AS PERSPECTIVAS
SÓCIO-TRANSFORMADORA, INCULTURADA,
ECUMÊNICA E COMUNITÁRIO- PARTICIPATIVA DA CATEQUESE
ECUMÊNICA E COMUNITÁRIO- PARTICIPATIVA DA CATEQUESE
A catequese, mediante seu
objetivo e consciência pedagógica que determinam sua prática, precisa trabalhar
perspectivas fundamentais que contribuam para a formação global do discípulo,
dimensões que não podem ser deixadas de lado se a proposta é de uma catequese
que responda aos desafios da realidade. O objetivo agora é favorecer um cuidado
adequado ao estudo das perspectivas sócio-transformadora, inculturada,
comunitário-participativa e ecumênica na catequese.
A catequese não pode ficar fora
da realidade. Ou ela transforma as pessoas e a sociedade, ou não é fiel a
mensagem e ao projeto de Jesus Cristo. Quando ela não atinge as raízes do ser
humano, não o direciona para uma consciência de si e da realidade, se torna um
verniz superficial. Como fazer para que a catequese não seja puramente
doutrinal, mas atinja os sentimentos e as atitudes das pessoas? Desafio que
progressivamente pode ser sanado a partir de uma ação catequética
sócio-transformadora e inculturada.
Alicerçada na
Palavra, a catequese precisa educar, iluminar e orientar o comportamento humano, humanizar
a vida e os relacionamentos, voltar-se para as necessidades da realidade. A
interação fé-vida ajuda muitos cristãos na formação da consciência crítica
diante da realidade, porém, existem ainda muitos que se dizem cristãos cuja
prática socio-política não é influenciada pelos valores do Evangelho. “Uma
catequese mal feita ou insuficiente levou a uma dicotomia entre fé professada e
a prática do dia-a-dia. Por isso ela não pode ser reduzida simplesmente a um
conjunto de conhecimentos, mas precisa atingir o ser profundo” (Catequese
sócio-transformadora. RIXEN,).
Afirma o DNC que “Essa confrontação entre a formulação da fé e as
experiências de vida possibilita uma formação cristã mais consciente, coerente
e generosa” (DNC, p. 104).
A catequese, como sinal de
caridade e serviço, deve abrir-se ao horizonte da promoção integral do ser
humano e da transformação da sociedade nos diversos níveis. Além de fazer parte
da missão da Igreja, da evangelização, é compromisso fundamental da catequese e
do agir eclesial a transformação da realidade social, tendo em vista a
construção do Reino e a salvação dos homens (ALBERICH, 2004, p. 243-4). O agir
na justiça e na verdade, a acolhida das propostas quaresmais da Campanha da
Fraternidade, a consciência política (combate a corrupção, cidadania e
prudência eleitoral), a quebra de preconceitos (idoso, mulher, raças,
portadores de deficiências) a opção preferencial pelos pobres e marginalizados,
a luta pela libertação da escravidão dos vícios do século XXI (drogas, bebidas,
egoísmo, hedonismo, mentira), são práticas que devem estar presentes na
catequese.
Como processo de
formação, a catequese deve desenvolver no educando sentimentos intrínsecos à escolha por
Jesus. Assim, a catequese deve educar para o exercício do serviço
sociocaritativo: deve assumir as angústias e as esperanças do homem e da mulher
de hoje para dar-lhes a possibilidade de uma libertação mais plena, deve
realizar obras de libertação e promoção humana, deve promover a vida em meio a
cultura de morte e chamar atenção ao grito dos agonizantes. A catequese
profundamente renovada constitui um verdadeiro celeiro de defesa da dignidade
da pessoa humana (Catequese Evangelizadora, ALBERICH, p. 248-9).
A práxis catequética concreta
orienta para ação, promove solidariedade, compromisso e participação,
testemunha o Evangelho por meio de ações como a fraternidade, a paz, a
responsabilidade, a denúncia, a caridade. A mensagem final do Documento de
Aparecida é um chamado muito forte para a catequese: As agudas diferenças entre
ricos e pobres convidam a trabalhar com maior empenho para ser discípulos que
sabem partilhar a mesa da vida, mesa de todos os filhos e filhas do Pai, mesa
aberta, inclusiva, na qual não falta ninguém. Por isso reafirmamos nossa opção
preferencial e evangélica pelos pobres. Comprometendo-nos a defender os mais
fracos [...].
