terça-feira, 6 de novembro de 2012


Ola amados e amadas catequistas: proponho uma reflexão sobre a catequese e a cultura, o humano e seu desafio de manter-se pessoa diante da realidade que desintegra. Ser catequistas é também contribuir para o sentido da vida! Um pouco de antropologia também ajuda. Abraços e boa leitura!

CATEQUESE E CULTURA
(Roberto Bocalete - PUC-GOIAS)

Ser humano é entender-se como ser de relações, contingência, necessidades e possibilidades; é perceber-se como pessoa, síntese de uma vida social, política, econômica, permeada pela cultura, linguagem, trabalho, lazer, educação, arte, e também de uma vida espiritual, racional, presente em um determinado tempo, que tem como instrumento de relação a comunicação com o divino por meio da religião. O homem é aquele que, tendo consciência de sua racionalidade, estrutura valores éticos, tem sede da verdade, busca a “salvação” apesar de suas limitações e anseia pela felicidade.

A cultura, em específico, pode ser definida como a atividade essencialmente humana de “ir além” de um determinismo genético ou geográfico para a assimilação do progresso e renovação do mesmo por meio da história e do projeto para o futuro. Sendo uma das principais características da pessoa humana, a cultura é o seu habitat, local onde se apreende uma maneira de ver a realidade, onde se estabelece relações, onde se convive, aperfeiçoa, enriquece, enfim, humaniza-se. Tratar de cultura é apresentar a ponte para a construção da existência humana, é aprofundar-se nos valores, teorias, instituições, contratos humanos, situações das quais, o homem não pode ser “apartado” para tornar-se homem.
                
A cultura é apreendida nas relações sociais e transformada pelo homem por meio da linguagem, que o faz comunicar-se com o mundo, interpretar, compreender a realidade e agir sobre ela, e também, é fortalecida pelo trabalho, maneira que o homem encontrou para a produção qualitativa do mundo e de si mesmo. Esmiuçar o termo cultura é explorar o agente homem e seu conjunto de símbolos, relações essenciais, lugares, tempos, momentos, também religião; é apontar o dinamismo e a diversidade que essa maneira de ser pessoa assume no decorrer da evolução e nas diversas formas de organizações sociais.

Após uma definição de homem, do conceito de cultura, no qual a catequese está inserida, é interessante também definir o que seria esse processo de educação na fé e quais seus objetivos para, conforme esse texto, propor um modelo de catequese humanizadora. A catequese é um processo evangelizador que se desenvolve em comunidade, é dinâmica, sistemática e permanente. É um anúncio e um serviço para provocar um vivo contato com Jesus, levando ao compromisso  e ao engajamento na comunidade cristã. 

A ação catequética procura dedicar-se a uma educação para a fé que fortaleça a responsabilidade cristã por meio conhecimento, fruto de uma experiência celebrada, compreendida, sentida e assumida, respeitando sempre a dignidade e os direitos humanos. O objetivo desta ação, então, é catequizar as diversas dimensões da vida cristã, a luz da Palavra de Deus, para construir comunidades catequizadoras comprometidas com a verdade e a justiça, sinais do reino já presentes entre nós.
         
É evidente que a cultura influencia e cria uma maneira ideológica de ser, modos de expressão, julgamentos, preconceitos, valores, regras, e sempre deixa como herança o que já foi construído pelos antepassados. O homem, no entanto, não é obrigado a seguir os padrões pré-estabelecidos quando estes não o trazem felicidade. A criatividade e a produção racional humana são características de sua pessoalidade, para tanto, a liberdade, que se dá por meio da consciência da realidade e pressupõe a responsabilidade e atitudes morais particulares, caracterizadas pelo respeito e o “sair-de-si”, independem da cultura onde estiver e são escolhas humanas. Assim, a ação catequética nesse contexto, educa para consciência do bem e opta pela ideologia do amor, que seria a mais coerente.
  
Para culturas mais humanas, e por consequência, uma catequese mais humanizadora, há necessidade de homens mais éticos: daí a urgência de uma catequese que seja resposta aos anseios humanos, que favoreça o encontro da criatura com o Criador que a ama, e ainda, que  conduza para um encontro  urgente com o bem e a felicidade, que são frutos das decisões tomadas pelo próprio homem. Na existência humana, procura-se o sentido da vida: a fé cristã, quando bem vivenciada e compreendida em sua mística do amor, faz o homem reconhecer um propósito na existência - não somos frutos do acaso, fazemos parte de uma história que se desenrola sob o olhar amoroso de Deus.
            
