quarta-feira, 28 de agosto de 2013

RESUMO DO DIRETÓRIO NACIONAL DE CATEQUESE (DNC) - PARTE VIII

Capítulo 8 - Lugares e organização da Catequese

     A catequese necessita aproveitar as novas conquistas tecnológicas, pedagógicas e científicas para o anúncio do Evangelho, bem como utilizar os espaços já constituídos como lugares de catequese, tornando-os dinâmicos e receptores à mensagem de fé. São lugares privilegiados de catequese a família como igreja doméstica, berço de vida e fé (pais são os primeiros e principais responsáveis pela vida e pela educação de seus filhos; são os primeiros educadores da fé); a comunidade cristã: lugar por excelência da catequese (nas comunidades eclesiais de base desenvolve-se uma catequese fecunda, através do clima fraterno, da percepção da realidade, da leitura da Palavra de Deus, da defesa da justiça e da busca da ação transformadora da sociedade, como ambiente adequado para uma catequese integral); a Paróquia (ambiente de catequese acolhe, educa e anima a vida dos cristãos); as pastorais, movimentos, grupos e associações (que não podem deixar de educar seus membros na fé e no senso de Igreja); e outros ambientes de catequese (muitos espaços desafiadores, sobretudo na cidade, onde a catequese precisa descobrir maneiras novas de apresentar às pessoas a proposta do Evangelho, incentivando a descoberta dos apelos de Deus no mundo moderno).
     Cada um desses lugares merece atenção especial. É necessário espírito de unidade para que a diversidade seja respeitada e a harmonia do conjunto contribua para um bom testemunho fraterno.
     Quanto ao tempo do processo educativo da fé, pode-se afirma que a catequese tem início no ventre materno. Descobre as primeiras raízes da fé no ambiente familiar, desenvolve-se na comunidade e solidifica-se no engajamento comunitário e processo formativo das etapas subseqüentes. Com relação à idade de catequese, a dificuldade não reside no estabelecimento de seu início, mas na idade para a celebração dos sacramentos, em especial, a Penitência-Eucaristia-Confirmação. Diante das distâncias geográficas do Brasil e da diversidade cultural-religiosa, torna-se inviável estabelecer uma norma e programa únicos. Alguns critérios devem ser levados em conta: a diocese tenha um projeto catequético que acompanhe as pessoas desde a infância até a idade avançada; a preocupação central da catequese seja a educação da fé, a iniciação à vida comunitária, a formação do cristão ético e solidário. A celebração do sacramento é uma decorrência da caminhada da fé e da vida comunitária; o critério não seja: “porque a criança quer”, “os pais insistem”, “é mais fácil”, mas o “crescimento na maturidade da fé, a iniciação na comunidade, a vivência sacramental e o compromisso com a solidariedade”; haja uma adequada integração entre as diversas etapas da caminhada da fé; a catequese priorize a educação da fé dos adultos, oferecendo-lhes acompanhamento e aprofundamento da fé, respostas às suas inquietações, indicações para a vivência familiar, profissional e o engajamento na vida eclesial; que o Rito da Iniciação Cristã de Adultos (RICA) seja conhecido e vivenciado nas comunidades e inspire todas as modalidades de catequese.
     Para funcionar melhor, é indispensável um ministério da coordenação da catequese. A coordenação é uma “co-operação”, uma ação em conjunto, de co-responsabilidade conforme os diversos ministérios. Jesus é a fonte inspiradora na arte de coordenar. Ele não assumiu a missão sozinho. Fez-se cercar de um grupo. Em Jesus, o ministério da coordenação e animação caracteriza-se pelo amor às pessoas e pelos vínculos de caridade e amizade. Ele conquista confiança e delega responsabilidades.
     Coordenar é missão de Pastor (cf Jo 10, 1-10) que conduz, orienta, encoraja catequistas  e catequizandos para a comunhão e participação, para a solidariedade e para a transformação da realidade social. Requer um trabalho em equipe, pois é um serviço representativo da comunidade, dos catequistas e das famílias. Reveste-se de uma mística do exercício da função de Cristo Pastor.
     Exercer o ministério da coordenação na catequese é gerar vida e criar relações fraternas. É promover o crescimento da pessoa, abrindo espaço para o diálogo, a partilha de vida, a ajuda aos que necessitam de presença, de incentivo e de compreensão. Não é uma função, mas uma missão que brota da vocação batismal de servir, de animar, de coordenar. Através da coordenação, o projeto de catequese avança, cria relações fraternas, promove a pessoa humana, a justiça e a solidariedade. A coordenação procure ser missionária, inserida na comunidade, formadora de atitudes evangélicas, comprometida com a caminhada da catequese e com as linhas orientadoras da diocese.
     A palavra chave deste ministério da coordenação é “articulação”. O coordenador não acumule funções, nem “se apascente a si mesmo, mas sim as ovelhas” (Ez 34, 2). São características do serviço da coordenação: assumir este ministério como uma missão que brota de uma experiência de vida cristã comunitária; suscitar vida entre as pessoas, cultivando um relacionamento humano, fraterno e afetivo; perceber a realidade sócio-econômica-política-eclesial e cultural que envolve as pessoas e as comunidades. Não há uma coordenação neutra: ela está situada num contexto sócio-cultural em nível local, nacional, mundial; assumir as exigências da coordenação como um serviço em benefício do crescimento das pessoas e da comunidade; criar uma rede de comunicação entre as diversas instâncias: comunidade, paróquia, diocese, regional e nacional; adotar a metodologia do aprender a fazer fazendo; ter capacidade para perceber que as pessoas têm saberes, capacidades, valores, criatividade e intuições que contribuem para o exercício da coordenação; desenvolver qualidades necessárias para um trabalho em equipe; saber lidar com desencontros, problemas humanos e situações de conflito com calma, num clima de diálogo, caridade e ajuda mútua; perceber a realidade e a estrutura da graça, mais do que a eficiência e o ativismo; buscar e partilhar conhecimento atualizado sobre planejamento participativo; integrar-se com as demais pastorais (pastoral orgânica).
      A missão catequética não se improvisa e nem fica ao sabor do imediatismo ou do gosto de uma pessoa. Catequese é uma ação da Igreja e um projeto assumido pela comunidade, como um processo de educação comunitária, permanente, progressiva, ordenada, orgânica e sistemática da fé. Jesus Cristo ensina a ter objetivos claros e ações concretas.
     A catequese precisa de uma organização apropriada para responder às situações e realidades diversificadas das comunidades e integrada na pastoral orgânica, para evitar a dispersão de forças. Ela será eficaz se a comunidade, paróquia e diocese tiverem um projeto de evangelização. A organização da catequese necessita ser mais evangelizadora e pastoral do que institucional. Assim responderá com mais flexibilidade aos objetivos e estará atenta aos clamores da vida e às exigências da fé. Precisa estar ligada aos acontecimentos, eventos e programações da Igreja, para caminhar em sintonia com a comunidade, garantindo a unidade e a comunhão.
     A organização da catequese no Brasil constitui-se em vários níveis: paroquial, diocesano, regional e nacional. A cada instância correspondem algumas tarefas específicas. Em âmbito paroquial haverá uma equipe de catequese, sob a orientação pastoral do pároco. Ela envolverá membros das comunidades e catequistas das várias etapas da catequese, devendo estar integrada e presente no Conselho Pastoral da Paróquia ou da comunidade; articular os projetos e programas assumidos em conjunto; estar em sintonia e integrada com a programação paroquial; assumir as propostas da catequese em nível diocesano e as orientações aprovadas pela Diocese; promover reuniões periódicas para programar e avaliar; dar nova condução a trabalhos sem eficiência, corrigindo as falhas; assegurar formação adequada e permanente dos catequistas, em nível local, sistematizando jornadas, semanas, escolas paroquiais de catequese;
     A organização da catequese na diocese tem como ponto de referência o Bispo e sua equipe de coordenação. A coordenação diocesana da catequese, formada por uma equipe (bispo, padres, diáconos, religiosos e catequistas), assume tarefas fundamentais, como: buscar uma visão clara da realidade geográfica, histórica, cultural, sócio-econômica e política da diocese; perceber os desafios, as ameaças e as oportunidades com relação à prática catequética; elaborar um planejamento com objetivos claros, ações concretas, integrado com a pastoral da diocese; estabelecer os itinerários e a modalidade da catequese segundo a pedagogia catecumenal para as diversas idades, especialmente para adultos, tanto batizados como não batizados; discernir sobre a idade, duração das etapas, celebrações e outros elementos necessários para o bom andamento da catequese; elaborar ou indicar para a diocese instrumentos necessários para a educação da fé de seus membros como: textos, manuais, subsídios, programas para diferentes idades; promover uma aprimorada formação dos catequistas, sobretudo das coordenações paroquiais, envolvendo-os em jornadas, reuniões, escolas catequéticas, retiros, momentos de oração e de confraternização; criar e organizar escolas catequéticas diocesanas com programas e conteúdos adequados à realidade, com maior atenção à formação bíblica, litúrgica e metodológica; prover fonte de recursos e uma sustentação econômica para o projeto catequético diocesano; integrar a catequese com a liturgia, os ministérios, as pastorais e ações prioritárias assumidas; efetivar os compromissos assumidos em nível nacional e aprovados pela CNBB, entre eles a elaboração ou renovação do Diretório Diocesano de Catequese; ler, estudar e aprofundar documentos elaborados em nível nacional, latino-americano e da Sé Apostólica, e colocá-los na prática com os catequistas; participar com responsabilidade das reuniões efetivadas em nível regional;utilizar os meios de comunicação e a internet para possibilitar um intercâmbio e maior aprofundamento; detectar os “novos areópagos” da catequese no âmbito da diocese.
     A coordenação da catequese em nível regional é constituída por representantes escolhidos pelas coordenações das dioceses, tendo à frente um bispo e uma equipe formada por leigos, religiosos, seminaristas, diáconos e presbíteros. É missão dessa equipe manter a unidade e a comunicação entre as dioceses do regional e com a Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética;    favorecer a formação catequética através de cursos ou escolas para as coordenações diocesanas e das diferentes etapas na caminhada da fé; dentre outros.
     Segundo o Diretório Catequético Geral é absolutamente necessário, em nível nacional, um órgão permanente em função da catequese. A CNBB em sua organização inclui a Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética, com o objetivo de animar a pastoral bíblica e dinamizar a catequese. Ela é formada por uma comissão de três bispos, auxiliados por dois assessores. Essa equipe nacional tem as funções de animar, acompanhar e alimentar com boa reflexão a catequese em nível nacional; levar a termo os projetos da animação bíblico-catequética, assumidos pela CNBB no quadriênio; animar a pastoral bíblica; propor, em parceria com o setor da liturgia, itinerários catequéticos inspirados na dimensão catecumenal, tendo presente o RICA; convocar e presidir as reuniões dos diferentes níveis de atuação: Grupo de Reflexão Catequética (GRECAT), Grupo de Reflexão Bíblica Nacional (GREBIN), Grupo das Escolas Catequéticas (GRESCAT), Grupo dos catequetas e outros; representar a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil nos encontros nacionais e internacionais de catequese e bíblia; viabilizar a prática deste Diretório Nacional de Catequese e dos documentos da catequese dos diversos níveis: nacional, latino-americano e da Sé Apostólica; entre outros.
     A Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética manterá permanente contato e mútua colaboração com: o secretariado nacional de catequese dos diversos países, com a Secção de Catequese do CELAM, com a Federação Bíblica Católica (FEBIC), com a Sociedade de Catequetas Latino-americanos (SCALA), com o Conselho Internacional de Catequese (COINCAT) e com a Congregação para o Clero.
  
