Olá catequistas: estudando e refletindo um pouco este texto do padre Domingos Ormonde, achei interessante postar e convidá-los a uma leitura atenta: aprofundar Iniciação cristã e catecumenato é urgente e importante! Boa leitura...
INICIAÇÃO CRISTÃ E CATECUMENATO
(Pe. Domingos Ormonde)
O tema
do catecumenato interessa a todos os que se dedicam à evangelização e
especialmente aos catequistas. A Igreja de hoje está redescobindo o
catecumenato, uma prática pastoral dos começos do cristianismo. No Ritual da
Iniciação Cristã de Adultos, no famoso RICA, estão não só os ritos da iniciação
cristã como também as orientações básicas para organizar um catecumenato.
Importa conhecer o catecumenato mais de perto. Ele é considerado o “modelo
inspirador” ou “fonte da catequese pós-batismal”.
1. Caminhada
A
palavra “caminhada”, muito usada por nós hoje, ajuda a entender o catecumenato.
Usamos essa palavra quando nos referimos a alguém (adulto ou jovem) que está
chegando na Igreja e deseja mesmo seguir o caminho de Jesus em comunidade.
Percebemos que é fundamental que essas pessoas façam uma caminhada inicial como
nós próprios fizemos. Catecumenato é
exatamente uma caminhada inicial na fé, que acompanha a iniciação cristã e é
organizada pela comunidade cristã.
O
catecumenato é oferecido, em primeiro lugar, aos que se sentem chamados a ser
cristãos, a ter sua vida unida a Jesus e à Igreja, a comunidade de seus
seguidores. Usando nossa linguagem mais comum: essa caminhada é feita sobretudo
pelos que não são batizados. A entrada no catecumenato é o começo da iniciação
cristã dos candidatos ao batismo, através de ritos. Nele a pessoa começa a ser
discípulo do Senhor e membro da Igreja, aprendendo “a ter os mesmos sentimentos
de Jesus Cristo” e procurando viver “segundo os preceitos do evangelho”. O
ponto culminante dessa caminhada é a celebração dos sacramentos de iniciação
(batismo, crisma e eucaristia), preferencialmente na vigília pascal e em uma
única celebração. Veremos na próxima ficha que o catecumenato pode ser
oferecido também aos já batizados.
2. O começo de tudo
Podemos
ter uma ideia de como acontece essa caminhada na fé, de acordo com o ritual da
iniciação. A proposta é que ninguém entre direto para o catecumenato. Quando
surge um simpatizante na comunidade, este deve ser acolhido pelo catequista
responsável e apresentado a um introdutor que, pessoal e informalmente, vai
ajudá-lo no caminho da fé. É feito, então, o anúncio (ou o novo anúncio) do
mistério de Cristo, de tal modo que Cristo passe a ser o centro da vida dessa
pessoa e de sua compreensão da existência.
Não há duração determinada para esse tempo de evangelização.
Quando o iniciante demonstra um início de fé em Jesus Cristo, mudança de vida,
oração pessoal, ligação com membros da Igreja e desejo de ser batizado, ele é
considerado participante do mistério de Cristo pela fé. Chegou a hora de ser
reconhecido pela Igreja como iniciante na vida cristã, ou seja, catecúmeno.
Celebra-se a entrada dessa pessoa no catecumenato, a primeira etapa da
iniciação cristã.
Na celebração de entrada no catecumenato os candidatos ao
batismo fazem sua primeira adesão pública a Cristo e, pela cruz marcada sobre
todo o corpo, tornam-se catecúmenos. Pelo rito de entrada na Igreja, são
recebidos como membros da família de Cristo. Celebram a palavra de Deus junto
com a comunidade, como se fosse a primeira vez, e cada um recebe uma bíblia
como sinal do tempo novo inaugurado, tempo de escuta do Senhor. O catecumenato
pode ser compreendido como uma introdução na escuta da palavra de Deus.
A breve
descrição da entrada no catecumenato e seus antecedentes dá uma ideia da
riqueza do catecumenato. Para exemplificar melhor, podemos lembrar os quatro
“meios” básicos indicados pelo RICA para realizar o “tempo de catecumenato”.
Interessa perceber como no catecumenato a formação acontece inseparavelmente
unida com a prática da vida cristã .
3. Catequese unida à liturgia e à vida
Como primeiro meio do catecumenato é apontado pelo RICA a
catequese, que não deve ser confundida como mera transmissão de dogmas e
preceitos. É preciso que a catequese ajude na vivência do mistério de Cristo,
do qual os catecúmenos desejam participar plenamente pela iniciação. Para isso,
a catequese deve ser distribuída por etapas, integralmente transmitida,
relacionada com o ano litúrgico e apoiada em celebrações da palavra. As
celebrações da palavra, inseridas nos tempos litúrgicos e com um elenco próprio
de leituras bíblicas, ajudam a assimilar os conteúdos da catequese (por exemplo
o perdão, a solidariedade...), ensinam
prazerosamente “as formas e os caminhos da oração”, aproximam dos
“símbolos, ações e tempos do mistério litúrgico” e introduzem “gradativamente
no culto de toda a comunidade”.