Conforme o Documento de Aparecida, as mudanças culturais dificultam a transmissão da fé por parte da família e da sociedade: são grandes as trevas da realidade - o egoísmo, a indiferença, hedonismo, injustiça social, corrupção, cultura de morte, relativismo, desumanização... e diante disso, faz-se importante uma catequese iniciática, conforme a proposta da Catequese Renovada, do Diretório Nacional de Catequese, da 3 Semana Brasileira de Catequese, que seja transformadora e libertadora, com a mensagem de fé que ilumine a existência humana, eduque para consciência crítica diante das estruturas injustas e leve a uma ação transformadora da realidade social. A catequese tem por tarefa introduzir o cristão nestas ações, inspiradas pela experiência de Deus na caminhada da comunidade.

Outro fator interessante para a construção da catequese humanizadora está na proposta de uma catequese inculturada, que deve valorizar e assumir os valores positivos da cultura, a linguagem, os símbolos, a maneira de ser e de viver do povo nas suas diversas expressões culturais. Expressar o evangelho de forma relevante para a cultura é uma exigência metodológica da catequese. Não se trata só da cultura popular, ligada mais ao ambiente rural e às vezes pré-moderno, mas também da cultura surgida da modernidade e pós-modernidade, cujo lugar privilegiado são os grandes espaços urbanos. Na interação fé e vida, o conteúdo da catequese compreende dois elementos que se interagem: a experiência da vida e a formulação da fé. A afirmação do princípio de interação é a recusa do excesso de teoria, desligada da realidade e do dualismo, optando por uma catequese mais celebrativa-vivencial, que resulte no compromisso comunitário com a realidade e suas transformações.

Para construção de uma catequese que humanize as relações e por conseqüência a cultura, precisa-se de catequistas, catequetas, padres, bispos e religiosas conscientes e competentes. O catequista é o educador, o auto-falante da Igreja que anuncia Jesus Cristo aos seus catequizandos; é ser chamado por Deus a uma vocação de amor, enraizada na comunidade cristã.    O catequista para os novos desafios da atualidade precisa ser “humano”, afetivo, acolhedor, dinâmico, que testemunhe com sua vida as verdades que proclama em seu encontro; deve ser criativo, organizado, desenvolver uma espiritualidade completa, promover a vivência do amor fraterno em grupo, ser comunicador, amigo, que conhece o interlocutor do processo catequético e faz com que ele seja o protagonista da fé. O catequista sempre estuda, cuida de sua formação, é alegre, sabe trabalhar em equipe, tem grande motivação de fé, participa efetivamente da comunidade cristã, enfim, é ser humano de coragem, seriedade, determinado e em busca de aperfeiçoamento.

Conforme o Diretório Nacional de Catequese, o Evangelho se destina em primeiro lugar à pessoa humana concreta e histórica, radicada numa determinada situação. A atenção ao indivíduo não deve levar a esquecer que a catequese tem como interlocutor a comunidade cristã como tal e cada pessoa dentro dela. A adaptação tem sua motivação teológica no mistério da encarnação e corresponde a uma elementar exigência pedagógica. Vai ao encontro das pessoas e considera seriamente a variedade de situações e culturas, mantendo a comunhão na diversidade a partir da unidade que vem da Palavra de Deus. Assim, o Evangelho será transmitido em sua riqueza e sempre adequado aos diversos ouvintes. A criatividade e arte dos catequistas estão a serviço deste critério fundamental. A pedagogia da fé precisa então atender às diversas necessidades e adaptar a mensagem e a linguagem cristãs às diferentes situações dos interlocutores.

Sentimos a urgência de desenvolver em nossas comunidades uma catequese que comece pelo querigma guiado pela Palavra de Deus, que conduza a um encontro pessoal, cada vez maior, com Jesus Cristo, perfeito Deus e perfeito homem, experimentado como plenitude da humanidade e que leve à conversão, ao discipulado, isto é, ao seguimento em uma comunidade eclesial e a um amadurecimento de fé na prática dos sacramentos, do serviço e da missão.

O caminho para uma catequese humana e humanizadora que dê sentido a vida está traçado. O que se deve alimentar para a prática catequética é a possibilidade de fazer crescer no cristão as virtudes humanas que influenciem a cultura para a adesão à vida em abundância, sinal da graça do Reino de Deus. Todos são convidados a ser pontes para esse processo de produção de uma realidade mais coerente com o projeto de Cristo: formar discípulos a partir da realidade para transformação eficaz dessa realidade.

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