 CONCLUSÃO
     O Diretório Nacional de Catequese, sem dúvida inspiração do Espírito Santo, é um grande instrumento de aperfeiçoamento para o cumprimento do mandato de Jesus Cristo feito a seus discípulos, que hoje se estende a nós, de levar ao mundo o seu Evangelho. É motivo de alegria, entusiasmo e impulso de renovação: uma conquista brasileira que não podemos deixar de celebrar, um corajoso encontro com as “águas mais profundas” da ação evangelizadora.
     São muitos os colaboradores, catequetas, religiosas, padres, catequistas em geral empenhados em tornar concreta essa nova primavera da catequese no Brasil. Um Diretório tão completo e de grande expressão, passa a ser o direcionamento para uma catequese madura, séria, em sintonia com a missionariedade e o discipulado, presentes no Documento de Aparecida, com o Projeto de Evangelização, com o desejo de Jesus de construir comunidades conscientes, livres e abertas a fraternidade, ao amor.
     Sendo a catequese parte do itinerário de conversão e desencadeadora do discipulado, faz-se necessário tal orientação, que aponte caminhos, seja eficaz e movimente toda a Igreja em um compromisso na construção do Reino.
 O caminho para uma catequese que dê sentido a vida humana esta proposto, o projeto está em nossas mãos. São muitas orientações que alimentam a prática catequética e a possibilidade de fazer crescer no cristão o conhecimento da fé, as virtudes humanas que influenciem a cultura para a adesão à vida em abundância, sinal da graça do Reino de Deus. Todos são convidados a ser pontes para esse processo de produção de uma realidade mais coerente com o projeto de Cristo: formar discípulos a partir da realidade para transformação eficaz dessa realidade.    

**Diácono Roberto Bocalete

terça-feira, 27 de agosto de 2013

RESUMO DO DIRETÓRIO NACIONAL DE CATEQUESE (DNC) - PARTE  VII

Capítulo 7 - Ministério da Catequese e seus protagonistas

                A catequese está na base de todo trabalho da Igreja. O próprio modo de ser Igreja, com as relações humanas que se estabelecem, a qualidade do testemunho, as prioridades estabelecidas, determina o estilo da catequese, que reflete o rosto da Igreja particular de onde brota.
                A catequese é um ato essencialmente eclesial. Não é uma ação particular. A Igreja se edifica a partir da pregação do Evangelho, da Catequese e da Liturgia, tendo como centro a celebração da Eucaristia. A catequese é um processo formativo, sistemático, progressivo e permanente de educação da fé. Promove a iniciação à vida comunitária, à liturgia e ao compromisso pessoal e com o Evangelho. Mas prossegue pela vida inteira, aprofundando essa opção e fazendo crescer no conhecimento, na participação e na ação.
                Catequese é serviço essencial e insubstituível; os catequistas servem a este ministério e agem em nome da Igreja. A catequese também consolida a vida da comunidade. Por isso, a Igreja é convidada a consagrar à catequese os seus melhores recursos de pessoal e energias, sem poupar esforços, trabalhos e meios materiais, a fim de a organizar melhor e de formar para a mesma, pessoas qualificadas. A Diocese deve sentir-se responsável pela catequese num trabalho conjunto com os presbíteros, diáconos, religiosos (as), catequistas e membros da comunidade, em comunhão com o Bispo. A catequese atinge diretamente as pessoas, sua experiência de vida, suas buscas profundas. Por isso ela é espaço de acolhida, de diálogo, de clima fraterno, de respeito ao diferente, de ternura e de confiança, pois o “testemunho de vida” fala mais alto do que as normas e as exigências rígidas.
                Para frutificar, a catequese necessita de organização, planejamento e recursos. Há também a necessidade de prover os catequistas de recursos, tanto para a tarefa catequética propriamente, como para a sua formação permanente. Catequistas são sabidamente generosos, oferecem seus serviços e seu tempo em espírito de gratuidade. Mas muitos são pobres e cooperam penosamente no sustento da família. A comunidade que aceita seu trabalho e precisa tanto deles deve ter sensibilidade para pôr à disposição da catequese livros, material pedagógico, cobertura financeira para cursos, encontros, reuniões dos quais os catequistas devam participar. Cabe à comunidade cristã acompanhar a organização da catequese, a qualificação dos catequistas e a acolhida dos catequizandos. Assim a ação catequética torna-se uma mútua responsabilidade, uma fonte de troca de experiências e de crescimento entre catequistas e a comunidade cristã.
             O futuro da evangelização depende em grande parte da Igreja doméstica. Para que a família exerça sua responsabilidade como educadora da fé, é preciso valorizar: a família como santuário da vida, onde se faz a primeira e indispensável experiência do amor, de Deus, da fé, de vida cristã e de solidariedade; o clima familiar propício; a valorização dos eventos, festas e celebrações familiares, enriquecendo-os com conteúdo cristão; as oportunidades de formação para que a vida de família seja um itinerário da fé e escola de vida cristã.
             Os fiéis leigos têm missão importante como batizados e crismados. Eles têm uma sensibilidade especial para encarnar os “valores do Reino” na vida concreta, a partir de sua inserção no mundo do trabalho, da família, das profissões, da política, da cultura... especialmente entre os afastados ou em ambientes onde outros agentes da Igreja não estão habitualmente presentes. 
                Dentre os fiéis leigos, temos catequistas: são milhares de mulheres, homens, jovens, anciãos e até adolescentes que descobrem, na experiência de fé e na inserção na comunidade, a vocação de catequista. Exercem esta missão com esmero, com doação e amor à Igreja. Assim dedicam-se de modo especial ao serviço da Palavra, tornando-se porta-vozes da experiência cristã de toda comunidade.
             A Igreja convoca à atividade catequética as pessoas de Vida Consagrada e deseja que as comunidades religiosas consagrem o máximo das suas capacidades e de suas potencialidades à obra específica da catequese, pois o testemunho dos religiosos, unido ao testemunho dos leigos, mostra a face única da Igreja que é sinal do Reino de Deus. Convida também os religiosos desde a formação inicial a participarem da formação, organização e animação catequética em sintonia com o Plano de Pastoral e orientações da diocese. A presença alegre, disponível e entusiasta de religiosos na catequese aviva a comunidade e anima os catequistas.
             Os presbíteros estimulam a vocação e a missão dos catequistas, ajudando-os a realizar o ministério catequético. A Igreja espera deles que não descuidem nada em vista de uma atividade catequética bem estruturada e bem orientada. É responsabilidade dos presbíteros e dos diáconos, mas principalmente dos párocos: entusiasmar-se pela catequese para que os catequistas se sintam valorizados; acompanhar a catequese em clima de diálogo com a coordenação, dando estímulo à formação permanente dos catequistas;        estimular e apoiar a vocação catequética, ajudando os catequistas a realizarem esse ministério com amor e fidelidade; suscitar na comunidade o senso da responsabilidade para com a catequese; estar atento à qualidade da mensagem, à metodologia, ao crescimento na leitura bíblica, à dimensão antropológica da catequese, ao comprometimento da catequese com a transformação da realidade social; integrar a catequese no projeto de evangelização, em estreita ligação com a liturgia e o compromisso social;       favorecer a formação de catequistas e outros gastos da catequese.
                O Bispo é o primeiro responsável da catequese na diocese e esse empenho episcopal na promoção da catequese implica em: assegurar efetiva prioridade de uma catequese ativa e eficaz na diocese, com atenção especial na cidade; suscitar e alimentar uma verdadeira paixão pela catequese;incentivar a devida preparação dos catequistas, abrangendo: método, conteúdo, pedagogia e linguagem; acompanhar e atualizar a qualidade dos textos utilizados na catequese; despertar o ministério catequético; zelar pela formação catequética dos presbíteros, tanto nos seminários como na formação permanente.
                O momento histórico em que vivemos, com seus valores e contra-valores, desafios e mudanças, exige dos evangelizadores preparo, qualificação e atualização. Neste contexto, a formação catequética é prioridade absoluta. A formação dos catequistas tem como objetivos: favorecer a cada catequista o seu próprio crescimento e realização; capacitar os catequistas como comunicadores; preparar os catequistas para desenvolver as tarefas de iniciação, de educação e de ensino e para que sejam autênticos mistagogos da fé; ajudar na busca de maior maturidade na fé, conscientizando para a importância de uma clara identidade cristã; assumir como dever próprio da catequese mostrar quem é Jesus Cristo; preparar animadores que atuem em diferentes níveis: nacional, regional, diocesano e paroquial; desenvolver uma educação da fé que ajude a fazer a inculturação da mensagem.
                O catequista bem formado capacita-se para comunicar e transmitir o Evangelho com convicção e autenticidade; tornar-se um verdadeiro discípulo de Jesus Cristo; assumir uma espiritualidade sustentada pelo testemunho quotidiano de justiça e solidariedade, pela Palavra de Deus, pela Eucaristia e pela missão; crescer de forma permanente na maturidade da fé, com clareza de fé, de identidade cristã e eclesial, e com sensibilidade social; proporcionar o gosto pela Palavra de Deus e fazê-la ecoar e repercutir na vida da comunidade;
                Critérios são pressupostos que devem ser levados em conta na formação. Ninguém nasce pronto. Cada ser humano vai adquirindo experiências no processo de crescimento. É o princípio aprender-fazendo. A formação catequética é um longo caminho a ser percorrido, através de conhecimentos, de práticas iluminadas pela reflexão bíblico-teológica e metodológica. Requer sintonia com o tempo atual e com a situação da comunidade. A formação catequética levará em conta a pedagogia e a metodologia próprias da transmissão da fé. Terá presente o processo da catequese e da formação dos catequistas que conduz cada pessoa a crescer na maturidade da fé.
                A formação catequética necessita perceber as riquezas, bem como os limites pessoais de cada educador da fé e sua capacidade de trabalhar em equipe. Deve dar-lhe consciência de que falará em nome da Igreja e que para isso, é preciso estar integrado numa comunidade. A formação proporciona conhecimentos para desenvolver os conteúdos, ajudar a criar um espírito de alegria e de esperança para superar os desafios, as tensões e medos. Um catequista bem preparado, que sente ter sucesso no que faz, estará menos propenso a desistir.
                O perfil do catequista é um ideal a ser conquistado, olhando para Jesus, modelo de Mestre, de servidor e de catequista. Sendo fiel a esse modelo, é importante desenvolver as diversas dimensões: ser, saber, saber fazer em comunidade.
                O catequista dever ser pessoa que ama viver e se sente realizada. Assume seu chamado com entusiasmo e como realização de sua vocação batismal. Compromete sua vida em benefício de mais vida para o seu próximo. Ser catequista é assumir corajosamente o Batismo e vivenciá-lo na comunidade cristã. É mergulhar em Jesus e proclamar o Reinado de Deus, convidando a uma pertença filial à Igreja. O processo formativo ajudará a amadurecer como pessoa, como cristão e cristã e como apóstolo e apóstola.
                Quanto ao SER do educador da fé podemos destacar o catequista como:
 1. Pessoa que ama viver e se sente realizada;
 2. Pessoa com maturidade humana e de equilíbrio psicológico.
 3. Pessoa de muita espiritualidade, que quer crescer em santidade.
 4. Pessoa que sabe ler a presença de Deus nas atividades humanas.
 5. Pessoa integrada no seu tempo e identificada com sua gente.
 6. Pessoa que busca, constantemente, cultivar sua formação.
 7. Pessoa de comunicação, capaz de construir comunhão.
                A formação do catequista requer um conhecimento adequado da mensagem que transmite e ao mesmo tempo do interlocutor que a recebe, além do contexto social em que vive. É importante ressaltar a necessidade de conjugar sempre a teoria com a prática. Quanto ao SABER do educador da fé destaca-se:
1. Suficiente conhecimento da Palavra de Deus.
2. Conhecimento dos elementos básicos que formam o núcleo de nossa fé.
3. Familiaridade com as ciências humanas, sobretudo pedagógicas.
4. Conhecimento das referências doutrinais e de orientação: Catecismo da Igreja Católica, documentos catequéticos, manuais...
5. Conhecimento suficiente da pluralidade cultural e religiosa, com capacidade para encontrar nela as sementes do Evangelho.
6. Conhecimento das mudanças que ocorrem na sociedade, inteirando-se sobre as descobertas recentes da ciência nos diversos campos: genética, tecnologia, informática...
7. Conhecimento da realidade local, da história dos fatos, acontecimentos, festas da comunidade, como terreno para uma boa semeadura da mensagem.
                Para que o catequista possa tornar-se uma pessoa de testemunho e de confiança perante a comunidade, é preciso que seja competente em sua ação catequética (SABER FAZER), superando a improvisação e a simples boa vontade. Para isto, é preciso levar em consideração várias dimensões: relacionamento (relacionamento afetuoso, acolhedor, misericordioso, que permitiam às pessoas maior proximidade); educação (a formação procurará fazer amadurecer no catequista a capacidade educativa, que implica: a faculdade de ter atenção com as pessoas, a habilidade de interpretar e responder à demanda educativa, a iniciativa para ativar processos de aprendizagem e a arte de conduzir um grupo humano para a maturidade); comunicação; pedagogia (conhecer e integrar elementos de pedagogia na sua prática, fundamentando-a na pedagogia divina, com ênfase na pedagogia da encarnação); metodologia (inspirar no princípio da interação fé e vida); e programação (planejamento de forma conjunta com o pároco, pais, catequistas e catequizandos, fazendo uma interação com a programação própria da comunidade). É possível desenvolvê-las através de práticas operativas, que vão possibilitando maior experiência.
                A formação dos animadores de catequese dá-se de forma sistemática e permanente e também de maneira assistemática no cotidiano da vida. No processo formativo, em primeiro lugar se coloca a comunidade cristã. Ela é fundamental, tanto para a formação do catequista, como para a permanência do catequizando, como membro da Igreja. Outros espaços são a família, a diocese, a formação continuada em níveis básicos, superior, Escolas catequéticas

