RESUMO DO DIRETÓRIO NACIONAL DE CATEQUESE (DNC) - PARTE VI
Capítulo 6: Destinatários como interlocutores no processo
catequético
Jesus,
em seu ministério, proclama ter sido enviado para anunciar aos pobres a Boa
Nova dando a entender e confirmando-o depois com sua vida, que o Reino é
destinado a todos os povos, a partir dos menos favorecidos. A catequese é
direito do batizado e dever sagrado imprescindível da Igreja, sendo que todos
os batizados possuem o direito de receber da Igreja um ensino e uma formação
que lhes permitam chegar a ter uma verdadeira vida cristã; na perspectiva dos
direitos humanos, a pessoa humana tem o direito de procurar a verdade religiosa
e de a esta aderir livremente. Assim, o Evangelho se destina em primeiro lugar
à pessoa humana concreta e histórica e será transmitido em sua riqueza e sempre
adequado aos diversos ouvintes. A criatividade e arte dos catequistas estão a
serviço deste critério fundamental. A pedagogia da fé precisa então atender às
diversas necessidades e adaptar a mensagem e a linguagem cristãs às diferentes
situações dos interlocutores.
A catequese conforme as idades é
uma exigência essencial para a comunidade cristã. Leva em conta os aspectos,
tanto antropológicos e psicológicos como teológicos, para cada uma das idades.
É necessário integrar as diversas etapas do caminho de fé. Esta integração
possibilita uma catequese que ajude cada um a crescer na fé, à medida que vai
crescendo em outras dimensões da sua maturidade humana e tendo novos
questionamentos existenciais.
Para
cada faixa de idade, há um tratamento diferente, específico. Os adultos são, no sentido mais amplo,
os interlocutores primeiros da mensagem cristã. Deles depende a formação de
novas gerações cristãs, através do testemunho da família, no mundo social e
político, no exercício da profissão e na prática de vida e da comunidade. “É na
direção dos adultos que a evangelização e a catequese devem orientar seus
melhores agentes. São os adultos os que assumem mais diretamente, na sociedade
e na Igreja, as instâncias decisórias e mais favorecem ou dificultam a vida
comunitária, a justiça e a fraternidade.
A
catequese com adultos leva em conta as experiências vividas e os desafios que
eles encontram, como também suas interrogações e necessidades em relação à fé.
Ao trabalhar com adultos devemos considerar aspectos importantes: adultos podem
assumir responsabilidades, são mais influentes na sociedade, precisam ser
educados com um diálogo maduro.
A
catequese com adultos tem como missão reforçar a opção pessoal por Jesus
Cristo; promover uma sólida formação dos leigos; estimular e educar para a
prática da caridade, na solidariedade e na transformação da realidade; ajudar a
viver a vida da graça, alimentada pelos sacramentos; formar cada pessoa para
cumprir os deveres do próprio estado de vida, buscando a santidade; dar
resposta às dúvidas religiosas e morais de hoje; educar para viver em
comunidade; educar para o diálogo ecumênico e inter-religioso; ajudar na
animação missionária além fronteira.
É
necessário levar em conta as situações e circunstâncias que exigem particular
forma de catequese: a catequese de iniciação cristã e o catecumenato de
adultos; a catequese ao povo de Deus nas missões populares, nas romarias; nos
principais acontecimentos da vida (Batismo, primeira Comunhão Eucarística,
Confirmação, Matrimônio e Exéquias); catequese para pessoas que vivem em
situações canonicamente irregulares ou para pessoas que vêm de outras igrejas e
grupos religiosos.
Na
catequese com pessoas idosas é preciso destacar o valor de cada um como um dom
de Deus à Igreja e à sociedade, pela sua grande experiência de vida. Muitas
vezes os idosos estão até mais disponíveis para servir à comunidade, dentro e
fora da Igreja. Descobrir talentos e possibilidades nessa situação também é
função da catequese, como também agir em ação conjunta com outras pastorais e
movimentos em prol da dignidade das pessoas idosas. São pessoas que merecem uma
catequese adequada. De qualquer maneira, a condição de idoso exige uma
catequese de esperança, que os leve a viver bem esta fase da própria vida e a
dar o testemunho às novas gerações e assim se prepararem para o encontro
definitivo com Deus.
