“E A PALAVRA SE FEZ CARNE E HABITOU ENTRE NÓS”
Em Jesus Cristo, Deus nos revelou de maneira clara e direta
aquilo que ele é. Descobrimos na encarnação que não é preciso ter medo de Deus,
porque “feito carne” se aproxima de nós no sorriso de uma criança. Descobrimos
que Deus não se interessa em primeiro lugar pelo poder e não faz questão alguma
de ser venerado como poderoso dos exércitos. Na fragilidade humana de uma
criança, no seu desamparo e na necessidade em ser amado, Deus habita entre nós.
Deus deixa de lado as atitudes de poder e de prestígio para
compreendermos que seu caminho é o da ternura e do amor: Ele se entrega a nós e
se põe em nossas mãos! Para que possa ser amado em vez de temido. Deus escolhe
para sua encarnação os caminhos humildes da natureza humana. Deus não está
interessado em nos intimidar, já que um bebê não causa medo, ainda mais sendo
de um casal simples e sem importância para os olhos do mundo. Deus não quer que
o temamos, mas o amemos e é por causa desse seu desejo que se revela a nós como
criança indefesa, para ser amado de coração aberto, encontrando amparo em
nossos braços e em nossos corações... na manjedoura o desafio é o amor.
Com a encarnação entendemos que o Deus-humilde não se tornou
simplesmente homem, mas ele se identificou com cada ser humano de tal maneira
que os acolhe e chama de irmãos. Por isso, o que fazemos a qualquer pessoa, é a
Ele que estamos fazendo. A encarnação nos impulsiona a sermos colaboradores da
justiça, do amor e da solidariedade, transformando as inúmeras situações e
estruturas, nas quais os seres humanos encontram-se pisados, excluídos,
afligidos e desprezados.
De onde é Jesus? Essa é a pergunta inicial:
EVANGELHO DE JOÃO 1, 1-18
Para responder a pergunta “De onde é Jesus?”, o evangelho de
Mateus elabora sua genealogia (1,1-17) no início dos escritos. Podemos destacar
os nomes e Abraão (promessa da benção) e de Davi (promessa de um Reino eterno),
concluindo com Maria, que marca o novo início da humanidade. Jesus vem do
Espírito Santo (1,20), do seio materno de Maria (1,16). No Evangelho de Lucas,
a genealogia (3,23-38) se dá após o batismo: é a apresentação da vida pública
de Jesus, que parte do cume (Jesus) até chegar na origem (filho de Deus),
origem já destaca em 1,35 “Aquele que vai nascer será chamado Filho de Deus”.
João, no prólogo (1,1-18), explicita a grandiosa resposta
“de onde” Ele é: A Palavra estava junto de Deus, vem de Deus, portanto, Jesus é
Deus. Se fez carne e armou sua tenda, habitando entre nós. A força criadora, a
Palavra, é aquela que dá a vida. À medida que Deus fala, as coisas vão
acontecendo, por isso Jesus é a vida em plenitude transmitida à humanidade.
Jesus é a tenda da reunião, o lugar do encontro com Deus, que não se fecha num
templo, mas está presente no meio de nós. Jesus é a presença visível do Deus
invisível, rosto divino do homem e rosto humano de Deus. Não há mais espaços
para mediações, pois Jesus recebe a glória do Pai e a comunica como Filho
único.
JOÃO BATISTA E JESUS
No início da atividade de Jesus os quatro Evangelhos colocam
a figura de João Batista e apresentam-no como o precursor (Jo 1,29; Lc 1,30; Mc
1, 6-8; Mt 3,1-12). Filho do sacerdote Zacarias, da classe de Abdias, e de
Isabel, parente de Maria, o anúncio do nascimento de João se dará no Templo,
num solene momento de liturgia do Antigo Testamento, contrastando com o anúncio
de Jesus, que se dá numa cidade desconhecida, numa casa simples, a uma jovem
anônima, contudo, marcando o início de um novo tempo, o Novo Testamento
inaugurado com o “alegra-te”.
Refrão: Deus só pode nos dar seu amor, nosso Deus é ternura!
João situa-se na longa esteira daqueles que nasceram de pais
estéreis graças a uma intervenção prodigiosa de Deus, que age no impossível. O
anúncio de Jesus está intimamente ligado com a história de João Batista:
acontece no sexto mês da gravidez de Isabel, logo após o diálogo com o anjo,
sendo coberta pela sombra do Altíssimo, Maria visita Isabel. A Palavra de Deus,
o seu Espírito, gera em Maria o menino; gera-o através da porta de sua
obediência.
