quarta-feira, 21 de agosto de 2013

RESUMO DO DIRETÓRIO NACIONAL DE CATEQUESE (DNC) - PARTE VI

Capítulo 6: Destinatários como interlocutores no processo catequético

                Jesus, em seu ministério, proclama ter sido enviado para anunciar aos pobres a Boa Nova dando a entender e confirmando-o depois com sua vida, que o Reino é destinado a todos os povos, a partir dos menos favorecidos. A catequese é direito do batizado e dever sagrado imprescindível da Igreja, sendo que todos os batizados possuem o direito de receber da Igreja um ensino e uma formação que lhes permitam chegar a ter uma verdadeira vida cristã; na perspectiva dos direitos humanos, a pessoa humana tem o direito de procurar a verdade religiosa e de a esta aderir livremente. Assim, o Evangelho se destina em primeiro lugar à pessoa humana concreta e histórica e será transmitido em sua riqueza e sempre adequado aos diversos ouvintes. A criatividade e arte dos catequistas estão a serviço deste critério fundamental. A pedagogia da fé precisa então atender às diversas necessidades e adaptar a mensagem e a linguagem cristãs às diferentes situações dos interlocutores.
                A catequese conforme as idades é uma exigência essencial para a comunidade cristã. Leva em conta os aspectos, tanto antropológicos e psicológicos como teológicos, para cada uma das idades. É necessário integrar as diversas etapas do caminho de fé. Esta integração possibilita uma catequese que ajude cada um a crescer na fé, à medida que vai crescendo em outras dimensões da sua maturidade humana e tendo novos questionamentos existenciais.
                Para cada faixa de idade, há um tratamento diferente, específico.         Os adultos são, no sentido mais amplo, os interlocutores primeiros da mensagem cristã. Deles depende a formação de novas gerações cristãs, através do testemunho da família, no mundo social e político, no exercício da profissão e na prática de vida e da comunidade. “É na direção dos adultos que a evangelização e a catequese devem orientar seus melhores agentes. São os adultos os que assumem mais diretamente, na sociedade e na Igreja, as instâncias decisórias e mais favorecem ou dificultam a vida comunitária, a justiça e a fraternidade.
                A catequese com adultos leva em conta as experiências vividas e os desafios que eles encontram, como também suas interrogações e necessidades em relação à fé. Ao trabalhar com adultos devemos considerar aspectos importantes: adultos podem assumir responsabilidades, são mais influentes na sociedade, precisam ser educados com um diálogo maduro.
                A catequese com adultos tem como missão reforçar a opção pessoal por Jesus Cristo; promover uma sólida formação dos leigos; estimular e educar para a prática da caridade, na solidariedade e na transformação da realidade; ajudar a viver a vida da graça, alimentada pelos sacramentos; formar cada pessoa para cumprir os deveres do próprio estado de vida, buscando a santidade; dar resposta às dúvidas religiosas e morais de hoje; educar para viver em comunidade; educar para o diálogo ecumênico e inter-religioso; ajudar na animação missionária além fronteira.
                É necessário levar em conta as situações e circunstâncias que exigem particular forma de catequese: a catequese de iniciação cristã e o catecumenato de adultos; a catequese ao povo de Deus nas missões populares, nas romarias; nos principais acontecimentos da vida (Batismo, primeira Comunhão Eucarística, Confirmação, Matrimônio e Exéquias); catequese para pessoas que vivem em situações canonicamente irregulares ou para pessoas que vêm de outras igrejas e grupos religiosos.
                Na catequese com pessoas idosas é preciso destacar o valor de cada um como um dom de Deus à Igreja e à sociedade, pela sua grande experiência de vida. Muitas vezes os idosos estão até mais disponíveis para servir à comunidade, dentro e fora da Igreja. Descobrir talentos e possibilidades nessa situação também é função da catequese, como também agir em ação conjunta com outras pastorais e movimentos em prol da dignidade das pessoas idosas. São pessoas que merecem uma catequese adequada. De qualquer maneira, a condição de idoso exige uma catequese de esperança, que os leve a viver bem esta fase da própria vida e a dar o testemunho às novas gerações e assim se prepararem para o encontro definitivo com Deus.
