domingo, 30 de junho de 2013

CATEQUESE RENOVADA
(Comemoração dos 30 anos, em 2013)
Documento da CNBB, 26, aprovado na 21ª Assembleia Geral, em 1983.

Este documento é resposta aos apelos do Papa João Paulo II em sua vinda ao Brasil em 1980.
Ele disse: “A catequese é uma urgência. Só posso admirar os pastores zelosos que em suas igrejas procuram responder concretamente a essa urgência, fazendo da catequese uma prioridade” (Fortaleza, 10/07/1980).
É importante fazer da catequese uma prioridade nas comunidades.

I PARTE: A catequese e a comunidade na História da Igreja

As mudanças na história podem ajudar a revitalizar a catequese hoje.
Do séc. I ao V, a catequese era de iniciação à fé e vida de comunidade.
Surge o catecumenato como iniciação na vida cristã.
Os fundamentos eram: fé, esperança, caridade, Palavra, celebrações e testemunho.
É importante entender que comunidade e catequese caminhavam juntas.
Do séc. V ao XVI o rumo da catequese foi outro: a cristandade.
A catequese era de imersão na cristandade e educação da fé feita pelas instituições.
A aprendizagem era individual, com pouca ligação com a comunidade.
Catequese mais como instrução para dar clareza à fé em tempo de reforma.
Catequese centrada nos catecismos com textos para ensino.
Houve grande influência do iluminismo e uma fé mais da razão.
No séc. XX foi-se redescobrindo na catequese a iniciação cristã e a comunidade.
Surge uma catequese mais comprometida com a libertação.
Houve esforço de renovação no conteúdo, método, sujeito e objeto da catequese.
Mons. Álvaro Negromonte usou o método integral, de formar cristãos íntegros.
Surgiram também Institutos para a formação de dirigentes da catequese.
Passou a unir fé e vida, dimensão pessoal e comunitária, instrução e educação etc.

II PARTE: Princípios para uma catequese renovada
Renovação da catequese para responder os novos desafios da cultura.
Para isto, a catequese precisou ter sólido fundamento na Palavra de Deus.
Ela é “fazer ecoar” (Kat-ekhéo), fazer escutar e repercutir a Palavra de Deus.

1. Revelação e Catequese
Deus quis revelar-se a si mesmo, tratando-nos de amigos.
A revelação acontece na Palavra, nos gestos e fatos como linguagem.
Podemos dizer que Deus usa duas linguagens: Palavra e acontecimentos.
Entendamos: O que Deus quer comunicar, a quem e que obstáculos encontra.
Está claro que Ele quer comunicar a si mesmo, sua presença e amor.
A dificuldade está na recusa da comunicação de Deus e de seu amor.
Com a revelação Ele deixa de ser “Deus escondido” e mostra o seu rosto.
A revelação de Deus é um processo e não um simples ato.
A lentidão de Deus em se revelar depende de nós, lentos para entender.
É um processo em que Deus vai educando seu povo com pedagogia.
A revelação foi transmitida de forma oral e depois, por escrito, pela bíblia.
A bíblia conta fatos e neles entendemos a revelação de Deus.
No caso do fato da Aliança, interpretamos toda a História da Salvação.
O fato maior e definitivo vem de Jesus Cristo, que revela o amor de Deus.
Em Jesus Deus se dá a si mesmo e sua Palavra se torna carne.
Jesus é a plenitude da revelação e não há necessidade de novas revelações.
Pelas palavras de Jesus, a ajuda do Espírito Santo e da Igreja, Deus se torna acessível.
Jesus se torna pedagogia de Deus no anúncio da fé e na vivência de seus apelos.
Todo o mistério do Pai foi revelado em Jesus Cristo para a intimidade com Ele.
O Espírito Santo faz ressoar na Igreja e no mundo a voz do Evangelho.
Voz que conserva na Igreja a Tradição, a Escritura e o Magistério.
Aí estão a Palavra, os sacramentos, a oração, a liturgia e as manifestações de fé.
Tradição por ser fiel à origem e progride na compreensão da doutrina, na caridade etc.
Também porque faz crescer a fé do povo de Deus com fidelidade ao Evangelho.
Tradição e Escritura são como um todo, que procedem de Deus para o bem da fé.
Fé que é opção de vida, uma adesão de toda a pessoa a Cristo, a Deus e a seu projeto.
Ela faz o cristão ser missionário, passando a pregar o Evangelho com coragem.
Deus que se revela é o próprio Deus criador, aquele que inquieta nosso coração.
Unidade entre projeto salvífico de Deus e as aspirações humanas, salvação e história.
Deus continua falando aos homens em Cristo, pelo Espírito, nas mediações.
A catequese pode ser entendida como “educação ordenada e progressiva da fé”.
Ela deve assumir as angústias e esperanças do homem de hoje para libertá-lo.
Assumir as situações históricas e as autênticas aspirações dos homens de hoje.

2. Exigências da Catequese
A primeira exigência da catequese é a fidelidade ao Plano de Deus.
Por isto, deve levar a força do Evangelho ao coração da cultura e das culturas.

2.1. Fidelidade a Deus e ao homem
Esta fidelidade deve ser a Deus e ao homem como atitude de amor.
Para Puebla, a fidelidade deve ser a Deus, à Igreja e ao Homem.
O conteúdo da catequese deve ter integridade e autenticidade evangélica.

2.2. Fidelidade às fontes
 Sua fonte está na Revelação, de onde vem a sede de verdade e vida.
A Revelação chega até nós pela Sagrada Escritura e pela Tradição viva da Igreja.
Por isto deve ser dada especial atenção à Sagrada Escritura como fonte da catequese.
Importa respeitar a natureza e o espírito da Revelação bíblica na integridade.
A catequese deve ler os textos bíblicos com a inteligência e o coração da Igreja.
Abrir aos catequizandos o livro da Sagrada Escritura, tendo por centro o Evangelho.
Isto leva ao contato com a Palavra de Deus e à compreensão dela.
Essa Palavra tem sua ação santificadora de Deus na liturgia.
A Palavra vivenciada na liturgia pode ser entendida como catequese em ato.
Acompanhar a Palavra nos tempos litúrgicos é ocasião privilegiada de catequese.
Expressão privilegiada da fé da Igreja acontece no Credo, Símbolo dos Apóstolos.
O Credo resume o conteúdo da fé da Igreja e é fonte segura da catequese.
Ele deve ser memorizado e aprofundado nos encontros catequéticos.
 A catequese presta atenção também aos sinais dos tempos, ao sensus fidei.

