sábado, 29 de setembro de 2012

Aproveitemos o dia da Bíblia para rezarmos e refletirmos o nosso discipulado na ótica do Evangelho de Marcos! Bom encontro! Boa Oração!

CATEQUESE E BÍBLIA – ENCONTRO DO EVANGELHO DE MARCOS
Tema: "Coragem! Levanta-te! Ele te chama"
  
PREPARANDO O AMBIENTE
No ambiente colocar em destaque a Bíblia, em uma Mesa da Palavra com a cor litúrgica verde, flores e uma vela. Pode haver um manto (marca do discipulado) e se possível, fotografias de discípulos de ontem e hoje (Dom Helder, Zilda Arns, São Paulo, São Pedro, Madre Tereza, Santa Paulina)

I - ACOLHIDA
Catequista: Sejam bem-vindos para este momento de encontro. Que a paz e a benção de Deus esteja com todos!

C: Hoje nosso objetivo é refletir sobre a necessidade de estarmos sempre com Jesus para que nosso discipulado seja fecundo. O discipulado expressa a relação vital entre a pessoa do discípulo e o mestre Jesus. Na caminhada, algumas dimensões devem ser sempre revividas, por isso, somo convidados a sempre nos encantar pelo Mestre, a aquecer o coração com seus ensinamentos e motivar-nos mesmo diante das dificuldades que nos rodeiam. Se cairmos no caminho, basta clamarmos por Jesus e Ele nos direciona novamente.

II - ORAÇÃO INICIAL
C: Vamos nos preparar para refletirmos com profundidade e saborearmos a Palavra de Deus, neste mês reservado a Bíblia, pedindo as luzes do Espírito Santo para nos ajudar a compreendermos nossa missão, trilhando os caminhos do evangelho de Marcos:
Canto: A nós descei divina luz, a nós descei divina luz, em nossas almas acendei, o amor, o amor de Jesus, o amor, o amor de Jesus!(2x)
C: “A Palavra de Deus é viva e eficaz”. É Palavra viva porque é palavra do Deus da Vida, do Deus Criador, do Deus de Jesus Cristo. É Palavra viva porque produz vida, dá sentido e sustento à vida. É palavra viva porque mesmo passando tempo continua sendo atual, continua viva e eficaz no meio do povo, continua sendo luz para o discipulado autêntico.
Todos: “A Palavra de Deus é viva e eficaz”.
C: E é Palavra viva e eficaz igual à chuva que cai e não retorna sem produzir seus efeitos, sem dar frutos que permanecem. O efeito da Palavra de Deus é sempre gerar vida, tecer relações de amor, de fraternidade, de aliança, alimentar o discípulo em sua espiritualidade e missão.
Todos: “A Palavra de Deus é viva e eficaz”.
C: A Palavra “é mais penetrante que qualquer espada de dois gumes”. Penetra todo o nosso ser, todas as dimensões da vida. Quando a Bíblia e a vida se encontram, começamos a andar no rumo da liberdade que faz a história mudar! Que a Palavra, inspirada, cheia de vida, transforme a nossa história em história de fé!
Todos: “A Palavra de Deus é viva e eficaz”.

III – DEUS NOS FALA
Acendimento da vela
C: Vamos ser iluminados com a proposta da Palavra para nossa vida!
Canto: É uma luz tua Palavra, é uma luz pra mim Senhor. Brilha esta luz, tua Palavra, brilha esta luz, em mim Senhor!

C: Muitas vezes, durante o seguimento, perdemos a visão, deixamos de enxergar, ficamos cegos por permitir que nossos olhos sejam ofuscados pelo brilho de distrações secundárias, capazes de nos tirar daquela realidade existencial que dá sentido ao viver. É convivendo nas fragilidades da caminhada que ouviremos em Marcos: "Coragem em qualquer situação! Levanta-te, porque te amo e te chamo". Existe um caminho novo e sempre iluminado para nossa vida. Ouçamos a proposta de Jesus, aprendamos que caminho é esse, nos iluminemos da Palavra...

Canto: Deixa-me ficar em paz Senhor, para ouvir tua Palavra, no coração do meu silêncio, deixa-me ficar em paz!
Leitura do texto: Marcos 10,46-52
(momento de silêncio)

Partilha:
1. O que o cego fez quando ouviu dizer que Jesus estava passando? Qual o sentimento que brotou nele neste momento?
2. Qual foi a reação dos que estavam juntos com Jesus? Isso calou Bartimeu?
3. Como entendemos o “Coragem, levanta-te! Ele te chama!”?
4. Qual a atitude do cego depois da cura? Qual a relação com o discipulado?


IV – APROFUNDAMENTO DA PALAVRA

C: Bartimeu não se conformou à situação de mendigar vida a desconhecidos e viver de sobras atiradas a ele no escuro de promessas que precisam de sorteios para dar certo.
Leitor 1: Quando ouviu que Jesus passava, Bartimeu não se intimidou diante dos que o mandavam calar porque sabia que Jesus tinha uma luz e um caminho melhor para lhe oferecer.
Leitor 2: Ele gritou por isso, ele rezou e intercedeu por isto: fez a experiência da iluminação. Vamos pedir, para que em nosso discipulado, nas vezes que ficarmos cegos e paralisados, que possamos recuperar a vista.


V – RENOVAR NOSSO COMPROMISSO DE SEGUIR JESUS
C: A exemplo daqueles que disseram a Bartimeu: “Coragem, levanta-te! Ele te chama!”, também nós precisamos nos aproximar de tantos que vivem envolvidos em cegueiras para colocar neles a coragem de se aproximarem de Jesus, de se aproximarem do Evangelho, para acender uma nova luz e um novo caminho.

VI – ORAÇÃO FINAL
C: Como seguidores de Jesus compreendemos a função da Palavra de iluminadora de nossos passos, a chama de luz a romper as trevas e iluminar o caminho a seguir. Ao clarear a caminhada, a palavra orienta toda a conduta humana, passo a passo. O próprio Senhor é a lâmpada que ilumina a treva da nossa vida.
Canto: “É uma luz tua Palavra, é uma luz pra mim Senhor. Brilha esta luz, tua Palavra, brilha esta luz, em mim Senhor”
Leitor 1: Ilumina-nos, Senhor, para que a tua Palavra nos ensine como ser e agir, nos ensine a caminhar conforme teu projeto e nos ensine a construir a vida em ti.
Canto: “É uma luz tua Palavra, é uma luz pra mim Senhor. Brilha esta luz, tua Palavra, brilha esta luz, em mim Senhor”
Leitor 2: Ilumina-nos Senhor, para que sejamos corrigidos no caminho da vida e consigamos compreender os teus projetos. Que nós abramos o coração para a Palavra que exorta e corrige e sejamos seguidor de teus passos
Canto: “É uma luz tua Palavra, é uma luz pra mim Senhor. Brilha esta luz, tua Palavra, brilha esta luz, em mim Senhor”
C: Ilumina-nos Senhor para que sejamos educados na justiça e nessa pedagogia do amor sejamos amado por ti. Que nossos caminhos sejam sempre iluminados por tua Palavra.
Canto: “É uma luz tua Palavra, é uma luz pra mim Senhor. Brilha esta luz, tua Palavra, brilha esta luz, em mim Senhor”
C: Pai nosso...

BENÇÃO
C: Que o caminho seja brando a teus pés, o vento sopre leve em teus ombros; o sol brilhe em tua face, as chuvas caiam serenas em teus campos, e até que de novo eu te veja, Deus te guarde na palma de sua mão!
Todos: Amém, assim seja, amém, amém!
C: Vamos nos saudar em Cristo Jesus!

