quarta-feira, 14 de agosto de 2013

RESUMO DO DIRETÓRIO NACIONAL DE CATEQUESE (DNC) - II PARTE

Capítulo 2 - A Catequese na Missão Evangelizadora da Igreja

          A catequese é parte da Missão da Igreja; portanto, ninguém é catequista sozinho, não se comunica a si mesmo, mas as verdades da fé. A catequese não começa dando respostas, primeiro precisa ouvir as perguntas básicas feitas pelas pessoas: o que significa ser pessoa humana? O que estamos fazendo aqui? Qual o sentido da vida? De onde viemos? Para onde vamos? Essas e outras perguntas existenciais são um ponto de partida e de contínua referência na catequese. Da capacidade de se levar em conta essas perguntas depende a relevância da catequese para as pessoas às quais se destina. A fé cristã nos faz reconhecer um propósito na existência: não somos frutos do acaso, fazemos parte de uma história que se desenrola sob o olhar amoroso de Deus: Deus misericordioso que se revela ao seu povo.
          Deus se revela nas Escrituras: aos nossos pais, por meio dos profetas, de modo pleno em Jesus Cristo. É importante perceber esse Deus nos acontecimento da vida. A revelação nos apresenta, desde o começo, um Deus que quer vida em plenitude para seus filhos. A Revelação nos encaminha, portanto, a uma catequese que responda aos anseios humanos e promova uma vida mais gratificante para todos, como estava desde sempre no desígnio de Deus.
          A plenitude da Revelação da bondade de Deus está em Jesus, Verbo feito carne que revela os segredos do Pai, liberta do pecado e da morte e garante a ressurreição; em sua missão Ele usou a mesma pedagogia do Pai; fez-se um de nós, partilhando nossas alegrias e sofrimentos, usando nossa linguagem. Esta boa notícia da salvação é para toda humanidade. A Igreja, sinal (sacramento) supremo de sua presença salvadora na história, transmite a revelação e anuncia a salvação através do mesmo processo pedagógico de palavras e obras, sobretudo nos sacramentos. Ela está convencida de que sua principal tarefa é comunicar esta Boa Nova aos povos: ela está a serviço da evangelização, exercendo o ministério da Palavra do qual faz parte a catequese.
          O conjunto das obras maravilhosas realizadas por Deus ao longo da história da salvação, como as palavras dos profetas, sobretudo de Jesus e de seus apóstolos, é Palavra de Deus, são as Sagradas Escrituras redigidas sob inspiração divina. Por isso, a fonte da evangelização e catequese é a Palavra de Deus e a Igreja transmite e esclarece os fatos e palavras da Revelação e à sua luz, interpreta os sinais dos tempos e a nossa vida nos quais se realiza o desígnio salvífico de Deus.
          A catequese tem como tarefa proporcionar a todos o entendimento claro e profundo de tudo o que Deus nos quis transmitir: investigar e entender o que os escritores sagrados escreveram para manifestar o que Deus nos quer falar. É importante conhecer as circunstâncias, o tempo, a cultura, os modos de se expressar para comunicar. O catequista experimenta a Palavra de Deus em sua boca, na medida em que, servindo-se da Sagrada Escritura e dos ensinamentos da Igreja, vivendo e testemunhando sua fé na comunidade e no mundo, transmite para seus irmãos esta experiência de Deus. O catequista não prega a si mesmo, mas a Jesus Cristo, sendo fiel à Palavra e à integridade de sua mensagem. Ele é também um profeta, pois faz ecoar a Palavra de Deus na comunidade, tornando-a compreensível. Catequese (katá-ekhein em grego) significa ressoar.
          A Igreja “existe para evangelizar”, isto é, para anunciar a Boa Notícia do Reino, proclamado e realizado em Jesus Cristo: é sua graça e vocação própria. O centro do primeiro anúncio (querigma) é a pessoa de Jesus, proclamando o Reino como uma nova e definitiva intervenção de Deus que salva com um poder superior àquele que utilizou na criação do mundo. Esta salvação “é o grande dom de Deus, libertação de tudo aquilo que oprime a pessoa humana. Sendo o anúncio de Jesus Cristo o primeiro momento da evangelização, a catequese é o segundo, dando-lhe continuidade. Sua finalidade é aprofundar e amadurecer a fé, educando o convertido para que se incorpore à comunidade cristã. A catequese sempre supõe a evangelização. Por sua vez à catequese segue-se o terceiro momento: a ação pastoral para os fiéis já iniciados à fé, no seio da comunidade cristã, o discipulado, através da formação continuada. Catequese e ação pastoral se impregnam do ardor missionário, visando à adesão mais plena a Jesus Cristo.
          O fruto da evangelização e catequese é o fazer discípulos: acolher a Palavra, aceitar Deus na própria vida, como dom da fé. A fé é como uma caminhada, conduzida pelo Espírito Santo, a partir de uma opção de vida e uma adesão pessoal a Deus, através de Jesus Cristo, e ao seu projeto para o mundo. Isso supõe também uma aceitação intelectual, um conhecimento da mensagem de Jesus. O seguimento de Jesus Cristo realiza-se, porém, na comunidade fraterna. O discipulado, que é o aprofundamento do seguimento, implica renúncia a tudo o que se opõe ao projeto de Deus e que diminui a pessoa. Leva à proximidade e intimidade com Jesus Cristo e ao compromisso com a comunidade e com a missão.
          No início do cristianismo, a catequese era o período em que se estruturava a conversão. Os já evangelizados eram iniciados no mistério da salvação e num estilo evangélico de ser: experiência de vida cristã, ensinamento sistematizado, mudança de vida, crescimento na comunidade, constância na oração, alegre celebração da fé e engajamento missionário. Este longo processo de iniciação, chamado catecumenato, se concluía com a imersão no mistério pascal através dos três grandes Sacramentos: Batismo, Confirmação e Eucaristia. A catequese estava pois a serviço da iniciação cristã. A situação do mundo atual levou a Igreja no Vaticano II a propor a restauração do catecumenato.
          A inspiração catecumenal, que remonta ao início da Igreja e à época dos Santos Padres, é uma ação gradual e se desenvolve em quatro tempos, como é apresentado no Ritual de Iniciação Cristã de Adultos:
a) o pré-catecumenato: é o momento do primeiro anúncio, em vista da conversão, quando se explicita o querigma e se estabelecem os primeiros contatos com a comunidade cristã;
b) o catecumenato propriamente dito: é destinado à catequese integral, à prática da vida cristã, às celebrações e ao testemunho da fé;
c) o tempo da purificação e iluminação: é dedicado a preparar mais intensamente o espírito e o coração do catecúmeno, intensificando a conversão e a vida; no final desse tempo recebem os sacramentos da iniciação: Batismo, Confirmação e Eucaristia;
d) o tempo da mistagogia: visa a progresso no conhecimento do mistério pascal através de novas explanações, sobretudo da experiência dos sacramentos recebidos e a começar a participação integral da comunidade.