             A formação para os seminaristas, diáconos e presbíteros é de suma importância, em função do ministério da evangelização e da catequese. O presbítero e diácono são ministros da Palavra por excelência. Por isso, são os animadores que fazem a Palavra ressoar em todos os âmbitos da catequese e da comunidade. O presbítero se define também como o “educador da fé”.

**Diácono Roberto Bocalete

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

RESUMO DO DIRETÓRIO NACIONAL DE CATEQUESE (DNC) - PARTE VI

Capítulo 6: Destinatários como interlocutores no processo catequético

                Jesus, em seu ministério, proclama ter sido enviado para anunciar aos pobres a Boa Nova dando a entender e confirmando-o depois com sua vida, que o Reino é destinado a todos os povos, a partir dos menos favorecidos. A catequese é direito do batizado e dever sagrado imprescindível da Igreja, sendo que todos os batizados possuem o direito de receber da Igreja um ensino e uma formação que lhes permitam chegar a ter uma verdadeira vida cristã; na perspectiva dos direitos humanos, a pessoa humana tem o direito de procurar a verdade religiosa e de a esta aderir livremente. Assim, o Evangelho se destina em primeiro lugar à pessoa humana concreta e histórica e será transmitido em sua riqueza e sempre adequado aos diversos ouvintes. A criatividade e arte dos catequistas estão a serviço deste critério fundamental. A pedagogia da fé precisa então atender às diversas necessidades e adaptar a mensagem e a linguagem cristãs às diferentes situações dos interlocutores.
                A catequese conforme as idades é uma exigência essencial para a comunidade cristã. Leva em conta os aspectos, tanto antropológicos e psicológicos como teológicos, para cada uma das idades. É necessário integrar as diversas etapas do caminho de fé. Esta integração possibilita uma catequese que ajude cada um a crescer na fé, à medida que vai crescendo em outras dimensões da sua maturidade humana e tendo novos questionamentos existenciais.
                Para cada faixa de idade, há um tratamento diferente, específico.         Os adultos são, no sentido mais amplo, os interlocutores primeiros da mensagem cristã. Deles depende a formação de novas gerações cristãs, através do testemunho da família, no mundo social e político, no exercício da profissão e na prática de vida e da comunidade. “É na direção dos adultos que a evangelização e a catequese devem orientar seus melhores agentes. São os adultos os que assumem mais diretamente, na sociedade e na Igreja, as instâncias decisórias e mais favorecem ou dificultam a vida comunitária, a justiça e a fraternidade.
                A catequese com adultos leva em conta as experiências vividas e os desafios que eles encontram, como também suas interrogações e necessidades em relação à fé. Ao trabalhar com adultos devemos considerar aspectos importantes: adultos podem assumir responsabilidades, são mais influentes na sociedade, precisam ser educados com um diálogo maduro.
                A catequese com adultos tem como missão reforçar a opção pessoal por Jesus Cristo; promover uma sólida formação dos leigos; estimular e educar para a prática da caridade, na solidariedade e na transformação da realidade; ajudar a viver a vida da graça, alimentada pelos sacramentos; formar cada pessoa para cumprir os deveres do próprio estado de vida, buscando a santidade; dar resposta às dúvidas religiosas e morais de hoje; educar para viver em comunidade; educar para o diálogo ecumênico e inter-religioso; ajudar na animação missionária além fronteira.
                É necessário levar em conta as situações e circunstâncias que exigem particular forma de catequese: a catequese de iniciação cristã e o catecumenato de adultos; a catequese ao povo de Deus nas missões populares, nas romarias; nos principais acontecimentos da vida (Batismo, primeira Comunhão Eucarística, Confirmação, Matrimônio e Exéquias); catequese para pessoas que vivem em situações canonicamente irregulares ou para pessoas que vêm de outras igrejas e grupos religiosos.
                Na catequese com pessoas idosas é preciso destacar o valor de cada um como um dom de Deus à Igreja e à sociedade, pela sua grande experiência de vida. Muitas vezes os idosos estão até mais disponíveis para servir à comunidade, dentro e fora da Igreja. Descobrir talentos e possibilidades nessa situação também é função da catequese, como também agir em ação conjunta com outras pastorais e movimentos em prol da dignidade das pessoas idosas. São pessoas que merecem uma catequese adequada. De qualquer maneira, a condição de idoso exige uma catequese de esperança, que os leve a viver bem esta fase da própria vida e a dar o testemunho às novas gerações e assim se prepararem para o encontro definitivo com Deus.
                A catequese com jovens, adolescentes e crianças inclui, na medida do possível, o trabalho com os pais e o empenho de contribuir com o crescimento na fé de toda a família. A juventude é a fase das grandes decisões. Os jovens passam a assumir seu próprio destino e suas responsabilidades pessoais e sociais. Buscam o verdadeiro significado da vida, a solidariedade, o compromisso social e a experiência de fé, pois é uma sua característica ser altruísta e idealista. Pelo marcante significado e pelos riscos a que estão expostos nessa fase da vida, os jovens são interlocutores que merecem uma atenção especial da catequese.
                A catequese para jovens leva em consideração as diferentes situações religiosas, emocionais e morais, entre as quais jovens não batizados, batizados que não realizaram um processo catequético, nem completaram a iniciação cristã, jovens que atravessam crise de fé, ao lado de outros, que buscam aprofundar a sua opção de fé e esperam ser ajudados. A catequese aos jovens será mais proveitosa se procurar colocar em prática uma educação da fé orientada ao conjunto de problemas que afetam suas vidas. Para isso, a catequese integra a análise da situação atual, ligando-se às ciências humanas, à educação, à colaboração dos leigos e dos mesmos jovens.
              A catequese com jovens, levando em conta o seu protagonismo, realiza-se através de: participação em retiros, acampamentos e outros momentos de convívios; participação em encontros para integrar os jovens com as famílias; pertença e participação nos grupos de jovens (pastoral da juventude) e pastorais afins; acompanhamento personalizado ao jovem, acentuando a direção espiritual ao projeto de vida, incluindo a dimensão vocacional; auxílio à formação da personalidade do jovem, levando em conta as diferentes situações sociais, econômicas, religiosas e seu processo evolutivo de amadurecimento; estímulo e crescimento para a vivência comunitária e eucarística; preparação para os sacramentos da iniciação cristã, principalmente para a Confirmação, com duração prolongada e como tempo forte para o amadurecimento da fé, engajamento na comunidade, compromisso social e testemunho cristão, dando destaque à esmerada celebração do referido sacramento; educação para o amor, a afetividade e a sexualidade; educação para a cidadania e para a consciência participativa nas lutas sociais; preparação para o Sacramento do Matrimônio; educação para a oração pessoal e comunitária; orientação para o estudo e leitura da Sagrada Escritura;
                A catequese com adolescentes deve considerar a característica principal dessa idade é o desejo de liberdade, de pensamento e ação, de autonomia, da auto-afirmação, de aprendizagem do inter-relacionamento na amizade e no amor. Esta fase tão turbulenta, nem sempre recebe os devidos cuidados pastorais, ocasionando um vácuo entre a Primeira Comunhão Eucarística e a Confirmação. Urge para os adolescentes um projeto de crescimento na fé, do qual eles mesmos sejam protagonistas na descoberta da própria personalidade, no conhecimento e encantamento por Jesus Cristo, no compromisso com a comunidade e na coerência de vida cristã na sociedade. As atividades próprias para a catequese nesta idade são: acolher o adolescente na comunidade e favorecer o compromisso real e fiel na mesma; oferecer oportunidades para que na busca do seu universo, o adolescente se sinta estimulado para a vivência cristã; criar grupos de catequese de perseverança, coroinhas, adolescência missionária, animação, canto, teatro, missão de férias; realizar passeios, entrevistas, romarias, excursões; refletir temas próprios da idade, buscando auxílio das ciências, sobretudo a psicologia;   organizar equipes de serviços comunitários, tanto eclesiais quanto sociais; alimentar a consciência de que o crescimento na fé requer uma formação continuada rumo à maturidade em Cristo.