A catequese com jovens,
adolescentes e crianças inclui, na medida do possível, o trabalho com os pais e
o empenho de contribuir com o crescimento na fé de toda a família. A juventude
é a fase das grandes decisões. Os jovens passam a assumir seu próprio destino e
suas responsabilidades pessoais e sociais. Buscam o verdadeiro significado da
vida, a solidariedade, o compromisso social e a experiência de fé, pois é uma
sua característica ser altruísta e idealista. Pelo marcante significado e pelos
riscos a que estão expostos nessa fase da vida, os jovens são interlocutores
que merecem uma atenção especial da catequese.
A
catequese para jovens leva em consideração as diferentes situações religiosas,
emocionais e morais, entre as quais jovens não batizados, batizados que não
realizaram um processo catequético, nem completaram a iniciação cristã, jovens
que atravessam crise de fé, ao lado de outros, que buscam aprofundar a sua
opção de fé e esperam ser ajudados. A catequese aos jovens será mais proveitosa
se procurar colocar em prática uma educação da fé orientada ao conjunto de
problemas que afetam suas vidas. Para isso, a catequese integra a análise da
situação atual, ligando-se às ciências humanas, à educação, à colaboração dos
leigos e dos mesmos jovens.
A
catequese com jovens, levando em conta o seu protagonismo, realiza-se através
de: participação em retiros, acampamentos e outros momentos de convívios;
participação em encontros para integrar os jovens com as famílias; pertença e
participação nos grupos de jovens (pastoral da juventude) e pastorais afins;
acompanhamento personalizado ao jovem, acentuando a direção espiritual ao
projeto de vida, incluindo a dimensão vocacional; auxílio à formação da
personalidade do jovem, levando em conta as diferentes situações sociais,
econômicas, religiosas e seu processo evolutivo de amadurecimento; estímulo e
crescimento para a vivência comunitária e eucarística; preparação para os
sacramentos da iniciação cristã, principalmente para a Confirmação, com duração
prolongada e como tempo forte para o amadurecimento da fé, engajamento na
comunidade, compromisso social e testemunho cristão, dando destaque à esmerada
celebração do referido sacramento; educação para o amor, a afetividade e a
sexualidade; educação para a cidadania e para a consciência participativa nas
lutas sociais; preparação para o Sacramento do Matrimônio; educação para a
oração pessoal e comunitária; orientação para o estudo e leitura da Sagrada
Escritura;
A
catequese com adolescentes deve considerar a característica principal dessa
idade é o desejo de liberdade, de pensamento e ação, de autonomia, da
auto-afirmação, de aprendizagem do inter-relacionamento na amizade e no amor.
Esta fase tão turbulenta, nem sempre recebe os devidos cuidados pastorais,
ocasionando um vácuo entre a Primeira Comunhão Eucarística e a Confirmação.
Urge para os adolescentes um projeto de crescimento na fé, do qual eles mesmos
sejam protagonistas na descoberta da própria personalidade, no conhecimento e
encantamento por Jesus Cristo, no compromisso com a comunidade e na coerência
de vida cristã na sociedade. As atividades próprias para a catequese nesta
idade são: acolher o adolescente na comunidade e favorecer o compromisso real e
fiel na mesma; oferecer oportunidades para que na busca do seu universo, o
adolescente se sinta estimulado para a vivência cristã; criar grupos de
catequese de perseverança, coroinhas, adolescência missionária, animação,
canto, teatro, missão de férias; realizar passeios, entrevistas, romarias,
excursões; refletir temas próprios da idade, buscando auxílio das ciências,
sobretudo a psicologia; organizar
equipes de serviços comunitários, tanto eclesiais quanto sociais; alimentar a
consciência de que o crescimento na fé requer uma formação continuada rumo à
maturidade em Cristo.