                A catequese com jovens, adolescentes e crianças inclui, na medida do possível, o trabalho com os pais e o empenho de contribuir com o crescimento na fé de toda a família. A juventude é a fase das grandes decisões. Os jovens passam a assumir seu próprio destino e suas responsabilidades pessoais e sociais. Buscam o verdadeiro significado da vida, a solidariedade, o compromisso social e a experiência de fé, pois é uma sua característica ser altruísta e idealista. Pelo marcante significado e pelos riscos a que estão expostos nessa fase da vida, os jovens são interlocutores que merecem uma atenção especial da catequese.
                A catequese para jovens leva em consideração as diferentes situações religiosas, emocionais e morais, entre as quais jovens não batizados, batizados que não realizaram um processo catequético, nem completaram a iniciação cristã, jovens que atravessam crise de fé, ao lado de outros, que buscam aprofundar a sua opção de fé e esperam ser ajudados. A catequese aos jovens será mais proveitosa se procurar colocar em prática uma educação da fé orientada ao conjunto de problemas que afetam suas vidas. Para isso, a catequese integra a análise da situação atual, ligando-se às ciências humanas, à educação, à colaboração dos leigos e dos mesmos jovens.
              A catequese com jovens, levando em conta o seu protagonismo, realiza-se através de: participação em retiros, acampamentos e outros momentos de convívios; participação em encontros para integrar os jovens com as famílias; pertença e participação nos grupos de jovens (pastoral da juventude) e pastorais afins; acompanhamento personalizado ao jovem, acentuando a direção espiritual ao projeto de vida, incluindo a dimensão vocacional; auxílio à formação da personalidade do jovem, levando em conta as diferentes situações sociais, econômicas, religiosas e seu processo evolutivo de amadurecimento; estímulo e crescimento para a vivência comunitária e eucarística; preparação para os sacramentos da iniciação cristã, principalmente para a Confirmação, com duração prolongada e como tempo forte para o amadurecimento da fé, engajamento na comunidade, compromisso social e testemunho cristão, dando destaque à esmerada celebração do referido sacramento; educação para o amor, a afetividade e a sexualidade; educação para a cidadania e para a consciência participativa nas lutas sociais; preparação para o Sacramento do Matrimônio; educação para a oração pessoal e comunitária; orientação para o estudo e leitura da Sagrada Escritura;
                A catequese com adolescentes deve considerar a característica principal dessa idade é o desejo de liberdade, de pensamento e ação, de autonomia, da auto-afirmação, de aprendizagem do inter-relacionamento na amizade e no amor. Esta fase tão turbulenta, nem sempre recebe os devidos cuidados pastorais, ocasionando um vácuo entre a Primeira Comunhão Eucarística e a Confirmação. Urge para os adolescentes um projeto de crescimento na fé, do qual eles mesmos sejam protagonistas na descoberta da própria personalidade, no conhecimento e encantamento por Jesus Cristo, no compromisso com a comunidade e na coerência de vida cristã na sociedade. As atividades próprias para a catequese nesta idade são: acolher o adolescente na comunidade e favorecer o compromisso real e fiel na mesma; oferecer oportunidades para que na busca do seu universo, o adolescente se sinta estimulado para a vivência cristã; criar grupos de catequese de perseverança, coroinhas, adolescência missionária, animação, canto, teatro, missão de férias; realizar passeios, entrevistas, romarias, excursões; refletir temas próprios da idade, buscando auxílio das ciências, sobretudo a psicologia;   organizar equipes de serviços comunitários, tanto eclesiais quanto sociais; alimentar a consciência de que o crescimento na fé requer uma formação continuada rumo à maturidade em Cristo.