                A Catequese com a primeira e segunda infância não poderá ser fragmentada ou desencarnada da realidade, mas deve favorecer a experiência com Cristo na realidade em que a criança vive.    As crianças de hoje são mais ativas, fazem mais perguntas e não se deixam convencer simplesmente com o argumento da autoridade de quem fala. Com maior acesso aos meios de comunicação, podem até ter mais informações sobre a realidade do que o catequista, embora não disponham da necessária maturidade para analisar tudo que recebem. O catequista precisa conhecer e ouvir cada criança para descobrir o melhor modo de cumprir sua missão. O processo catequético terá em consideração o desenvolvimento dos sentidos, a contemplação, a confiança, a gratuidade, o dom de si, a comunicação com Deus, a alegria da participação.
                A infância constitui o tempo da primeira socialização, da educação humana e cristã na família, na escola e na comunidade. É preciso considerá-la como uma etapa decisiva para o futuro da fé, pois nela, através do Batismo e da educação familiar, a criança inicia sua iniciação cristã. É nesta idade que se atinge o maior número de catequizandos e há o maior envolvimento de catequistas por causa da Primeira Comunhão Eucarística, que não deve ter caráter conclusivo do processo catequético, mas a continuidade com uma catequese de perseverança que favoreça o engajamento na comunidade eclesial.
                A educação para a oração (pessoal, comunitária, litúrgica), a iniciação ao correto uso da Sagrada Escritura, o acolhimento dentro da comunidade e o despertar da consciência missionária são aspectos centrais da formação cristã dos pequenos. É preciso cuidar da apresentação dos conteúdos, de forma adequada à sensibilidade infantil. Embora a criança necessite de adaptação de linguagem e simplificação de conceitos, é importante não semear hoje o problema de amanhã.
                Além das idades, é fundamental estar atento à diversidade, ao diferente e a situação especial. Nossa realidade exige que a catequese leve em conta os valores oriundos da cultura e religiosidade indígena e afro-brasileira, sem ignorar ambigüidades próprias de cada cultura. É importante considerar a globalidade e a unidade da cultura e da religiosidade dos povos e etnias, que se expressam na simbologia, mística, ritos, dança, ritmo, cores, linguagem, expressão corporal e teologia subjacente às suas práticas religiosas. Somente assim se pode fazer uma verdadeira inculturação do Evangelho e compreender melhor as tradições religiosas de cada grupo, como verdadeira busca do sagrado.
                É grande, em nosso país, a quantidade de pessoas com deficiências. Elas têm o mesmo direito à catequese, à vida comunitária e sacramental. É preciso oferecer uma catequese apropriada em seus recursos e conteúdo sem reducionismo e simplismo que apontem para um descrédito das capacidades da pessoa com deficiência. Também não se pode deixar de mencionar o número expressivo de irmãos que possuem necessidades educacionais especiais, sejam elas provisórias ou permanentes, causadas por algum distúrbio ou outras especificidades. A estes a catequese dispense a atenção necessária.
                Esta catequese supõe uma preparação específica dos catequistas, pois cada necessidade diferente exige uma pedagogia adequada. É bom contar com o apoio de profissionais, como médicos, fonoaudiólogos, professores, fisioterapeutas, psicólogos e intérpretes em língua de sinais, sem que se perca o objetivo da catequese. Nesse processo, a família desempenha um papel importante para o qual deve receber a devida ajuda.
                A Palavra de Deus nos fala constantemente de órfãos, viúvas e estrangeiros.  Através dessas figuras, ela nos lembra as pessoas enfraquecidas e indefesas. Por elas Deus tem um cuidado especial. A catequese irá ao encontro dos marginalizados (pessoas prostituídas, presos, soropositivos, tóxico-dependentes, sem terra e outros) e dos mais pobres, consciente de que o bem que se faz aos irmãos mais pequeninos se faz a Jesus.A catequese, à luz da Palavra de Deus, compromete-se de maneira preferencial pelos marginalizados e sofredores.
                A catequese leve em conta também as pessoas que vivem em situação familiar canonicamente irregular. Partindo de sua situação, podem-se abrir portas para o engajamento, para a experiência de fé, para o serviço na comunidade, ajudando-os a aceitar e viver o amor em sua situação real. Na catequese com essas pessoas, muito pode auxiliar a pastoral familiar, no setor da segunda união.
                Há pessoas que, por sua profissão específica ou por sua situação cultural, necessitam de um itinerário especial para a catequese. É o caso de trabalhadores de turnos, profissionais liberais, de artistas, dos homens e mulheres da ciência, dos grupos de poder político, militar e econômico, da juventude universitária, dos meios de comunicação social e dos migrantes. Com esses grupos diferenciados, a Igreja crie espaços de experiência de fé, com propostas adequadas às inquietações e possibilidades de cada grupo.
                A catequese leve em conta o ambiente, pois este exerce influência sobre as pessoas e estas sobre o ambiente. O ambiente rural e o urbano exigem formas diferenciadas de catequese. A catequese no mundo rural procure refletir as necessidades que estão unidas à pobreza e à miséria, aos medos e às inseguranças. Também aproveitará os valores típicos desse modo de vida, rico de experiências de confiança, de vida, do sentido da solidariedade, de fé em Deus e fidelidade às tradições religiosas. A catequese no ambiente urbano leva em conta uma ampla variedade de situações, que vai desde o bem estar à situação de pobreza e marginalização.
                O pluralismo cultural e religioso, na complexidade do mundo atual, muitas vezes confunde e desorienta membros da comunidade. É indispensável uma catequese evangelizadora que eduque os cristãos a viverem sua vocação de batizados neste mundo plural, mantendo a sua identidade de pessoas que acreditam e de membros da Igreja, abertos ao dialogo com a sociedade e o mundo.
                A catequese assume a dimensão ecumênica no diálogo com os irmãos de outras Igrejas e comunidades cristãs. Os católicos precisam ser educados para a espiritualidade da unidade, exigência já bastante expressa nos nossos documentos eclesiais. Com outros cristãos, seremos capazes de dar ao mundo um testemunho mais convincente daquilo que o amor de Jesus é capaz de realizar.
                Seguindo o exemplo de Jesus Cristo, o Verbo encarnado na história, é urgente assumir a inculturação do Evangelho nas culturas. Para isso é preciso conhecer melhor cada cultura e entender os costumes do povo brasileiro, a fim de apresentar o Evangelho de modo mais familiar e eficiente. Símbolos, celebrações e encontros de catequese que levam em consideração a cultura dos destinatários tornarão a Igreja um espaço onde as pessoas se sentirão mais à vontade, respeitadas e valorizadas a partir do seu jeito próprio.
                A catequese, não apenas provoca uma assimilação intelectual do conteúdo da fé, mas também toca o coração e transforma a conduta. Deste modo, a catequese gera uma vida dinâmica e unificada da fé, encaminha para a coerência entre aquilo que se crê e aquilo que se vive, entre a mensagem cristã e o conteúdo cultural, estimula frutos de santidade.