2.3. Critérios de unidade, organicidade, integridade e adaptação
Empenha também na busca de uma sociedade mais solidária, fraterna e justa.
Não basta a autenticidade da catequese, mas tem que ser unitária, orgânica e integral.
A unidade se faz ao redor da Pessoa de Jesus Cristo, o cristocentrismo.
Cristocentrismo não só de ser centro, mas de adesão à sua Pessoa e Missão.
A integridade do conteúdo significa ação ampla e explícita.
Os cristãos têm direito de receber a Palavra da fé sem mutilação.
A falta de integridade do anúncio da Palavra esvazia a própria catequese.
Além disto, levar em conta as condições históricas e culturais a catequizar.
Também a linguagem deve ser adequada aos homens e tempos de hoje.

2.4. Dimensões da catequese
Uma catequese com as dimensões cristológica, eclesiológica e escatológica.
No eclesiológico temos o comunitário, vocacional, missionário, ecumênico.
Vê o homem nas dimensões antropológica, existencial, histórico, política, libertador.
Há uma dimensão permanente da catequese que atinge todas as etapas da formação.

2.5. Em métodos diversos o mesmo princípio da interação
É preciso investir na metodologia catequética, evitando improvisações e empirismo.
Uma catequese de interação, unindo experiência de vida e formulação da fé.
Tendo em conta a vivência e prática atual e o dado a Tradição.
Deve existir uma interação entre o Evangelho e a vida concreta.
É uma interpelação recíproca, que precisa ser vivenciada na catequese.
Tudo deve criar uma unidade profunda dentro do Plano de Deus.
Só uma integração da fé e da vida poderá levar a uma verdadeira libertação.
Não podemos cair no formalismo, desequilíbrio entre vivência e doutrina.
A autêntica catequese é sempre inicial, ordenada e sistemática da revelação de Deus.

2.6. Lugares da catequese
Isto acontece na comunidade cristã: família, paróquia, escola, CEBs, associações.
Em ambos devem aparecer a caridade e a comunhão como lugares de vida.
A catequese é processo permanente: crescendo o homem, deve crescer o cristão.
O papel da família, dos pais, é fundamental nos critérios da fé dos filhos.
É importante o ensino religioso nas escolas despertando experiência religiosa.
São diferentes ensino religioso e catequese no relacionamento cultura e fé.
Os grupos, movimentos e outras associações sejam maduros na fé.
Os recursos dos MCS devem ser utilizados no serviço da catequese.
O uso dos MCS deve levar à formação de uma consciência crítica.

2.7. Catequese segundo idades e situações
A educação da fé deve ser permanente, organizada e adaptada à realidade.
A catequese de adultos deve ser incisiva e coerente em sua proposta.
Uma catequese que deve seguir o ano litúrgico e acontecimentos da vida.
Na catequese de formação das crianças, a família tem um papel fundamental.
A formação litúrgica é fundamental na vida das crianças, adolescentes e jovens.
A formação de crianças e jovens deve levá-los a viver e atuar na vida da comunidade.
Uma catequese que desperte para a dimensão vocacional como chamado de Deus.
Despertar o gosto pela oração, pelo silêncio, o senso crítico, a solidariedade.
A criatividade, a liberdade, a responsabilidade, a dar razão de sua fé e os valores.
A doutrina seja anunciada na medida da prática cristã da vida na comunidade.
O mais importante não é a doutrina, mas o envolvimento comunitário.
Os deficientes físicos e mentais sejam totalmente integrados na comunidade cristã.
A comunidade deve prestar atenção e procurar meios adequados para esses casos.

2.8. Missão e formação do catequista
O catequista deve apresentar os meios para ser cristão e a alegria de se viver o Ev.
Ele comunica através do testemunho de vida, da palavra e do culto.
Provoca inserção na vida da comunidade de forma livre e responsável.
Para tudo isto são importantes as Escolas Catequéticas para formação.
Escolas que levem o catequista ao processo de transformação do mundo.
O catequista tem sua missão no grupo de catequistas para ajudar na formação.

2.9. Textos e Manuais de Catequese
Os manuais de catequese devem ser iluminadores da comunidade.
As primeiras fontes da catequese foram os fatos e as palavras de Jesus.
É importante entender que o uso de manuais não deve substituir a bíblia.
Devem apresentar textos bíblicos selecionados com instruções sobre o uso.
Tenham clareza doutrinária para ajudar na educação da fé.
Os “planos de aula” tenham diferentes objetivos e métodos relativos à fé.
Um único manual para todo o Brasil seria inviável e inadequado.

III PARTE: Temas fundamentais para uma catequese renovada

O temário fundamental da catequese é a bíblia, ligando fé e vida.
Os temas apresentados têm sua fonte principal no Doc. de Puebla.
Um deles é a situação do homem dentro da realidade do mundo de hoje.
Outro é o desígnio da salvação de Deus na História narrada pela bíblia.
A salvação tem início na criação pelo que Deus nos faz em Cristo para a vida.
Isto supõe a verdade sobre Cristo, a Igreja e o Homem, comunhão e participação.

3.1. A situação do homem
No processo da salvação, o homem se torna parceiro de Deus.
Mas rejeita o amor de Deus, rompe a unidade e deixa penetrar no mundo o mal.
Surge o egoísmo, orgulho, ambição, inveja, injustiça, dominação, violência etc.

3.2. Os desígnios de salvação de Deus
3.2.1. A verdade sobre Jesus Cristo
Diante de tudo isto, a bíblia nos apresenta a promessa do Salvador e revela Cristo.
Isto Deus realiza numa longa história com sua mão poderosa de Pai.
O centro de toda a história é Jesus Cristo, vindo para restaurar toda ordem temporal.
O Verbo, gerado desde sempre, fez-se homem e habita entre nós e nos une ao Pai.
A encarnação é o mistério da humanidade e da divindade de Jesus Cristo.
Compartilhando a vida do povo, Jesus anuncia o Reino de Deus com ações e palavras.
O Reino não é utopia, mas libertação concreta, e chega à plenitude na glória celeste.
Em suas atitudes, Jesus revela o amor de Deus e seu caminho é também nosso.
Jesus exige de nós um seguimento radical, fazendo-nos parecidos com Ele.
O sacrifício de Jesus, o caminho do seu ministério, tornou-se causa de nossa vida.
Como ressuscitado, fez nascer o Homem novo, e continua em nosso meio.
Pelo Espírito Santo, Jesus continua sua presença salvadora no mundo, na Igreja.
O Espírito Santo nos reúne em comunidade e nos faz viver no Plano de Deus.
Cria unidade na diversidade de dons, dando impulso missionário para a Igreja.
Deus que se revela em Jesus Cristo e no Espírito Santo é Deus de comunhão, trino.