**Roberto Bocalete 

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Atenção queridos(as) catequistas: recomendo um momento para reflexão e diálogo tendo como referência o texto abaixo, fragmento de uma rica reflexão de Ione Buyst na Semana de Liturgia do ano passado: Participação na liturgia - é preciso aprender!

CATEQUESE E LITURGIA
PARTICIPAÇÃO NA LITURGIA: UMA PROPOSTA DE FORMAÇÃO MISTAGÓGICA

“É desejo ardente na mãe Igreja que todos os fiéis cheguem àquela plena, consciente e ativa participação nas celebrações litúrgicas que a própria natureza da Liturgia exige e que é, por força do Batismo, um direito e um dever do povo cristão, ‘raça escolhida, sacerdócio real, nação santa, povo adquirido’ (1 Ped. 2,9; cfr. 2, 4-5). Na reforma e incremento da sagrada Liturgia, deve dar-se a maior atenção a esta plena e ativa participação de todo o povo” (SC 14)

Algumas atitudes a serem adquiridas para participar ritual e espiritualmente de todas as ações litúrgicas:

Aprender a participar de todas as ações litúrgicas na inteireza do ser, unindo o fazer, saber e saborear numa atitude espiritual, comunitária, deixando-o conduzir pelo Espírito do Senhor.

Aprender a entrar no espaço sagrado e tomar consciência de uma Presença (mesmo que seja numa casa, ou numa roda debaixo de uma árvore).

Aprender a sentir-se parte da assembleia litúrgica local, com as janelas abertas para o mundo; aprender a relacionar a celebração litúrgica com os acontecimentos da vida local, regional, mundial, cósmica. Momentos mais sensíveis: canto e saudação inicial, recordação da vida, oração coleta, oração universal, momento da oblação (oferta) eucarística, abraço da paz, fração do pão, comunhão, benção final, envio em missão...

Aprender a assumir uma atitude de silêncio profundo para ouvir, ver, perceber, assimilar, comungar com aquilo que está sendo realizado, com a comunidade reunida e com Aquele que ser manifestar a nós.

Aprender a fazer o sinal da cruz (e todos os outros gestos litúrgicos), atenta e conscientemente, unindo gesto corporal e atitude espiritual, sabendo-nos marcados/as e penetrados/as com este sinal da fé.

Aprender a cantar orando, fazendo com que a mente acompanhe a voz, em comunhão com os demais (cantando a uma só voz e um só coração) em companhia dos anjos e dos santos, na certeza que o Cristo e o Espírito cantam em nós e querem nos transformar através do canto. [Nesse sentido, destaco a importância da música litúrgica e o cuidado com músicas que não dizem de nossa fé, inseridas em nossas celebrações].

Aprender a rezar com os salmos; estudar os salmos para poder cantá-los com consciência, saboreando, aguardando uma palavra do Espírito para iluminar nossa vida, para aprofundar nossa relação com o Pai.

Aprender a escutar as leituras bíblicas como Palavra de Deus dirigida a nós, neste momento de nossa história; relacionar a Palavra de Deus com a ação ritual que estamos realizando e com a missão na sociedade em favor do Reino de Deus. Quando se lê a Sagrada Escritura na liturgia, é Cristo mesmo que está falando (SC 7).

Aprender a interpretar a Palavra que escutamos como uma revelação, uma motivação, um chamado para a missão na realidade de nossa vida pessoal, comunitária, social.

[Aprender a ouvir com atenção a eucologia da missa: a coleta resume a finalidade da assembleia estar reunida e o sentido do mistério celebrado, o prefácio destaca o tempo e o momento celebrativo, situando-nos na profundidade do tempo da graça]

Aprender o caminho da conversão permanente, caminho pascal que é passagem, travessia da morte para a vida, do homem velho para o homem novo, colocando ordem em nossos desejos, e deixando-nos guiar pelo Espírito de Deus, Espírito de amor (compreensão, respeito, dedicação, perdão).

Aprender a participar da oração dos fieis e das preces do ofício divino, juntando-se a prece de Jesus, que intercede incessantemente por todos junto de Deus; aprender a trazer para dentro da liturgia os fatos marcantes do dia ou da semana (ver, ouvir ou ler os noticiários com o coração em prece).

Aprender a juntar-se a ação de graças proclamada pela presidência, prestando atenção e vibrando com as fibras do corpo e do coração nesse sacrifício de louvor, oferta de Jesus ao Pai.

Aprender a oferecer-se a si mesmo juntamente com a oferta de Jesus, no momento do memorial e da oblação, não somente pelas mãos do presidente da assembleia, mas juntamente com ele; inserir nesta oferta todos os trabalhos e esforços realizados a favor de um mundo melhor, a favor da ecologia, da economia solidária, de uma sociedade justa e uma igreja fraterna.

Aprender a participar do mistério celebrado pela participação na ação ritual; aprender a relacionar os ritos com a história da salvação condensada na Sagrada Escritura e reconhece-los no mistério celebrado; aprender a vivenciar a relação entre Palavra e o gesto sacramental, entre liturgia-celebração e liturgia-vida.

Aprender a sentir e assimilar por meio dos sentidos o significado profundo (o mistério) de cada ação ritual.

Aprender a viver intensamente cada tempo do ano litúrgico com seu próprio mistério, com seus textos bíblicos, cantos, símbolos e cores.

**Texto de Ione Buyst (25ª Semana de Liturgia): Formar para participar na Liturgia. Adaptação de Roberto Bocalete, por ocasião do módulo de Liturgia e Catequese (EBICAT).

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Catequistas, proponho mais um encontro de reflexão e oração para o grupo de catequistas da comunidade fazerem a experiência do discipulado a partir do Evangelho de Marcos! Bom momento de oração e reflexão!

BÍBLIA E CATEQUESE
"LEVANTA-TE E VEM PARA O MEIO"


PREPARANDO O AMBIENTE


Preparar um ambiente colocando de um lado tecidos escuros, galhos secos, e a Bíblia fechada e envolvida com correntes. Do outro lado, preparar outro ambiente com tecidos brancos, flores e uma vela acesa. Destacar ao centro uma Estante da Palavra com tecido da cor litúrgica para proclamação do Evangelho.


I - ACOLHIDA
Catequista: Sejam bem vindos a mais um momento de encontro. Que a paz e a benção de Deus esteja conosco neste encontro de reflexão e oração sobre o Evangelho de Marcos.

C: O Evangelho de Marcos nos propõe uma caminhada de experiência com a pessoa de Jesus que nos leve a declará-lo como Messias, Senhor de nossa história. Marcos começa dizendo: "Princípio da boa-nova de Jesus Cristo, Filho de Deus!" (Mc 1,1). E no fim, na hora em que Jesus morre, ele afirma de novo: "Verdadeiramente, este homem era Filho de Deus" (Mc 15,39). No começo e no fim, está a afirmação de que Jesus é o Filho de Deus. Entre estes dois pontos é que acontece a caminhada dos primeiros discípulos e discípulas como também a nossa. Hoje, vamos aprender com o episódio da cura do homem de mão seca: Jesus liberta e dá novo sentido a realidade! Assim é o nosso chamado...