A
Catequese com a primeira e segunda infância não poderá ser fragmentada ou
desencarnada da realidade, mas deve favorecer a experiência com Cristo na
realidade em que a criança vive. As
crianças de hoje são mais ativas, fazem mais perguntas e não se deixam
convencer simplesmente com o argumento da autoridade de quem fala. Com maior
acesso aos meios de comunicação, podem até ter mais informações sobre a
realidade do que o catequista, embora não disponham da necessária maturidade
para analisar tudo que recebem. O catequista precisa conhecer e ouvir cada
criança para descobrir o melhor modo de cumprir sua missão. O processo
catequético terá em consideração o desenvolvimento dos sentidos, a
contemplação, a confiança, a gratuidade, o dom de si, a comunicação com Deus, a
alegria da participação.
A
infância constitui o tempo da primeira socialização, da educação humana e
cristã na família, na escola e na comunidade. É preciso considerá-la como uma
etapa decisiva para o futuro da fé, pois nela, através do Batismo e da educação
familiar, a criança inicia sua iniciação cristã. É nesta idade que se atinge o
maior número de catequizandos e há o maior envolvimento de catequistas por
causa da Primeira Comunhão Eucarística, que não deve ter caráter conclusivo do
processo catequético, mas a continuidade com uma catequese de perseverança que
favoreça o engajamento na comunidade eclesial.
A
educação para a oração (pessoal, comunitária, litúrgica), a iniciação ao
correto uso da Sagrada Escritura, o acolhimento dentro da comunidade e o
despertar da consciência missionária são aspectos centrais da formação cristã
dos pequenos. É preciso cuidar da apresentação dos conteúdos, de forma adequada
à sensibilidade infantil. Embora a criança necessite de adaptação de linguagem
e simplificação de conceitos, é importante não semear hoje o problema de
amanhã.
Além
das idades, é fundamental estar atento à diversidade, ao diferente e a situação
especial. Nossa realidade exige que a catequese leve em conta os valores
oriundos da cultura e religiosidade indígena e afro-brasileira, sem ignorar
ambigüidades próprias de cada cultura. É importante considerar a globalidade e
a unidade da cultura e da religiosidade dos povos e etnias, que se expressam na
simbologia, mística, ritos, dança, ritmo, cores, linguagem, expressão corporal
e teologia subjacente às suas práticas religiosas. Somente assim se pode fazer
uma verdadeira inculturação do Evangelho e compreender melhor as tradições
religiosas de cada grupo, como verdadeira busca do sagrado.
É
grande, em nosso país, a quantidade de pessoas com deficiências. Elas têm o
mesmo direito à catequese, à vida comunitária e sacramental. É preciso oferecer
uma catequese apropriada em seus recursos e conteúdo sem reducionismo e
simplismo que apontem para um descrédito das capacidades da pessoa com
deficiência. Também não se pode deixar de mencionar o número expressivo de
irmãos que possuem necessidades educacionais especiais, sejam elas provisórias
ou permanentes, causadas por algum distúrbio ou outras especificidades. A estes
a catequese dispense a atenção necessária.
Esta
catequese supõe uma preparação específica dos catequistas, pois cada
necessidade diferente exige uma pedagogia adequada. É bom contar com o apoio de
profissionais, como médicos, fonoaudiólogos, professores, fisioterapeutas,
psicólogos e intérpretes em língua de sinais, sem que se perca o objetivo da
catequese. Nesse processo, a família desempenha um papel importante para o qual
deve receber a devida ajuda.
A
Palavra de Deus nos fala constantemente de órfãos, viúvas e estrangeiros. Através dessas figuras, ela nos lembra as
pessoas enfraquecidas e indefesas. Por elas Deus tem um cuidado especial. A
catequese irá ao encontro dos marginalizados (pessoas prostituídas, presos,
soropositivos, tóxico-dependentes, sem terra e outros) e dos mais pobres,
consciente de que o bem que se faz aos irmãos mais pequeninos se faz a Jesus.A
catequese, à luz da Palavra de Deus, compromete-se de maneira preferencial pelos
marginalizados e sofredores.
