RESUMO DO DIRETÓRIO NACIONAL DE CATEQUESE (DNC) - II PARTE
Capítulo 2 - A Catequese na Missão Evangelizadora da Igreja
A
catequese é parte da Missão da Igreja; portanto, ninguém é catequista sozinho,
não se comunica a si mesmo, mas as verdades da fé. A catequese não começa dando
respostas, primeiro precisa ouvir as perguntas básicas feitas pelas pessoas: o
que significa ser pessoa humana? O que estamos fazendo aqui? Qual o sentido da
vida? De onde viemos? Para onde vamos? Essas e outras perguntas existenciais
são um ponto de partida e de contínua referência na catequese. Da capacidade de
se levar em conta essas perguntas depende a relevância da catequese para as
pessoas às quais se destina. A fé cristã nos faz reconhecer um propósito na
existência: não somos frutos do acaso, fazemos parte de uma história que se
desenrola sob o olhar amoroso de Deus: Deus misericordioso que se revela ao seu
povo.
Deus se
revela nas Escrituras: aos nossos pais, por meio dos profetas, de modo pleno em
Jesus Cristo. É importante perceber esse Deus nos acontecimento da vida. A
revelação nos apresenta, desde o começo, um Deus que quer vida em plenitude
para seus filhos. A Revelação nos encaminha, portanto, a uma catequese que
responda aos anseios humanos e promova uma vida mais gratificante para todos,
como estava desde sempre no desígnio de Deus.
A plenitude da Revelação da bondade de Deus
está em Jesus, Verbo feito carne que revela os segredos do Pai, liberta do
pecado e da morte e garante a ressurreição; em sua missão Ele usou a mesma
pedagogia do Pai; fez-se um de nós, partilhando nossas alegrias e sofrimentos,
usando nossa linguagem. Esta boa notícia da salvação é para toda humanidade. A
Igreja, sinal (sacramento) supremo de sua presença salvadora na história,
transmite a revelação e anuncia a salvação através do mesmo processo pedagógico
de palavras e obras, sobretudo nos sacramentos. Ela está convencida de que sua
principal tarefa é comunicar esta Boa Nova aos povos: ela está a serviço da
evangelização, exercendo o ministério da Palavra do qual faz parte a catequese.
O
conjunto das obras maravilhosas realizadas por Deus ao longo da história da
salvação, como as palavras dos profetas, sobretudo de Jesus e de seus
apóstolos, é Palavra de Deus, são as Sagradas Escrituras redigidas sob
inspiração divina. Por isso, a fonte da evangelização e catequese é a Palavra
de Deus e a Igreja transmite e esclarece os fatos e palavras da Revelação e à
sua luz, interpreta os sinais dos tempos e a nossa vida nos quais se realiza o
desígnio salvífico de Deus.
A
catequese tem como tarefa proporcionar a todos o entendimento claro e profundo
de tudo o que Deus nos quis transmitir: investigar e entender o que os
escritores sagrados escreveram para manifestar o que Deus nos quer falar. É
importante conhecer as circunstâncias, o tempo, a cultura, os modos de se
expressar para comunicar. O catequista experimenta a Palavra de Deus em sua
boca, na medida em que, servindo-se da Sagrada Escritura e dos ensinamentos da
Igreja, vivendo e testemunhando sua fé na comunidade e no mundo, transmite para
seus irmãos esta experiência de Deus. O catequista não prega a si mesmo, mas a
Jesus Cristo, sendo fiel à Palavra e à integridade de sua mensagem. Ele é
também um profeta, pois faz ecoar a Palavra de Deus na comunidade, tornando-a
compreensível. Catequese (katá-ekhein em grego) significa ressoar.
A
Igreja “existe para evangelizar”, isto é, para anunciar a Boa Notícia do Reino,
proclamado e realizado em Jesus Cristo: é sua graça e vocação própria. O centro
do primeiro anúncio (querigma) é a pessoa de Jesus, proclamando o Reino como
uma nova e definitiva intervenção de Deus que salva com um poder superior
àquele que utilizou na criação do mundo. Esta salvação “é o grande dom de Deus,
libertação de tudo aquilo que oprime a pessoa humana. Sendo o anúncio de Jesus
Cristo o primeiro momento da evangelização, a catequese é o segundo, dando-lhe
continuidade. Sua finalidade é aprofundar e amadurecer a fé, educando o
convertido para que se incorpore à comunidade cristã. A catequese sempre supõe
a evangelização. Por sua vez à catequese segue-se o terceiro momento: a ação
pastoral para os fiéis já iniciados à fé, no seio da comunidade cristã, o
discipulado, através da formação continuada. Catequese e ação pastoral se
impregnam do ardor missionário, visando à adesão mais plena a Jesus Cristo.
O fruto
da evangelização e catequese é o fazer discípulos: acolher a Palavra, aceitar
Deus na própria vida, como dom da fé. A fé é como uma caminhada, conduzida pelo
Espírito Santo, a partir de uma opção de vida e uma adesão pessoal a Deus,
através de Jesus Cristo, e ao seu projeto para o mundo. Isso supõe também uma
aceitação intelectual, um conhecimento da mensagem de Jesus. O seguimento de
Jesus Cristo realiza-se, porém, na comunidade fraterna. O discipulado, que é o
aprofundamento do seguimento, implica renúncia a tudo o que se opõe ao projeto
de Deus e que diminui a pessoa. Leva à proximidade e intimidade com Jesus
Cristo e ao compromisso com a comunidade e com a missão.