                A inculturação da fé é, em certos aspectos, obra da linguagem . A catequese respeita e valoriza a linguagem própria da mensagem e entra em comunicação com formas e termos próprios da cultura de seus interlocutores. Os catequistas precisam encontrar uma linguagem adaptada para cada idade, a linguagem dos estudantes, dos intelectuais, dos analfabetos e pessoas de cultura elementar. Da Bíblia e da liturgia aprende-se que Deus não se contenta com a comunicação verbal, mas se comunica também e ainda mais eficazmente por ações e linguagem corporal e simbólica, fortemente marcada pela cultura.

**Diácono Roberto Bocalete

domingo, 18 de agosto de 2013

RESUMO DO DIRETÓRIO NACIONAL DE CATEQUESE (DNC) - PARTE V

PARTE 2: ORIENTAÇÕES PARA A CATEQUESE NA IGREJA PARTICULAR
Capítulo 5 - Catequese como Educação da Fé

                Este capítulo, dentro das orientações práticas, ajuda na reflexão acerca do método que se deve usar na ação catequética. A Sagrada Escritura apresenta Deus como educador da nossa fé. Ela revela diversos modos de interação entre Deus e seu povo. Deus, como educador da fé, se comunica através dos acontecimentos da vida, de forma adequada à situação pessoal e cultural de cada um, levando-o a fazer a experiência de seu mistério. Sua pedagogia parte da realidade das pessoas, acolhendo-as e respeitando-as na originalidade de sua vocação ou interpelando-as à conversão.
                A pedagogia catequética tem como modelo, sobretudo o proceder de Jesus Cristo, que, a partir da convivência com as pessoas, deu continuidade ao processo pedagógico do Pai e a catequese inspira-se nestes traços da pedagogia de Jesus: o acolhimento às pessoas, preferencialmente aos pobres, pequenos, excluídos e pecadores; o anúncio do Reino de Deus, como a Boa Notícia da verdade, da liberdade, do amor, da justiça, que dá sentido à vida; o convite amoroso para viver a fé, a esperança e a caridade por meio da conversão no seu seguimento;   o envio aos discípulos para semearem a Palavra em vista da transformação libertadora da sociedade; o convite para assumirem o crescimento contínuo da fé, através do mandamento novo do amor; a conversa simples, acessível, utilizando parábolas e gestos, adaptando-os aos interlocutores; a firmeza nas dificuldades, buscando a força na oração.
                O Espírito Santo é o princípio inspirador de toda atividade catequética e estimula o seguimento da pedagogia de Jesus. A catequese esclarece a experiência e a vivência no Espírito que o catequizando faz na liturgia, no ano litúrgico e na oração quotidiana, como o caminho de crescimento na fé.
                Há também uma experiência existencial, pessoal e comunitária de Deus, que é da vida, do coração, da contemplação, da relação consigo, com os outros, com a natureza e com Deus. Uma experiência que tem a marca do amor, amor que privilegia, a exemplo de Jesus, os mais necessitados. É este o caminho da catequese, iluminado pela ação do Espírito Santo: anuncia a verdade revelada, cria meios para a comunhão filial com Deus, a construção da comunidade de irmãos, o estabelecimento da justiça, da solidariedade, da fraternidade.
                A catequese olha também para a prática pedagógica da Igreja, que, como mãe e educadora da fé, procura imitar a pedagogia divina. A dedicação de tantos missionários, por si só, é uma pregação dos valores em que a Igreja crê, uma catequese movida pela força do exemplo. A vida de cada comunidade eclesial precisa ser coerente com o Evangelho, mobilizadora pela própria maneira de ser, de agir. Sem isso, a melhor catequese estaria exposta a uma crise se o catequizando não encontrasse na face concreta da Igreja um sinal de que é possível viver com autenticidade o seguimento de Jesus.
                A pedagogia catequética tem uma originalidade específica, pois seu objetivo é ajudar as pessoas no caminho rumo à maturidade na fé, no amor e na esperança. Os objetivos inspirados na pedagogia da fé são alcançados pela catequese quando impulsiona a pessoa a aderir livre e totalmente a Deus; introduz no conhecimento vivo da Palavra de Deus contida na Bíblia; e ajuda no discernimento vocacional das pessoas para que assumam na Igreja e na sociedade. A dimensão espiritual desta pedagogia da fé exige ainda clima de acolhimento e docilidade para o dom do Espírito, diante do qual se impõe uma atitude de humildade e obediência; ambiente espiritual de oração e recolhimento; palavra dita com autoridade e fortaleza. Diante dessa grave missão, o catequista precisa de sólida formação, humildade, senso de responsabilidade, espiritualidade e inserção na comunidade.
                Em todas as épocas, a Igreja preocupou-se em buscar os meios mais apropriados para o cumprimento de sua missão evangelizadora. Ela não possui um método único e próprio para a transmissão da fé, mas assume os diversos métodos contemporâneos na sua variedade e riqueza, garantindo a fidelidade do conteúdo. Utiliza-se das ciências pedagógicas e da comunicação, levando em conta a especificidade da educação da fé, assim, o catequista necessita de algum conhecimento de ciências humanas que possam oferecer boas indicações para o seu trabalho educativo. Um catequista que gosta de aprender, também fora do âmbito da Igreja, será mais criativo e terá mais recursos para dar conta da sua missão.
                O princípio metodológico básico é da interação fé e vida, sugerido pela Catequese Renovada, que indica que na catequese realiza-se uma inter-ação  entre a experiência de vida e a formulação da fé; de um lado, a experiência da vida levanta perguntas; de outro, a formulação da fé é busca e explicitação das respostas a essas perguntas. De um lado, a fé propõe a mensagem de Deus e convida a uma comunhão com ele; de outro, a experiência humana é questionada e estimulada a abrir-se para esse horizonte mais amplo. Essa confrontação entre a formulação da fé e as experiências de vida possibilita uma formação cristã mais consciente, coerente e generosa.
                Dentro desse princípio vários métodos podem servir: partir da realidade para chegar à resposta da fé (método indutivo); partir da fé e aplicá-la a realidade (método dedutivo); método ver, iluminar, agir, celebrar e rever (trata-se de um processo dinâmico na educação da fé)
                No método, são importantes a linguagem adequada e os meios didáticos. É necessário saber adaptar-se aos interlocutores, usando uma linguagem compreensível, levando em conta a idade, cultura e circunstâncias. A catequese faz uso da linguagem bíblica, histórico-tradicional (Credo, liturgia), doutrinal, artística e outras. É preciso, porém, estimular novas expressões do Evangelho com linguagens renovadas e comunicativas como a linguagem sensorial e midiática (rádio, TV, internet) e outras. O emprego dos meios didáticos e o uso de instrumentos de trabalho são úteis e mesmo necessários para a educação da fé.
                É importante trabalhar em grupo para favorecer o desenvolvimento dos valores individuais e coletivos dentro de um determinado campo social e catequético. A técnica de oficinas, aplicada à catequese, ajuda a realizar uma reflexão participativa e a promover o encontro da teoria com a prática na evangelização. É uma técnica que desenvolve um tema mediante a construção coletiva, confrontando-o com a Palavra de Deus e com a vivência comunitária.
                Não há comunicação religiosa sem experiência humana. O desejo de Deus e do bem faz parte da pessoa humana. Perceber como isso se manifesta em cada pessoa ajuda o catequista a tornar relevante a comunicação da esperança e da fé cristãs. Nessa experiência humana podemos incluir as inquietações e problemas humanos sérios que são retratados em boas obras de cinema, literatura, música, teatro.
                A catequese faz parte da “memória da Igreja”, entendida sobretudo como “memorial”: manter viva entre nós a presença do Senhor. É por isso que a “memorização” é importante para reter o que foi assimilado, o que ficou no coração. Saber “de cor” ou “decorar” significa saber “de coração”. Portanto, o que se memoriza deve antes passar pelo coração, pela experiência, pelo sentimento de quem aprende, e isto se faz, antes de tudo, pela vivência e celebração: o repetir ritualmente gestos, sinais, palavras... vai repercutir na vida, ajudando a guardar no coração e não apenas na cabeça.
                Como recurso didático, é necessária a memorização das palavras de Jesus, das passagens bíblicas importantes, dos dez mandamentos, das fórmulas da profissão de fé, dos textos litúrgicos e orações mais importantes e das noções principais da doutrina.
                A evangelização não pode prescindir, hoje, dos meios de comunicação e da cultura que deles está nascendo. A mídia, para muitos, torna-se o principal instrumento de informação e de formação, guia e inspiração dos comportamentos individuais. Diante disto, há novas exigências para a catequese. A Igreja reconhece que os meios de comunicação social podem ser fatores de comunhão e contribuem para a integração entre as pessoas.
                Nenhuma metodologia dispensa a pessoa do catequista no processo da catequese. A alma de todo método está no carisma do catequista, na sua sólida espiritualidade, em seu transparente testemunho de vida, no seu amor aos catequizandos, na sua competência quanto ao conteúdo, ao método e à linguagem. O catequista é um mediador que facilita a comunicação entre os catequizandos e o mistério de Deus, das pessoas entre si e com a comunidade. A vocação do catequista é a realização da sua vida batismal e crismal, onde, mergulhado em Jesus Cristo, participa da missão profética: proclamar o Reino de Deus. Integrado na comunidade eclesial e enviado por ela, conhece a sua realidade e aspirações, sabe utilizar a pedagogia adequada, animar e coordenar com a participação de todos. É de substancial importância a relação do catequista com os catequizandos e suas famílias, considerando-os mais como interlocutores do que como destinatários da catequese
                A comunidade eclesial é fonte e agente essencial no processo catequético. Ela é catequizada e catequizadora. E como evangelizadora, começa por se evangelizar a si mesma, em crescente abertura a outras comunidades. Nela, a vida de oração, a escuta da Palavra de Deus, o ensino dos apóstolos, a caridade fraterna vivida na fração do pão e na partilha dos bens, provocam a admiração e a conversão.  A comunidade cristã é a referência concreta para que a pedagogia catequética seja eficaz. Para isso a comunidade deve ser o lugar onde se vive o Evangelho e se alimenta continuamente a adesão à proposta de Jesus.