II - ORAÇÃO INICIAL
C: Vamos nos preparar para refletirmos com profundidade e saborearmos a Palavra de Deus, pedindo as luzes do Espírito Santo para nos ajudar a compreendermos nossa missão neste caminho que estamos vivenciando do Evangelho de Marcos:
Oração: Vinde Espírito Santo...
Leitor 1: “Tua palavra, Senhor, é lâmpada para os meus pés, e luz para o meu caminho”
Leitor 2: “A Palavra de Deus é como a semente. Aquela que caiu em terra boa representa aqueles que, ouvindo de coração bom e generoso, conservam a Palavra e dão frutos na perseverança”.
Canto: É como a chuva que lava, é como o fogo que arrasa. Tua Palavra é assim, não passa por mim sem deixar um sinal.
Leitor 1: Desça como chuva meu ensinamento e minha Palavra se espalhe como orvalho; como chuvisco sobre a relva macia e aguaceiro em grama verdejante”
Leitor 2:  “Filho do homem, alimenta teu ventre e sacia as entranhas com este rolo que te dou. Eu o comi, e era doce como mel em minha boca”
Canto: É como a chuva que lava, é como o fogo que arrasa. Tua Palavra é assim, não passa por mim sem deixar um sinal.
Leitor 1: O sal tempera e conserva os alimentos. Assim também, a Palavra de Deus, se ouvida e aprofundada com ardor, ela tempera a vida e dá sabor à missão.
Leitor 2: A Palavra de Deus pode ser comparada a uma rocha. Quem a ouve e a põe em prática é como um homem prudente que construiu sua casa sobre a rocha.
Canto: É como a chuva que lava, é como o fogo que arrasa. Tua Palavra é assim, não passa por mim sem deixar um sinal.

III – DEUS NOS FALA
C: Antes de ouvirmos a Palavra que nos será proclamada, vamos conversar um pouco sobre nosso ambiente. 
1. Olhando para Palavra, o que nos impede hoje de uma experiência autêntica com a Palavra? 
2. O que nos acorrenta e nos faz sentir escravos hoje? 
3. O que nos faz sentir secos e sem vida, muitas vezes sem motivação? 
4. Quais são as libertações necessárias para o nosso discipulado?

C: A Palavra nos ilumina, vamos ouvir o que Jesus nos propõe hoje:
Canto: Buscai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça e tudo mais vos será acrescentado, aleluia, aleluia!
Leitura do texto: Marcos 3,1-6
(momento de silêncio)

1. Quem Jesus encontrou na Sinagoga? Como se sentia o homem?
2. Ao dizer “Levanta-te e vem para o meio”, estabelecendo uma linguagem de afeto com o homem excluído, qual a intenção de Jesus?
3. Como imitar hoje a atitude de Jesus que diz: “Levanta-te e vem para o meio!”?
4. Quais são nossas maiores dificuldades no exercício de nosso discipulado? A que Jesus nos chama?

IV – APROFUNDAMENTO DA PALAVRA
C: Jesus entra na sinagoga. Ele tinha o costume de participar das celebrações do povo. Há ali um homem com a mão atrofiada. Um deficiente físico não podia participar plenamente, pois era considerado impuro. Mesmo presente na comunidade, era marginalizado. Devia manter-se afastado.
Leitor 1: Os adversários observam para ver se Jesus vai curar no sábado. O segundo mandamento da Lei de Deus mandava “santificar o sábado”. Era proibido trabalhar neste dia. Os fariseus consideravam que curar um doente era o mesmo que trabalhar.
Todos: Colocavam a lei acima do bem estar das pessoas. Jesus os incomodava porque colocava o bem estar das pessoas acima das normas da lei.
Leitor 2: Os fariseus queriam eliminar Jesus, não por  zelo pela lei, mas sim a vontade de acusar e eliminar o que os incomodava.
C: Jesus pede duas coisas ao deficiente físico: Levanta-te e vem aqui para o meio! O deficiente deve levantar-se e vir para o meio e ocupar o seu lugar! Os marginalizados não podem ser excluídos. Devem ser acolhidos, estar junto com todo o mundo!
Todos: Curando o homem de mão seca, Jesus mostrou que ele não estava de acordo com o sistema que colocava a lei acima da vida.

V – RENOVAR NOSSO COMPROMISSO DE SEGUIR JESUS
C: Como compromisso até o próximo encontro, fiquemos atentos aos ensinamentos de Cristo hoje na Igreja-comunidade, nos colocando a caminho do discipulado, fazendo experiência com o Mestre para sermos pessoas livres conforme a Palavra. Podemos também ajudar e ensinar aqueles que chegam as nossas comunidades, não só com uma mão paralisada, mas também com a alma paralisada em função das dores impostas por um mundo sem amor. O compromisso com o outro é a grande marca do cristão consciente de seu papel como aquele que rompe com aquilo que desumaniza e desfigura a beleza humana.

VI – ORAÇÃO FINAL
C: Somos convidados a uma nova maneira de encarar a realidade, com olhos livres de pesos que escravizam. Por isso, precisamos ser frequentemente iluminados pela Palavra. Ouçamos o que o próprio Jesus tem a nos ensinar:
Leitor 1: “Levanta-te, Cristo te chama a experiência de amor”
Canto: Ó luz do Senhor, que vem sobre a terra, inunda meu ser, permanece em nós!
Leitor 2: “ Estende a tua mão e Cristo te liberta”
Canto: Ó luz do Senhor, que vem sobre a terra, inunda meu ser, permanece em nós!
Leitor 1: “ Mostra a Jesus a tua história e Ele participará dela”
Canto: Ó luz do Senhor, que vem sobre a terra, inunda meu ser, permanece em nós!

C: Para concluir o momento orante, vamos juntos retirar as correntes que envolvem a Palavra, abri-la e colocá-la do lado do vaso de flores, dando sentido de que experiência com a pessoa de Jesus é sempre libertadora, visando a linguagem do amor e nos compromete com a vida em abundância.
Canto: A Bíblia é a Palavra de Deus, semeada no meio do povo. Que cresceu, cresceu e nos transformou, ensinando-nos viver um mundo novo!


C: Utilizando as mãos, símbolo da vida no Evangelho, vamos ficar em duplas e tocando a cabeça um do outro, rezarmos para abençoá-lo. Fiquemos em silêncio!
(em seguida, pode-se dar a Paz)




** Roberto Bocalete (Subsídio da Rede de Comunidades, Diocese de São José do Rio Preto). Adaptado para catequistas.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

BÍBLIA E CATEQUESE
INSPIRAÇÃO BÍBLICA
       
   Por "inspiração" entendemos a ação particular de Deus sobre algumas pessoas. Deus inspirou algumas pessoas para AGIR. Por ex. Abraão, Moisés e muitos outros. Inspirou outras para FALAR, por exemplo, os profetas. E outras foram inspiradas para ESCREVER; esses são os HAGIÓGRAFOS, ou autores sagrados, que escreveram a Bíblia. Ao falar de Inspiração da Sagrada Escritura, entende-se a inspiração para escrever. A Igreja herdou dos Judeus a crença que seus livros sagrados foram escritos por inspiração divina.
   Não existem, no AT, textos explícitos que falem da inspiração divina. Porém, à proporção que os livros do AT se formavam, crescia sempre mais, entre os judeus, a crença na inspiração divina. Assim, o rei Josias fez uma grande reforma religiosa em Judá, baseado no Livro da Aliança, encontrado no Templo de Jerusalém (2Rs 23). Sabemos, hoje, que esse livro é o Deuteronômio.
   Esdras leu ao povo "o Livro da Lei de Moisés que o Senhor mandou a Israel" (Ne 8). Esse Livro de Moisés, hoje, é identificado com todo o Pentateuco. Os rabinos chegaram a afirmar que a Torá (o Pentateuco) tinha sido escrita pelo próprio Deus, antes da criação do mundo. Por acreditar na origem divina de seus livros sagrados, os judeus ficaram conhecidos como o "povo do Livro".
   Tanto Jesus como os apóstolos acreditavam que as Escrituras eram livros sagrados. Várias vezes encontramos afirmações de que Deus ou o Espírito Santo falou através de Moisés, de Davi ou dos profetas (Mt 19,4-5; Rm 9,17; GI3,8; Hb 3,7). No NT, encontramos dois textos claros sobre a inspiração:
**2Tm 3,16-17: "Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para instruir, para refutar, para corrigir, para educar na justiça ... "
**2Pd 1,20-21: "Antes de mais nada sabei disso: que nenhuma profecia da escritura resulta de uma interpretação particular, pois que a profecia jamais veio por vontade humana, mas homens impelidos pelo Espírito Santo falaram da parte de Deus."