3.2.2. A verdade sobre a Igreja
Jesus fez nascer a Igreja como de instituição divina, depositária e transmissora do Ev.
O objetivo de Jesus é o Reino, tendo a Igreja como fonte e germe de seu crescimento.
A Igreja é o Povo de Deus indo para o Senhor, não como massa, mas como fermento.
A razão primeira da Igreja é a salvação, que acontece no desempenho de sua missão.
Ela é divina, mas no mundo; apostólica e atual; católica e local; uma e múltipla etc.
A Igreja é sacramento de comunhão, que vem da água, da Palavra, do ES e da adesão.
O pecado dificulta a comunhão, exigindo constante caminho de conversão.
As divisões contradizem a vontade de Cristo e é escândalo para o mundo.
Deus se comunica através de sinais e a Igreja é sinal sacramental de sua ação.
São sete os sacramentos na Igreja como sinais sensíveis e eficazes da graça de Deus.
Batismo: nascimento, entrada na vida divina e na Igreja como cristão.
Eucaristia: alimento da vida cristã e participação no mistério da morte de Cristo.
Confirmação ou Crisma: testemunha de fé no Cristo Ressuscitado e ação do ES.
Reconciliação ou Penitência: celebração do perdão após o pecado.
Unção dos Enfermos: presença da graça no sofrimento, doença, morte.
Ordem: serviço cristão especial, administração dos sacramentos.
Matrimônio: amor conjugal, estabelecimento da família cristã.
Os Sacramentos santificam o homem, glorificam a Deus e alimentam a fé.
Todos eles são o memorial da morte e ressurreição de Cristo, da Páscoa.
A liturgia é o ápice e a fonte da vida eclesial acontecida nos Sacramentos.
Dentro da liturgia temos o Ano Litúrgico como celebração do mistério de Cristo.
A Eucaristia é a prática da justiça na vida da comunidade.
Ela significa e realiza a unidade da Igreja e seu crescimento.
É importante o destaque de Maria e sem ela não tem como falar de Igreja.
A Igreja a venera como Mãe muito amada, com afeto e piedade filial.
Ela é Mãe da Igreja, porque é Mãe de Cristo e nossa Mãe em Jesus Cristo.
Na Evangelização, Maria é Mãe e educadora da fé em nossa cultura.
Maria acreditou com uma fé que foi dom, abertura, resposta e fidelidade.
É para nós exemplo de virtude e caminho de santidade da Igreja.

3.2.3. A verdade sobre o homem
O homem se afastou de Deus pelo pecado, mas foi redimido em Cristo.
Com isto, a Salvação é dom de Deus, que exige resposta do homem.
Deus nos criou sem nossa participação e não nos salva sem nossa cooperação.
No mistério da salvação, todas as pessoas precisam cooperar e colaborar.
O uso do dom da liberdade dignifica nossa condição humana.
O pecado tirou-nos a liberdade, recuperada no perdão e no amor de Deus.
Somos responsáveis pelo nosso destino, por uma lei colocada em nosso coração.
Seguindo fielmente a Lei de Deus, somos dignificados como pessoas.
Pecar é agir contra a consciência e contra Deus, causando dano a si mesmo.
As situações sociais de pecado corroem a dignidade do homem.
Pelo Mistério Pascal, Cristo nos reconciliou com o Pai e continua nos perdoando.
Pela Unção dos Enfermos somos aliviados no sofrimento e fortalecidos na doença.
Mesmo passando pelas fraquezas do pecado, somos destinados para a vida eterna.

3.3. Os compromissos do cristão
A fé é adesão e obediência à vontade de Deus que nos interpela para a missão.
A nossa resposta à fé é dom de Deus sob a moção do Espírito Santo.
Fé não é ideologia, mas adesão à pessoa de Jesus Cristo e à sua mensagem.
Não é adesão a princípios morais, mas a atitudes no plano de salvação.
Fé animada pela caridade e presente no compromisso social.
Isto exige maturidade confirmada na Crisma e na presença do Espírito Santo.
A fé só cresce quando participamos da vida da comunidade eclesial.
Ela tem expressão viva e motivadora nas celebrações litúrgicas.
Assim a pessoa de fé se torna construtora da história da comunidade.
História conforme a práxis de Jesus, de corresponsabilidade na ação.
Essas lutas de transformação devem ser celebradas na Eucaristia.
No contexto eclesial, a Igreja precisa sempre se auto evangelizar e converter-se.
Na Igreja cada um é chamado a um serviço (vocação) dentro da comunidade.
No Sacramento da Ordem temos os bispos, os presbíteros e os diáconos.
Temos na Igreja os religiosos, que testemunham uma vivência evangélica radical.
Vivemos a fé, em primeiro lugar, na família, “Igreja doméstica”.
A lei do amor conjugal deve ser comunhão e participação, e não dominação.
A graça do matrimônio ajuda a superar conflitos, dificuldades e tentações.
O trabalho é útil e dignifica o homem dentro da ordem: “Dominai a terra”.
O homem é o sujeito, o autor e o fim do trabalho, transformado em gesto litúrgico.
O amor fraterno exige formar estruturas sociais e política global.
A fé deve ordenar todas as atividades sociais e políticas.
Toda a Igreja deve ter responsabilidade por uma política do bem comum.
O cristão não pode ser omisso diante das injustiças, mas exercer sua função política.
É importante estar num partido político, sabendo que ele não é o todo; pluralismo.
A opção pelos pobres é sinal de autenticidade evangélica e sinal messiânico.
Os pobres merecem dos cristãos uma atenção toda especial em sua condição.
Eles têm um potencial evangelizador, pois nos interpelam à conversão.
Sendo solidário com os pobres, devemos superar o “ter mais”, e “ser mais”.
A raiz da pobreza é social, fruto de injustiça e desrespeito aos direitos humanos.
Trabalhamos por uma sociedade mais solidária e fraterna, mais justa.
Na busca da paz, devemos construir uma nova ordem social.
Vivemos um crescente pluralismo religioso e ideológico e depende de diálogo.
O diálogo entre os que têm a mesma fé em Cristo une esforços de ação.
Devemos seguir o exemplo e a coragem dos Santos na construção do Reino de Deus.
A verdadeira comunhão só vai acontecer no encontro definitivo com o Pai.

IV PARTE: A comunidade catequizadora

A catequese é processo dinâmico na educação da fé e itinerário formativo.
O estilo catecumenal tem que estar unido a uma vivência comunitária litúrgica.
São etapas prolongadas de iniciação à vida cristã seguindo passos pedagógicos.
Inclui: conversão, fé em Cristo, vida em comunidade, sacramental e compromisso.
Não basta planejar se não há integração da comunidade com o Evangelho.
A caminhada na educação da fé deve durar a vida toda, sem limite de tempo e lugar.
É preciso formar comunidades catequizadoras na construção do Reino de Deus.

