Milagre de Pentecostes
Na cruz, quando os opressores se julgavam vitoriosos, Deus
vence. Torna-se, desse modo, o Senhor da vida. Jesus, contudo, não nos deixa
órfãos. É preciso que eu vá. Se eu não for, não mandarei a vós o
Espírito Santo. Ele dará testemunho de mim. Ele vos ensinará toda a verdade
(João 14,26). O Espírito Santo dará aos seguidores de Jesus a capacidade
para compreenderem toda a sua mensagem.
Quando vier o Espírito da Verdade, ele vos conduzirá à
verdade plena, pois não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e
vos anunciará as coisas futuras (João 16,13). O Espírito Santo dará aos seguidores a capacidade para
compreender toda a mensagem de Jesus. E assim acontece. Cinqüenta dias após a
Páscoa, de junto do Pai, para onde fora, Jesus envia seu Espírito.
Os Atos dos
Apóstolos, que descrevem a vida da comunidade dos seguidores, narram esse fato
maravilhoso. A comunidade se recompõe e Matias é escolhido no lugar de Judas
(Atos 1,15-26). Os Apóstolos, com medo, estão, contudo, fechados no Cenáculo.
Dez dias depois do retorno de Jesus para junto do Pai, eles mudam completamente
de atitude.
Lucas descreve o fato de Pentecostes como uma grande
manifestação da força de Deus.
Tendo-se completado o dia de Pentecostes, estavam todos
reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um ruído como o agitar-se de
um vendaval impetuoso, que encheu toda a casa onde se encontravam.
Apareceram-lhes, então, línguas como de fogo, que se repartiam e que pousaram
sobre cada um deles. E todos ficaram repletos do Espírito Santo e começaram a
falar em outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia se exprimissem (Atos
2,1-4).
Medrosos anteriormente, os Apóstolos saem corajosos.
Nós os ouvimos anunciar em nossas próprias línguas as
maravilhas de Deus (Atos 2,11). Uma multidão de curiosos se reúne. Vêem e escutam os
seguidores do Nazareno. E aqueles que haviam fugido diante da morte de seu
chefe (Mateus 26,56), deixando-o só, saem destemidos.
Pedro negara Jesus diante de uma mulher. Agora, intrépido,
confessa-o vivo: Homens de Israel, ouvi estas palavras. Jesus, o Nazareno,
foi por Deus aprovado diante de vós com milagres, prodígios e sinais... Este
homem vós o matastes, crucificando-o pela mão dos ímpios. Mas Deus o
ressuscitou... Saiba, portanto, com certeza, toda a casa de Israel: Deus o
constituiu Senhor e Cristo, este Jesus a quem vós crucificastes (Atos 2,14-32). Continua firme o Apóstolo: Convertei-vos e cada um de vós
seja batizado em nome de Jesus Cristo para a remissão dos vossos pecados (Atos
2,38).
Começa uma nova era na vida dos homens e mulheres que tinham
aderido à Boa Nova da salvação trazida por Jesus. Forma-se uma comunidade
unida, que se auxilia mutuamente e dá testemunho pleno. Todos percebem que algo
inédito aconteceu desde o primeiro momento. Não são
todos galileus estes que estão falando? Como é, pois, que os ouvimos falar,
cada um de nós, no próprio idioma em que nascemos? (Atos 2,7-8).
O Reino vai crescendo pela força do Espírito. O número dos
discípulos aumenta.
Mas, afinal, quem é esse Espírito Santo que realiza tais
prodígios? A Bíblia não explica quem é o Espírito Santo. Ela mostra o Espírito
agindo na comunidade do povo de Israel e na comunidade dos seguidores de Jesus.
Quando o povo sai do Egito, o Espírito é o seu protetor, em
forma de sombra durante o dia e de luz durante a noite (Êxodo 13,21-22).
Israel, em sua caminhada pelo deserto, viveu em regiões de ventos fortes e
uivantes. Esta experiência permitiu-lhe vivenciar a força de Deus. Viu no vento
impetuoso a presença de Deus capaz de reforçar a vitalidade dos bons, assim
como a ventania forte permite que as árvores enraízem com firmeza. Mas viu,
também, a capacidade que Deus tinha de destruir o mal e reduzi-lo à impotência.