O NASCIMENTO
O nascimento de Jesus, em Belém, na cidade de Davi, situa-se
no quadro da história universal (datação específica, sem o indefinido “era uma
vez” que poderia marcar um mito): inicia-se uma nova contagem do tempo. Nascido
da virgem Maria, gerado e não criado, é cumprimento da promessa do Pai de
caminhar com seu povo; a nova criação está ligada ao sim livre da pessoa humana
de Maria, a nova Eva. O salvador, nasceu fora de uma casa, num ambiente
desconfortável (gruta/estábulo), foi crucificado fora da cidade, no entanto,
trouxe ao mundo a paz, o que nos faz recordar e inversão de valores verificada
na pessoa de Jesus desde o nascimento.
Maria envolveu o menino com faixas (nascimento/morte) e
colocou-o no lugar onde os animais buscavam alimento, na manjedoura/altar/arca
da aliança (Jesus é o verdadeiro alimento que o homem necessita para ser pessoa
humana). O primogênito pertence a Deus e inaugura a nova humanidade depois de
ter derrubado as portas da morte. As primeiras testemunhas do nascimento são os
pastores, por conhecerem a pobreza e a simplicidade, viram o menino
interiormente – um olhar além do imediato. Os anjos anunciaram a alegria e
glorificavam a Deus cantando; os motivos para tanta alegria: Deus é glorioso,
existe o bem, existe a verdade, existe a beleza, estão em Deus de forma
indestrutível.
O nascimento de Jesus é concluído em Lucas com a narrativa
da apresentação de Jesus ao Templo, segundo a lei de Israel: no oitavo dia a
circuncisão e no quadragésimo a purificação de Maria. Jesus é formalmente
recebido na comunidade das promessas que nascem de Abraão: mesmo nascido sob a
Lei, redimiu a humanidade para que fosse acolhida na adoção filial. Da boca de
Simeão, homem justo e piedoso profere duas afirmações cristológicas: “O menino
é Luz para iluminar as nações” e existe para “a glória de teu povo, Israel”.
Jesus é identificado como servo de YHWH. A teologia da glória se liga a
teologia da cruz, e logo Maria é informada de que “uma espada traspassará seu
peito” (Lc 2,35), porque o menino foi colocado para queda e para o reerguimento
de muitos em Israel (será a pedra onde se tropeça e cai: Is 8,14).
A EPIFANIA – OS MAGOS DO ORIENTE
Mateus destaca que magos vindos do oriente, em busca da
verdade, seguiram uma “estrela que brilhara sobre o mundo” (o próprio rei que
deve vir), para encontrar o portador da salvação. Tais magos, que representam a
sabedoria religiosa e filosófica, a força que coloca os homens a caminho. Os
sábios/reis marcaram a dinâmica de ir além de si próprios, representando os
povos (as diversas etnias) que vieram adorar o menino-rei. Tais sábios
constituem um início, o encaminhar-se da humanidade para Cristo: inauguram uma
procissão que percorre a história inteira – representam a expectativa interior
do espírito humano, o movimento das religiões e da razão humana ao encontro de
Cristo.
Não é a estrela que determina o destino do Menino, mas o
Menino que guia a estrela, trazendo o homem para si, atraindo por meio da
criação para a experiência profunda da fé. Cada vez mais, a humanidade se faz
peregrina em busca da luz que ilumine a vida com raios de eternidade. Existe um
desejo no coração de todo homem e mulher: encontrar uma estrela (luz) que seja
guia e meta para suas vidas, como aconteceu com os Magos e com tantas pessoas
que vivem em busca do rosto do Deus. Quando o homem é atingido no coração pela
luz de Deus, alegra-se por ver realizada sua esperança (Mt 2,10). Os magos
prostram-se diante do Menino, prestam a homenagem ao rei-Deus. Os três
presentes representam três aspectos dos mistério de Cristo – o ouro apontaria
para sua realeza, o incenso para o Filho de Deus e a mirra para o mistério de
sua paixão.
No início do Evangelho de João, Jesus faz uma pergunta para
alguns dos discípulos de João Batista: O que vocês estão procurando? Essa
pergunta ele dirige hoje a você: O que procuras?
Ler o texto de Jo 1,35-51 (ler, refletir com ajuda do texto
abaixo, meditar, rezar e contemplar).
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