4.1. Exemplo de itinerário catequético de uma comunidade
Elementos: união entre os membros; abordagem da realidade; vida eclesial; fé.
Esses elementos crescem quando a comunidade caminha em sua própria história.
A oração em comum e a leitura da Palavra de Deus formam comunidades unidas.
Forma-se uma devoção popular a Nossa Senhora e aos Santos como forças de união.
A força de unidade da comunidade é concretizada com a leitura da Palavra de Deus.
A reflexão da Palavra de Deus faz com que a figura de Cristo tenha mais peso.
Com isto cresce a colaboração e a solidariedade entre os membros da comunidade.
Os problemas pessoais e comunitários começam a ser assumidos coletivamente.
Surge o passo da formação social e descoberta das raízes do mal que atinge a todos.
Aparecem gestos públicos: defesa dos direitos humanos, denúncias, mutirões etc.
A fé caminha na busca de cursinhos bíblicos e maior formação de consciência.
As celebrações passam a ser mais comprometidas, unindo fé e vida comunitária.
Outro passo desafiante é assumir tarefas sindicais, políticas e empresariais.
É importante a descoberta da presença do cristão no mundo temporal e transformá-lo.
As comunidades cristãs devem ser portadoras de critérios baseados no Evangelho.
Aparece a importância da articulação dos movimentos sociais: associações, sindicatos.
É o momento realmente catequético, da decisão de fé explícita e madura.
É a consciência de que “sem Jesus nada o homem pode fazer”; “nele tudo pode”.
Momento em que Jesus é visto como Filho de Deus, Senhor e Salvador.
É preciso reconhecer o pecado como raiz dos males na sociedade e exige conversão.
A conversão leva a uma nova maneira de ser e ver como povo de Deus.
Tudo supõe uma adesão total a Jesus Cristo fazendo-nos salvadores com Ele.
O Evangelho e sua realização constituem para os cristãos sua razão de viver.
A catequese acontece por passos até chegar a “novos céus e nova terra”.

4.2. Que fazer quando ainda não existe comunidade?
O processo catequético acontece na interação entre comunidade e Evangelho.
Muitas pessoas são desligadas da comunidade eclesial, mesmo sendo batizadas.
Com elas é preciso pregação e contatos de interesse em diversos campos.
Aproveitar as ocasiões especiais que atraiam a todos na comunidade.
De fato, a comunidade é condição indispensável para o processo catequético.

Conclusão
Vimos os rumos, princípios, exigências, temas e perspectivas da catequese.
A afirmação é de que a catequese é um processo de educação comunitária.
Ela é permanente, progressiva, ordenada, orgânica e sistemática da fé.
A finalidade da catequese é a maturidade da fé, já na terra e termina na eternidade.
Para isto devemos invocar o Espírito Santo, primeiro agente da Evangelização.
Invocamos N. S. Aparecida, grande catequista, a sustentar a fé e a esperança do povo.

Fonte: Documento da CNBB, 26
Síntese feita por Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba.

sexta-feira, 14 de junho de 2013



ORDENAÇÃO DIACONAL DE ROBERTO BOCALETE
04 DE AGOSTO, 10h - CATEDRAL - SÃO JOSÉ DO RIO PRETO


terça-feira, 4 de junho de 2013

“A PESSOA DE JESUS E A CATEQUESE”

Jesus é a plenitude da revelação e o centro de todo mistério cristão, por isso, é o centro da catequese, que deve concentrar sua atenção na pessoa de Jesus Cristo (cristocentrismo). Deve favorecer a experiência pessoal com Jesus Cristo, propondo a fé por meio do querigma, possibilitando ao interlocutor o encontro pessoal com Jesus, entrando em intimidade com o Amado, aprofundando os conteúdos (transmissão da fé) para o processo de conversão (CT 20, DGC 80-81).

A Catequese deve apresentar a pessoa de Jesus, sua mensagem como boa-notícia, o projeto do Reino de Deus. A Catequese sobre Jesus deve levar os interlocutores desde o “Quem é este?” (Mc 4,41), pergunta que se faz aos seguidores de Jesus, até a profissão de fé, assumindo Jesus como “Senhor e salvador”. A admiração por Jesus é o movimento que abarca a pessoa e repercute em todos os campos da vida, não é somente contato, mas comunhão, intimidade com Jesus Cristo.

A catequese precisa apresentar Jesus, não com valores abstratos ou como um exigente mestre na moral, mas como Cristo vivo e ressuscitado, que caminha ao nosso lado, nos acompanhando como consumador da fé. Devemos nos preocupar em apresentar “quem é Jesus” e não “o que é Jesus”, anunciando Aquele que vive e deseja nos encontrar, estabelecer uma amizade, uma relação pessoal. É necessário que os interlocutores encontrem Jesus, não como projeção imaginária dos desejos ou ilusões, mas como verdadeiro Deus.

A catequese, com relação à pessoa de Jesus, deve assumir como tarefa própria:
1. Favorecer encontro pessoal com Jesus Cristo;
2. Favorecer o aprofundamento/conhecimento amoroso de Jesus para uma adesão de fé a Cristo;
3. Aprofundar a experiência com o Evangelho, de forma saborosa e elaborada;
4. Educar para celebração dos mistérios de Jesus por meio da liturgia;
5. Envolver o catequizando a partir do projeto de salvação;
6. Iniciar na oração e na mística cristã, tendo o Pai nosso como referência de oração;
7. Iniciar no seguimento de Cristo e na caminhada de comunidade;
8. Viver a partir do projeto de Jesus Cristo;
9. Assumir a vocação de povo de Deus (filhos amados)
10. Enviar em missão para “expulsar os demônios” da cultura moderna

JESUS E O PROCESSO FORMATIVO DOS DISCÍPULOS
(baseado no texto de Carlos Mesters e Orofino da 3ª Semana Brasileira de Catequese)

Não é pelo fato de uma pessoa andar com Jesus e de conviver com ele que ela já seja santa e renovada. O “fermento de Herodes e dos fariseus” (Mc 8,15), a ideologia dominante da época, tinha raízes profundas na vida daquele povo. A conversão que Jesus pedia e a formação que ele dava procuravam atingir e erradicar de dentro deles esse “fermento” da ideologia dominante. Também hoje, a ideologia do sistema neoliberal renasce sempre de novo na vida das comunidades e dos discípulos e discípulas. O "fermento do consumismo" tem raízes profundas na vida, tanto dos formandos como dos formadores, e exige uma vigilância constante. Jesus ajudava os discípulos a viverem num processo permanente de formação, assim como nós catequistas temos esse compromisso de estarmos em formação e formar nossos interlocutores.