  É certo que, para Jesus e para a Igreja Primitiva, as Escrituras são livros sagrados onde se encontra a palavra de Deus. O Concílio Vaticano II, na Constituição Dogmática Dei Verbum 11, diz: "As verdades divinamente reveladas que estão contidas e expressas nos livros das Sagradas Escrituras foram escritas por inspiração do Espírito Santo. A Santa Mãe Igreja, por fé apostólica, considera sagrados e canônicos todos os livros inteiros, seja do Antigo como do Novo Testamento com todas as suas partes, porque escritos por inspiração do Espírito Santo, têm Deus por autor e como tais foram dados à Igreja. Para a composição dos Livros Sagrados, Deus escolheu homens, dos quais se serviu fazendo-os usar suas próprias faculdades e capacidades, a fim de que, Ele agindo neles e eles, escrevessem como verdadeiros autores, tudo e só aquilo que Ele queria que fossem escritos."

  Resumindo, Deus é o autor da Bíblia. Mas, para redigir o texto, serviu-se de homens. Por isso, a Bíblia é um livro divino e humano. Mas como entender a inspiração?
Alguns afirmam que a inspiração é um dom natural, como a oratória, a pintura, a culinária... Para outros é um dom sobrenatural, um carisma divino, concedido a quem Deus escolheu.
   A princípio entendeu-se a inspiração como sendo um DITADO. Deus teria ditado, palavra por palavra, e o autor humano teria escrito tudo com fidelidade (concepção já vencida, apenas válida para os fundamentalistas).
Para outros, Deus teria inspirado apenas a MENSAGEM, as idéias, deixando ao homem a expressão verbal das mesmas. Hoje, com base em vários documentos da Igreja, entendemos a inspiração com a explicação da "CAUSA INSTRUMENTAL", isto é, Deus é a causa principal e primeira na composição da Bíblia. Foi Ele quem moveu os homens a escrever. O homem é a causa instrumental, isto é, o instrumento de Deus para escrever o texto. Quando escrevemos, a ação é da caneta ou do lápis. Mas eles não escrevem sem a nossa contribuição. Assim, o resultado de um texto é da pessoa e também da caneta. Porém, o homem não pode ser comparado à caneta ou a qualquer outro instrumento, porque ele possui vontade própria, imaginação, memória, fantasia, etc. Não é um instrumento passivo e inerte nas mãos de Deus. É, sim, um instrumento, mas um instrumento ativo, e por isso escreveu, como verdadeiro autor, tudo o que o Autor Principal, Deus, queria.
A Bíblia é, pois, um livro divino porque Deus é seu autor principal, mas é também um livro humano, pois é fruto da ação de homens. A inspiração incide sobre todas as faculdades do escritor: conhecimento, imaginação, memória, vontade e fa¬culdades executivas. Porém, cada autor humano continuou filho do seu tempo, de sua cultura e escreveu com os conhecimentos que possuía. O texto bíblico reflete o estilo e a cultura de cada autor humano. Não existe livro mais inspirado que outro. Existem, sim, autores humanos diferentes entre si, vivendo em épocas e lugares diferentes, com graus de cultura diferentes. Os "erros" de história, geografia, ciências e outros que encontramos na Bíblia se devem à limitação dos autores humanos.
   Sabemos que a Sagrada Escritura é obra de muitas pessoas. Todas elas, desde que influíram no texto sagrado, foram inspiradas, mesmo que a contribuição do autor tenha sido uma frase, um retoque. Do mesmo modo, todos os livros inteiros são inspirados. A inspiração atinge a totalidade da Bíblia e não só algumas partes mais importantes.
   Para compreender a maneira como Deus está na origem das Escrituras, deve-se ter presente que os escritos da Bíblia são testemunhos de vivência ou de experiências da presença ativa do Espírito de Deus, e não meros ditados ou reportagens. A inspiração é essencialmente a presença e comunicação divina, e esta se dá a pessoas, não a escritos. Os escritos podem qualificar-se como inspirados, somente na medida em que seus autores a estiveram.
   Uma concepção de inspiração que considera o autor humano como instrumento ou secretário de Deus, que esquece a liberdade humana e o sentido da comunicação, que o isola de sua comunidade histórica e ignora os múltiplos condicionamentos e influências situacionais e que faz se parecer como se fosse inconsistente e que se contradiz, é míope quanto à natureza dos escritos bíblicos e quanto à maneira de agir de Deus. E uma concepção de inspiração que esquece o processo evolutivo das tradições e da Bíblia mesma, que põe sua atenção exclusivamente no texto herdado, é cega quanto ao dinamismo histórico da Palavra de Deus.
   Outro dado importante, agora destacando o leitor da Bíblia, está no fato de que a inspiração não pode limitar-se à produção do texto que lemos, mas inclui também o processo de leitura crente do texto. Muitas pessoas sentiram a inspiração divina em suas leituras bíblicas. Os escritos bíblicos são produtos de pessoas inspiradas e, por isso mesmo, soa capazes de inspirar outras pessoas. Por isso são reconhecidos como canônicos. Por isso tem um sentido sacramental. O texto torna-se vida e vivifica. Certamente, isso supõe uma leitura feita em espírito de discernimento, com o mesmo espírito em que foi escrito. Deus inspirou as pessoas e não os textos.
   A inspiração bíblica caracteriza-se por ter como objeto primeiro o processo que vai desde os acontecimentos reveladores até a colocação por escrito desses acontecimentos e seu reconhecimento como normativo. Os acontecimentos e as vivências atestadas na Bíblia são fundacionais. Mas pontualmente, o que é próprio da inspiração bíblica? É a capacidade de reconhecer, compreender e interpretar a Revelação como tal e de transmiti-la fielmente. Deus guiou algumas pessoas, das que viveram as experiências às quais a Bíblia se refere a reconhecê-las, compreendê-las e interpretá-las como manifestações da presença orientadora de Deus, e a transmiti-las como tais.
   Em poucas palavras, a inspiração bíblica é um carisma ou dom de Deus aos autores (desde a tradição oral até a fixação escrita), que os guiava de tal modo que reconhecessem, compreendessem e interpretassem determinados acontecimentos e vivências em sua dimensão reveladora, os transmitissem correta e adequadamente ao seu auditório, para sua edificação e orientação na fé ao longo do tempo, pelo caminho que conduz à salvação.
   A inspiração, no entanto, não eliminava as limitações naturais dos autores humanos e, portanto, as de suas obras, que se dirigiam a momentos concretos com conceitos próprios daquele tempo. O fato de trem sido inspirados não nos dispensa a necessidade de reinterpretá-los e discernir a mensagem que possa transmitir para hoje (Hermenêutica feita pelo Magistério).
   A inspiração deu-se muito antes que se escrevesse uma só letra, e é a inspiração divina que move as pessoas e comunidades a compreenderem a mensagem salvífica que a Bíblia comunica.
   
