RESUMO DO DIRETÓRIO NACIONAL DE CATEQUESE (DNC) - PARTE V
PARTE 2: ORIENTAÇÕES PARA A CATEQUESE NA IGREJA PARTICULAR
Capítulo 5 - Catequese como Educação da Fé
Este
capítulo, dentro das orientações práticas, ajuda na reflexão acerca do método
que se deve usar na ação catequética. A Sagrada Escritura apresenta Deus como
educador da nossa fé. Ela revela diversos modos de interação entre Deus e seu
povo. Deus, como educador da fé, se comunica através dos acontecimentos da
vida, de forma adequada à situação pessoal e cultural de cada um, levando-o a
fazer a experiência de seu mistério. Sua pedagogia parte da realidade das
pessoas, acolhendo-as e respeitando-as na originalidade de sua vocação ou
interpelando-as à conversão.
A
pedagogia catequética tem como modelo, sobretudo o proceder de Jesus Cristo,
que, a partir da convivência com as pessoas, deu continuidade ao processo
pedagógico do Pai e a catequese inspira-se nestes traços da pedagogia de Jesus:
o acolhimento às pessoas, preferencialmente aos pobres, pequenos, excluídos e
pecadores; o anúncio do Reino de Deus, como a Boa Notícia da verdade, da
liberdade, do amor, da justiça, que dá sentido à vida; o convite amoroso para
viver a fé, a esperança e a caridade por meio da conversão no seu seguimento; o envio aos discípulos para semearem a Palavra
em vista da transformação libertadora da sociedade; o convite para assumirem o
crescimento contínuo da fé, através do mandamento novo do amor; a conversa
simples, acessível, utilizando parábolas e gestos, adaptando-os aos
interlocutores; a firmeza nas dificuldades, buscando a força na oração.
O
Espírito Santo é o princípio inspirador de toda atividade catequética e
estimula o seguimento da pedagogia de Jesus. A catequese esclarece a
experiência e a vivência no Espírito que o catequizando faz na liturgia, no ano
litúrgico e na oração quotidiana, como o caminho de crescimento na fé.
Há
também uma experiência existencial, pessoal e comunitária de Deus, que é da
vida, do coração, da contemplação, da relação consigo, com os outros, com a
natureza e com Deus. Uma experiência que tem a marca do amor, amor que
privilegia, a exemplo de Jesus, os mais necessitados. É este o caminho da
catequese, iluminado pela ação do Espírito Santo: anuncia a verdade revelada,
cria meios para a comunhão filial com Deus, a construção da comunidade de
irmãos, o estabelecimento da justiça, da solidariedade, da fraternidade.
A
catequese olha também para a prática pedagógica da Igreja, que, como mãe e
educadora da fé, procura imitar a pedagogia divina. A dedicação de tantos
missionários, por si só, é uma pregação dos valores em que a Igreja crê, uma
catequese movida pela força do exemplo. A vida de cada comunidade eclesial
precisa ser coerente com o Evangelho, mobilizadora pela própria maneira de ser,
de agir. Sem isso, a melhor catequese estaria exposta a uma crise se o
catequizando não encontrasse na face concreta da Igreja um sinal de que é
possível viver com autenticidade o seguimento de Jesus.
A pedagogia catequética tem uma
originalidade específica, pois seu objetivo é ajudar as pessoas no caminho rumo
à maturidade na fé, no amor e na esperança. Os objetivos inspirados na
pedagogia da fé são alcançados pela catequese quando impulsiona a pessoa a
aderir livre e totalmente a Deus; introduz no conhecimento vivo da Palavra de
Deus contida na Bíblia; e ajuda no discernimento vocacional das pessoas para
que assumam na Igreja e na sociedade. A dimensão espiritual desta pedagogia da
fé exige ainda clima de acolhimento e docilidade para o dom do Espírito, diante
do qual se impõe uma atitude de humildade e obediência; ambiente espiritual de
oração e recolhimento; palavra dita com autoridade e fortaleza. Diante dessa
grave missão, o catequista precisa de sólida formação, humildade, senso de
responsabilidade, espiritualidade e inserção na comunidade.
Em
todas as épocas, a Igreja preocupou-se em buscar os meios mais apropriados para
o cumprimento de sua missão evangelizadora. Ela não possui um método único e
próprio para a transmissão da fé, mas assume os diversos métodos contemporâneos
na sua variedade e riqueza, garantindo a fidelidade do conteúdo. Utiliza-se das
ciências pedagógicas e da comunicação, levando em conta a especificidade da
educação da fé, assim, o catequista necessita de algum conhecimento de ciências
humanas que possam oferecer boas indicações para o seu trabalho educativo. Um
catequista que gosta de aprender, também fora do âmbito da Igreja, será mais
criativo e terá mais recursos para dar conta da sua missão.
O
princípio metodológico básico é da interação fé e vida, sugerido pela Catequese
Renovada, que indica que na catequese realiza-se uma inter-ação entre a experiência de vida e a formulação da
fé; de um lado, a experiência da vida levanta perguntas; de outro, a formulação
da fé é busca e explicitação das respostas a essas perguntas. De um lado, a fé
propõe a mensagem de Deus e convida a uma comunhão com ele; de outro, a
experiência humana é questionada e estimulada a abrir-se para esse horizonte
mais amplo. Essa confrontação entre a formulação da fé e as experiências de
vida possibilita uma formação cristã mais consciente, coerente e generosa.