Vamos ver alguns casos desta vigilância com que Jesus os acompanhava e os ajudava a tomarem consciência do “fermento de Herodes e dos fariseus”. É a ajuda fraterna com que ele, atento ao processo de formação dos discípulos, intervinha para ajudá-los a dar um passo e criar nova consciência:

**Mentalidade do grupo que se considera superior aos outros: certa vez, os samaritanos não queriam dar hospedagem a Jesus. A reação de alguns discípulos foi violenta: “Que um fogo do céu acabe com esse povo!” (Lc 9,54). Achavam que, pelo fato de estarem com Jesus, todos deviam acolhê-los. Pensavam ter Deus do seu lado para defendê-los. Era a mentalidade antiga de “Povo eleito, Povo privilegiado!”. Jesus os repreende: "Vocês não sabem de que espírito estão sendo animados" (Lc 9,55).

**Mentalidade de competição e de prestígio: os discípulos brigavam entre si pelo primeiro lugar (Mc 9,33-34). Era a mentalidade de classe e de competição, que caracterizava a sociedade do Império Romano. Ela já se infiltrava na pequena comunidade que estava apenas nascendo ao redor de Jesus. Jesus reage e manda ter a mentalidade contrária : "O primeiro seja o último" (Mc 9,35). É o ponto em que ele mais insistiu e em que mais deu o próprio testemunho: “Não vim para ser servido, mas para servir” (Mc 10,45;Jo 13,1-16).

**Mentalidade de quem marginaliza o pequeno: Mães com crianças querem chegar perto de Jesus. Os discípulos as afastam. Era a mentalidade da cultura da época na qual criança não contava e devia ser disciplinada pelos adultos. Era ainda o medo de que as mães e as crianças, tocando em Jesus com mãos impuras, causassem alguma impureza em Jesus. Mas Jesus os repreende: ”Deixem vir a mim as crianças!” (Mc 10,14). Ele os acolhe, abraça e abençoa. Coloca a criança como professora de adulto: “Quem não receber o Reino como uma criança, não pode entrar nele” (Lc 18,17). Transgride aquelas normas da pureza legal que impedem o acolhimento e a ternura.

**Mentalidade de quem segue a opinião da ideologia dominante: certo dia, vendo um cego, os discípulos perguntaram a Jesus: "Quem pecou, ele ou seus pais, para que nascesse cego?" (Jo 9,2). Como hoje, o poder da opinião pública era muito forte. Fazia todo mundo pensar do mesmo jeito de acordo com a ideologia dominante. Enquanto se pensa assim não é possível perceber todo o alcance da Boa Nova do Reino. Jesus os ajuda a ter uma visão mais crítica: “Nem ele, nem os pais dele, mas para que nele se manifestem as obras de Deus” (cf Jo 9,3). A resposta de Jesus supõe uma consciência nova e uma leitura diferente da realidade.

Estes e muitos outros episódios mostram como Jesus estava atento ao processo de conversão e de formação em que se encontravam seus discípulos. Isto revela duas características em Jesus: 1) Possuía uma visão crítica, tanto da sociedade em que ele vivia, como da ideologia ou “fermento” que os grandes comunicavam aos súditos; 2) Tinha uma percepção clara de como este “fermento”, disfarçadamente, se infiltrava na vida das pessoas.

Jesus forma os discípulos, corrigindo-os e envolvendo-os na missão
Desde o primeiro momento do chamado, Jesus envolve os discípulos na missão que ele mesmo estava realizando em obediência ao Pai. A participação efetiva no anúncio do Reino faz parte do processo formador, pois a missão é a razão de ser da vida comunitária ao redor de Jesus. (Lc 9,1-2;10,1). Como catequistas, anunciar a centralidade da pessoa de Jesus requer educar para a fé, corrigir na justiça, orientar as atitudes. Eis alguns aspectos da atitude formadora de Jesus para ser refletido e assumido na formação do catequista para que saiba formar os interlocutores:
* corrige-os quando erram e querem ser os primeiros (Mc 9,33-35; 10,14-15)
* sabe aguardar o momento oportuno para corrigir (Lc 9,46-48; Mc 10,14-15).
* ajuda-os a discernir o que fazer e como fazer (Mc 9,28-29),
* interpela-os quando são lentos (Mc 4,13; 8,14-21),
* prepara-os para o conflito e a perseguição (Jo 16,33; Mt 10,17-25),
* ensina que as necessidades do povo estão acima das prescrições rituais ou leis (Mt 12,7.12),
* tem momentos a sós com eles para poder instruí-los (Mc 4,34; 7,17; 9,30-31; 10,10; 13,3),
* sabe escutar, mesmo quando o diálogo é difícil (Jo 4,7-30).
* ajuda as pessoas a se aceitarem a si mesmas (Lc 22,32).
* é severo com a hipocrisia (Lc 11,37-53).
* faz mais perguntas do que respostas (Mc 8,17-21).
* é firme e não se deixa desviar do caminho (Mc 8,33; Lc 9,54).
* desperta liberdade e libertação: "O ser humano não foi feito para o sábado, mas o sábado para o ser humano!" (Mc 2,27; 2,18.23)
* depois de tê-los enviado em missão, na volta faz revisão com eles (Lc 9,1-2;10,1;10,17-20)

Alguns conteúdos e recursos didáticos de Jesus
O sistema educativo da época era bem diferente de hoje. Jesus não era professor. Seus formandos não eram alunos, mas sim discípulos e discípulas. Mesmo assim, apesar de ser diferente de hoje, vamos arriscar uma resposta para a seguinte pergunta: Quais eram os conteúdos e recursos didáticos em que Jesus mais insistia e a que dava mais atenção no processo de formação dos discípulos?

* O testemunho de vida: o recurso básico que Jesus utiliza na formação dos discípulos é o testemunho de sua vida: "Segue-me" (Lc 5,27). “Venham e vejam” (Jo 1,39). "Eu sou o caminho, a verdade e a vida" (Jo 14,16). O discípulo tem na vida do Mestre uma norma (Mt 10,24-25). Neste seu testemunho de vida Jesus reflete para os discípulos os traços do rosto de Deus: "Quem me vê, vê o Pai" (Jo 14,9). A raiz da Boa Nova é Deus, o Pai. A raiz da transparência de Jesus é a sua fidelidade ao Pai e a sua coerência com a Boa Nova que anuncia e irradia.

* A vida e a natureza: Jesus descobre a vontade do Pai nos fenômenos mais comuns da natureza e a transmite aos discípulos e discípulas: na chuva que cai sobre bons e maus ele descobre a misericórdia do Pai que acolhe a todos (Mt 5,45); nos pássaros do céu e nos lírios do campo ele descobre os sinais da Divina Providência (Mt 6,26-30). A sua maneira de ensinar em parábolas provoca os discípulos a refletirem sobre as coisas mais comuns do dia a dia da sua vida (Mt 13,1-52; Mc 4,1-34). As parábolas de Jesus são um retrato da vida do povo e da realidade confusa e conflituosa da época.

