Ola Catequistas! Postei, para uma leitura meditada e contemplada, catequeses de São Cirilo de Jerusalém. Eram exortações proclamadas no quarto tempo do catecumenato (Tempo da Mistagogia), dirigidas ao novos cristãos no tempo pascal, após terem celebrado os sacramentos de iniciação cristã na Vigília! Boa leitura!
CATEQUESES MISTAGÓGICAS
Das catequeses de Cirilo de Jerusalém
O Batismo, sinal da paixão de Cristo.
Fostes conduzidos à santa fonte do divino Batismo, como
Cristo, descido da cruz, foi colocado diante do sepulcro. A cada um de vós foi
perguntado se acreditava no nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Vós
professastes a fé da salvação e fostes por três vezes mergulhados na água e por
três vezes dela saístes; deste modo, significastes, em imagem e símbolo, os
três dias da sepultura de Cristo.
Assim como nosso Senhor passou três dias e três noites no
seio da terra, também vós, na primeira emersão, imitastes o primeiro dia em que
Cristo esteve debaixo da terra; e na imersão, a primeira noite. De fato, como
aquele que vive nas trevas não enxerga nada, pelo contrário, aquele que anda de
dia está envolvido em plena luz. Assim também vós, na imersão, como mergulhados
na noite, nada vistes; mas na emersão, fostes como que restituídos ao dia. Num
mesmo instante, morrestes e nascestes, e aquela água de salvação tornou-se para
vós, ao mesmo tempo, sepulcro e mãe.
Apesar de situar-se em outro contexto, a vós se aplica
perfeitamente o que disse Salomão: Há um tempo para nascer para morrer (Ecl 3,
2). Convosco sucedeu o contrário: houve um tempo para morrer e um tempo para
nascer. Num mesmo instante realizaram-se ambas as coisas e, com a vossa morte,
coincidiu o vosso nascimento.
Ó fato novo e inaudito! Na realidade, não morremos nem fomos
sepultados nem crucificados nem ainda ressuscitamos. No entanto, a imitação
desses atos foi expressa através de uma imagem e daí brotou realmente a nossa
salvação. Cristo foi verdadeiramente crucificado, verdadeiramente sepultado e
ressuscitou verdadeiramente. Tudo isto foi para nós um dom da graça, a fim de
que, participando da sua paixão através do mistério sacramental, obtenhamos na
realidade a salvação.
Ó
maravilha de amor pelos homens! Em seus pés e mãos inocentes, Cristo recebeu os
cravos e suportou a dor; e eu, sem dor nem esforço, mas apenas pela comunhão em
suas dores, recebo gratuitamente a salvação. Ninguém, portanto, julgue que o
batismo consista apenas na remissão dos pecados e na graça da adoção filial.
Assim era o batismo de João que concedia tão-somente o perdão dos pecados. Pelo
contrário, sabemos perfeitamente que o nosso batismo não só apaga os pecados e
confere o dom do Espírito Santo, mas é também o exemplar e a expressão dos
sofrimentos de Cristo. É por isso mesmo que Paulo exclama: Será que ignorais
que todos nós, batizados em Jesus Cristo, é na sua morte que fomo batizados?
Pelo batismo na sua morte, fomos sepultados com ele (Rm 6, 3-4).
A unção do Espírito Santo
Batizados em Cristo e revestidos de Cristo, vós vos
tornastes semelhantes ao Filho de Deus. Com efeito, Deus que nos predestinou
para a adoção de filhos, tornou-nos semelhantes ao corpo glorioso de Cristo.
Feitos, portanto, participantes do corpo de Cristo, com toda razão sois
chamados cristãos, isto é, ungidos; pois de vós que Deus disse: Não toqueis nos
meus ungidos (Sl 104,15).
Tornastes-vos cristãos no momento em que recebestes o selo
do Espírito Santo, e tudo isto foi realizado sobre vós em imagem, uma vez que
sois imagem de Cristo. Na verdade, quando ele foi batizado no rio Jordão e saiu
das aguas, nas quais deixara a fragrância de sua divindade, realizou-se então a
descida do Espírito Santo em pessoa, repousando sobre ele como o igual sobre o
igual.