A
catequese leve em conta também as pessoas que vivem em situação familiar
canonicamente irregular. Partindo de sua situação, podem-se abrir portas para o
engajamento, para a experiência de fé, para o serviço na comunidade, ajudando-os
a aceitar e viver o amor em sua situação real. Na catequese com essas pessoas,
muito pode auxiliar a pastoral familiar, no setor da segunda união.
Há
pessoas que, por sua profissão específica ou por sua situação cultural,
necessitam de um itinerário especial para a catequese. É o caso de
trabalhadores de turnos, profissionais liberais, de artistas, dos homens e
mulheres da ciência, dos grupos de poder político, militar e econômico, da
juventude universitária, dos meios de comunicação social e dos migrantes. Com
esses grupos diferenciados, a Igreja crie espaços de experiência de fé, com
propostas adequadas às inquietações e possibilidades de cada grupo.
A
catequese leve em conta o ambiente, pois este exerce influência sobre as
pessoas e estas sobre o ambiente. O ambiente rural e o urbano exigem formas
diferenciadas de catequese. A catequese no mundo rural procure refletir as
necessidades que estão unidas à pobreza e à miséria, aos medos e às
inseguranças. Também aproveitará os valores típicos desse modo de vida, rico de
experiências de confiança, de vida, do sentido da solidariedade, de fé em Deus
e fidelidade às tradições religiosas. A catequese no ambiente urbano leva em
conta uma ampla variedade de situações, que vai desde o bem estar à situação de
pobreza e marginalização.
O
pluralismo cultural e religioso, na complexidade do mundo atual, muitas vezes
confunde e desorienta membros da comunidade. É indispensável uma catequese
evangelizadora que eduque os cristãos a viverem sua vocação de batizados neste
mundo plural, mantendo a sua identidade de pessoas que acreditam e de membros
da Igreja, abertos ao dialogo com a sociedade e o mundo.
A
catequese assume a dimensão ecumênica no diálogo com os irmãos de outras
Igrejas e comunidades cristãs. Os católicos precisam ser educados para a
espiritualidade da unidade, exigência já bastante expressa nos nossos
documentos eclesiais. Com outros cristãos, seremos capazes de dar ao mundo um
testemunho mais convincente daquilo que o amor de Jesus é capaz de realizar.
Seguindo
o exemplo de Jesus Cristo, o Verbo encarnado na história, é urgente assumir a
inculturação do Evangelho nas culturas. Para isso é preciso conhecer melhor
cada cultura e entender os costumes do povo brasileiro, a fim de apresentar o
Evangelho de modo mais familiar e eficiente. Símbolos, celebrações e encontros
de catequese que levam em consideração a cultura dos destinatários tornarão a
Igreja um espaço onde as pessoas se sentirão mais à vontade, respeitadas e
valorizadas a partir do seu jeito próprio.
A
catequese, não apenas provoca uma assimilação intelectual do conteúdo da fé,
mas também toca o coração e transforma a conduta. Deste modo, a catequese gera
uma vida dinâmica e unificada da fé, encaminha para a coerência entre aquilo
que se crê e aquilo que se vive, entre a mensagem cristã e o conteúdo cultural,
estimula frutos de santidade.
A
inculturação da fé é, em certos aspectos, obra da linguagem . A catequese
respeita e valoriza a linguagem própria da mensagem e entra em comunicação com
formas e termos próprios da cultura de seus interlocutores. Os catequistas
precisam encontrar uma linguagem adaptada para cada idade, a linguagem dos
estudantes, dos intelectuais, dos analfabetos e pessoas de cultura elementar.
Da Bíblia e da liturgia aprende-se que Deus não se contenta com a comunicação
verbal, mas se comunica também e ainda mais eficazmente por ações e linguagem
corporal e simbólica, fortemente marcada pela cultura.
**Diácono Roberto Bocalete
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