RESUMO DO DIRETÓRIO NACIONAL DE CATEQUESE (DNC): PARTE IV
Capítulo 4 - Catequese: Mensagem e Conteúdo
Na
catequese, quando se fala em conteúdo, pensa-se em geral na doutrina e na
moral. Esta visão afeta o encaminhamento do processo catequético. A mensagem
não se limita a propor idéias: ela exige uma resposta, pois é interpelação
entre pessoas, entre aquele que propõe e aquele que responde. A mensagem é
vida. Cristo anunciou a Boa Nova, a salvação e a felicidade e as multidões
escutavam-no, porque viam nele a esperança e a plenitude da vida.
O
Diretório aponta conteúdos fundamentais, que não devem ser esquecidos: a
mensagem de Jesus (Projeto de Amor, o caminho à verdadeira felicidade, vivida
como numa grande família de Deus), a Trindade como modelo de uma Igreja de
comunhão (Deus-Comunhão de Pai, Filho e Espírito Santo é a inspiração da
comunhão que somos chamados a viver), a Igreja a serviço do Reino (a mensagem
de Jesus chega até nós através do anúncio missionário e é aprofundada e vivida
na comunidade dos que seguem o caminho do Evangelho), Maria como discípula que
mostra o caminho que nos leva a Jesus (A presença da Virgem Maria, Mãe de Deus
e Mãe da Igreja é importante: sua fé foi dom, abertura, resposta e fidelidade;
por ser tão importante a relação dos fiéis com a mãe de Jesus, a catequese deve
cuidar para que ela seja bem fundamentada, esclarecida, liberta de atitudes
inadequadas e vista como um caminho que conduz a Jesus e por Ele ao Pai).
Como
ajuda, o Diretório aponta alguns critérios para bem apresentar a mensagem: centralidade da pessoa de Jesus Cristo, como
deus e homem, o que introduz à dimensão trinitária e antropológica da mensagem;
valorização da dignidade humana (mistério da encarnação); anúncio da Boa Nova do Reino de Deus em vista
da salvação, o que implica uma mensagem de conversão e libertação; mensagem
situada dentro da vida e história da Igreja;
inculturação, uma vez que a mensagem evangélica é destinada a todos os
povos; isto supõe que a mensagem seja apresentada, gradualmente, em sua
integridade e pureza; a mensagem cristã organizada, destacando o mais
importante.
Duas
fontes regam a catequese: a Palavra de Deus (Bíblia) e a Liturgia.
A fonte
na qual a catequese busca a sua mensagem é a Palavra de Deus: esta Palavra de
Deus é compreendida e vivida pelo senso de fé do Povo de Deus, é celebrada na
liturgia, brilha na vida, no testemunho e na caridade dos cristãos,
particularmente dos santos, é aprofundada na pesquisa teológica e manifesta-se
nos genuínos valores religiosos e morais que, como sementes, estão disseminados
nas culturas.
A
Bíblia deve ajudar a formar comunidades de fé (a Palavra é fonte do
conhecimento da vontade de Deus), a alimentar a identidade cristã e a
enriquecer a prática de oração. É importante que sua utilização na catequese
esteja a serviço da educação de uma fé engajada; seja lida de modo adequado,
instruindo com delicadeza as pessoas que ainda estão apegadas a uma leitura
inadequada. O texto bíblico requer sempre uma atenção especial. Às vezes é tal
a ânsia de se servir dele para expor as próprias idéias, que não se presta
atenção ao que ele tem a dizer. Requer empenho para que pequenas dificuldades
com o texto não distraiam da mensagem fundamental que a Bíblia traz: o mistério
da vida, da história, do Deus sempre imprevisível.
A
Palavra de Deus é exigente, mas traz também estímulo, confiança, alimento para
a fé. Ela é fonte de alegria mesmo em momentos difíceis. Os métodos exegéticos
possibilitam uma melhor compreensão do texto bíblico. O importante é chegar à
meta: ouvir o que Deus quer nos dizer. Ler um texto bíblico é aprofundar o
sentido da vida. A própria Bíblia é uma mediação para a sublime revelação
divina.
