“A PESSOA DE JESUS E A CATEQUESE”
Jesus é a plenitude da revelação e o centro de todo mistério
cristão, por isso, é o centro da catequese, que deve concentrar sua atenção na
pessoa de Jesus Cristo (cristocentrismo). Deve favorecer a experiência pessoal
com Jesus Cristo, propondo a fé por meio do querigma, possibilitando ao
interlocutor o encontro pessoal com Jesus, entrando em intimidade com o Amado,
aprofundando os conteúdos (transmissão da fé) para o processo de conversão (CT
20, DGC 80-81).
A Catequese deve apresentar a pessoa de Jesus, sua mensagem
como boa-notícia, o projeto do Reino de Deus. A Catequese sobre Jesus deve
levar os interlocutores desde o “Quem é este?” (Mc 4,41), pergunta que se faz
aos seguidores de Jesus, até a profissão de fé, assumindo Jesus como “Senhor e
salvador”. A admiração por Jesus é o movimento que abarca a pessoa e repercute
em todos os campos da vida, não é somente contato, mas comunhão, intimidade com
Jesus Cristo.
A catequese precisa apresentar Jesus, não com valores
abstratos ou como um exigente mestre na moral, mas como Cristo vivo e
ressuscitado, que caminha ao nosso lado, nos acompanhando como consumador da
fé. Devemos nos preocupar em apresentar “quem é Jesus” e não “o que é Jesus”,
anunciando Aquele que vive e deseja nos encontrar, estabelecer uma amizade, uma
relação pessoal. É necessário que os interlocutores encontrem Jesus, não como
projeção imaginária dos desejos ou ilusões, mas como verdadeiro Deus.
A catequese, com relação à pessoa de Jesus, deve assumir
como tarefa própria:
1. Favorecer
encontro pessoal com Jesus Cristo;
2. Favorecer
o aprofundamento/conhecimento amoroso de Jesus para uma adesão de fé a Cristo;
3. Aprofundar
a experiência com o Evangelho, de forma saborosa e elaborada;
4. Educar
para celebração dos mistérios de Jesus por meio da liturgia;
5. Envolver
o catequizando a partir do projeto de salvação;
6. Iniciar
na oração e na mística cristã, tendo o Pai nosso como referência de oração;
7. Iniciar
no seguimento de Cristo e na caminhada de comunidade;
8. Viver a
partir do projeto de Jesus Cristo;
9. Assumir a
vocação de povo de Deus (filhos amados)
10. Enviar em
missão para “expulsar os demônios” da cultura moderna
JESUS E O PROCESSO FORMATIVO DOS DISCÍPULOS
(baseado no texto de Carlos Mesters e Orofino da 3ª Semana
Brasileira de Catequese)
Não é pelo fato de uma pessoa andar com Jesus e de conviver
com ele que ela já seja santa e renovada. O “fermento de Herodes e dos
fariseus” (Mc 8,15), a ideologia dominante da época, tinha raízes profundas na
vida daquele povo. A conversão que Jesus pedia e a formação que ele dava
procuravam atingir e erradicar de dentro deles esse “fermento” da ideologia
dominante. Também hoje, a ideologia do sistema neoliberal renasce sempre de
novo na vida das comunidades e dos discípulos e discípulas. O "fermento do
consumismo" tem raízes profundas na vida, tanto dos formandos como dos
formadores, e exige uma vigilância constante. Jesus ajudava os discípulos a
viverem num processo permanente de formação, assim como nós catequistas temos
esse compromisso de estarmos em formação e formar nossos interlocutores.
Vamos ver alguns casos desta vigilância com que Jesus os
acompanhava e os ajudava a tomarem consciência do “fermento de Herodes e dos
fariseus”. É a ajuda fraterna com que ele, atento ao processo de formação dos
discípulos, intervinha para ajudá-los a dar um passo e criar nova consciência:
**Mentalidade do grupo que se considera superior aos outros:
certa vez, os samaritanos não queriam dar hospedagem a Jesus. A reação de
alguns discípulos foi violenta: “Que um fogo do céu acabe com esse povo!” (Lc
9,54). Achavam que, pelo fato de estarem com Jesus, todos deviam acolhê-los.
Pensavam ter Deus do seu lado para defendê-los. Era a mentalidade antiga de
“Povo eleito, Povo privilegiado!”. Jesus os repreende: "Vocês não sabem de
que espírito estão sendo animados" (Lc 9,55).
**Mentalidade de competição e de prestígio: os discípulos
brigavam entre si pelo primeiro lugar (Mc 9,33-34). Era a mentalidade de classe
e de competição, que caracterizava a sociedade do Império Romano. Ela já se
infiltrava na pequena comunidade que estava apenas nascendo ao redor de Jesus.