* As grandes questões do momento e as perguntas do povo: o crime de Pilatos contra alguns romeiros da Galiléia, a queda da torre de Siloé em construção que matou 18 operários (Lc 13,1-4), a discussão dos discípulos em torno de quem deles era o maior (Mc 9,33-36), a fome do povo (Lc 9,13), o ensinamento dos escribas (Mc 12,35-37) e tantos outros problemas, fatos e perguntas do povo funcionavam como gancho para Jesus levar os discípulos a refletir, a cair em si e a descobrir algum ensinamento ou apelo de Deus.

* O jeito de ensinar em qualquer lugar: em qualquer lugar onde encontrava gente para escutá-lo, Jesus transmitia a Boa Nova de Deus: nas sinagogas durante a celebração da Palavra nos sábados (Mc 1, 21; 3,1; 6,2); em reuniões informais nas casas de amigos (Mc 2,1.15; 7,17; 9,28; 10,10); andando pelo caminho com os discípulos (Mc 2,23); ao longo do mar na praia, sentado num barco (Mc 4,1); no deserto para onde se refugiou e onde o povo o procurava (Mc 1,45; 6,32-34); na montanha, de onde proclamou as bem-aventuranças (Mt 5,1); nas praças das aldeias e cidades, onde povo carregava seus doentes (Mc 6,55-56); no Templo de Jerusalém, por ocasião das romarias, diariamente, sem medo (Mc 14,49).

* Momentos a sós com os discípulos: várias vezes, Jesus convida os discípulos para ir com ele a um lugar distante, seja para instruir (Mc 4,34; 7,17; 9,30-31; 10,10; 13,3), seja para descansar (Mc 6,31). Ele chegou a fazer uma longa viagem ao exterior na terra de Tiro e Sidônia para poder estar a sós com eles e instruí-los a respeito da Cruz (Mc 8,22-10,52).

* A Bíblia e a história do povo: nem sempre é possível discernir se o uso que os evangelhos fazem do AT vem do próprio Jesus ou se é uma explicitação dos primeiros cristãos que, assim, expressavam o alcance da sua fé em Jesus. Seja como for, é inegável o uso constante e frequente que Jesus fazia da Bíblia. Ele conhecia a Bíblia de cor e salteado. Jesus se orientava pela Sagrada Escritura para realizar sua missão e ele a usava para instruir os discípulos e o povo.

* A Cruz e o sofrimento: quando ficou claro para Jesus que as autoridades religiosas não iam aceitar a sua mensagem e que decidiram matá-lo, ele começou a falar da cruz que o esperava em Jerusalém (Lc 9,31). Isto provocou reações fortes nos discípulos (Mc 8,31-33), pois na lei estava escrito que um crucificado era um “maldito de Deus” (Dt 21,22-23). Como um maldito de Deus poderia ser o Messias? Por isso, a partir deste momento crítico, o eixo da formação que Jesus dava aos discípulos consistia em ajudá-los a superar o escândalo da Cruz (Mc 8,31-34; 9,31-32; 10,33-34).

Estes são alguns dos recursos didáticos usados por Jesus na formação dos discípulos e discípulas. Alguns destes recursos eram diferentes de hoje, outros eram iguais. Assim, os catequistas que desejam iniciar seus interlocutores na vida cristã, precisam, a partir de Jesus Cristo, encontrar caminhos e possibilidades de formação que leve a todos a experiência pessoal com Jesus, a adesão à comunidade, a vida de fé e a espiritualidade.

Tendo refletido, rezado e aprofundado o conhecimento sobre a pessoa de Jesus, leiam o texto de Lucas 4,14-20 (síntese do ministério de Jesus) e respondam agora como grupo: Quem é Jesus para você? Escrevam para partilhar no momento de oração!

segunda-feira, 3 de junho de 2013

QUEM É JESUS?

Refrão: Cada manhã, o Senhor desperta o meu ouvido, para eu ouvir como discípulo. Ouvir, prestar atenção, como discípulo, cada manhã.

EVANGELHO DE MARCOS 8,27-29

Durante sua vida, Jesus foi chamado de diversas formas. Encontramos nos textos bíblicos vários nomes dados a Jesus, que foram importantes para a construção teológica da ressurreição. A vida sem ressurreição é uma vida sem graça, sem esperança, sem saída. A recuperação dos textos bíblicos é importante para compreensão dos títulos messiânicos e identificação destes títulos com Jesus: Filho de Deus, Senhor, Messias, Cristo, Filho de Davi, Filho do homem, Servidor e Profeta, títulos da literatura de Israel que apontam para identidade de Jesus.

O nome JESUS, “Yeshuá” em aramaico, quer dizer Deus salva. Deus é a identidade e o fato de salvar refere-se a sua missão. CRISTO quer dizer Aquele que foi ungido. “Cristós” (grego)/ “meshiah” (hebraico): Messias (enviado), ungido (pelo Espirito para missão de rei, sacerdote e profeta), escolhido.

O termo “Messias/ Cristo” é título de origem palestina, presente nos profetas que esperavam o Messias: da descendência de Davi virá o ungido para governar o povo de Deus e esse messias reinará. O título messias (ungido) Jesus nunca atribui a si mesmo. Sempre são os outros que dizem que Jesus é o Messias, até mesmo de maneira confusa (Mc 8,27). Jesus não se reduz a concepção judaica de messias, mas com Jesus há um salto para uma concepção cristã, o messias passa pela cruz. É na cruz que coexiste a exaltação.

“Senhor”, ou Kyrios, era título dado somente a Deus (Adonai), transferido para Jesus, entendido como vivente, exaltado. O que estava morto venceu a morte e vive. Tal título foi dado pela ressurreição: Jesus Cristo é o Senhor! O título de Senhor  evidencia que o louvor, o poder, a honra, o domínio e a glória são dele: o senhorio sobre o mundo e a história, do princípio ao fim, pelos séculos dos séculos, são de Jesus (Ap 5,11-14).

O termo Filho aparece com vários complementos: de Davi, de Abraão, de Deus, do homem. Jesus é chamado de FILHO, por haver um  Pai (categoria de filiação/ paternidade). Jesus é o Filho único de Deus: no Batismo entendemos “este é meu Filho amado” (Mt 3,17), na Transfiguração: “este é meu Filho amado”, o Centurião no momento da morte: “este é o Filho de Deus” (Mc 15,39), Pedro faz sua profissão de fé: “tu és o Filho do Deus vivo” (Mt 16,13).