A Liturgia também é fonte da
catequese, momento em que se manifesta de modo sublime a Palavra de Deus. A
liturgia é memorial do mistério pascal; é celebração, anúncio, vivência do
mistério, síntese de fé, interiorização da experiência religiosa. A catequese
educa a fé que é celebrada na liturgia: uma alimenta a outra.
Na
liturgia Deus fala a seu povo, Cristo ainda anuncia o Evangelho e o povo
responde a Deus com cânticos e orações: ela, ao realizar sua missão, torna-se
uma educação permanente da fé. A proclamação da Palavra, a homilia, as orações,
os ritos sacramentais, a vivência do ano litúrgico e as festas são verdadeiros
momentos de educação e crescimento na fé. A liturgia é fonte inesgotável da
catequese, não só pela riqueza de seu conteúdo, mas pela sua natureza de
síntese e cume da vida cristã: enquanto celebração ela é ao mesmo tempo anúncio
e vivência dos mistérios salvíficos; contém, em forma expressiva e unitária, a
globalidade da mensagem cristã. Por isso ela é considerada lugar privilegiado
de educação da fé. As festas e as celebrações são momentos privilegiados para a
afirmação e interiorização da experiência da fé. O RICA é o melhor exemplo de
unidade entre liturgia e catequese. Celebração e festa contribuem para uma
catequese prazerosa, motivadora e eficaz que nos acompanha ao longo da vida.
Por isso, os autênticos itinerários catequéticos são aqueles que incluem em seu
processo o momento celebrativo como componente essencial da experiência
religiosa cristã.
A
catequese como educação da fé e a liturgia como celebração da fé são duas
funções da única missão evangelizadora e pastoral da Igreja. A liturgia, com
seu conjunto de sinais, palavras, ritos, em seus diversos significados, requer
da catequese uma iniciação gradativa e perseverante para ser compreendida e
vivenciada. Ambas fazem parte da natureza e da razão de ser da Igreja. Os
sinais litúrgicos são ao mesmo tempo anúncio, lembrança, promessa, pedido e
realização, mas só por meio da palavra evangelizadora e catequética esses seus
significados tornam-se claros. É tarefa fundamental da catequese iniciar
eficazmente os catecúmenos e catequizandos nos sinais litúrgicos e através
deles introduzi-los no mistério pascal.
O
processo da formação litúrgica na catequese possui os seguintes elementos:
centralidade do Mistério Pascal de Cristo na vida dos cristãos e em todas as
celebrações; a liturgia como um momento celebrativo da história da salvação; a
liturgia como exercício do sacerdócio de Jesus Cristo e ação nossa em conjunto
com Ele presente na celebração, pela força do Espírito Santo; a dimensão celebrativa da liturgia; a
compreensão dos ritos e símbolos como reveladores da ação pascal de Cristo e
experiências de encontro com o Ressuscitado; a dimensão comunitária da liturgia com sua variedade de ministérios, exercidos
com qualidade; o exercício de preparar boas celebrações, realizá-las
adequadamente e proclamar claramente a palavra;a participação dos cristãos na
Eucaristia como o coração do domingo; a espiritualidade pascal, ao longo do ano
litúrgico, como caminho de inserção gradativa no Mistério Pascal de Cristo;a
espiritualidade penitencial ou de conversão mediante a celebração do Sacramento
da Reconciliação; o sentido dos sacramentos, especialmente a Eucaristia, como
sinais da comunhão com Deus, em Cristo, que marcam, com sua graça, momentos
fortes da vida e atualizam a salvação no nosso dia a dia; aprofundamento do sentido da presença de
Maria no mistério de Cristo e da Igreja;redimensionamento bíblico-litúrgico da
religiosidade popular (bênçãos, romarias, caminhadas, novenas, festas dos
padroeiros, ofícios divinos).