                A Catequese com a primeira e segunda infância não poderá ser fragmentada ou desencarnada da realidade, mas deve favorecer a experiência com Cristo na realidade em que a criança vive.    As crianças de hoje são mais ativas, fazem mais perguntas e não se deixam convencer simplesmente com o argumento da autoridade de quem fala. Com maior acesso aos meios de comunicação, podem até ter mais informações sobre a realidade do que o catequista, embora não disponham da necessária maturidade para analisar tudo que recebem. O catequista precisa conhecer e ouvir cada criança para descobrir o melhor modo de cumprir sua missão. O processo catequético terá em consideração o desenvolvimento dos sentidos, a contemplação, a confiança, a gratuidade, o dom de si, a comunicação com Deus, a alegria da participação.
                A infância constitui o tempo da primeira socialização, da educação humana e cristã na família, na escola e na comunidade. É preciso considerá-la como uma etapa decisiva para o futuro da fé, pois nela, através do Batismo e da educação familiar, a criança inicia sua iniciação cristã. É nesta idade que se atinge o maior número de catequizandos e há o maior envolvimento de catequistas por causa da Primeira Comunhão Eucarística, que não deve ter caráter conclusivo do processo catequético, mas a continuidade com uma catequese de perseverança que favoreça o engajamento na comunidade eclesial.
                A educação para a oração (pessoal, comunitária, litúrgica), a iniciação ao correto uso da Sagrada Escritura, o acolhimento dentro da comunidade e o despertar da consciência missionária são aspectos centrais da formação cristã dos pequenos. É preciso cuidar da apresentação dos conteúdos, de forma adequada à sensibilidade infantil. Embora a criança necessite de adaptação de linguagem e simplificação de conceitos, é importante não semear hoje o problema de amanhã.
                Além das idades, é fundamental estar atento à diversidade, ao diferente e a situação especial. Nossa realidade exige que a catequese leve em conta os valores oriundos da cultura e religiosidade indígena e afro-brasileira, sem ignorar ambigüidades próprias de cada cultura. É importante considerar a globalidade e a unidade da cultura e da religiosidade dos povos e etnias, que se expressam na simbologia, mística, ritos, dança, ritmo, cores, linguagem, expressão corporal e teologia subjacente às suas práticas religiosas. Somente assim se pode fazer uma verdadeira inculturação do Evangelho e compreender melhor as tradições religiosas de cada grupo, como verdadeira busca do sagrado.
                É grande, em nosso país, a quantidade de pessoas com deficiências. Elas têm o mesmo direito à catequese, à vida comunitária e sacramental. É preciso oferecer uma catequese apropriada em seus recursos e conteúdo sem reducionismo e simplismo que apontem para um descrédito das capacidades da pessoa com deficiência. Também não se pode deixar de mencionar o número expressivo de irmãos que possuem necessidades educacionais especiais, sejam elas provisórias ou permanentes, causadas por algum distúrbio ou outras especificidades. A estes a catequese dispense a atenção necessária.
                Esta catequese supõe uma preparação específica dos catequistas, pois cada necessidade diferente exige uma pedagogia adequada. É bom contar com o apoio de profissionais, como médicos, fonoaudiólogos, professores, fisioterapeutas, psicólogos e intérpretes em língua de sinais, sem que se perca o objetivo da catequese. Nesse processo, a família desempenha um papel importante para o qual deve receber a devida ajuda.
                A Palavra de Deus nos fala constantemente de órfãos, viúvas e estrangeiros.  Através dessas figuras, ela nos lembra as pessoas enfraquecidas e indefesas. Por elas Deus tem um cuidado especial. A catequese irá ao encontro dos marginalizados (pessoas prostituídas, presos, soropositivos, tóxico-dependentes, sem terra e outros) e dos mais pobres, consciente de que o bem que se faz aos irmãos mais pequeninos se faz a Jesus.A catequese, à luz da Palavra de Deus, compromete-se de maneira preferencial pelos marginalizados e sofredores.