                É importante, por fim, que o catequista não atue sozinho, mas sempre em comunidade, em grupo. O catequista que participa da vida de grupo, reconhece ser, em nome da Igreja, testemunha ativa do Evangelho, participando da vida eclesial, encontrando na Eucaristia uma grande fonte de crescimento pessoal e de inspiração para a realização de suas aspirações.

**Diácono Roberto Bocalete

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

RESUMO DO DIRETÓRIO NACIONAL DE CATEQUESE (DNC): PARTE IV

Capítulo 4 - Catequese: Mensagem e Conteúdo

     Na catequese, quando se fala em conteúdo, pensa-se em geral na doutrina e na moral. Esta visão afeta o encaminhamento do processo catequético. A mensagem não se limita a propor idéias: ela exige uma resposta, pois é interpelação entre pessoas, entre aquele que propõe e aquele que responde. A mensagem é vida. Cristo anunciou a Boa Nova, a salvação e a felicidade e as multidões escutavam-no, porque viam nele a esperança e a plenitude da vida.
    O Diretório aponta conteúdos fundamentais, que não devem ser esquecidos: a mensagem de Jesus (Projeto de Amor, o caminho à verdadeira felicidade, vivida como numa grande família de Deus), a Trindade como modelo de uma Igreja de comunhão (Deus-Comunhão de Pai, Filho e Espírito Santo é a inspiração da comunhão que somos chamados a viver), a Igreja a serviço do Reino (a mensagem de Jesus chega até nós através do anúncio missionário e é aprofundada e vivida na comunidade dos que seguem o caminho do Evangelho), Maria como discípula que mostra o caminho que nos leva a Jesus (A presença da Virgem Maria, Mãe de Deus e Mãe da Igreja é importante: sua fé foi dom, abertura, resposta e fidelidade; por ser tão importante a relação dos fiéis com a mãe de Jesus, a catequese deve cuidar para que ela seja bem fundamentada, esclarecida, liberta de atitudes inadequadas e vista como um caminho que conduz a Jesus e por Ele ao Pai).
    Como ajuda, o Diretório aponta alguns critérios para bem apresentar a mensagem:     centralidade da pessoa de Jesus Cristo, como deus e homem, o que introduz à dimensão trinitária e antropológica da mensagem; valorização da dignidade humana (mistério da encarnação);    anúncio da Boa Nova do Reino de Deus em vista da salvação, o que implica uma mensagem de conversão e libertação; mensagem situada dentro da vida e história da Igreja;  inculturação, uma vez que a mensagem evangélica é destinada a todos os povos; isto supõe que a mensagem seja apresentada, gradualmente, em sua integridade e pureza; a mensagem cristã organizada, destacando o mais importante.
    
Duas fontes regam a catequese: a Palavra de Deus (Bíblia) e a Liturgia.               
    A fonte na qual a catequese busca a sua mensagem é a Palavra de Deus: esta Palavra de Deus é compreendida e vivida pelo senso de fé do Povo de Deus, é celebrada na liturgia, brilha na vida, no testemunho e na caridade dos cristãos, particularmente dos santos, é aprofundada na pesquisa teológica e manifesta-se nos genuínos valores religiosos e morais que, como sementes, estão disseminados nas culturas.
    A Bíblia deve ajudar a formar comunidades de fé (a Palavra é fonte do conhecimento da vontade de Deus), a alimentar a identidade cristã e a enriquecer a prática de oração. É importante que sua utilização na catequese esteja a serviço da educação de uma fé engajada; seja lida de modo adequado, instruindo com delicadeza as pessoas que ainda estão apegadas a uma leitura inadequada. O texto bíblico requer sempre uma atenção especial. Às vezes é tal a ânsia de se servir dele para expor as próprias idéias, que não se presta atenção ao que ele tem a dizer. Requer empenho para que pequenas dificuldades com o texto não distraiam da mensagem fundamental que a Bíblia traz: o mistério da vida, da história, do Deus sempre imprevisível.
    A Palavra de Deus é exigente, mas traz também estímulo, confiança, alimento para a fé. Ela é fonte de alegria mesmo em momentos difíceis. Os métodos exegéticos possibilitam uma melhor compreensão do texto bíblico. O importante é chegar à meta: ouvir o que Deus quer nos dizer. Ler um texto bíblico é aprofundar o sentido da vida. A própria Bíblia é uma mediação para a sublime revelação divina.
    A Liturgia também é fonte da catequese, momento em que se manifesta de modo sublime a Palavra de Deus. A liturgia é memorial do mistério pascal; é celebração, anúncio, vivência do mistério, síntese de fé, interiorização da experiência religiosa. A catequese educa a fé que é celebrada na liturgia: uma alimenta a outra.
   
Na liturgia Deus fala a seu povo, Cristo ainda anuncia o Evangelho e o povo responde a Deus com cânticos e orações: ela, ao realizar sua missão, torna-se uma educação permanente da fé. A proclamação da Palavra, a homilia, as orações, os ritos sacramentais, a vivência do ano litúrgico e as festas são verdadeiros momentos de educação e crescimento na fé. A liturgia é fonte inesgotável da catequese, não só pela riqueza de seu conteúdo, mas pela sua natureza de síntese e cume da vida cristã: enquanto celebração ela é ao mesmo tempo anúncio e vivência dos mistérios salvíficos; contém, em forma expressiva e unitária, a globalidade da mensagem cristã. Por isso ela é considerada lugar privilegiado de educação da fé. As festas e as celebrações são momentos privilegiados para a afirmação e interiorização da experiência da fé. O RICA é o melhor exemplo de unidade entre liturgia e catequese. Celebração e festa contribuem para uma catequese prazerosa, motivadora e eficaz que nos acompanha ao longo da vida. Por isso, os autênticos itinerários catequéticos são aqueles que incluem em seu processo o momento celebrativo como componente essencial da experiência religiosa cristã.
    A catequese como educação da fé e a liturgia como celebração da fé são duas funções da única missão evangelizadora e pastoral da Igreja. A liturgia, com seu conjunto de sinais, palavras, ritos, em seus diversos significados, requer da catequese uma iniciação gradativa e perseverante para ser compreendida e vivenciada. Ambas fazem parte da natureza e da razão de ser da Igreja. Os sinais litúrgicos são ao mesmo tempo anúncio, lembrança, promessa, pedido e realização, mas só por meio da palavra evangelizadora e catequética esses seus significados tornam-se claros. É tarefa fundamental da catequese iniciar eficazmente os catecúmenos e catequizandos nos sinais litúrgicos e através deles introduzi-los no mistério pascal.
    O processo da formação litúrgica na catequese possui os seguintes elementos: centralidade do Mistério Pascal de Cristo na vida dos cristãos e em todas as celebrações; a liturgia como um momento celebrativo da história da salvação; a liturgia como exercício do sacerdócio de Jesus Cristo e ação nossa em conjunto com Ele presente na celebração, pela força do Espírito Santo; a dimensão celebrativa da liturgia; a compreensão dos ritos e símbolos como reveladores da ação pascal de Cristo e experiências de encontro com o Ressuscitado; a dimensão comunitária da liturgia com sua variedade de ministérios, exercidos com qualidade; o exercício de preparar boas celebrações, realizá-las adequadamente e proclamar claramente a palavra;a participação dos cristãos na Eucaristia como o coração do domingo; a espiritualidade pascal, ao longo do ano litúrgico, como caminho de inserção gradativa no Mistério Pascal de Cristo;a espiritualidade penitencial ou de conversão mediante a celebração do Sacramento da Reconciliação; o sentido dos sacramentos, especialmente a Eucaristia, como sinais da comunhão com Deus, em Cristo, que marcam, com sua graça, momentos fortes da vida e atualizam a salvação no nosso dia a dia; aprofundamento do sentido da presença de Maria no mistério de Cristo e da Igreja;redimensionamento bíblico-litúrgico da religiosidade popular (bênçãos, romarias, caminhadas, novenas, festas dos padroeiros, ofícios divinos).
    Outro ponto de apoio para a catequese são os catecismos, que expõem o conteúdo da fé de maneira sistemática e doutrinal, comunicativo-educativa, procurando dar razões de nossa fé. O Catecismo deseja ser uma exposição da fé da Igreja e da doutrina católica, atestadas e iluminadas pelas Sagradas Escrituras, pela Tradição Apostólica e pelo Magistério da Igreja. Ele não se sobrepõe à Bíblia, mas nos ajuda a lê-la no chão de nossa história e à luz de nossa fé. Desse modo, Bíblia e Catecismo estarão a serviço da experiência de fé, testemunhada na comunidade.
    O Catecismo é um projeto de grande alcance, instrumento a serviço da comunhão eclesial e deseja fomentar o vínculo da unidade, facilitando nos discípulos de Jesus a profissão da única fé recebida dos Apóstolos. Seu eixo central é o cristocentrismo trinitário e a sublimidade da vocação cristã da pessoa humana: orienta-se em direção a Deus e à pessoa humana, pois na revelação do mistério do Pai e de seu amor, Cristo manifesta plenamente o homem ao próprio homem e lhe descobre a sua altíssima vocação.
    Sagrada Escritura, Liturgia e Catequese, e com esta os catecismos, educam o cristão a abrir-se a tudo o que Deus revela e propõe. Mais que verdades da fé, trata-se da Verdade que é antes de tudo uma pessoa, Jesus Cristo. Abrimo-nos a Ele o mais que pudermos. Portanto, além da integridade doutrinal, há também uma integridade da vida, o que inclui valores éticos e morais, em nível pessoal e social.
    Na mensagem cristã, há uma hierarquia de verdades e de normas. Algumas são mais fundamentais que outras. Seguindo as grandes linhas do Catecismo da Igreja Católica e seu Compêndio, podemos resumir assim o conjunto das verdades que professamos em nossa fé: crer em Deus, uno e trino, Pai, Filho e Espírito Santo, em seu Mistério de Salvação (Profissão de Fé); celebrar o Mistério Pascal nos sacramentos, que têm o Batismo e a Eucaristia como centro (Liturgia e sacramentos); viver o grande mandamento do amor a Deus e ao próximo, buscando a santidade (Mandamentos e bem-aventuranças);  rezar para que o Reino de Deus se realize (Pai Nosso). Estes conteúdos se referem à fé crida, celebrada, vivida e rezada e constituem um chamado à educação cristã integral. A estas quatro colunas da exposição da fé que provêm da tradição dos catecismos, deve-se acrescentar a dimensão narrativa da história da salvação, com suas três etapas, que provém da tradição patrística (o Antigo Testamento, a vida de Jesus Cristo e a História da Igreja). O Diretório Geral para a Catequese fala de sete pedras fundamentais, base tanto do processo da catequese de iniciação como do itinerário contínuo do amadurecimento cristão.
    Outras expressões da fé se baseiam nestes pontos fundamentais como conseqüências dos mesmos. A devoção à Mãe de Jesus e aos santos será vista no contexto do seguimento de Jesus Cristo e confiança no Pai. Aparições, milagres, anjos, devoções, lugares sagrados e outros temas que podemos abordar na catequese e que são apreciados pela religiosidade popular, têm sentido na medida em que estiverem ligados aos pontos fundamentais e forem por eles iluminados . Os livros de espiritualidade se orientarão pelas Sagradas Escrituras, liturgia e pelo compromisso com o Reino e não tanto por aspectos subjetivos de espiritualidades particulares.