Isaías afirma claramente estas verdades (7,2; 17,13). Mais.
O povo acreditava que se Deus dava a vida pelo seu sopro vital (Gênesis 2,7),
podia também tirá-la por sua ação e recriá-la por seu poder. É o que lemos no
Salmo 104(103),29-30:
No seu amor ao Espírito de Deus e na sua consciência de
adoração, o povo cristão reza: Enviai o vosso Espírito e tudo será criado e
renovareis a face da terra.
O Espírito de Deus é a sua força atuando em meio ao seu
povo. Ele é o poder do Deus vivente que age na sua história. Moisés anteviu
essa ação de Deus, quando afirmou: "Oxalá todo povo de Javé fosse profeta,
dando-lhe Javé o seu Espírito" (Números 11,29). Povo forte e que escravizara
Israel por séculos, o egípcio era temido. Isaías o desafia, dizendo: "O
egípcio é homem e não deus, os seus cavalos são carne e não espírito"
(Isaías 31,3). O povo de Israel experimenta Deus, não na natureza, querendo
adivinhar seu poder, mas em sua ação, conduzindo a história, e os profetas lêem
essa ação. Ser profeta é justamente isso: ler Deus conduzindo a história por
meio do seu Espírito (cf. Ezequiel 37,1-14).
O Espírito de Deus cria um coração novo, livre para amar. Um
coração que se conforma ao querer divino e acredita que Deus é capaz de tudo
transformar pela força do seu Espírito. Dirá Ezequiel: "Lançai fora todas
as transgressões que cometestes, formai um coração novo e um espírito
novo" (18,31). O Espírito de Deus, como força que provém de fora do homem,
os transforma de tal forma que os torna capazes de gestos radicais em favor dos
irmãos.
As pessoas que são tomadas pelo Espírito tornam-se
colaboradoras de Deus e servidoras do povo. Este Espírito, enquanto vem de Deus
e orienta para Deus, é santo. Enquanto se torna presente e consagra Israel para
Deus, é santificador. Esparramado - e este é o melhor termo - sobre Israel,
como uma chuva que inunda a terra (Isaías 32,15), como quem realiza nova
criação e cria corações novos, plasmando-os para Deus. Conduzido por este
Espírito, Israel reconhecerá e confessará Deus, que o acolherá como o seu povo:
"Não tornarei a esconder deles a minha face, porque derramarei o meu
espírito sobre a casa de Israel...". Deus "dará ao povo um coração
novo, colocará no seu íntimo um espírito novo, tirando do seu peito o coração
de pedra e dará um novo coração" (Ezequiel 39,29; 36,26; conforme, também,
Jeremias 31,33).
Os profetas, contudo, vão além. Afirmam que, no final dos
tempos, o Espírito será dado a todos, sem distinção: Depois disto, derramarei o meu espírito sobre toda carne.
Vossos filhos e vossas filhas profetizarão... mesmo sobre os escravos e sobre
as escravas, naqueles dias, derramarei o meu Espírito (]oel 3,1-2).
O Espírito nos leva a fazer uma experiência do Ressuscitado
Prometido como a força dos tempos novos, o Espírito Santo é
reconhecido e vivido como a experiência profunda que os apóstolos fizeram da
ressurreição de Jesus em suas vidas. Ele
foi, em primeiro lugar, um dado da experiência e depois uma
afirmação da fé. Os apóstolos descobriram que o dom mais precioso que Jesus
trouxera fora, justamente, o Espírito. Com Ele começavam os tempos novos.
Os
apóstolos descobrem, num primeiro momento, que o Espírito Santo é o Espírito de
Jesus. Impulsionados por Ele, são levados a repetir os mesmos gestos, a
anunciar as mesmas palavras de Jesus (Atos 4,30), a rezar a mesma oração de
Jesus (Atos 7,59-60). Continuam, na fração do pão, a ação de graças que Jesus
apresentou ao Pai antes de sua morte na cruz. Sentem a necessidade de viver a
mesma união entre os novos discípulos, como outrora fora a união dos apóstolos
com Jesus (Atos 2,42; 4,32).
