Ola catequistas! Li este texto sobre e espiritualidade do Advento e me encantei: que texto magnífico, que construção mistagógica que nos faz mergulhar no mistério desse tempo litúrgico! Partilho com vocês essa preciosidade escrita pela Pe. Adroaldo Palaoro, sj. Abraços
Um Advento a mais ou uma nova oportunidade?
1º Domingo do Advento
Com a liturgia deste domingo inicia-se o “tempo do Advento”
e um novo “ano litúrgico” (Ano C – centrado no evangelista Lucas). Mais uma vez
nos disponibilizamos, através da oração e da vivência litúrgica, a viver mais
intensamente o Tempo do Advento e alargar nossas vidas para nele caber o
mistério do Natal.
Advento nos revela a presença da eternidade no coração do
tempo. O Eterno continua vindo, pelos caminhos mais imprevisíveis, iluminando a
dura rotina e a sequência do cotidiano. Advento é tempo de espera, de
preparação e de chegada. Tempo forte carregado de sentido, que nos faz ter
acesso àquilo que é mais humano em nós: o sentido da esperança, a travessia, o
encontro com o novo... tempo que nos arranca de nossas rotinas e modos fechados
de viver.
A Vinda de Cristo é o grande evento que agita os corações, sacode
as inteligências, inquieta as pessoas, move as estruturas... Toda a nossa vida
se transforma na história de uma espera e de um encontro surpreendente. Por
isso, o Advento deveria ser um tempo para voltar-nos para o interior em meio à
agitação, e olhar para dentro de nós mesmos. Aí, no nosso interior, há tanto de
eterno. A eternidade dialoga com a gente, fala por dentro. Caminhamos para o
“Senhor que vem” à medida que mais nos adentramos ao fundo de nós mesmos e da
realidade. Advento nos convida a “contaminar-nos” da realidade; e isso nos
humaniza.
Somos “seres de travessia”. O Advento nos convida a não
perder de vista nosso horizonte, nossos objetivos, nosso propósito de investir
a vida, gratuitamente, naquilo que vale a pena. Cada momento é o “hoje” de
Deus; por isso o “fim” está sempre chegando. O Esperado traz uma novidade que
envolve e que se revela em cada rosto humano e em cada fragmento de tempo,
deste tempo colocado em nossas mãos. Contemplando o “hoje” de Deus, o coração
se alarga até o assombro, os braços se abrem para a acolhida, os pés se movem
para o encontro, os olhos se aquecem para o reconhecimento.
A liturgia nos propõe, neste começo do Advento, um texto que
fala dos “últimos dias”, como um convite a estarmos atentos, numa vigilância esperançosa,
para acolher “Aquele que vem”. Este relato pertence ao chamado “gênero
apocalíptico” que, para muitos, à primeira vista, pode significar o “fim do
mundo” acompanhado de catástrofes que desestabilizam tudo (o céu, a terra e o
mar), provocando medo e angústia.
No entanto, a palavra “apocalipse” (literalmente “levantar o
véu”) significa “revelação”. Os textos apocalípticos pretendem revelar o
sentido profundo (oculto) na história, pessoal e coletiva, e indicar que é Deus
quem, a todo instante, dirige os destinos da mesma. Tais textos são uma
mensagem de esperança. Lido e rezado em chave libertadora, este texto nos fala
do surgimento de um “mundo novo” que nos é dado de presente, depois de sacudir
e derrubar o velho mundo.
O “discurso apocalíptico” é uma mensagem de sabedoria que
nos desperta e nos faz sair de nossos medos, ansiedades, embotamentos... e
experimentar a Plenitude e a Libertação que o Presente contém e é. O decisivo é
que Cristo está vindo sempre. Se o encontro com Ele não acontece é porque
estamos adormecidos ou com a nossa atenção centrada em outras coisas (“gula,
embriaguez, preocupações da vida” – v. 34), apegados ao caduco e ao transitório
que não plenifica.
Diante do surgimento de um
novo mundo requer-se “estar despertos” e “levantar a cabeça”; e a pessoa
“desperta” é, justamente, aquela que vê a novidade em tudo; quem tem a cabeça
erguida vislumbra novos horizontes. Ao contrário, quem permanece adormecido,
move-se no terreno da rotina, com o coração atrofiado e a mente embotada pelos
vícios e preocupações vazias. Adormecidos, debatemo-nos entre o passado que se
foi e o futuro que nunca chega, escravos da ansiedade que nos faz viver fora do
presente.
O Advento vem nos dizer que não há outra coisa a fazer senão
viver intensamente o momento presente. A plenitude está na consciência do
instante presente, onde o “Filho do Homem” se revela. No presente pleno, tudo
tem sabor de novidade, a percepção da própria identidade se amplia sem limites,
a consciência da comunhão com tudo e com todos se alarga...
Nesta perspectiva, o “discurso apocalíptico” nos alerta que
somos destinatários de um chamado para viver despertos em meio às dificuldades
e incertezas de nossos tempos. Muitas vezes, como “anciãos encurvados” e com a
“cabeça baixa” nos movemos sob o peso do legalismo, das tradições passadas, dos
fracassos, marcados pelo desalento e pela desesperança.
Há maneiras de viver que impedem a muitos de caminhar com a
cabeça erguida confiando nessa libertação definitiva: acostumados a viver com um
coração insensível e endurecido, buscam preencher a vida de bem-estar e falsas
seguranças, de costas ao Pai do Céu e aos seus filhos que sofrem na terra. Este
estilo de vida os fará cada vez menos humanos.
Advento é o momento de escutar o chamado que Jesus nos faz a
todos: “levantai-vos”, animai-vos uns aos outros”, “erguei a cabeça” com
confiança. Deus é Salvação e já está em nós. Basta despertar-nos e descobri-Lo.
Esta descoberta nos descentra de nós mesmos, nos projeta para o outros, para o
infinito e nos identifica com tudo e com todos.
O momento do encontro com “Aquele que vem” nos introduz na
soleira de um futuro novo e carregado de esperança, aquela esperança que dá
sentido às nossas atividades, liberta o coração da preocupação, expulsa toda
ansiedade e impulsiona a buscar o Reino. O fundamento da segurança e da
serenidade reside na consciência de estar nas mãos providentes de Deus.
O fiel discípulo de Jesus, descobrindo-se amado e protegido
pela ternura providente, se sente sempre a caminho, isto é, pronto a acolher
cada fragmento de luz e de vida, que fala da presença e da passagem de Deus. O
presente, tecido de partilha, solidariedade, misericórdia, mansidão, reveste o
futuro de luz.
A verdadeira segurança cresce no coração e na confiança de sermos
protegidos por um Deus que sabe o que precisamos e nos aguarda. É esta a
relação fundamental, fecunda e criativa, que possibilita o “êxodo” de nós
mesmos e a acolhida do “advento” do Outro e dos outros.
Texto bíblico: Lc.
21,25-28.34-36
Na oração: “Advento”: o Senhor vem... em sua direção! Ou
melhor, já chegou! Basta despertar-se para descobri-Lo e descobrir-se n’Ele.
Tome consciência do momento presente, deste único instante, aqui e agora,
carregado de Presença e permaneça nele. Deus é Salvação que se dá a todos em
cada instante.
Pe. Adroaldo Palaoro sj
Coordenador do Centro de Espiritualidade Inaciana - CEI
Fonte: Regional Leste 2
isso é evangelizar.
ResponderExcluirMaravilhoso.
ResponderExcluir