**Roberto Bocalete, inspirado na obra de Eduardo Arens, A Bíblia sem mitos.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

BÍBLIA E CATEQUESE
Leitura da Bíblia na catequese – Princípios pedagógicos


A Sagrada Escritura é uma das fontes da Catequese: nela bebemos do conteúdo e da mensagem para uma catequese que leve a experiência com a pessoa de Jesus. Por isso, alguns erros metodológicos, no que diz respeito a utilização da Bíblia na Catequese, precisam ser extintos de nossos encontros de catequese.

1.Como não ler a Bíblia na catequese?
- para conseguir disciplina (“eles só ficam quietos diante de histórias interessantes”)
- para passar o tempo (“quando não temos mais nada para fazer, lemos a Bíblia”)
- para domesticar os catequizandos (normas, proibições, ameaças)
- para mostrar o erro dos outros, para provar um argumento, para confirmar uma idéia (para disputa não vale!).

Sete “pecados capitais” da leitura bíblica

1.Leitura fundamentalista/ literalista
O que é: interpretar o texto sagrado ao pé da letra, sem levar em conta o que o texto diz por trás das palavras (contexto sócio-político-religioso-cultural-econômico-ideológico).
Sintomas: Fanatismo: defesa violenta das próprias ideias sobre a Bíblia; colocá-la acima dos principais valores humanos;  Intolerância com pessoas e grupos que interpretam de forma diferente os mesmos textos.
Como evitar:  Não impor aos outros suas próprias ideias;  Deixar-se questionar pelas ideias dos outros;  Levar em conta o contexto em que os livros surgiram;  Descobrir nos textos o que há de simbólico, poético etc. Não usar da Bíblia para justificar doutrinas pessoais.

2.Leitura apologética
O que é: usar textos para defender idéias ou doutrinas que não estão presentes neles. (Apologia quer dizer defesa).
Sintomas:  Tradicionalismo: colocar a religião, a doutrina e os ritos acima da busca da Verdade e da defesa da vida;  Medo de descobrir nos textos dados novos e diferentes que questionam parte da tradição recebida.
Como evitar:  Abrir-se ao novo trazido pela realidade e pela Palavra; Ler não apenas o trecho selecionado; descobrir livros e textos relacionados para ampliar a visão;  Não ser submisso à interpretação já pronta dos livros; ter espírito de busca e pesquisa; Ser fiel ao conteúdo dos trechos estudados.

3.Leitura intimista
O que é: interpretar os textos exclusivamente em benefício pessoal; ahcar-se único destinatário da Palavra.
Sintomas:  Emocionalismo: ler só com o coração, sem usar a cabeça como se a Bíblia fosse um livro de auto-ajuda;  Absolutizar textos agradáveis e negar textos mais duros.
Como evitar:  Abrir-se à dimensão social e comunitária da Bíblia;  Não ser sozinho, mas buscar as opiniões dos outros; Procurar conhecer amplamente a Bíblia, ler também os textos que parecem, à primeira vista, distantes de sua realidade pessoal;  Respeitar a autonomia do texto, out seja, reconhecer que ele foi escrito para outras pessoas numa situação histórica diferente da sua; Ler com o coração da Igreja.

4.Leitura esotérica
O que é: usar a Bíblia como se fosse um de fórmulas mágicas, de ciências ocultas. (Esotérico quer dizer oculto).
Sintomas:  Misticismo: crer que existem na Bíblia conhecimentos acessíveis somente a poucos privilegiados;
 Citar frases isoladas como se fossem palavras mágicas.  Usar a Bíblia para fazer previsões do futuro. Abrir a Bíblia aleatoriamente para ouvir o Deus tem a nos dizer.
Como evitar:  Não ler a Bíblia para adivinhar o futuro, ou como se os textos do Antigo Testamento fossem apenas anúncios do que aconteceria na época de Jesus;  Ser fiel ao conteúdo dos trechos estudados;  Não usar frases bíblicas isoladas, desvinculadas de seu contexto, como “abracadabra” em situações difíceis;  Ter humildade e reconhecer que toda interpretação da Palavra deve estar de acordo com o projeto de Jesus.

5. Leitura reducionista
O que é: reduzir os textos à dimensão religiosa; desprezar seus aspectos sociais, econômicos, políticos e culturais. 
Sintomas:  Devocionismo ao texto: achar tudo bonito, correto e piedoso, sem levar em conta a fraquezas do povo de Deus.  Conservadorismo religioso, falta de consciência social;  Falta de confiança no ser humano.
Como evitar:  Lembrar-se que Deus é Deus em todas as dimensões da Vida, não só na religião;  Valorizar as diversas dimensões da vida (política, economia, cultura, afetividade etc.) como queridas por Deus e importantes para a felicidade humana;  Interpretar os textos tendo em mente as várias dimensões da vida.

6.Leitura materialista
O que é: interpretar a Palavra de uma forma puramente científica; negar a inspiração divina dos textos.
Sintomas:  Intelectualismo: ler só com a cabeça, sem usar o coração, como se a Bíblia fosse um baú de fósseis;  Usar a Bíblia só para estudar as civilizações antigas, sem interesse nas civilizações humanas de hoje.
Como evitar:  Cultivar a leitura orante da Bíblia, em intimidade com Deus, invocando sempre (na oração ou no mero estudo) o Espírito Santo;  Buscar o bem comum e da defesa da vida em primeiro lugar, em obediência ao Deus da Vida;  Reconhecer com humildade a presença do Deus vivo na história e colocar-se a serviço Dele na luta pela justiça.
  
7.Leitura espiritualista
O que é: ler a Bíblia e a vida com os olhos voltados para a salvação pessoal, sem preocupação com a vida do irmão.
Sintomas:  Moralismo: dar mais importância ao bom comportamento que o bem do ser humano; colocar a lei acima da vida;  Desprezo pelo corpo humano e pela afetividade.
Como evitar:  Ler com os pés no chão, lembrando que não há alma sem corpo nem corpo sem alma;  Ler com a preocupação de melhorar o aqui-e-agora de toda a humanidade, por menos “santa” que ela seja.







** Baseado na Revista Ecoando. Adaptações: Roberto Bocalete

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

BÍBLIA E CATEQUESE – ENCONTRO SOBRE O EVANGELHO DE MARCOS
Tema: "Discípulos missionários a partir do Evangelho de Marcos".


OBJETIVO: levar os catequistas a experimentarem o Evangelho de Marcos, trilhando um caminho de discipulado na ótica marcana.

PREPARANDO O AMBIENTE
Colocar as cadeiras em círculo e em destaque uma mesa da Palavra, com tecidos verdes (Tempo Comum), flores naturais e uma vela acesa

I – ACOLHIDA
Catequista: Sejam bem vindos a mais um momento de encontro. Que a paz e a benção de Deus esteja presente em nossos corações

C: Temos quatro evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e João, maneiras diferentes de compreender e experimentar Jesus Cristo. O livro que vamos refletir e meditar no mês da Bíblia deste ano é o Evangelho de Marcos e aprender com ele como sermos discípulos e discípulas de Jesus assumindo a missão como o rumo central de nossa vida. Qual a boa-notícia que Marcos quer comunicar? Vamos olhar no espelho que ele coloca diante de nós para descobrirmos nele nosso rosto e assumir melhor nosso compromisso como "discípulos e missionários de Jesus, para que nele nossos povos tenham vida".