                A catequese leve em conta também as pessoas que vivem em situação familiar canonicamente irregular. Partindo de sua situação, podem-se abrir portas para o engajamento, para a experiência de fé, para o serviço na comunidade, ajudando-os a aceitar e viver o amor em sua situação real. Na catequese com essas pessoas, muito pode auxiliar a pastoral familiar, no setor da segunda união.
                Há pessoas que, por sua profissão específica ou por sua situação cultural, necessitam de um itinerário especial para a catequese. É o caso de trabalhadores de turnos, profissionais liberais, de artistas, dos homens e mulheres da ciência, dos grupos de poder político, militar e econômico, da juventude universitária, dos meios de comunicação social e dos migrantes. Com esses grupos diferenciados, a Igreja crie espaços de experiência de fé, com propostas adequadas às inquietações e possibilidades de cada grupo.
                A catequese leve em conta o ambiente, pois este exerce influência sobre as pessoas e estas sobre o ambiente. O ambiente rural e o urbano exigem formas diferenciadas de catequese. A catequese no mundo rural procure refletir as necessidades que estão unidas à pobreza e à miséria, aos medos e às inseguranças. Também aproveitará os valores típicos desse modo de vida, rico de experiências de confiança, de vida, do sentido da solidariedade, de fé em Deus e fidelidade às tradições religiosas. A catequese no ambiente urbano leva em conta uma ampla variedade de situações, que vai desde o bem estar à situação de pobreza e marginalização.
                O pluralismo cultural e religioso, na complexidade do mundo atual, muitas vezes confunde e desorienta membros da comunidade. É indispensável uma catequese evangelizadora que eduque os cristãos a viverem sua vocação de batizados neste mundo plural, mantendo a sua identidade de pessoas que acreditam e de membros da Igreja, abertos ao dialogo com a sociedade e o mundo.
                A catequese assume a dimensão ecumênica no diálogo com os irmãos de outras Igrejas e comunidades cristãs. Os católicos precisam ser educados para a espiritualidade da unidade, exigência já bastante expressa nos nossos documentos eclesiais. Com outros cristãos, seremos capazes de dar ao mundo um testemunho mais convincente daquilo que o amor de Jesus é capaz de realizar.
                Seguindo o exemplo de Jesus Cristo, o Verbo encarnado na história, é urgente assumir a inculturação do Evangelho nas culturas. Para isso é preciso conhecer melhor cada cultura e entender os costumes do povo brasileiro, a fim de apresentar o Evangelho de modo mais familiar e eficiente. Símbolos, celebrações e encontros de catequese que levam em consideração a cultura dos destinatários tornarão a Igreja um espaço onde as pessoas se sentirão mais à vontade, respeitadas e valorizadas a partir do seu jeito próprio.
                A catequese, não apenas provoca uma assimilação intelectual do conteúdo da fé, mas também toca o coração e transforma a conduta. Deste modo, a catequese gera uma vida dinâmica e unificada da fé, encaminha para a coerência entre aquilo que se crê e aquilo que se vive, entre a mensagem cristã e o conteúdo cultural, estimula frutos de santidade.

                A inculturação da fé é, em certos aspectos, obra da linguagem . A catequese respeita e valoriza a linguagem própria da mensagem e entra em comunicação com formas e termos próprios da cultura de seus interlocutores. Os catequistas precisam encontrar uma linguagem adaptada para cada idade, a linguagem dos estudantes, dos intelectuais, dos analfabetos e pessoas de cultura elementar. Da Bíblia e da liturgia aprende-se que Deus não se contenta com a comunicação verbal, mas se comunica também e ainda mais eficazmente por ações e linguagem corporal e simbólica, fortemente marcada pela cultura.

**Diácono Roberto Bocalete

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