Jesus reage e manda ter a mentalidade contrária : "O primeiro seja o
último" (Mc 9,35). É o ponto em que ele mais insistiu e em que mais deu o
próprio testemunho: “Não vim para ser servido, mas para servir” (Mc 10,45;Jo
13,1-16).
**Mentalidade de quem marginaliza o pequeno: Mães com
crianças querem chegar perto de Jesus. Os discípulos as afastam. Era a
mentalidade da cultura da época na qual criança não contava e devia ser
disciplinada pelos adultos. Era ainda o medo de que as mães e as crianças,
tocando em Jesus com mãos impuras, causassem alguma impureza em Jesus. Mas
Jesus os repreende: ”Deixem vir a mim as crianças!” (Mc 10,14). Ele os acolhe,
abraça e abençoa. Coloca a criança como professora de adulto: “Quem não receber
o Reino como uma criança, não pode entrar nele” (Lc 18,17). Transgride aquelas
normas da pureza legal que impedem o acolhimento e a ternura.
**Mentalidade de quem segue a opinião da ideologia dominante:
certo dia, vendo um cego, os discípulos perguntaram a Jesus: "Quem pecou,
ele ou seus pais, para que nascesse cego?" (Jo 9,2). Como hoje, o poder da
opinião pública era muito forte. Fazia todo mundo pensar do mesmo jeito de
acordo com a ideologia dominante. Enquanto se pensa assim não é possível
perceber todo o alcance da Boa Nova do Reino. Jesus os ajuda a ter uma visão
mais crítica: “Nem ele, nem os pais dele, mas para que nele se manifestem as
obras de Deus” (cf Jo 9,3). A resposta de Jesus supõe uma consciência nova e
uma leitura diferente da realidade.
Estes e muitos outros episódios mostram como Jesus estava
atento ao processo de conversão e de formação em que se encontravam seus
discípulos. Isto revela duas características em Jesus: 1) Possuía uma visão
crítica, tanto da sociedade em que ele vivia, como da ideologia ou “fermento”
que os grandes comunicavam aos súditos; 2) Tinha uma percepção clara de como
este “fermento”, disfarçadamente, se infiltrava na vida das pessoas.
Jesus forma os discípulos, corrigindo-os e envolvendo-os na
missão
Desde o primeiro momento do chamado, Jesus envolve os
discípulos na missão que ele mesmo estava realizando em obediência ao Pai. A
participação efetiva no anúncio do Reino faz parte do processo formador, pois a
missão é a razão de ser da vida comunitária ao redor de Jesus. (Lc 9,1-2;10,1).
Como catequistas, anunciar a centralidade da pessoa de Jesus requer educar para
a fé, corrigir na justiça, orientar as atitudes. Eis alguns aspectos da atitude
formadora de Jesus para ser refletido e assumido na formação do catequista para
que saiba formar os interlocutores:
* corrige-os quando erram e querem ser os primeiros (Mc
9,33-35; 10,14-15)
* sabe aguardar o momento oportuno para corrigir (Lc 9,46-48;
Mc 10,14-15).
* ajuda-os a discernir o que fazer e como fazer (Mc
9,28-29),
* interpela-os quando são lentos (Mc 4,13; 8,14-21),
* prepara-os para o conflito e a perseguição (Jo 16,33; Mt
10,17-25),
* ensina que as necessidades do povo estão acima das prescrições
rituais ou leis (Mt 12,7.12),
* tem momentos a sós com eles para poder instruí-los (Mc
4,34; 7,17; 9,30-31; 10,10; 13,3),
* sabe escutar, mesmo quando o diálogo é difícil (Jo
4,7-30).
* ajuda as pessoas a se aceitarem a si mesmas (Lc 22,32).
* é severo com a hipocrisia (Lc 11,37-53).
* faz mais perguntas do que respostas (Mc 8,17-21).
* é firme e não se deixa desviar do caminho (Mc 8,33; Lc
9,54).
* desperta liberdade e libertação: "O ser humano não
foi feito para o sábado, mas o sábado para o ser humano!" (Mc 2,27;
2,18.23)
* depois de tê-los enviado em missão, na volta faz revisão
com eles (Lc 9,1-2;10,1;10,17-20)
Alguns conteúdos e recursos didáticos de Jesus
O sistema
educativo da época era bem diferente de hoje. Jesus não era professor. Seus
formandos não eram alunos, mas sim discípulos e discípulas. Mesmo assim, apesar
de ser diferente de hoje, vamos arriscar uma resposta para a seguinte pergunta:
Quais eram os conteúdos e recursos didáticos em que Jesus mais insistia e a que
dava mais atenção no processo de formação dos discípulos?