A catequese também necessita inculturar-se sempre, tornar a mensagem clara às
diversas culturas, encarnar-se. O DGC ressalta a seriedade dessa tarefa: “A
Inculturação da fé [...] é um processo profundo e global e um caminho lento.
Não é uma simples adequação externa que, para tornar mais atraente a mensagem cristã”
(DGC, p.111), mas trata-se da penetração do Evangelho no mais profundo das
pessoas e dos povos, tocando-os profundamente chegando às suas raízes por meio
da cultura.
É na realidade cultural que
acontece a obra evangelizadora. O entrelaçamento entre Palavra de Deus e
cultura pode ser assumido por meio de uma eclesiologia de comunhão, da fé
vivida e encarnada na cultura e de um diálogo sincero com as diversas
manifestações, acolhendo os aspectos positivos, corrigindo e purificando os
contra valores por meio da denúncia daquilo que fere a dignidade.
A catequese é lugar e instrumento
de inculturação e deve desenvolver, portanto, características importantes na
sua prática, educando o futuro discípulo para promissora atitude de respeito e
diálogo com a realidade. Dentre essas características pode-se destacar: a busca
de uma linguagem adequada à comunicação da fé (esforço de encarnação e de
sintonia cultural); valorização dos leigos locais, que pertencendo ao povo,
conhecem formas eficazes de inculturação; elaboração de materiais locais, em
sintonia com a sensibilidade e o modo de pensar do povo; atenção às culturas
indígenas, aos migrantes e aos afro-descendentes; atenção aos riscos de
reducionismo e de sincretismo, que comprometem a autenticidade da evangelização
(Catequese Evangelizadora, ALBERICH, 2004, p.131-3).
Por fim, o quarto desafio está no
diálogo inter-religioso, desafio que já introduz a perspectiva ecumênica na
catequese, situação que não pode ser ignorada no Brasil. A catequese precisa
proporcionar um método apropriado para se compreender e viver a fé, favorecendo
o diálogo com outras religiões. Sem perder a convicção própria, a catequese
deverá encontrar pontos comuns entre as comunidades de fé, formando assim
cristãos seguros, abertos ao diálogo que permitam ser enriquecidos com a
experiência do outro, visando uma humanidade mais fraterna (DICIONÁRIO DE
CATEQUÉTICA, 2004, p.159-60).
É fundamental para a catequese a
sensibilidade ecumênica e dialogal, mesmo diante das dificuldades de
aproximação ou da complexidade que a grande ação envolve. É certo que estamos
situados num mundo plural, estamos relacionados com pessoas diferentes. A nossa
catequese há de levar em conta as diferenças que existem e os intercâmbios que
se possam propor. A abertura da catequese, em vista do diálogo ecumênico e do
diálogo inter-religioso, torna-se uma exigência e merece ser motivo de nossa
indagação e reflexão conjunta (Catequese e diálogo ecumênico e inter-
religioso, CARDOSO, 2009, p.1).
Dialogar implica em dialogantes,
postura em que não é um só que fala, mas que há um outro, que precisa ser
ouvido. Diálogo implica em alteridade e diferença: o diálogo é um modo de se
relacionar, de enriquecimento interior das pessoas ou de consolidação dos laços
interpessoais. Implica em relação de abertura, acolhimento, respeito, estima,
comunicação, contribuição mútua. Dados os limites de um e outro, e dadas as
diferenças, pode o diálogo implicar também algo de tenso, ou pode significar
uma experiência de aprendizado e crescimento, claro, dependendo dos
interlocutores. “A Igreja está aprendendo novos caminhos: o do ecumenismo, do
diálogo religioso, do diálogo com a cultura e da promoção da liberdade” (DNC,
p.67).
Na catequese, há um chamado a
desenvolver atitude de respeito, de estima com o outro. O Objetivo é mostrar o
desejo de chegar não a um maior antagonismo, mas a uma maior concórdia e unidade.