II - ORAÇÃO INICIAL
C: Vamos nos preparar para refletirmos com profundidade e saborearmos a Palavra de Deus, neste mês reservado a Bíblia, pedindo as luzes do Espírito Santo para nos ajudar a compreendermos nossa missão, trilhando os caminhos do evangelho de Marcos:
Canto: A nós descei divina luz, a nós descei divina luz, em nossas almas acendei, o amor, o amor de Jesus, o amor, o amor de Jesus!(2x)

C: Que graça de Deus nosso Pai, o amor de Jesus, o Filho Senhor que nos chama a partilhar a vida, a unção e o poder do Espírito Santo estejam sempre conosco.
Todos: Bendito seja Deus que reuniu nos no amor de Cristo!
C: Educados pela Palavra, façamos na fronte o sinal-da-cruz, compromisso com uma consciência cristã evangelizadora  ...
C: Ouvintes da Palavra, façamos nos ouvidos o sinal-da-cruz, para sermos atentos à Palavra de Deus, a Sua voz que nos chama ao discipulado...
C: Iluminados pela Palavra, façamos nos olhos o sinal-da-cruz, para aprendermos a ver as maravilhas de Deus na simplicidade, para olharmos a realidade com os olhos de Deus...
C: Alimentados pela Palavra, façamos na boca o sinal-da-cruz, para que anunciemos a Palavra de Deus e sejamos vozes proféticas na realidade...
C: Fortalecidos pela Palavra, façamos nos ombros o sinal-da-cruz, para que possamos carregar o jugo de Cristo, que é suave, mas comprometedor, que nos chama a sermos comunidade.

Canto: A Bíblia é a Palavra de Deus semeada no meio do povo; que cresceu, cresceu e nos transformou, ensinando-nos viver um mundo novo!

III – DEUS NOS FALA
Fazer o acendimento da vela do Ambão nesse momento
Canto: É uma luz tua Palavra. É uma luz, pra mim Senhor. Brilha esta luz, tua Palavra. Brilha esta luz em mim, Senhor!

C: O texto que vamos ouvir descreve como começou o anúncio do evangelho e como ele foi se divulgando. Durante a leitura, vamos prestar atenção no seguinte: Qual foi a proposta de Jesus que entusiasmou tanto as pessoas que chegou a transformá-las em discípulos?

Canto: Aleluia, Aleluia, como o Pai me amou assim também eu vos amei. Aleluia, Aleluia, como estou no Pai permanecei em mim!
Leitura do texto: Marcos 1,14-22
(momento de silêncio e reflexão)


Partilha:
1. Qual o ponto deste texto de que você mais gostou ou que mais chamou a sua atenção? Por quê?
2. Qual foi mesmo a proposta de Jesus que entusiasmou tanto as pessoas que chegou a transformá-las em discípulos?
3. O chamado dos discípulos é também nosso chamado a seguir Jesus e estar com Ele?
4. O que tudo isso ensina para nós hoje?

Canto: Senhor se tu me chamas
Refrão: Senhor se tu me chamas, eu quero te ouvir, se queres que eu te siga, respondo eis-me aqui.(bis)
Nos passos do teu filho toda a Igreja também vai, seguindo teu chamado de ser santa qual Jesus. Apóstolos e mártires se deram sem medir. Apóstolo me chamas, vê, Senhor, estou aqui.

IV – APROFUNDAMENTO DA PALAVRA
C: O Evangelho de Marcos não só informa sobre aquilo que Jesus fez e ensinou no passado, mas leva a gente a se envolver com a longa caminhada dos discípulos e das discípulas, desde a Galileia até Jerusalém.
Leitor 1: Eles são pescadores. Estão trabalhando em sua profissão, quando Jesus passa e chama: eles largam tudo e seguem Jesus. Parece que não lhes custa nada. Largam a família. Largam os barcos e as redes. Seguir Jesus supõe entrega e compromisso! Eles começam a formar um grupo, uma comunidade caminhante. É a comunidade de Jesus.
Todos: Discípulos e missionários de Jesus, para que nele nossos povos tenham vida.
Leitor 2: A primeira coisa que Jesus faz é chamar discípulos (Mc 1,16-20) e a última que faz é chamar discípulos (Mc 16,7.15).
C: Apesar de muitos, os problemas não foram capazes de desviar os discípulos da fidelidade ao compromisso fundamental da sua fé: seguir Jesus. No meio de tantas preocupações, a maior continuava sendo: como ser discípulo de Jesus. Esta ainda é a preocupação que, até hoje, em toda parte, sustenta comunidades em torno da Palavra de Deus.
Todos: O grande clamor que a Igreja nos faz: é preciso que sejamos discípulos e missionários de Jesus, para que nele nossos povos tenham vida.

V – RENOVAR NOSSO COMPROMISSO DE SEGUIR JESUS


C: Celebrando a leitura do Evangelho de Marcos, vamos sentir o entusiasmo dos discípulos, desde a primeira chamada à beira do lago. Vamos nos envolver com eles e com Jesus, crescendo no entusiasmo até recebermos o envio definitivo para a missão. Até o próximo encontro, cada um de nós é chamado e pensar sua vocação de seguidor de Jesus, refletir sobre sua vida de discípulo no dia a dia. Como tenho renovado meu sim ao discipulado? Tenho encontrado momentos para estar com Jesus? Quais são os alimentos do meu seguimento?


VI – ORAÇÃO FINAL
C: Aminados pela Palavra, que deve ser assumida por nós como alimento em nossas atividades  catequéticas e pastorais, elevemos nossa oração a Deus:
Leitor 1: Os discípulos acompanhavam Jesus por todo canto, iam na casa dele, conviviam com ele, experimentaram profundamente sua presença!
Todos: Nós também, discípulos hoje, precisamos seguir Jesus, estar com Ele, conhecer seus caminhos!
Leitor 2: Os discípulos começaram a perceber o que servia para a vida e o que não era compatível com a caminhada de um seguidor. A atitude livre e libertadora de Jesus fez com que aprendessem a agir como o Mestre!
Todos: Nós também, discípulos hoje, precisamos agir a partir de Jesus, caminhar num processo de conversão, sempre abertos a dar novos passos na fé!
Leitor 1: Os discípulos se entusiasmavam com a pessoa de Jesus que os atraia. Eles seguiram Jesus e anunciaram a tão esperada boa-nova do Reino. Até que enfim, o Reino chegou. Jesus o revelou!
Todos: Nós também, discípulos hoje, precisamos assumir a missão junto com Jesus, criar coragem de romper com o projeto que não nos faz seguidores e revelar o entusiasmo do primeiro amor!

C: Pai Nosso... Ave Maria
C: Que o Senhor, Bondade e Amor, que é Pai, Filho e Espírito Santo, nos guarde agora e sempre!
Todos: Amem!

Canto: Toda Bíblia é comunicação, de um Deus amor, de um Deus irmão. É feliz quem crê na revelação, quem tem Deus no coração!