4. Conversão de vida e acompanhamento pessoal
Um
segundo meio do catecumenato é a própria prática da vida cristã. Durante o
tempo do catecumenato, como diz o ritual, os catecúmenos “acostumam-se a orar
mais facilmente, a dar testemunho da fé, guardar em tudo a esperança de Cristo,
seguir na vida as inspirações de Deus e praticar a caridade com o próximo até a
renúncia de si mesmos”. A formação é compreendida como um “itinerário
espiritual” de passagem “do velho homem para o novo que tem sua perfeição em
Cristo”, “uma progressiva mudança de mentalidade e costumes, com suas conseqüências
sociais”.
E como isso é incentivado para não virar apenas uma
intenção? Pelo exemplo e acompanhamento pessoal de alguns membros da
comunidade, sobretudo os “introdutores”, indica o ritual. O ministério do
introdutor continua durante o catecumenato.
5. Vida litúrgica não só pedagógica
O
terceiro meio de formação na fé, privilegiado pelo catecumenato, é a própria
participação litúrgica. Nem o interessado que está chegando, nem o que já é
catecúmeno, são levados imediatamente a participar da liturgia da comunidade,
especialmente a missa. Tal participação deve ser gradativa, como apontado
acima. A catequese sobre a liturgia e as celebrações que a compõem são
pedagógicas com relação aos sacramentos de iniciação e à futura vida litúrgica.
Mas não só.
Os ritos que acompanham o catecumenato (orações de libertação do mal, bênçãos, unções, entregas, celebrações de arrependimento) são uma ajuda da mãe Igreja na caminhada. Através deles Deus age gradativamente purificando e protegendo os catecúmenos. Neste sentido, os catequistas do catecumenato não são apenas instrutores, mas também ministros da oração (em favor do grupo e de cada um individualmente) e ministros da celebração da palavra de Deus.
6. Testemunho de vida
O
catecumenato inclui em sua formação, segundo o RICA, um quarto meio: o aprender
“a cooperar ativamente para a evangelização e edificação da Igreja”. O
catecumenato inclui o aprendizado para a missão, mas não é ainda participação
em uma pastoral determinada. O ritual propõe aquilo que é fundamental e
elementar na missão cristã: “o testemunho da vida e a profissão de fé”; algo
que é realizado no meio em que se vive e trabalha e não exige preparação
especial, apenas a convicção da fé inicial.
Assim, com os três meios indicados, realiza-se o tempo de
catecumenato. Este é sucedido pela preparação imediata, uns quarenta dias antes
dos sacramentos: o tempo da purificação iluminação. A iniciação cristã atinge
assim o seu ponto culminante em uma única celebração dos sacramentos de
iniciação (batismo, crisma e eucaristia), cujo prolongamento é o tempo da
mistagogia.
7. A quem interessa o catecumenato
Os
catequistas de iniciação, sobretudo, não podem deixar de conhecer o
catecumenato e o RICA. Este será um dos seus manuais para a realização do
catecumenato batismal, e com as devidas adaptações, o pós-batismal. Aqui estão
incluídos os catequistas que se dedicam ao prosseguimento da iniciação cristã
inaugurada no batismo (preparação para a primeira comunhão e para a crisma) e
todos os que se dedicam à catequese nas suas diferentes formas, e de modo
particular à catequese de jovens e adultos.
O RICA tem muito a ensinar com a sua proposta de
catecumenato. Toda iniciativa catequética deve ter os sacramentos de iniciação
como referência fundamental, deve incentivar a indispensável maternidade
espiritual da comunidade cristã, deve ter suas raízes na vigília pascal e em
sua espiritualidade batismal, e possibilitar vinculação da catequese com ritos,
símbolos e sinais, especialmente bíblicos, além de constante referência à
comunidade cristã.
8. Modelo inspirador e adaptação
Apresentam-se também características complementares do
catecumenato, como a atenção à formação integral e vivencial, a dimensão
orante, a prática da caridade e a renúncia de si mesmos. Para isso a catequese
deve ir além do conhecimento de verdades e preceitos através da dimensão
bíblica, orante, celebrativa, e relacionar-se profundamente com o ano
litúrgico. Há também o acompanhamento dos introdutores, a contribuição dos
padrinhos e membros da comunidade, a participação gradativa nas celebrações da
comunidade e estímulo ao testemunho de vida. Entre catequese e liturgia deve
haver íntima cooperação: elas se reforçam mutuamente no processo catecumenal.
É um modelo inspirador, aberto a adaptações. Em muitos
lugares já há experiências que estão pondo em prática o espírito catecumenal da
iniciação cristã, com criatividade e adaptação. É um modelo deve ser estudado e
aplicado na medida do possível, na ação normal da Igreja: não é restrito a
alguns grupos, movimentos, e nem é só para situações especiais ou
excepcionais... Ressalta-se que esse processo, seriamente assumido, traz grande
renovação e qualidade para a vida paroquial.
A importância que se dá à dimensão orante-ritual-celebrativa não pode deixar esquecidos outros aspectos da pastoral. Não se pode implantar um processo com esse nível de exigência sem a correspondente preparação e contínua reflexão e revisão de vida dos agentes, de todos os níveis, e sem uma grande atenção à qualidade do testemunho da comunidade inteira. Um catequista que não passou pelo processo catecumenal dificilmente irá desenvolvê-lo eficazmente.
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