Dentro
desse princípio vários métodos podem servir: partir da realidade para chegar à
resposta da fé (método indutivo); partir da fé e aplicá-la a realidade (método
dedutivo); método ver, iluminar, agir, celebrar e rever (trata-se de um
processo dinâmico na educação da fé)
No
método, são importantes a linguagem adequada e os meios didáticos. É necessário
saber adaptar-se aos interlocutores, usando uma linguagem compreensível,
levando em conta a idade, cultura e circunstâncias. A catequese faz uso da
linguagem bíblica, histórico-tradicional (Credo, liturgia), doutrinal,
artística e outras. É preciso, porém, estimular novas expressões do Evangelho
com linguagens renovadas e comunicativas como a linguagem sensorial e midiática
(rádio, TV, internet) e outras. O emprego dos meios didáticos e o uso de instrumentos
de trabalho são úteis e mesmo necessários para a educação da fé.
É
importante trabalhar em grupo para favorecer o desenvolvimento dos valores
individuais e coletivos dentro de um determinado campo social e catequético. A
técnica de oficinas, aplicada à catequese, ajuda a realizar uma reflexão
participativa e a promover o encontro da teoria com a prática na evangelização.
É uma técnica que desenvolve um tema mediante a construção coletiva,
confrontando-o com a Palavra de Deus e com a vivência comunitária.
Não há
comunicação religiosa sem experiência humana. O desejo de Deus e do bem faz
parte da pessoa humana. Perceber como isso se manifesta em cada pessoa ajuda o
catequista a tornar relevante a comunicação da esperança e da fé cristãs. Nessa
experiência humana podemos incluir as inquietações e problemas humanos sérios
que são retratados em boas obras de cinema, literatura, música, teatro.
A
catequese faz parte da “memória da Igreja”, entendida sobretudo como
“memorial”: manter viva entre nós a presença do Senhor. É por isso que a
“memorização” é importante para reter o que foi assimilado, o que ficou no
coração. Saber “de cor” ou “decorar” significa saber “de coração”. Portanto, o
que se memoriza deve antes passar pelo coração, pela experiência, pelo
sentimento de quem aprende, e isto se faz, antes de tudo, pela vivência e
celebração: o repetir ritualmente gestos, sinais, palavras... vai repercutir na
vida, ajudando a guardar no coração e não apenas na cabeça.
Como
recurso didático, é necessária a memorização das palavras de Jesus, das
passagens bíblicas importantes, dos dez mandamentos, das fórmulas da profissão
de fé, dos textos litúrgicos e orações mais importantes e das noções principais
da doutrina.
A
evangelização não pode prescindir, hoje, dos meios de comunicação e da cultura
que deles está nascendo. A mídia, para muitos, torna-se o principal instrumento
de informação e de formação, guia e inspiração dos comportamentos individuais.
Diante disto, há novas exigências para a catequese. A Igreja reconhece que os
meios de comunicação social podem ser fatores de comunhão e contribuem para a
integração entre as pessoas.
Nenhuma
metodologia dispensa a pessoa do catequista no processo da catequese. A alma de
todo método está no carisma do catequista, na sua sólida espiritualidade, em
seu transparente testemunho de vida, no seu amor aos catequizandos, na sua
competência quanto ao conteúdo, ao método e à linguagem. O catequista é um
mediador que facilita a comunicação entre os catequizandos e o mistério de
Deus, das pessoas entre si e com a comunidade. A vocação do catequista é a
realização da sua vida batismal e crismal, onde, mergulhado em Jesus Cristo,
participa da missão profética: proclamar o Reino de Deus. Integrado na
comunidade eclesial e enviado por ela, conhece a sua realidade e aspirações,
sabe utilizar a pedagogia adequada, animar e coordenar com a participação de
todos. É de substancial importância a relação do catequista com os
catequizandos e suas famílias, considerando-os mais como interlocutores do que
como destinatários da catequese
A
comunidade eclesial é fonte e agente essencial no processo catequético. Ela é
catequizada e catequizadora. E como evangelizadora, começa por se evangelizar a
si mesma, em crescente abertura a outras comunidades. Nela, a vida de oração, a
escuta da Palavra de Deus, o ensino dos apóstolos, a caridade fraterna vivida
na fração do pão e na partilha dos bens, provocam a admiração e a conversão. A comunidade cristã é a referência
concreta para que a pedagogia catequética seja eficaz. Para isso a comunidade
deve ser o lugar onde se vive o Evangelho e se alimenta continuamente a adesão
à proposta de Jesus.
É
importante, por fim, que o catequista não atue sozinho, mas sempre em
comunidade, em grupo. O catequista que participa da vida de grupo, reconhece
ser, em nome da Igreja, testemunha ativa do Evangelho, participando da vida
eclesial, encontrando na Eucaristia uma grande fonte de crescimento pessoal e
de inspiração para a realização de suas aspirações.
**Diácono Roberto Bocalete
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