O Espírito Santo torna-se a alma da comunidade dos
seguidores de Jesus. Ele anima a Igreja, Corpo de Cristo, tornando-se seu
princípio vital. Os seus dons, desde os mais simples, como os das línguas ou
das curas, até os mais elevados, como o da fé, da esperança e da caridade,
estão todos a serviço do Evangelho (I Tessalonicenses 1,5) e dos membros do
Corpo de Cristo.
O apóstolo Paulo, lido com atenção e profundidade, dirá que
o importante não são os dons extraordinários do Espírito. O fundamental é que
se abra para as suas ações mais cotidianas. São elas que dão valor à vida do
cristão como uma vida que se define pela relação com Cristo e com o seu
Espírito. Paulo mostra, desse modo, a grandeza e a beleza da vida dos
seguidores de Jesus. Ela é vida em Cristo Jesus (l Coríntios 1,30; Romanos
8,10) e também no Espírito (Romanos 8,9).
O Espírito nos interpela a ser discípulos
Na festa de Pentecostes, celebramos o nascimento da Igreja
missionária. Os discípulos recebem o Espírito Santo e descobrem qual é a sua
missão: tornam-se comunicadores da Boa Notícia de Jesus a todos os povos.
De Pentecostes nascem as primeiras comunidades cristãs. Elas
são reconhecidas pela fé no Ressuscitado, pela observância da Palavra de Deus e
vivência em comunidade. Experimentar o Espírito Santo é percebê-lo como vento livre
e penetrante - que não é apenas "ar", mas "ar em movimento"
- capaz de espalhar palavras e juntar pessoas. Ele sopra onde quer. Nós não o
possuímos, temos apenas que nos deixar conduzir por Ele...
Em torno da Palavra desenvolvemos vários dons próprios do
Espírito: sabedoria, ciência, conselho, inteligência, fortaleza, temor de Deus,
discernimento. Que o Pentecostes de hoje, expressão da nossa experiência
com o Ressuscitado, transforme a massa de pessoas anônimas e distantes em
comunidades, onde todos comuniquem a mensagem do Reino e estejam unidos no
mesmo espírito - a linguagem do amor, pois quem ama conhece a Deus e possui seu
Espírito. Espírito e Palavra caminham juntos, um revela o outro, um faz viver
melhor o outro e ambos são geradores de comunidades.
O Espírito de Deus é a sua força atuando em meio ao seu
povo. Ele é o poder de Deus que age na história.
As pessoas que são tomadas por esse Espírito tornam-se
colaboradoras de Deus e servidoras do povo. O Espírito é reconhecido através
dos tempos como a experiência profunda que os apóstolos fizeram da ressurreição
de Jesus em suas vidas. Ele é, portanto, a alma da comunidade dos seguidores de
Jesus, o animador da Igreja.
Citações Bíblicas
• o Espírito é o sopro de Deus presente na criação: Gênesis
1,2; 2,7; Sabedoria 15,11; Eclesiástico 38,23; Salmo 33(32),6;
• o Espírito é agente do poder do Senhor. Fez o mar se abrir
para os hebreus passarem: Êxodo 14,19-22;
• apossa-se dos profetas para que deem a Palavra de Deus ao
povo: Números 11,17; 24,2; 2 Samuel 23,2; l Reis 18,2; 2 Reis 2,16; Isaías
61,1; Oséias 9,7;
• Ilumina os que devem servir ao povo: juízes reis e em
particular o Messias, Servo do Senhor: l Samuel 11,6; 16,13; Isaías 11,2-5;
42,1-4; Jonas 3,10; 11,29;
• é ele que impulsiona à realização do Projeto de Deus:
Lucas 4,16-21;
• Jesus promete aos discípulos o Espírito Santo, como outro
consolador e advogado: João 15,26; 16,13;
• na hora de sua morte, Jesus nos entrega seu Espírito: João
19,30;
• o Ressuscitado sopra sobre os discípulos dando-lhes o
Espírito para a missão: João 20,19-23;
• os apóstolos e Maria esperam a vinda do Espírito no
Cenáculo. Ele desce sobre a comunidade em Pentecostes: Atos 2,1-22 (livro do
crismando), e sobre os pagãos: Atos 10,44-47.
Nenhum comentário:
Postar um comentário