“Filho de Deus” é o título de significado ontológico, que quer dizer sobre o ser de Jesus. Ele não é simplesmente o filho de José, mas de Deus e chama Deus de Pai, tem clara sua fidelidade ao projeto. Este título aparece no início Marcos e volta a aparecer na boca do centurião, diante da cruz. Só é possível confessar Jesus como Filho de Deus se paralelamente o confessamos a partir da cruz. Nos evangelhos Jesus faz uso do termo Abba! Esse título também é falado por Deus mesmo no batismo e na transfiguração. Na releitura pós–pascal é o título da compreensão divina.

“Filho de Davi” está presente em 2 Sm 7,12 - “estabelecerei seu trono real”- o anunciado por Natã é Jesus; 2 Sm 7,16 – “Bendito o reino que vem do nosso pai Davi”, depois confirmado em Lc 1,32 “Deus lhe dará o trono de Davi”.

"Filho do homem” está presente em Dn 7,13, é título apocalíptico e escatológico identificado a Jesus: ser humano, homem que ultrapassou a condição humana. Jesus se explicava como Filho do homem (Mt 8,20),  e João 3,13 deixa claro que ele virá para inaugurar um novo tempo. A particularidade deste titulo é que faz referência a humanidade de Jesus, isso mostra que tem consciência sobre a sua humanidade. Em primeiro lugar ele se confessa como filho do homem, e o filho do homem vai morrer. Ele tem consciência de sua humanidade, e sobre a divindade a consciência é progressiva. Reconhecer a humanidade – filho do homem – é condição de possibilidade para ser Filho de Deus.

“O servidor” é resgate da figura do servo sofredor de Isaias (42,1-17; 49,1-6; 50,4-9.10-11; 52,13-53,12), servo animado pelo Espírito na missão profética; servo das humilhações; servo sábio e discípulo; servo do sofrimento, do escândalo, das expiações dos pecados.

“O Profeta” é resgatado por encontrarmos a morte de Jesus na esteira dos profetas, há uma identificação com a consequência do profetismo: a sorte da morte.

O termo Mestre é contraditório. Jesus não era um Rabi, no entanto ensinava com autoridade e devia ser escutado. Se na boca dos seguidores, era um título de admiração, se na boca dos doutores da lei e fariseus, era uma forma de deboche, colocando Jesus em seu devido lugar.

O “Emmanuel”- Deus-conosco é título dado na encarnação (nome dado pelo anjo): O Verbo feito carne agora habitará entre os homens e com ele irá caminhar.

O Sumo-Sacerdote é encontrado na carta Hebreus, destacando Jesus como o novo e grande liturgo, aquele que nos liga a Deus de forma definitiva, sem termos que renovar a aliança a cada ano, ele selou a nova e eterna aliança.


A pergunta agora é pra você: Diz Jesus - quem sou eu para você?

domingo, 2 de junho de 2013

REUNIÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DOS CATEQUETAS (SBCat)
31 DE MAIO E 01 DE JUNHO DE 2013

Entre os dias 31 de maio e 1º de junho, os membros da Sociedade Brasileira de Catequetas (SBCat), reunidos na Casa Provincial La Salle, em São Paulo,  realizam sua Assembleia anual. Comemorando um ano de fundação tem como objetivo maior a elaboração de seus Estatutos. Fundada no dia 09 de junho de 2012, festa do Bem-aventurado José de Anchieta, tem como finalidade favorecer a convergência de pessoas qualificadas no campo da catequese e o livre intercâmbio de pesquisas e experiências que promovam o avanço nesta área pastoral. Ela está a serviço do povo de Deus, mediante a elaboração de estudos sobre aspectos específicos da missão catequética, a colaboração interdisciplinar, a resposta a solicitações e sugestões dentro de sua área, mantendo sintonia com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB e organismos eclesiais afins.


Durante a assembléia da Sociedade Brasileira de Catequetas (SBCat), na Casa Provincial La Salle, em São Paulo(SP) aconteceu a eleição da nova diretoria composta por:

Pe. Eduardo Calandro - Presidente
Ir. Rosângela Aparecida Fontoura - Vice-presidente 
Pe. Luís Gonzaga Bolinelli - Secretário
Pe. Jordélio Siles Ledo - Tesoureiro
Pe. Roberto Nentwig - Suplente

Como um apaixonado pela Dimensão Bíblico-Catequética de nossa Igreja, e também catequeta, acolho com alegria a boa notícia da eleição da nova presidência da Sociedade Brasileira dos Catequetas. Saudo o querido Pe Eduardo Calandro, pessoa com tive uma convivência especial (um grande professor), e me sinto mais feliz ainda por saber que nossa coordenadora diocesana da Pastoral Bíblico-Catequética, Ir Rosangela Aparecida Fontoura, foi eleita como a vice-presidente. Conte com minhas orações e presença em sua vida, irmã Rosângela, parabéns pelo sim dado ao Projeto de Jesus Cristo e obrigado por seu serviço prestado à catequese da diocese e também do Brasil! Sou um grande admirador de seu trabalho. Abraços ao Pe Jordélio, ao Pe Luis Gonzaga e ao Pe Roberto.


sábado, 1 de junho de 2013

 “E A PALAVRA SE FEZ CARNE E HABITOU ENTRE NÓS”

Em Jesus Cristo, Deus nos revelou de maneira clara e direta aquilo que ele é. Descobrimos na encarnação que não é preciso ter medo de Deus, porque “feito carne” se aproxima de nós no sorriso de uma criança. Descobrimos que Deus não se interessa em primeiro lugar pelo poder e não faz questão alguma de ser venerado como poderoso dos exércitos. Na fragilidade humana de uma criança, no seu desamparo e na necessidade em ser amado, Deus habita entre nós.

Deus deixa de lado as atitudes de poder e de prestígio para compreendermos que seu caminho é o da ternura e do amor: Ele se entrega a nós e se põe em nossas mãos! Para que possa ser amado em vez de temido. Deus escolhe para sua encarnação os caminhos humildes da natureza humana. Deus não está interessado em nos intimidar, já que um bebê não causa medo, ainda mais sendo de um casal simples e sem importância para os olhos do mundo. Deus não quer que o temamos, mas o amemos e é por causa desse seu desejo que se revela a nós como criança indefesa, para ser amado de coração aberto, encontrando amparo em nossos braços e em nossos corações... na manjedoura o desafio é o amor.

Com a encarnação entendemos que o Deus-humilde não se tornou simplesmente homem, mas ele se identificou com cada ser humano de tal maneira que os acolhe e chama de irmãos. Por isso, o que fazemos a qualquer pessoa, é a Ele que estamos fazendo. A encarnação nos impulsiona a sermos colaboradores da justiça, do amor e da solidariedade, transformando as inúmeras situações e estruturas, nas quais os seres humanos encontram-se pisados, excluídos, afligidos e desprezados.

