Bibliografia utilizada para elaboração do material apresentado! Assim terminamos o estudo dirigido desse belíssimo livro! Abraços catequistas e sempre que possível, aprofundem seus conhecimentos! :)

LIVRO DO GÊNESIS (VII)

CONCLUSÃO

O tema das relações humanas essenciais, uma metonímia para o laço que une a humanidade, é tratado com crescente complexidade desde o início do Gênesis até seu fim. Desse modo, é esse o ponto que gostaria de refletir melhor na conclusão desse belo livro das origens e das gerações.

O ser humano não se encerra em sua individualidade e somente consegue realizar e atualizar sua humanidade por meio das relações maduras com o outro, com a natureza, com Deus. Sem elas o homem é enfraquecido e não se encontra com a felicidade desejada pelo Criador.

No relato da criação, percebemos que a relação que estabelecemos com o mundo material, vegetal e animal é relação progressivamente baseada na experiência de dominar a natureza e favorecer ao homem o uso desses meios para manter-se vivo, relação do eu com o objeto visando manter o equilíbrio ou criar um equilíbrio novo por meio da humanização e racionalização desse objeto, ou do próprio mundo. Dessa relação, quando bem desenvolvida, pode surgir a arte; o homem encantando-se com o trabalho, com a natureza ornamentada, com a música, com a beleza. Mesmo sendo expulso do paraíso, uma metáfora da natureza pronta, o homem tem o compromisso de cuidar e zelar belo bem da criação. A luta pela terra prometida, que fez os patriarcas se desinstalarem, marca a busca da relação de sobrevivência com qualidade, da terra onde possa emanar leite e mel.

O caos da relação com o mundo vai dar-se na banalização ou supervalorização das coisas: banaliza-se quando as coisas perdem seu valor e são destruídas, a exemplo disso o meio ambiente, tão agredido no século XX, e supervaloriza-se quando o homem torna-se escravo das coisas e depende delas para ser feliz ou conviver, situação presente na excessiva valorização dos bens de consumo, propagados no marketing e nas frias relações digitais estabelecidas através das novas tecnologias. O progresso da ciência, que aos poucos vai se dogmatizando como verdade absoluta, causa uma grande confusão nas relações, fazendo o homem fechar-se na proposta de progresso, sem preocupação com as consequências e a saudável relação necessária com o outro e também com o divino, transformando tudo em instrumento do bem-estar pessoal, sem qualquer consideração ética.

O homem partilha sua existência com outros homens e estabelece com estes, portanto, uma relação de interação, de convivência e de solidariedade: “Não é bom que o homem esteja sozinho...” (Gn 2,18). É nesta relação com seus semelhantes que o indivíduo é verdadeiramente transformado em ser humano; sem a experiência social o homem não se completa já que o outro complementa a particular visão de mundo, sendo sempre o tu que ultrapassa as limitações individuais por meio da interatividade. Desta relação, quando madura e consciente, pode surgir a relação pontual da intersujetividade, o amor, a comunicação com o outro numa troca de profunda afetividade e o enriquecimento mútuo.

Tal relação, de fraternidade, está presente em todo o Gênesis, ora apontada de modo pleno, desejado por Deus, de respeito, às vezes desencontrada, porém, reconciliada, ora paradoxal, marcada por interesses egoístas, pela morte, pela manipulação e pela mentira.

Para que essa relação seja realmente humana, faz-se necessário o diálogo, a ação do viver junto e estabelecer uma relação com o outro sem submetê-lo, sem haver uso ou relacionamento de manipulação instrumental, transformando o outro em objeto e meio, situação que pode desenvolver uma tragédia existencial. O grande perigo nessa relação está em transformar o outro em objeto, ridicularizar o amor (como fez os irmãos a José), utilizar-se do outro para benefícios (como fez Jacó com Esaú), para a auto-sustentação, para uma relação de desumanização e massificação, visando sempre benefícios e retornos, principalmente econômicos (como fez Labão com Jacó). Roubar do outro o direito à consciência, à liberdade e à responsabilidade por suas ações (como na construção da Torre de Babel), submetendo-o a ser meio para conquistas quaisquer, pode gerar o desastre da “desumanização do homem”.

Diante das indagações acerca da contingência, da origem humana e de seu destino, surge a convicção de que deve haver um ser absoluto, criador, primeiro e último, ele sim necessário, razão suficiente e causa de tudo quanto existe – a este ser estamos vinculados através de uma relação essencial de dependência, de respeito. No Genesis, além disso, há uma relação de bênção, de necessidade de manutenção das experiências de fé, algumas vezes abaladas pela própria historia. A historia do homem e do universo, do povo e de uma terra, faz parte de uma experiência religiosa com o Deus que cria, que abençoa, que desinstala os patriarcas, que dá descendência e fertilidade, que aponta uma terra.  Assumir o Deus dos pais e considerar-se povo de Deus é o distintivo característico do livro das origens. Tudo procede de Deus e Deus é quem abençoa e dá a vida.

No entanto, o grande problema na relação com o Divino, que deveria ser uma relação que suprisse a pobreza ontológica essencial da contingência, encontra-se na manipulação e desmistificação desse Deus em contrapartida a uma exacerbação da autossuficiência humana (pecado original).  Portanto, o excesso de empirismo e o ateísmo somados aos interesses de religiões que apresentam um deus curandeiro de problemas diversos, colocam em risco a relação humana com o Criador.

O livro do Gênesis é um convite a lermos teologicamente o projeto de Deus para o homem: Deus quer-nos felizes e para isso, o homem precisa entender-se a partir de relações humanas maduras e ações conscientes.


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