Conclusão do Gênesis e Bibliografia utilizada para elaboração do material apresentado! Assim terminamos o estudo dirigido desse belíssimo livro! Abraços catequistas e sempre que possível, aprofundem seus conhecimentos! :)
LIVRO DO GÊNESIS (VII)
CONCLUSÃO
O tema das relações humanas essenciais, uma metonímia para o
laço que une a humanidade, é tratado com crescente complexidade desde o início
do Gênesis até seu fim. Desse modo, é esse o ponto que gostaria de refletir
melhor na conclusão desse belo livro das origens e das gerações.
O ser humano não se
encerra em sua individualidade e somente consegue realizar e atualizar sua
humanidade por meio das relações maduras com o outro, com a natureza, com Deus.
Sem elas o homem é enfraquecido e não se encontra com a felicidade desejada
pelo Criador.
No relato da criação, percebemos que a relação que
estabelecemos com o mundo material, vegetal e animal é relação progressivamente
baseada na experiência de dominar a natureza e favorecer ao homem o uso desses
meios para manter-se vivo, relação do eu com o objeto visando manter o
equilíbrio ou criar um equilíbrio novo por meio da humanização e racionalização
desse objeto, ou do próprio mundo. Dessa relação, quando bem desenvolvida, pode
surgir a arte; o homem encantando-se com o trabalho, com a natureza ornamentada,
com a música, com a beleza. Mesmo sendo expulso do paraíso, uma metáfora da
natureza pronta, o homem tem o compromisso de cuidar e zelar belo bem da
criação. A luta pela terra prometida, que fez os patriarcas se desinstalarem,
marca a busca da relação de sobrevivência com qualidade, da terra onde possa
emanar leite e mel.
O caos da relação com o mundo vai dar-se na banalização ou
supervalorização das coisas: banaliza-se quando as coisas perdem seu valor e
são destruídas, a exemplo disso o meio ambiente, tão agredido no século XX, e
supervaloriza-se quando o homem torna-se escravo das coisas e depende delas
para ser feliz ou conviver, situação presente na excessiva valorização dos bens
de consumo, propagados no marketing e nas frias relações digitais estabelecidas
através das novas tecnologias. O progresso da ciência, que aos poucos vai se
dogmatizando como verdade absoluta, causa uma grande confusão nas relações,
fazendo o homem fechar-se na proposta de progresso, sem preocupação com as
consequências e a saudável relação necessária com o outro e também com o
divino, transformando tudo em instrumento do bem-estar pessoal, sem qualquer
consideração ética.
O homem partilha sua existência com outros homens e estabelece com estes, portanto, uma relação de interação, de convivência e de solidariedade: “Não é bom que o homem esteja sozinho...” (Gn 2,18). É nesta relação com seus semelhantes que o indivíduo é verdadeiramente transformado em ser humano; sem a experiência social o homem não se completa já que o outro complementa a particular visão de mundo, sendo sempre o tu que ultrapassa as limitações individuais por meio da interatividade. Desta relação, quando madura e consciente, pode surgir a relação pontual da intersujetividade, o amor, a comunicação com o outro numa troca de profunda afetividade e o enriquecimento mútuo.
Tal relação, de fraternidade, está presente em todo o
Gênesis, ora apontada de modo pleno, desejado por Deus, de respeito, às vezes
desencontrada, porém, reconciliada, ora paradoxal, marcada por interesses
egoístas, pela morte, pela manipulação e pela mentira.
Para que essa relação
seja realmente humana, faz-se necessário o diálogo, a ação do viver junto e
estabelecer uma relação com o outro sem submetê-lo, sem haver uso ou
relacionamento de manipulação instrumental, transformando o outro em objeto e
meio, situação que pode desenvolver uma tragédia existencial. O grande perigo
nessa relação está em transformar o outro em objeto, ridicularizar o amor (como
fez os irmãos a José), utilizar-se do outro para benefícios (como fez Jacó com
Esaú), para a auto-sustentação, para uma relação de desumanização e
massificação, visando sempre benefícios e retornos, principalmente econômicos
(como fez Labão com Jacó). Roubar do outro o direito à consciência, à liberdade
e à responsabilidade por suas ações (como na construção da Torre de Babel),
submetendo-o a ser meio para conquistas quaisquer, pode gerar o desastre da
“desumanização do homem”.
Diante das indagações acerca da contingência, da origem
humana e de seu destino, surge a convicção de que deve haver um ser absoluto,
criador, primeiro e último, ele sim necessário, razão suficiente e causa de
tudo quanto existe – a este ser estamos vinculados através de uma relação
essencial de dependência, de respeito. No Genesis, além disso, há uma relação
de bênção, de necessidade de manutenção das experiências de fé, algumas vezes
abaladas pela própria historia. A historia do homem e do universo, do povo e de
uma terra, faz parte de uma experiência religiosa com o Deus que cria, que
abençoa, que desinstala os patriarcas, que dá descendência e fertilidade, que
aponta uma terra. Assumir o Deus dos
pais e considerar-se povo de Deus é o distintivo característico do livro das
origens. Tudo procede de Deus e Deus é quem abençoa e dá a vida.
No entanto, o
grande problema na relação com o Divino, que deveria ser uma relação que
suprisse a pobreza ontológica essencial da contingência, encontra-se na
manipulação e desmistificação desse Deus em contrapartida a uma exacerbação da autossuficiência
humana (pecado original). Portanto, o
excesso de empirismo e o ateísmo somados aos interesses de religiões que
apresentam um deus curandeiro de problemas diversos, colocam em risco a relação
humana com o Criador.
O livro do Gênesis é um convite a lermos teologicamente o
projeto de Deus para o homem: Deus quer-nos felizes e para isso, o homem
precisa entender-se a partir de relações humanas maduras e ações conscientes.
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