De onde é Jesus? Essa é a pergunta inicial:
EVANGELHO DE JOÃO 1, 1-18   

Para responder a pergunta “De onde é Jesus?”, o evangelho de Mateus elabora sua genealogia (1,1-17) no início dos escritos. Podemos destacar os nomes e Abraão (promessa da benção) e de Davi (promessa de um Reino eterno), concluindo com Maria, que marca o novo início da humanidade. Jesus vem do Espírito Santo (1,20), do seio materno de Maria (1,16). No Evangelho de Lucas, a genealogia (3,23-38) se dá após o batismo: é a apresentação da vida pública de Jesus, que parte do cume (Jesus) até chegar na origem (filho de Deus), origem já destaca em 1,35 “Aquele que vai nascer será chamado Filho de Deus”.

João, no prólogo (1,1-18), explicita a grandiosa resposta “de onde” Ele é: A Palavra estava junto de Deus, vem de Deus, portanto, Jesus é Deus. Se fez carne e armou sua tenda, habitando entre nós. A força criadora, a Palavra, é aquela que dá a vida. À medida que Deus fala, as coisas vão acontecendo, por isso Jesus é a vida em plenitude transmitida à humanidade. Jesus é a tenda da reunião, o lugar do encontro com Deus, que não se fecha num templo, mas está presente no meio de nós. Jesus é a presença visível do Deus invisível, rosto divino do homem e rosto humano de Deus. Não há mais espaços para mediações, pois Jesus recebe a glória do Pai e a comunica como Filho único.

JOÃO BATISTA E JESUS
No início da atividade de Jesus os quatro Evangelhos colocam a figura de João Batista e apresentam-no como o precursor (Jo 1,29; Lc 1,30; Mc 1, 6-8; Mt 3,1-12). Filho do sacerdote Zacarias, da classe de Abdias, e de Isabel, parente de Maria, o anúncio do nascimento de João se dará no Templo, num solene momento de liturgia do Antigo Testamento, contrastando com o anúncio de Jesus, que se dá numa cidade desconhecida, numa casa simples, a uma jovem anônima, contudo, marcando o início de um novo tempo, o Novo Testamento inaugurado com o “alegra-te”.
Refrão: Deus só pode nos dar seu amor, nosso Deus é ternura!

João situa-se na longa esteira daqueles que nasceram de pais estéreis graças a uma intervenção prodigiosa de Deus, que age no impossível. O anúncio de Jesus está intimamente ligado com a história de João Batista: acontece no sexto mês da gravidez de Isabel, logo após o diálogo com o anjo, sendo coberta pela sombra do Altíssimo, Maria visita Isabel. A Palavra de Deus, o seu Espírito, gera em Maria o menino; gera-o através da porta de sua obediência.

O NASCIMENTO
O nascimento de Jesus, em Belém, na cidade de Davi, situa-se no quadro da história universal (datação específica, sem o indefinido “era uma vez” que poderia marcar um mito): inicia-se uma nova contagem do tempo. Nascido da virgem Maria, gerado e não criado, é cumprimento da promessa do Pai de caminhar com seu povo; a nova criação está ligada ao sim livre da pessoa humana de Maria, a nova Eva. O salvador, nasceu fora de uma casa, num ambiente desconfortável (gruta/estábulo), foi crucificado fora da cidade, no entanto, trouxe ao mundo a paz, o que nos faz recordar e inversão de valores verificada na pessoa de Jesus desde o nascimento.

Maria envolveu o menino com faixas (nascimento/morte) e colocou-o no lugar onde os animais buscavam alimento, na manjedoura/altar/arca da aliança (Jesus é o verdadeiro alimento que o homem necessita para ser pessoa humana). O primogênito pertence a Deus e inaugura a nova humanidade depois de ter derrubado as portas da morte. As primeiras testemunhas do nascimento são os pastores, por conhecerem a pobreza e a simplicidade, viram o menino interiormente – um olhar além do imediato. Os anjos anunciaram a alegria e glorificavam a Deus cantando; os motivos para tanta alegria: Deus é glorioso, existe o bem, existe a verdade, existe a beleza, estão em Deus de forma indestrutível.

O nascimento de Jesus é concluído em Lucas com a narrativa da apresentação de Jesus ao Templo, segundo a lei de Israel: no oitavo dia a circuncisão e no quadragésimo a purificação de Maria. Jesus é formalmente recebido na comunidade das promessas que nascem de Abraão: mesmo nascido sob a Lei, redimiu a humanidade para que fosse acolhida na adoção filial. Da boca de Simeão, homem justo e piedoso profere duas afirmações cristológicas: “O menino é Luz para iluminar as nações” e existe para “a glória de teu povo, Israel”. Jesus é identificado como servo de YHWH. A teologia da glória se liga a teologia da cruz, e logo Maria é informada de que “uma espada traspassará seu peito” (Lc 2,35), porque o menino foi colocado para queda e para o reerguimento de muitos em Israel (será a pedra onde se tropeça e cai: Is 8,14).

A EPIFANIA – OS MAGOS DO ORIENTE
Mateus destaca que magos vindos do oriente, em busca da verdade, seguiram uma “estrela que brilhara sobre o mundo” (o próprio rei que deve vir), para encontrar o portador da salvação. Tais magos, que representam a sabedoria religiosa e filosófica, a força que coloca os homens a caminho. Os sábios/reis marcaram a dinâmica de ir além de si próprios, representando os povos (as diversas etnias) que vieram adorar o menino-rei. Tais sábios constituem um início, o encaminhar-se da humanidade para Cristo: inauguram uma procissão que percorre a história inteira – representam a expectativa interior do espírito humano, o movimento das religiões e da razão humana ao encontro de Cristo.

Não é a estrela que determina o destino do Menino, mas o Menino que guia a estrela, trazendo o homem para si, atraindo por meio da criação para a experiência profunda da fé. Cada vez mais, a humanidade se faz peregrina em busca da luz que ilumine a vida com raios de eternidade. Existe um desejo no coração de todo homem e mulher: encontrar uma estrela (luz) que seja guia e meta para suas vidas, como aconteceu com os Magos e com tantas pessoas que vivem em busca do rosto do Deus. Quando o homem é atingido no coração pela luz de Deus, alegra-se por ver realizada sua esperança (Mt 2,10). Os magos prostram-se diante do Menino, prestam a homenagem ao rei-Deus. Os três presentes representam três aspectos dos mistério de Cristo – o ouro apontaria para sua realeza, o incenso para o Filho de Deus e a mirra para o mistério de sua paixão.

No início do Evangelho de João, Jesus faz uma pergunta para alguns dos discípulos de João Batista: O que vocês estão procurando? Essa pergunta ele dirige hoje a você: O que procuras?
Ler o texto de Jo 1,35-51 (ler, refletir com ajuda do texto abaixo, meditar, rezar e contemplar).