C: Vamos nos saudar com a paz que vem de Deus! Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo!


quinta-feira, 13 de setembro de 2012

BÍBLIA E CATEQUESE
FORMAÇÃO DA BÍBLIA: TRADIÇÃO ORAL E FIXAÇÃO ESCRITA

TRADIÇÃO ORAL

       Nas aldeias, contavam-se histórias, anedotas, epopeias; cantavam-se refrãos, recitavam-se velhos poemas que velassem pelo cumprimento dos costumes: o tecer relatos mantinha viva a tradição do povo.
          A origem foi contada como desígnio de Deus; os profetas comunicavam seus oráculos; Paulo pregava o que recebeu da Tradição oral; o de Jesus se contava foi de forma oral durante muitas décadas e posto por escrito para ser escuta e guardado na memória.
       Embora a cultura de Israel conhecesse desde cedo a escritura, durante muito tempo a cultura oral prevaleceu. As tradições eram mantidas de geração em geração, produzindo-se adaptações, de modo que fossem relevantes para o momento: a tradição oral sofria atualizações.
          Tradição é um processo de crescimento no curso do qual se preserva o velho, mas interpretado como novo. É a contínua comunicação de valores significativos.
     No transcurso de sua transmissão, algumas tradições se mesclaram com outras semelhantes ou relacionadas. (O relato do dilúvio é mescla de duas tradições).
        As tradições não foram consideradas como espécie de verdades eternas, mas como expressões de vida e sobreviviam à medida que foram significativas para a vida. O interesse não estava tanto no passado, mas no presente, não tanto na recordação, mas naquilo que o narrado tem de relevante para o hoje de seu auditório.
         Pelo fato mesmo da comunicação ao longo do tempo, em toda comunicação oral se produz uma série de alterações:
 **O acréscimo ou exagero de elementos que tornam o fato narrado mais atraente, mais impactante. Não é estranho que se introduzam diálogos (Tentações de Jesus em Mc não tem diálogo, porém, Mt e Lc introduzem).
**A perda de detalhes como nomes, datas e outros, ou introdução de elementos mais modernos é comum.
**Com o passar do tempo perde-se a noção das condições culturais da época original. A distância temporal e cultural encurta-se, atualizando nesse sentido o elemento transmitido.
**O pronunciamento, dito ou discurso, tende a receber uma forma poética que facilita sua recordação. **Certas frases significativas costumam repetir-se como estribilho, especialmente quando tem forma poética, como é fácil observar nos salmos.
**O que foi conservado da Tradição Oral é aquilo que realmente tinha importância para o povo. As que perdiam relevância não se comunicavam mais, se dissipavam no esquecimento. Na Bíblia encontramos enormes vazios de informação que gostaríamos de conhecer, exemplo disso, a infância de Jesus.

FIXAÇÃO ESCRITA

       A surpresa diante do achado do “livro da lei”, durante a restauração do templo por ordem do rei Josias em 621, e de seu conteúdo deve-se a que o povo era guiado por tradições orais. Com essa novidade, o povo se compromete a seguir a Iahweh e guardar seus mandamentos, aqueles inscritos no livro. Este livro constava substancialmente do que se encontra em Deuteronômio 12 a 16, onde se condena o paganismo e se exige a estreita lealdade a Deus.
      As referências a “um livro da Lei” em relatos sobre Moisés e sobre o êxodo, bem como as menções de que se escreveu tal Lei durante o êxodo do Egito (século XII), foram introduzidas nas narrações para firmar a origem antiga da Lei e sua relação direta com Deus (cf. Ex 32,16).
      Como sabemos, Israel era uma sociedade de cultura oral. Este aspecto é deixado de lado quando há necessidade de fixar-se uma identidade, isto é, o grupo, aos poucos, sente a necessidade em escrever seu passado, uma história, pois, toma consciência e passa a projetar, no agora, um futuro. É uma questão de identidade de um grupo cada vez maior com características próprias seja no povo ou na raça, na cultura ou em sua religião. Firmados na Palestina e com a ameaça da perda de identidade por povos circunvizinhos – o que impulsionou a redação dos escritos bíblicos – o grupo que entende a consciência de identidade própria e histórica como aspectos importantes, fixam por escritos oráculos de profetas, o que assinala a formação da história de Israel como povo escolhido de Deus. Essa afirmação se fortalece quando se analisa a deportação entendida pelo povo como um exílio, pois, tal deportação foi espiritualmente revivida como a experiência no Egito. “É assim que os elementos mais estáveis, como a escritura, códigos firmes de conduta e formalização de instituições e estruturas sociais (sinagoga?), e graças ao fato de que os deportados eram a elite intelectual e culta, incluindo profetas, afirmaram sua identidade como povo escolhido de Deus” (ARENS, p. 78).
      Com o correr do tempo, e por razões diversas, as diferentes tradições que circulavam e se preservavam como unidades independentes umas das outras foram reunidas em pequenos “livros”. Por exemplo, as tradições de corte histórico foram preservadas em sua forma escrita nos “depósitos” do palácio, principalmente aquelas tradições referentes aos anais e à correspondência. Já as de corte profético, foram preservadas em “escolas proféticas”, formadas por discípulos de um profeta, em forma oral. Contudo, os escritores contaram com formas escritas além das tradições orais para a composição de suas obras. Dessas fontes, a oral e a escrita, o escritor fez uma seleção. O material selecionado foi ordenado de maneira mais ou menos lógica pelo escritor. “Em alguns casos, a ordem é cronológica; em outros, é temática, ou segundo o que o escritor queria comunicar” (ARENS, p. 81). O fato das tradições existirem em sua maioria como unidades autônomas, o redator na organização das “obras” seguia um propósito particular. Como exemplo, temos Mateus (NT) que juntou material tematicamente por via catequética.
      Outro aspecto presente no tema das tradições presentes na Escritura é o emprego de frases ilativas como “depois de algum tempo”, “um dia”, “de volta ao outro lado do lago”, “em certa ocasião”, devido um vazio existente entre uma cena e outra seguinte e não se sabe o que ocorreu entre as duas: falta continuidade. Temos isso muito presente em Atos do Apóstolos: são várias tradições colocadas uma ao lado das outras, “segundo o ponto de vista e segundo o propósito do redator” (ARENS, p. 82).
      Vejamos o trabalho editorial. Nesta tarefa, o escritor não se limitava a copiar tradições ou encadear unidades autônomas, o que faz dele um autêntico autor literário. Com frequência lemos escritos que contêm multiplicidade de tradições com a impressão de estar diante de uma unidade completa e coerente. [O exemplo mais próximo é quando lemos a Bíblia: logo pensamos num todo fluente; porém, este estudo crítico nos mostra o contrário. É notável que a estruturação bíblica seja permeada por diversas tradições e por escritos de tempos distintos].
      “Recordemo-nos de que aquele que colocou por escrito as tradições, sejam estas orais ou escritas, passou de receptor a emissor” (ARENS, p. 82), daí os acréscimos e os comentários, as adaptações ao seu momento histórico, o do autor. Este deu ao texto que ia escrever ênfase, acréscimos ou recortes que pareciam necessários sob seu ponto de vista. É o que se observa quando se tem presente o mundo do autor bíblico em contraste com aquele do qual herdou as tradições. Daí a importância de compreender as tradições por parte desse redator, influenciado pelas circunstâncias e condicionamentos culturais e históricos de seu momento. Como se viu, não semente foram alteradas as tradições orais, mas também as escritas. “O redator é emissor de uma mensagem para sua comunidade em seu tempo” (ARENS p. 83) pelo aspecto de tomar o material herdado e transmiti-lo a um determinado “público” em forma oral e isso é interessante, pois, de fato, os textos bíblicos foram escritos para serem escutados.
      É importante frisar que cada livro foi composto independentemente dos outros: os autores não se propuseram em fixar seus escritos com a intenção de que eles fizessem parte de uma coleção (isso é posterior). “Cada livro era uma unidade completa e autônoma” .
Concluindo, observamos que uma vez redigida a obra, nem sempre permaneceu tal como o escritor a deixou. Assim como as tradições orais foram reinterpretadas por parte do receptor, os textos escritos foram reinterpretados e outros textos escritos, não somente os novos, mas também em revisões de mesmas obras, o que justifica novas edições aumentadas. Em outras palavras, aumentavam o conteúdo, retocavam acrescentando, eliminando ou alterando o texto. Fato observável nas significativas notas indicadas ao pé da página nos textos críticos da Bíblia na língua original, “as mais notáveis das quais se podem encontrar também nas notas ao pé da página da Bíblia de Jerusalém (p. 85).
       Mesmo com a facilidade que trouxe a fixação por escrito das tradições orais, muito se perdeu destas. A forma escrita permitia se dirigir ao texto com caráter de norma, o que o rodeava de uma sacralidade que a forma oral não tinha. Contudo, a fixação escrita não significou de maneira alguma o fim da oralidade na comunidade.