* O testemunho de vida: o recurso básico que Jesus utiliza
na formação dos discípulos é o testemunho de sua vida: "Segue-me" (Lc
5,27). “Venham e vejam” (Jo 1,39). "Eu sou o caminho, a verdade e a
vida" (Jo 14,16). O discípulo tem na vida do Mestre uma norma (Mt
10,24-25). Neste seu testemunho de vida Jesus reflete para os discípulos os
traços do rosto de Deus: "Quem me vê, vê o Pai" (Jo 14,9). A raiz da
Boa Nova é Deus, o Pai. A raiz da transparência de Jesus é a sua fidelidade ao
Pai e a sua coerência com a Boa Nova que anuncia e irradia.
* A vida e a natureza: Jesus descobre a vontade do Pai nos
fenômenos mais comuns da natureza e a transmite aos discípulos e discípulas: na
chuva que cai sobre bons e maus ele descobre a misericórdia do Pai que acolhe a
todos (Mt 5,45); nos pássaros do céu e nos lírios do campo ele descobre os
sinais da Divina Providência (Mt 6,26-30). A sua maneira de ensinar em
parábolas provoca os discípulos a refletirem sobre as coisas mais comuns do dia
a dia da sua vida (Mt 13,1-52; Mc 4,1-34). As parábolas de Jesus são um retrato
da vida do povo e da realidade confusa e conflituosa da época.
* As grandes questões do momento e as perguntas do povo: o
crime de Pilatos contra alguns romeiros da Galiléia, a queda da torre de Siloé
em construção que matou 18 operários (Lc 13,1-4), a discussão dos discípulos em
torno de quem deles era o maior (Mc 9,33-36), a fome do povo (Lc 9,13), o
ensinamento dos escribas (Mc 12,35-37) e tantos outros problemas, fatos e
perguntas do povo funcionavam como gancho para Jesus levar os discípulos a
refletir, a cair em si e a descobrir algum ensinamento ou apelo de Deus.
* O jeito de ensinar em qualquer lugar: em qualquer lugar
onde encontrava gente para escutá-lo, Jesus transmitia a Boa Nova de Deus: nas
sinagogas durante a celebração da Palavra nos sábados (Mc 1, 21; 3,1; 6,2); em
reuniões informais nas casas de amigos (Mc 2,1.15; 7,17; 9,28; 10,10); andando
pelo caminho com os discípulos (Mc 2,23); ao longo do mar na praia, sentado num
barco (Mc 4,1); no deserto para onde se refugiou e onde o povo o procurava (Mc
1,45; 6,32-34); na montanha, de onde proclamou as bem-aventuranças (Mt 5,1);
nas praças das aldeias e cidades, onde povo carregava seus doentes (Mc 6,55-56);
no Templo de Jerusalém, por ocasião das romarias, diariamente, sem medo (Mc
14,49).
* Momentos a sós com os discípulos: várias vezes, Jesus
convida os discípulos para ir com ele a um lugar distante, seja para instruir
(Mc 4,34; 7,17; 9,30-31; 10,10; 13,3), seja para descansar (Mc 6,31). Ele
chegou a fazer uma longa viagem ao exterior na terra de Tiro e Sidônia para
poder estar a sós com eles e instruí-los a respeito da Cruz (Mc 8,22-10,52).
* A Bíblia e a história do povo: nem sempre é possível discernir
se o uso que os evangelhos fazem do AT vem do próprio Jesus ou se é uma
explicitação dos primeiros cristãos que, assim, expressavam o alcance da sua fé
em Jesus. Seja como for, é inegável o uso constante e frequente que Jesus fazia
da Bíblia. Ele conhecia a Bíblia de cor e salteado. Jesus se orientava pela
Sagrada Escritura para realizar sua missão e ele a usava para instruir os
discípulos e o povo.
* A Cruz e o sofrimento: quando ficou claro para Jesus que
as autoridades religiosas não iam aceitar a sua mensagem e que decidiram
matá-lo, ele começou a falar da cruz que o esperava em Jerusalém (Lc 9,31).
Isto provocou reações fortes nos discípulos (Mc 8,31-33), pois na lei estava
escrito que um crucificado era um “maldito de Deus” (Dt 21,22-23). Como um
maldito de Deus poderia ser o Messias? Por isso, a partir deste momento
crítico, o eixo da formação que Jesus dava aos discípulos consistia em
ajudá-los a superar o escândalo da Cruz (Mc 8,31-34; 9,31-32; 10,33-34).
Estes são alguns dos recursos didáticos usados por Jesus na
formação dos discípulos e discípulas. Alguns destes recursos eram diferentes de
hoje, outros eram iguais. Assim, os catequistas que desejam iniciar seus
interlocutores na vida cristã, precisam, a partir de Jesus Cristo, encontrar caminhos
e possibilidades de formação que leve a todos a experiência pessoal com Jesus,
a adesão à comunidade, a vida de fé e a espiritualidade.
Tendo refletido, rezado e aprofundado o conhecimento sobre a
pessoa de Jesus, leiam o texto de Lucas 4,14-20 (síntese do ministério de
Jesus) e respondam agora como grupo: Quem é Jesus para você? Escrevam para
partilhar no momento de oração!
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