    Em síntese: Bíblia, Liturgia, Catecismo e outras formulações da fé, vivenciadas em interação na comunidade, orientam nossa vida, de modo que seja comprometida com a causa do Reino. São as Igrejas locais, em fraterna comunhão entre si e com a Sé Apostólica, que melhor conseguirão articular este projeto catequético.

** Diácono Roberto Bocalete

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

RESUMO DO DIRETÓRIO NACIONAL DE CATEQUESE (DNC): III PARTE

Capítulo 3 - Catequese Contextualizada: História e Realidade

          A Igreja faz parte da história. Ela está situada no contexto social, econômico, político, cultural e religioso, marcado atualmente pela globalização neoliberal de mercado e pelo pluralismo; em nossa complexa realidade brasileira, predomina uma matriz cultural cristã. A história é lugar da caminhada de Deus com seu povo e do povo com Deus. Nela e por ela Deus se revela e manifesta o que ele quer ensinar e o que espera da humanidade. Jesus Cristo, o Filho de Deus, encarnou-se na realidade humana e num determinado contexto histórico, que condicionou sua vida, ensinamento e missão. Viveu, ensinou e nos salvou a partir da história e do que ela comporta. A história faz parte do conteúdo da catequese. O fiel, iniciado no mistério da Salvação, é chamado a assumir a missão de ajudar a construir a história, segundo o Reino de Deus.
          A catequese não pode ser desencarnada da história. Sua missão é também contribuir para a formação de cristãos como cidadãos, justos, solidários e fraternos, co-responsáveis pela pátria comum e pelo planeta terra. Neste sentido, buscando a dinâmica da inculturação, cabe à catequese adaptar-se aos diversos grupos humanos (negros, indígenas, mestiços, adultos, jovens, adolescentes, crianças, idosos, homens, mulheres, pessoas com deficiência), e em suas diferentes situações: cidade, periferias, campo, litoral e outros. A catequese tem também a missão de superar o racismo, a discriminação de gênero e de posição econômica e social, colaborando para a promoção da solidariedade.

           Como a catequese acompanha a história, alguns marcos históricos são importantes para a catequese na evangelização da América Latina, especialmente do Brasil:
**Em 1955, no Rio de Janeiro a criação do Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM), com seus encontros, estudos, documentos, assessorias, cursos e publicações.
**Marcam momentos decisivos as Conferências Gerais do Episcopado Latino-americano em Medellín, Puebla, e Santo Domingo. Tudo isso deu forte impulso renovador à catequese. Importante influência teve o Departamento de Catequese do CELAM (DECAT) com seus projetos de animação da catequese, escritos, semanas latino-americanas de catequese e outras iniciativas.
**A história do Brasil se entrelaça com a história da Igreja. Também no Brasil a base se forma com a ação dos leigos nas famílias e aldeias e, depois, com a ação dos missionários. Em 1532, fundaram-se as primeiras paróquias e, de 1538 a 1541, instalou-se a primeira missão formal em Santa Catarina por obra dos franciscanos. Em 1549, com o governador geral, veio de Portugal o primeiro grupo de jesuítas.
**A transferência da família real, em 1808, coincidiu com a reforma católica, no Brasil. A catequese dava, então, prioridade ao ensino da doutrina cristã. As cartas pastorais dos bispos e os catecismos alimentaram o movimento catequético, que recebeu um incremento a partir de 1840, quando a Igreja no Brasil assumiu as orientações do Concílio de Trento.
**O Catecismo da Doutrina Cristã marcou a caminhada da catequese no Brasil, publicado a partir de 1903, pelas províncias eclesiásticas do Sul do Brasil e com edições até hoje. Seu uso era subsidiado com outros textos, mais didáticos. Periodicamente aconteciam maratonas oficiais para a assimilação deste Catecismo.
**Uma vez aprovado, em 1983, o documento Catequese Renovada passou a ser uma forte motivação para a evolução da catequese. O destaque dado à Bíblia correspondeu ao carinho do povo pela Palavra de Deus. Catequistas alegremente aprenderam a dizer e demonstrar concretamente que “a Bíblia é o livro por excelência da catequese.
**1ª Semana Brasileira de Catequese (1986) com o tema “Fé e vida em comunidade, renovação da Igreja, transformação da sociedade” e a 2ª, em 2001, com o tema “Com Adultos, Catequese Adulta”;
**Os sete Encontros Nacionais de Catequese;
**As escolas de catequese, os grupos nacionais de reflexão: GRECAT, GREBIN, GRESCAT, o Grupo de catequetas e professores de catequética, o Grupo de catequese junto às pessoas com deficiência, as semanas e encontros nos regionais e nas dioceses;
**2ª Semana Brasileira de Catequese (2001): com adultos, catequese adulta.

          Da publicação de Catequese Renovada para cá, em nível de América Latina, a catequese no Brasil encontrou respaldo no documento da Primeira Semana Latino-americana de Catequese (Quito, 1982) e da Segunda (Caracas, em 1994), nas conclusões de Santo Domingo (1992), no documento Catequese na América Latina: linhas comuns para a catequese (1999). Em nível mundial, a Sé Apostólica publicou o Catecismo da Igreja Católica (1992), o Diretório Geral para a Catequese (1997) e o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica (2005).
           Não podemos deixar de esquecer ainda, no Brasil, deste documento, o Diretório Nacional de Catequese (2006), a proposta do Ano Catequético para 2009 com seu subsídio que trabalha a “Catequese, caminho para o discipulado” e a 3ª Semana Brasileira de Catequese que se realizará dos dias 07 a 11 de outubro de 2009.
          A CNBB, através de documentos, mensagens, pronunciamentos, campanhas e outros meios, vem realizando uma verdadeira catequese eclesial em nível nacional, num leque abrangente nas diversas dimensões da vida humana e religiosa, marcando presença significativa na sociedade.
          A Igreja não ignora que neste momento da história, impera a hegemonia ideológica do neoliberalismo e de sua expressão maior, a feroz lei do mercado explorador. A humanidade fez progressos, sem dúvida: há empenho na defesa de direitos humanos que antes eram ignorados, cresce uma consciência ecológica, há tendências pacifistas e certo engajamento em trabalho voluntário e solidário. Valoriza-se o simbólico, o artístico, o lúdico, o estético e o ecológico. Apesar disso ainda estamos sob o domínio da tirania do lucro, da guerra e de outros tipos de violência. Isso desafia o cristianismo, como um todo, e cada discípulo de Jesus carrega o propósito de uma sociedade justa, solidária e de paz.
          É grande a força da comunicação moderna, na formação da opinião pública e das convicções das pessoas. A Igreja mesma a valoriza como meio importante para a evangelização. Mas cabe-lhe, em seu profetismo, zelar para que o uso da mídia esteja a serviço da pessoa e dos valores humanos. Neste propósito, a catequese, como comunicação da Boa Notícia e dos valores que dela derivam para a felicidade humana, é importante ajuda na educação do senso crítico em relação à mídia. À luz dos valores do Evangelho estimula os fiéis a serem protagonistas da comunicação cristã.

          Não mais vivemos em tempos de cristandade, com a hegemonia religiosa e cultural da Igreja. O mundo contemporâneo abre cada vez mais espaço ao diferente e o futuro se anuncia mais plural, também no campo religioso. A Igreja está aprendendo novos caminhos: o do ecumenismo, do diálogo religioso, do diálogo com a cultura e da promoção da liberdade religiosa.  Hoje milhões de pessoas ficam à margem ou recebem um serviço social insuficiente e sem qualidade. É grave a situação do desemprego e a falta de segurança laboral. A derrocada de valores leva as pessoas a buscar refúgio em fugas existenciais alienadoras, que poderosos grupos oferecem, exasperando, também, a agressividade e o usufruto dos prazeres. É neste contexto que a Igreja coloca em prática a evangélica opção preferencial pelos pobres e excluídos. Trata-se de um dado fundamental da fé cristã e, portanto, do conteúdo da catequese.