No
início do cristianismo, a catequese era o período em que se estruturava a
conversão. Os já evangelizados eram iniciados no mistério da salvação e num
estilo evangélico de ser: experiência de vida cristã, ensinamento
sistematizado, mudança de vida, crescimento na comunidade, constância na
oração, alegre celebração da fé e engajamento missionário. Este longo processo
de iniciação, chamado catecumenato, se concluía com a imersão no mistério
pascal através dos três grandes Sacramentos: Batismo, Confirmação e Eucaristia.
A catequese estava pois a serviço da iniciação cristã. A situação do mundo
atual levou a Igreja no Vaticano II a propor a restauração do catecumenato.
A
inspiração catecumenal, que remonta ao início da Igreja e à época dos Santos
Padres, é uma ação gradual e se desenvolve em quatro tempos, como é apresentado
no Ritual de Iniciação Cristã de Adultos:
a) o
pré-catecumenato: é o momento do primeiro anúncio, em vista da conversão,
quando se explicita o querigma e se estabelecem os primeiros contatos com a
comunidade cristã;
b) o
catecumenato propriamente dito: é destinado à catequese integral, à prática da
vida cristã, às celebrações e ao testemunho da fé;
c) o
tempo da purificação e iluminação: é dedicado a preparar mais intensamente o
espírito e o coração do catecúmeno, intensificando a conversão e a vida; no
final desse tempo recebem os sacramentos da iniciação: Batismo, Confirmação e
Eucaristia;
d) o
tempo da mistagogia: visa a progresso no conhecimento do mistério pascal
através de novas explanações, sobretudo da experiência dos sacramentos
recebidos e a começar a participação integral da comunidade.
A
catequese, como elemento importante da iniciação à vida cristã, implica um
longo processo vital de introdução dos cristãos com as seguintes dimensões,
interligadas entre si: descoberta de si mesmo; experiência pessoal de Deus;
anúncio e adesão a Jesus Cristo; vida no espírito; participação na comunidade
(dimensão comunitário-participativa); educação para celebração litúrgica e
oração; interação fé e vida e serviço fraterno, de acordo com os valores do
Reino; a formulação da fé ou compreensão da doutrina;o diálogo ecumênico e inter-religioso; atitude
ecológica.
A
catequese é, em primeiro lugar, uma ação eclesial: a Igreja transmite a fé que
ela mesma vive e o catequista é um porta-voz da comunidade e não de uma
doutrina pessoal. Por ser educação orgânica e sistemática da fé, a catequese se
concentra naquilo que é comum para o cristão, educa para a vida de comunidade,
celebra e testemunha o compromisso com Jesus. Ela exerce, portanto, ao mesmo
tempo, as tarefas de iniciação, educação e instrução. É um processo de educação
gradual e progressivo, respeitando os ritmos de crescimento de cada um.
A
finalidade da catequese é aprofundar o primeiro anúncio do Evangelho: levar o
catequizando a conhecer, acolher, celebrar e vivenciar o mistério de Deus,
manifestado em Jesus Cristo, que nos revela o Pai e nos envia o Espírito Santo.
A
catequese não prepara simplesmente para este ou aquele sacramento. O sacramento
é uma conseqüência de uma adesão à proposta do Reino, vivida na Igreja. O
processo de crescimento da fé é permanente; os sacramentos alimentam este
processo e tem conseqüências na vida. Diante da importância de se assumir uma
catequese de feição catecumenal, é necessário rever todo o processo de
catequese em nossa Igreja, para que se pautem pelo modelo do catecumenato.
A comunidade
é a fonte, o lugar e a meta da catequese. O que o catequizando experimenta na
comunidade eclesial pode confirmar ou desmentir o que é dito na catequese. Onde
há uma verdadeira comunidade cristã, ela se torna uma fonte viva da catequese,
pois a fé não é uma teoria, mas uma realidade vivida pelos membros da
comunidade. Neste sentido ela é o verdadeiro audiovisual da catequese. Por
outro lado, ao educar para viver a fé em comunidade, esta se torna, também, uma
das metas da catequese. O verdadeiro ideal da catequese é desenvolver o
processo da educação da fé, através da interação de três elementos: o
catequizando, a caminhada da comunidade e a mensagem evangélica. Quando não há
comunidade, os catequistas, obviamente, ajudam a construí-la.
Em
virtude de sua própria dinâmica interna, a fé precisa ser conhecida, celebrada,
vivida e cultivada na oração. E como ela deve ser vivida em comunidade e
anunciada na missão, precisa ser compartilhada, testemunhada e anunciada. A
catequese tem, portanto, as seguintes tarefas: conhecimento da fé, iniciação
litúrgica, formação moral (educar para a consciência, atitudes, espírito e
projeto de vida segundo Jesus), vida de Oração, vida comunitária, testemunho,
missão.
**Diácono Roberto Bocalete
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