O mesmo aconteceu convosco: depois que subistes na fonte
sagrada, o óleo do crisma vos foi administrado, imagem real daquele com o qual
o Cristo foi ungido, e que é, sem dúvida, o Espírito Santo. Isaias,
contemplando profeticamente este Espírito, disse em nome do Senhor: O Espírito
do Senhor está sobre mim, porque o Senhor me ungiu; enviou-me para dar a boa
nova aos humildes (Is 61,1).
Cristo jamais foi ungido por homem, seja por óleo ou com
outro material. Mas o Pai, ao predestiná-lo como salvador do mundo inteiro, o
ungiu com o Espírito Santo. É o que nos diz Pedro: Jesus de Nazaré foi ungido
por Deus com o Espírito Santo (At 10,38). Cristo foi ungido com o óleo
espiritual da alegria, isto é, com o Espírito Santo, chamado de óleo da
alegria, precisamente por ser o autor da alegria espiritual. Vós, porém, fostes
ungidos com o óleo do crisma, tornando-vos participantes da natureza de Cristo
e chamados a conviver com ele.
Quanto ao mais, não julgueis que este crisma é um óleo
simples e comum, depois da invocação, já não é um óleo simples ou comum, mas um
dom de Cristo e do Espírito Santo, tornando-se eficaz pela presença da
divindade. Simbolicamente, unge-se com ele a fronte e enquanto o corpo é ungido
com o óleo visível, o homem é santificado pelo Espírito Santo que dá a vida.
O pão do céu e a bebida da salvação.
Na noite em que foi entregue, nosso Senhor Jesus Cristo
tomou o pão e, depois de dar graças, partiu-o e deu-o a seus discípulos,
dizendo: “Tomai e comei: isto é meu corpo”. Em seguida, tomando o cálice, deu
graças e disse: “Tomai e bebei: isto é o meu sangue” (cf. Mt 26, 26-27; 1Cor
11, 23-24). Tendo, portanto, pronunciado e dito sobre o pão: Isto é o meu
corpo, quem ousará duvidar? E tendo afirmado e dito: Isto é o meu sangue, quem
se atreverá ainda a duvidar e dizer que não é o seu sangue?
Recebamos, pois, com toda a convicção, o Corpo e o Sangue de
Cristo. Porque sob a forma de pão é o corpo que te é dado, e sob a forma de
vinho, é o sangue que te é entregue. Assim, ao receberes o corpo e o sangue de
Cristo, te transformas com ele num só corpo e num só sangue. Deste modo, tendo
assimilado em nossos membros o seu corpo e o seu sangue, tornamo-nos portadores
de Cristo; tornamo-nos, como diz São Pedro, participantes da natureza divina
(2Pd 1,4).
Outrora, falando aos judeus, dizia Cristo: Se não comerdes a
minha carne e não beberdes o meu sangue, não tereis a vida em vós (cf. Jo 6,
53). Como eles não compreenderam o sentido espiritual do que lhes era dito,
afastaram-se escandalizados, julgando estarem sendo induzidos por Jesus a comer
carne humana.
Na Antiga Aliança havia os pães da propiciação; por
pertencerem ao Velho Testamento, já não mais existem. Na Nova Aliança, porém,
trata-se de um pão do céu e de um cálice da salvação que santificam a alma e o
corpo. Assim como o pão é próprio para a vida do corpo, também o Verbo é
próprio para a vida da alma.
Por isso, não consideres o pão e o vinho eucarísticos como
se fossem elementos simples e vulgares. São realmente o corpo e o sangue de
Cristo, segundo a afirmativa do Senhor. Muito embora os sentidos te sugiram
outra coisa, tem a firme certeza do que a fé te ensina.
Se foste bem instruído pela doutrina da fé, acreditas
firmemente que aquilo que parece pão, embora seja como tal sensível ao paladar,
não é pão, mas é o corpo isto. E aquilo que parece vinho, muito embora tenha
esse sabor, não é vinho, mas é o sangue de Cristo. Antigamente, bem a
propósito, já dizia Davi nos salmos: O pão revigora o coração do homem, e o
óleo ilumina a sua face (Sl 103, 15). Fortifica, pois, teu coração, recebendo
esse pão espiritual e faze brilhar a alegria no rosto de tua alma.
Com o rosto iluminado por uma consciência pura, contemplando
como num espelho a glória do Senhor, possas caminhar de claridade em claridade,
em Cristo Jesus, nosso Senhor, a quem sejam dadas honra, poder e glória pelos
séculos sem fim. Amém.
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