** Diácono Roberto Bocalete

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

RESUMO DO DIRETÓRIO NACIONAL DE CATEQUESE (DNC) - II PARTE

Capítulo 2 - A Catequese na Missão Evangelizadora da Igreja

          A catequese é parte da Missão da Igreja; portanto, ninguém é catequista sozinho, não se comunica a si mesmo, mas as verdades da fé. A catequese não começa dando respostas, primeiro precisa ouvir as perguntas básicas feitas pelas pessoas: o que significa ser pessoa humana? O que estamos fazendo aqui? Qual o sentido da vida? De onde viemos? Para onde vamos? Essas e outras perguntas existenciais são um ponto de partida e de contínua referência na catequese. Da capacidade de se levar em conta essas perguntas depende a relevância da catequese para as pessoas às quais se destina. A fé cristã nos faz reconhecer um propósito na existência: não somos frutos do acaso, fazemos parte de uma história que se desenrola sob o olhar amoroso de Deus: Deus misericordioso que se revela ao seu povo.
          Deus se revela nas Escrituras: aos nossos pais, por meio dos profetas, de modo pleno em Jesus Cristo. É importante perceber esse Deus nos acontecimento da vida. A revelação nos apresenta, desde o começo, um Deus que quer vida em plenitude para seus filhos. A Revelação nos encaminha, portanto, a uma catequese que responda aos anseios humanos e promova uma vida mais gratificante para todos, como estava desde sempre no desígnio de Deus.
          A plenitude da Revelação da bondade de Deus está em Jesus, Verbo feito carne que revela os segredos do Pai, liberta do pecado e da morte e garante a ressurreição; em sua missão Ele usou a mesma pedagogia do Pai; fez-se um de nós, partilhando nossas alegrias e sofrimentos, usando nossa linguagem. Esta boa notícia da salvação é para toda humanidade. A Igreja, sinal (sacramento) supremo de sua presença salvadora na história, transmite a revelação e anuncia a salvação através do mesmo processo pedagógico de palavras e obras, sobretudo nos sacramentos. Ela está convencida de que sua principal tarefa é comunicar esta Boa Nova aos povos: ela está a serviço da evangelização, exercendo o ministério da Palavra do qual faz parte a catequese.
          O conjunto das obras maravilhosas realizadas por Deus ao longo da história da salvação, como as palavras dos profetas, sobretudo de Jesus e de seus apóstolos, é Palavra de Deus, são as Sagradas Escrituras redigidas sob inspiração divina. Por isso, a fonte da evangelização e catequese é a Palavra de Deus e a Igreja transmite e esclarece os fatos e palavras da Revelação e à sua luz, interpreta os sinais dos tempos e a nossa vida nos quais se realiza o desígnio salvífico de Deus.
          A catequese tem como tarefa proporcionar a todos o entendimento claro e profundo de tudo o que Deus nos quis transmitir: investigar e entender o que os escritores sagrados escreveram para manifestar o que Deus nos quer falar. É importante conhecer as circunstâncias, o tempo, a cultura, os modos de se expressar para comunicar. O catequista experimenta a Palavra de Deus em sua boca, na medida em que, servindo-se da Sagrada Escritura e dos ensinamentos da Igreja, vivendo e testemunhando sua fé na comunidade e no mundo, transmite para seus irmãos esta experiência de Deus. O catequista não prega a si mesmo, mas a Jesus Cristo, sendo fiel à Palavra e à integridade de sua mensagem. Ele é também um profeta, pois faz ecoar a Palavra de Deus na comunidade, tornando-a compreensível. Catequese (katá-ekhein em grego) significa ressoar.
          A Igreja “existe para evangelizar”, isto é, para anunciar a Boa Notícia do Reino, proclamado e realizado em Jesus Cristo: é sua graça e vocação própria. O centro do primeiro anúncio (querigma) é a pessoa de Jesus, proclamando o Reino como uma nova e definitiva intervenção de Deus que salva com um poder superior àquele que utilizou na criação do mundo. Esta salvação “é o grande dom de Deus, libertação de tudo aquilo que oprime a pessoa humana. Sendo o anúncio de Jesus Cristo o primeiro momento da evangelização, a catequese é o segundo, dando-lhe continuidade. Sua finalidade é aprofundar e amadurecer a fé, educando o convertido para que se incorpore à comunidade cristã. A catequese sempre supõe a evangelização. Por sua vez à catequese segue-se o terceiro momento: a ação pastoral para os fiéis já iniciados à fé, no seio da comunidade cristã, o discipulado, através da formação continuada. Catequese e ação pastoral se impregnam do ardor missionário, visando à adesão mais plena a Jesus Cristo.
          O fruto da evangelização e catequese é o fazer discípulos: acolher a Palavra, aceitar Deus na própria vida, como dom da fé. A fé é como uma caminhada, conduzida pelo Espírito Santo, a partir de uma opção de vida e uma adesão pessoal a Deus, através de Jesus Cristo, e ao seu projeto para o mundo. Isso supõe também uma aceitação intelectual, um conhecimento da mensagem de Jesus. O seguimento de Jesus Cristo realiza-se, porém, na comunidade fraterna. O discipulado, que é o aprofundamento do seguimento, implica renúncia a tudo o que se opõe ao projeto de Deus e que diminui a pessoa. Leva à proximidade e intimidade com Jesus Cristo e ao compromisso com a comunidade e com a missão.
          No início do cristianismo, a catequese era o período em que se estruturava a conversão. Os já evangelizados eram iniciados no mistério da salvação e num estilo evangélico de ser: experiência de vida cristã, ensinamento sistematizado, mudança de vida, crescimento na comunidade, constância na oração, alegre celebração da fé e engajamento missionário. Este longo processo de iniciação, chamado catecumenato, se concluía com a imersão no mistério pascal através dos três grandes Sacramentos: Batismo, Confirmação e Eucaristia. A catequese estava pois a serviço da iniciação cristã. A situação do mundo atual levou a Igreja no Vaticano II a propor a restauração do catecumenato.
          A inspiração catecumenal, que remonta ao início da Igreja e à época dos Santos Padres, é uma ação gradual e se desenvolve em quatro tempos, como é apresentado no Ritual de Iniciação Cristã de Adultos:
a) o pré-catecumenato: é o momento do primeiro anúncio, em vista da conversão, quando se explicita o querigma e se estabelecem os primeiros contatos com a comunidade cristã;
b) o catecumenato propriamente dito: é destinado à catequese integral, à prática da vida cristã, às celebrações e ao testemunho da fé;
c) o tempo da purificação e iluminação: é dedicado a preparar mais intensamente o espírito e o coração do catecúmeno, intensificando a conversão e a vida; no final desse tempo recebem os sacramentos da iniciação: Batismo, Confirmação e Eucaristia;
d) o tempo da mistagogia: visa a progresso no conhecimento do mistério pascal através de novas explanações, sobretudo da experiência dos sacramentos recebidos e a começar a participação integral da comunidade.

          A catequese, como elemento importante da iniciação à vida cristã, implica um longo processo vital de introdução dos cristãos com as seguintes dimensões, interligadas entre si: descoberta de si mesmo; experiência pessoal de Deus; anúncio e adesão a Jesus Cristo; vida no espírito; participação na comunidade (dimensão comunitário-participativa); educação para celebração litúrgica e oração; interação fé e vida e serviço fraterno, de acordo com os valores do Reino; a formulação da fé ou compreensão da doutrina;o diálogo ecumênico e inter-religioso; atitude ecológica.
          A catequese é, em primeiro lugar, uma ação eclesial: a Igreja transmite a fé que ela mesma vive e o catequista é um porta-voz da comunidade e não de uma doutrina pessoal. Por ser educação orgânica e sistemática da fé, a catequese se concentra naquilo que é comum para o cristão, educa para a vida de comunidade, celebra e testemunha o compromisso com Jesus. Ela exerce, portanto, ao mesmo tempo, as tarefas de iniciação, educação e instrução. É um processo de educação gradual e progressivo, respeitando os ritmos de crescimento de cada um.
          A finalidade da catequese é aprofundar o primeiro anúncio do Evangelho: levar o catequizando a conhecer, acolher, celebrar e vivenciar o mistério de Deus, manifestado em Jesus Cristo, que nos revela o Pai e nos envia o Espírito Santo.
          A catequese não prepara simplesmente para este ou aquele sacramento. O sacramento é uma conseqüência de uma adesão à proposta do Reino, vivida na Igreja. O processo de crescimento da fé é permanente; os sacramentos alimentam este processo e tem conseqüências na vida. Diante da importância de se assumir uma catequese de feição catecumenal, é necessário rever todo o processo de catequese em nossa Igreja, para que se pautem pelo modelo do catecumenato.
          A comunidade é a fonte, o lugar e a meta da catequese. O que o catequizando experimenta na comunidade eclesial pode confirmar ou desmentir o que é dito na catequese. Onde há uma verdadeira comunidade cristã, ela se torna uma fonte viva da catequese, pois a fé não é uma teoria, mas uma realidade vivida pelos membros da comunidade. Neste sentido ela é o verdadeiro audiovisual da catequese. Por outro lado, ao educar para viver a fé em comunidade, esta se torna, também, uma das metas da catequese. O verdadeiro ideal da catequese é desenvolver o processo da educação da fé, através da interação de três elementos: o catequizando, a caminhada da comunidade e a mensagem evangélica. Quando não há comunidade, os catequistas, obviamente, ajudam a construí-la.
          Em virtude de sua própria dinâmica interna, a fé precisa ser conhecida, celebrada, vivida e cultivada na oração. E como ela deve ser vivida em comunidade e anunciada na missão, precisa ser compartilhada, testemunhada e anunciada. A catequese tem, portanto, as seguintes tarefas: conhecimento da fé, iniciação litúrgica, formação moral (educar para a consciência, atitudes, espírito e projeto de vida segundo Jesus), vida de Oração, vida comunitária, testemunho, missão.

**Diácono Roberto Bocalete