quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Conclusão do Gênesis e Bibliografia utilizada para elaboração do material apresentado! Assim terminamos o estudo dirigido desse belíssimo livro! Abraços catequistas e sempre que possível, aprofundem seus conhecimentos! :)

LIVRO DO GÊNESIS (VII)

CONCLUSÃO

O tema das relações humanas essenciais, uma metonímia para o laço que une a humanidade, é tratado com crescente complexidade desde o início do Gênesis até seu fim. Desse modo, é esse o ponto que gostaria de refletir melhor na conclusão desse belo livro das origens e das gerações.

O ser humano não se encerra em sua individualidade e somente consegue realizar e atualizar sua humanidade por meio das relações maduras com o outro, com a natureza, com Deus. Sem elas o homem é enfraquecido e não se encontra com a felicidade desejada pelo Criador.

No relato da criação, percebemos que a relação que estabelecemos com o mundo material, vegetal e animal é relação progressivamente baseada na experiência de dominar a natureza e favorecer ao homem o uso desses meios para manter-se vivo, relação do eu com o objeto visando manter o equilíbrio ou criar um equilíbrio novo por meio da humanização e racionalização desse objeto, ou do próprio mundo. Dessa relação, quando bem desenvolvida, pode surgir a arte; o homem encantando-se com o trabalho, com a natureza ornamentada, com a música, com a beleza. Mesmo sendo expulso do paraíso, uma metáfora da natureza pronta, o homem tem o compromisso de cuidar e zelar belo bem da criação. A luta pela terra prometida, que fez os patriarcas se desinstalarem, marca a busca da relação de sobrevivência com qualidade, da terra onde possa emanar leite e mel.

O caos da relação com o mundo vai dar-se na banalização ou supervalorização das coisas: banaliza-se quando as coisas perdem seu valor e são destruídas, a exemplo disso o meio ambiente, tão agredido no século XX, e supervaloriza-se quando o homem torna-se escravo das coisas e depende delas para ser feliz ou conviver, situação presente na excessiva valorização dos bens de consumo, propagados no marketing e nas frias relações digitais estabelecidas através das novas tecnologias. O progresso da ciência, que aos poucos vai se dogmatizando como verdade absoluta, causa uma grande confusão nas relações, fazendo o homem fechar-se na proposta de progresso, sem preocupação com as consequências e a saudável relação necessária com o outro e também com o divino, transformando tudo em instrumento do bem-estar pessoal, sem qualquer consideração ética.

O homem partilha sua existência com outros homens e estabelece com estes, portanto, uma relação de interação, de convivência e de solidariedade: “Não é bom que o homem esteja sozinho...” (Gn 2,18). É nesta relação com seus semelhantes que o indivíduo é verdadeiramente transformado em ser humano; sem a experiência social o homem não se completa já que o outro complementa a particular visão de mundo, sendo sempre o tu que ultrapassa as limitações individuais por meio da interatividade. Desta relação, quando madura e consciente, pode surgir a relação pontual da intersujetividade, o amor, a comunicação com o outro numa troca de profunda afetividade e o enriquecimento mútuo.

Tal relação, de fraternidade, está presente em todo o Gênesis, ora apontada de modo pleno, desejado por Deus, de respeito, às vezes desencontrada, porém, reconciliada, ora paradoxal, marcada por interesses egoístas, pela morte, pela manipulação e pela mentira.

Para que essa relação seja realmente humana, faz-se necessário o diálogo, a ação do viver junto e estabelecer uma relação com o outro sem submetê-lo, sem haver uso ou relacionamento de manipulação instrumental, transformando o outro em objeto e meio, situação que pode desenvolver uma tragédia existencial. O grande perigo nessa relação está em transformar o outro em objeto, ridicularizar o amor (como fez os irmãos a José), utilizar-se do outro para benefícios (como fez Jacó com Esaú), para a auto-sustentação, para uma relação de desumanização e massificação, visando sempre benefícios e retornos, principalmente econômicos (como fez Labão com Jacó). Roubar do outro o direito à consciência, à liberdade e à responsabilidade por suas ações (como na construção da Torre de Babel), submetendo-o a ser meio para conquistas quaisquer, pode gerar o desastre da “desumanização do homem”.

Diante das indagações acerca da contingência, da origem humana e de seu destino, surge a convicção de que deve haver um ser absoluto, criador, primeiro e último, ele sim necessário, razão suficiente e causa de tudo quanto existe – a este ser estamos vinculados através de uma relação essencial de dependência, de respeito. No Genesis, além disso, há uma relação de bênção, de necessidade de manutenção das experiências de fé, algumas vezes abaladas pela própria historia. A historia do homem e do universo, do povo e de uma terra, faz parte de uma experiência religiosa com o Deus que cria, que abençoa, que desinstala os patriarcas, que dá descendência e fertilidade, que aponta uma terra.  Assumir o Deus dos pais e considerar-se povo de Deus é o distintivo característico do livro das origens. Tudo procede de Deus e Deus é quem abençoa e dá a vida.

No entanto, o grande problema na relação com o Divino, que deveria ser uma relação que suprisse a pobreza ontológica essencial da contingência, encontra-se na manipulação e desmistificação desse Deus em contrapartida a uma exacerbação da autossuficiência humana (pecado original).  Portanto, o excesso de empirismo e o ateísmo somados aos interesses de religiões que apresentam um deus curandeiro de problemas diversos, colocam em risco a relação humana com o Criador.

O livro do Gênesis é um convite a lermos teologicamente o projeto de Deus para o homem: Deus quer-nos felizes e para isso, o homem precisa entender-se a partir de relações humanas maduras e ações conscientes.


 BIBLIOGRAFIA

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