A catequese não é um curso de ecumenismo, mas aproveita de uma sensibilidade
ecumênica. Uma catequese com sensibilidade ecumênica desenvolvida seria,
sobretudo, uma catequese que atuasse com espírito de fraternidade, valorizando
o mandamento do amor a todos. Não há lugar, pois, para uma catequese que
mantenha palavras, juízos ou atos contra a dignidade dos irmãos de outras
Igrejas, que não promova o diálogo, ou que não valorize em sua justa medida os
tesouros cristãos e a obra do Espírito Santo que se encerra nas comunidades
separadas de Roma (DICIONÁRIO DE CATEQUÉTICA, 2004, p.371).
É interessante valorizar algumas
práticas essenciais para uma catequese ecumênica: usar uma linguagem adequada
ao referir-se aos não-católicos, sem que seja depreciativa; não julgar a pessoa
do outro por ter convicções e práticas diferentes; procurar corrigir-se e pedir
desculpas quando demonstrar preconceitos com as outras comunidades de fé;
reconhecer os limites também dos católicos na história da Igreja e os limites
de cada pessoa, que são imperfeitas; reconhecer os valores cristãos presentes
nos cristãos não católicos, ou os valores religiosos e humanos presentes também
nos não cristãos; respeitar a oração do outro e a ação caritativa do outro;
valorizar o espírito de aproximação, de concórdia e de colaboração entre as
pessoas. É importante, ainda, valorizar os momentos de oração comum, como a
ocasião da Semana de Oração pela Unidade, as Campanhas da Fraternidade com
temáticas ecumênicas, evitar o indiferentismo religioso e o proselitismo:
dialogar não é impor nem receber imposição (CARDOSO, 2009, p. 6-9).
A catequese é educação na fé para
a pessoa que vive no pluralismo e necessita aprender a lidar com a diversidade.
Que ela venha em auxílio de formar discípulos para viverem uma identidade na
liberdade, também mostrando uma atitude de respeito, de diálogo e de
colaboração.
A catequese em todas as formas
que é concebida ou sonhada, está ligada por laços estreitos à comunidade
cristã. Por isso, outra perspectiva importante é a comunitário-participativa,
entendendo a comunidade como lugar (onde se transmite a vida, alimento e os
meios necessários para a vida cristã), origem da catequese (comunidade
iniciadora por excelência) e também meta (objetivo), pois a catequese capacita o
cristão a viver em comunidade e a participar ativamente da missão da Igreja
(DGC p.83). “É tarefa própria da
catequese animar os catequizandos a se integrarem à comunidade, o que implica
uma vinculação a ela, no duplo sentido de identificação e pertença” (Manual de
Catequética, CELAM, 2007, p.182).
A comunidade é condição
necessária para catequese. A pedagogia catequética é eficaz na medida em que a
comunidade cristã se torna referência concreta para a caminhada dos indivíduos
(DGC p.164). Por essa razão, a catequese corre o risco de esterilizar-se se uma
comunidade não acolhe o catequizando ou ainda não dá testemunho de fé para uma
maturidade daquele que está em processo.
A catequese se destina a
comunidade e seu crescimento na fé, assim, catequizando é educado para dimensão
participativa, para comprometer-se, sendo presença atuante na ação
evangelizadora: “a ação catequética tem em mira a comunidade e seu
amadurecimento na fé, e no interior dessa ação comunitária também faz crescer a
vida religiosa dos indivíduos” (ALBERICH, 2004, p. 276).
Os aspectos da opção comunitária
convidam a uma revisão profunda da identidade da catequese em uma comunidade.
Para tanto, é preciso educar a comunidade para encarar a catequese como âmbito
eclesial, portanto, prioridade em qualquer plano pastoral, educar para o seu
papel de lugar e meta da catequese; é necessário favorecer abertura e acolhida
ao catequizando nas atividades pastorais, pois se exige participação, a
comunidade precisa ser acolhedora, e também, desenvolver no interior de
pequenos grupos (pequenas comunidades, círculos bíblicos, grupo de catequistas)
a dinâmica do valor e da importância do outro como fundamental para o
desenvolvimento e integração grupal. Não basta que a catequese seja feita em
comunidade, ela precisa ser feita de comunidade, com fisionomia grupal e
processo interativo.
**Roberto Bocalete - Especialista em Pedagogia Catequética
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