** Resumo do livro "A Bíblia sem mitos" (Introdução crítica a Sagrada Escritura), de Eduardo Arens feita por Roberto Bocalete

sábado, 8 de setembro de 2012

CATEQUESE E BÍBLIA
COMUNICAÇÃO E INTERPRETAÇÃO

      Interpretar é perguntar-se pelo significado de tal coisa, pelo seu valor ou importância. Tudo o que se vê e se ouve, adentra o mundo da pessoa e é interpretado conforma a lente com que vê, com os “óculos de sua realidade cultural”.
     A Bíblia já é uma interpretação do autor que a recebeu como tradição oral e depois a escreveu. Toda interpretação é apreciação ou valoração sobre alguém ou algum acontecimento. A morte de Jesus, por exemplo, foi interpretada como absurda, salvífica, trágica, redentora, sacrifical, justa. Um mesmo discurso pode ser interpretado por diversas frentes analíticas: política, filosofia, religião, sociologia, etc. A Bíblia, porém, apresenta interpretações primordialmente (não exclusivamente) religiosas.
    As interpretações que se oferecem a Bíblia sobre os diversos acontecimentos estão diretamente relacionadas ao nível de conhecimento e ao grau de cultura dos diversos intérpretes. Enfermidades neurológicas eram interpretadas como resultado de possessão demoníaca. Em Mc 9, 14-29, narra-se a cura de um jovem que conforme seu pai está possuído por um espírito imundo, porque ele baba e tem violentas convulsões: trata-se agora, de acordo com o avanço da ciência, de uma epilepsia. Tudo isto explica o porquê aquilo que se encontra na Bíblia não pode ser absolutizado e considerado indefectivelmente correto e válido para todos os tempos. A interpretação é relativa à medida que depende do nível cultural e cognitivo tanto do autor-emissor quanto do destinatário-receptor.
     Ainda é importante destacar a dimensão estrutural, simbólica e ornamental da Bíblia: se a leio ao “pé da letra”, sem considerar o texto em seu contexto (sócio-político-econômico-geográfico-cultural) e toda construção simbólica e existencial do autor (de cultura oriental), empobreço a leitura com “achismos” e pouco compreendo da mensagem salvífica que ela traz. A Bíblia precisa ser sinal de libertação na vida do povo: se escraviza numa leitura fundamentalista e pouco madura, precisa ser revista e estudada com maior intensidade em nossas comunidades.
     Para entender um texto é necessário compreender o significado dos termos no contexto. Seu berço e lar é o Oriente Médio, a Palestina de, pelo menos, dois milênios. Os conhecimentos, os costumes, as idéias e conceitos, o significado de mundo é bem diferente do grego ocidental. A mentalidade semita é percebida e sentida, prática e relacional; é uma mentalidade movida pela ação, por isso, muitas vezes tende a ser exagerada (Abraão que viveu cento e setenta e cinco anos/ Enquanto você tira o cisco do olho do outro no seu tem uma trave...).
     Considerando o autor bíblico, deve-se compreender que ele é filho de seu tempo, está condicionado e influenciado pela situação e pela cultura em que vive. Há de se destacar que a importância está na mensagem e não em quem a escreve, por isso que na maioria das vezes é difícil saber com exatidão o autor. No processo de transmissão do livro há diversos co-autores: o autor intelectual concebe, cria o texto, e o autor literário escreve. Visto que os autores dos escritos bíblicos viveram em comunidades que tinham preocupações, inquietudes e problemas concretos, e visto que seus escritos tinham por destinatários essas comunidades, é de se supor que as preocupações, inquietudes e problemas que compartilhavam se refletem nesses escritos. Observa-se então uma interação entre a comunidade, o autor e sua obra: ele reflete as inquietudes de sua comunidade, ao mesmo tempo em que se dirige a ela; a comunidade influencia o autor e este por sua vez a influencia por seus escritos.
     Os escritos da Bíblia são produtos de vida de comunidades, além de serem produtos de vida do autor: de suas buscas, vivências e reflexões, de tradições que lhe foram dando identidade. As tradições nasceram na comunidade, foram interpretadas e reinterpretadas, preservadas e escritas como parte de uma história e como expressões de sua identidade. Comunidade e tradição são inseparáveis. Quer dizer, comunidade e Bíblia nasceram juntas. Por isso, muitos escritos são anônimos: seu redator é a própria comunidade. Por isso, foi a comunidade que decidiu a respeito do valor canônico ou normativo de determinados escritos para constituir o conjunto chamado Bíblia.
     Os escritos da Bíblia são, então, TESTEMUNHOS DA VIDA DA COMUNIDADE (judaica e cristã) em seu processo de formação, em sua afirmação de identidade – que distingue essa comunidade de outros povos – e na expressão de sua fé – que a distingue de outras religiões.
               
                A BÍBLIA É UM CONJUNTO DE TESTEMUNHOS DE VIDA E DE FÉ

1) A Bíblia é um conjunto, porque nem é o único testemunho e nem inclui todos os testemunhos dados (a inspiração divina não cessou com a eleição dos livros canônicos – terminou a inspiração bíblica, porém, não a divina).
2) São testemunhos de vida, porque revelam as vivências reais de determinados tempos, culturas, vicissitudes vividas por seus autores, herdeiros de tradições vividas por outros e pela comunidade.
3) São testemunhos de fé, porque através destes escritos revela-se a fé de seus autores e também daqueles sobre os quais se fala e de suas comunidades. São testemunhos de sua fé, por certo como eles a entenderam e expressaram, com sua maneira de compreender a Deus e seus desígnios. Entretecem-se, então, vida e fé testemunhadas pelo desejo de compartilhá-las e de servir de guias para seus destinatários: sua comunidade.
       Pode-se dizer que a Bíblia é o livro de identidade para o judaísmo (AT) e o cristianismo (NT): inclui os testemunhos de sua origem e de seu crescimento e formação. Por isso, tanto para o judeu como para o cristão, a Bíblia é uma referência insubstituível. Por isso a necessidade de conhecê-la e beber da grande fonte da experiência do povo com Deus.

**Roberto Bocalete, baseado na obra "A Bíblia sem mitos" de Eduardo Arens