          A catequese, como elemento importante da iniciação à vida cristã, implica um longo processo vital de introdução dos cristãos com as seguintes dimensões, interligadas entre si: descoberta de si mesmo; experiência pessoal de Deus; anúncio e adesão a Jesus Cristo; vida no espírito; participação na comunidade (dimensão comunitário-participativa); educação para celebração litúrgica e oração; interação fé e vida e serviço fraterno, de acordo com os valores do Reino; a formulação da fé ou compreensão da doutrina;o diálogo ecumênico e inter-religioso; atitude ecológica.
          A catequese é, em primeiro lugar, uma ação eclesial: a Igreja transmite a fé que ela mesma vive e o catequista é um porta-voz da comunidade e não de uma doutrina pessoal. Por ser educação orgânica e sistemática da fé, a catequese se concentra naquilo que é comum para o cristão, educa para a vida de comunidade, celebra e testemunha o compromisso com Jesus. Ela exerce, portanto, ao mesmo tempo, as tarefas de iniciação, educação e instrução. É um processo de educação gradual e progressivo, respeitando os ritmos de crescimento de cada um.
          A finalidade da catequese é aprofundar o primeiro anúncio do Evangelho: levar o catequizando a conhecer, acolher, celebrar e vivenciar o mistério de Deus, manifestado em Jesus Cristo, que nos revela o Pai e nos envia o Espírito Santo.
          A catequese não prepara simplesmente para este ou aquele sacramento. O sacramento é uma conseqüência de uma adesão à proposta do Reino, vivida na Igreja. O processo de crescimento da fé é permanente; os sacramentos alimentam este processo e tem conseqüências na vida. Diante da importância de se assumir uma catequese de feição catecumenal, é necessário rever todo o processo de catequese em nossa Igreja, para que se pautem pelo modelo do catecumenato.
          A comunidade é a fonte, o lugar e a meta da catequese. O que o catequizando experimenta na comunidade eclesial pode confirmar ou desmentir o que é dito na catequese. Onde há uma verdadeira comunidade cristã, ela se torna uma fonte viva da catequese, pois a fé não é uma teoria, mas uma realidade vivida pelos membros da comunidade. Neste sentido ela é o verdadeiro audiovisual da catequese. Por outro lado, ao educar para viver a fé em comunidade, esta se torna, também, uma das metas da catequese. O verdadeiro ideal da catequese é desenvolver o processo da educação da fé, através da interação de três elementos: o catequizando, a caminhada da comunidade e a mensagem evangélica. Quando não há comunidade, os catequistas, obviamente, ajudam a construí-la.
          Em virtude de sua própria dinâmica interna, a fé precisa ser conhecida, celebrada, vivida e cultivada na oração. E como ela deve ser vivida em comunidade e anunciada na missão, precisa ser compartilhada, testemunhada e anunciada. A catequese tem, portanto, as seguintes tarefas: conhecimento da fé, iniciação litúrgica, formação moral (educar para a consciência, atitudes, espírito e projeto de vida segundo Jesus), vida de Oração, vida comunitária, testemunho, missão.

**Diácono Roberto Bocalete

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