Outro ponto de apoio para a
catequese são os catecismos, que expõem o conteúdo da fé de maneira sistemática
e doutrinal, comunicativo-educativa, procurando dar razões de nossa fé. O
Catecismo deseja ser uma exposição da fé da Igreja e da doutrina católica, atestadas
e iluminadas pelas Sagradas Escrituras, pela Tradição Apostólica e pelo
Magistério da Igreja. Ele não se sobrepõe à Bíblia, mas nos ajuda a lê-la no
chão de nossa história e à luz de nossa fé. Desse modo, Bíblia e Catecismo
estarão a serviço da experiência de fé, testemunhada na comunidade.
O
Catecismo é um projeto de grande alcance, instrumento a serviço da comunhão
eclesial e deseja fomentar o vínculo da unidade, facilitando nos discípulos de
Jesus a profissão da única fé recebida dos Apóstolos. Seu eixo central é o
cristocentrismo trinitário e a sublimidade da vocação cristã da pessoa humana:
orienta-se em direção a Deus e à pessoa humana, pois na revelação do mistério
do Pai e de seu amor, Cristo manifesta plenamente o homem ao próprio homem e lhe
descobre a sua altíssima vocação.
Sagrada
Escritura, Liturgia e Catequese, e com esta os catecismos, educam o cristão a
abrir-se a tudo o que Deus revela e propõe. Mais que verdades da fé, trata-se
da Verdade que é antes de tudo uma pessoa, Jesus Cristo. Abrimo-nos a Ele o
mais que pudermos. Portanto, além da integridade doutrinal, há também uma
integridade da vida, o que inclui valores éticos e morais, em nível pessoal e
social.
Na
mensagem cristã, há uma hierarquia de verdades e de normas. Algumas são mais
fundamentais que outras. Seguindo as grandes linhas do Catecismo da Igreja
Católica e seu Compêndio, podemos resumir assim o conjunto das verdades que
professamos em nossa fé: crer em Deus, uno e trino, Pai, Filho e Espírito
Santo, em seu Mistério de Salvação (Profissão de Fé); celebrar o Mistério
Pascal nos sacramentos, que têm o Batismo e a Eucaristia como centro (Liturgia
e sacramentos); viver o grande mandamento do amor a Deus e ao próximo, buscando
a santidade (Mandamentos e bem-aventuranças);
rezar para que o Reino de Deus se realize (Pai Nosso). Estes conteúdos
se referem à fé crida, celebrada, vivida e rezada e constituem um chamado à
educação cristã integral. A estas quatro colunas da exposição da fé que provêm
da tradição dos catecismos, deve-se acrescentar a dimensão narrativa da
história da salvação, com suas três etapas, que provém da tradição patrística
(o Antigo Testamento, a vida de Jesus Cristo e a História da Igreja). O
Diretório Geral para a Catequese fala de sete pedras fundamentais, base tanto
do processo da catequese de iniciação como do itinerário contínuo do
amadurecimento cristão.
Outras
expressões da fé se baseiam nestes pontos fundamentais como conseqüências dos
mesmos. A devoção à Mãe de Jesus e aos santos será vista no contexto do
seguimento de Jesus Cristo e confiança no Pai. Aparições, milagres, anjos,
devoções, lugares sagrados e outros temas que podemos abordar na catequese e
que são apreciados pela religiosidade popular, têm sentido na medida em que
estiverem ligados aos pontos fundamentais e forem por eles iluminados . Os
livros de espiritualidade se orientarão pelas Sagradas Escrituras, liturgia e
pelo compromisso com o Reino e não tanto por aspectos subjetivos de
espiritualidades particulares.
Em
síntese: Bíblia, Liturgia, Catecismo e outras formulações da fé, vivenciadas em
interação na comunidade, orientam nossa vida, de modo que seja comprometida com
a causa do Reino. São as Igrejas locais, em fraterna comunhão entre si e com a
Sé Apostólica, que melhor conseguirão articular este projeto catequético.
** Diácono Roberto Bocalete
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