sexta-feira, 19 de abril de 2013

ENCONTRO DE CATEQUESE INICIÁTICO (V)
III. DIMENSÃO MISTAGÓGICO-CELEBRATIVA

A dimensão mistagógico-celebrativa, essencial no encontro de catequese, deve conduzir o interlocutor para experiência vivencial do que está sendo aprofundado no encontro, desbloqueando os mistérios, favorecendo momentos de oração e encontro com Jesus. Esta dimensão do encontro de catequese, alimento da espiritualidade e da mística cristã, deve ser articulada com objetivo de favorecer a experiência celebrada com a pessoa de Jesus, utilizando-se para isso elementos simbólicos, ritual, gestual, apoiando-se nos diversos elementos da liturgia cristã.

Mistagogia pode ser traduzido por “conduzir para dentro do mistério. O que se entende por isso? Para ser cristão ou cristã, não basta ter um conhecimento intelectual de Cristo e de sua proposta. Não basta assumir como regra de vida algumas propostas de conduta moral  do cristianismo. Vida cristã é, antes de tudo, adesão a pessoa de Jesus, seguimento no caminho dele, identificação com ele em sua morte e ressurreição, em sua entrega total a serviço do Reino, “até que Deus seja tudo em todos”(1Cor 15,28). Essa identificação com Cristo, essa participação mística, espiritual, vital e existencial, que envolvem todas as dimensões e todos os momentos de nossa vida humana, não se faz de um dia para outro. Ela requer um longo processo. No centro desse processo de vida cristã, encontramos a liturgia como cume e fonte (BUYST, 2008, p. 12-3).

O encontro de catequese fica empobrecido sem elementos mistagógicos, sem a ação litúrgico-celebrativa. A catequese como educação da fé e a liturgia como celebração da fé são duas funções da única missão evangelizadora da Igreja. A catequese, sem a liturgia, esvazia-se da dimensão do mistério e reduz-se a um amontoado de ensinamentos e teorias sobre Deus e a Igreja, mas sem significado profundo para vida. A liturgia, por outro lado, sem a catequese, é carente do sentido e conteúdo da fé, que se consolida no aprofundamento da mensagem cristã, missão assumida pela catequese (PAIVA, 2008, p.7).

A liturgia é fonte inesgotável da catequese, não só pela riqueza de seu conteúdo, mas pela sua natureza de síntese e cume da vida cristã: enquanto celebração ela é ao mesmo tempo anúncio e vivência dos mistérios salvíficos; contém, em forma expressiva e unitária, a globalidade da mensagem cristã. Por isso ela é considerada lugar privilegiado de educação da fé e os autênticos itinerários catequéticos são aqueles que incluem em seu processo o momento celebrativo como componente essencial da experiência religiosa cristã (CNBB, 2006, p.83-5).

A ação litúrgica faz memória, isto é, torna presente, traz para o momento atual os acontecimentos da salvação proclamados na Palavra. A liturgia é a celebração dos mistérios de Deus. Os “mistérios” são os projetos de Deus que se realizam na pessoa de Jesus Cristo: a redenção e a salvação de todos os homens, a instauração do Reino. O mistério central da vida de Cristo é o mistério pascal (CNBB, 2008a, p.3-18).

A liturgia, com seu conjunto de sinais, palavras, ritos, símbolos, em seus diversos significados, requer da catequese uma iniciação gradativa e perseverante para ser compreendida e vivenciada. Os sinais litúrgicos são ao mesmo tempo anúncio, lembrança, promessa, pedido e realização, mas só por meio da palavra evangelizadora e catequética esses seus significados tornam-se claros. É tarefa fundamental da catequese iniciar eficazmente os catequizandos nos sinais litúrgicos e através deles introduzi-los no mistério pascal (CNBB, 2006, p. 84).

Aquilo que não é celebrado não pode ser apreendido em sua profundidade e em seu significado para a vida. O encontro de catequese deve levar em conta essa expressão de fé para desenvolver também uma verdadeira educação para celebrar. Há, portanto, uma sintonia entre a fé, a celebração e a vida. O mistério de Cristo anunciado na Palavra é assimilado e saboreado, através da ritualidade, do simbolismo, do ritmo que a liturgia imprime, pelo seu caráter mistagógico (DICIONÁRIO DE CATEQUÉTICA, 2004, p.690-3).

Há de se cuidar para que se enfatize a dimensão celebrativa no encontro, que tem mais a ver com sabor, com a experiência de sentir o toque de Deus na realidade humana, por isso, quanto menos explicações, mais o canal de comunicação por meio da linguagem simbólica, ritual, sonora, gestual será eficaz. É a experiência do mergulho da inteireza do ser no mistério celebrado.

Para tanto, é importante que a catequese tenha na celebração o ponto alto do encontro, momento em que haja interiorização, partilha e crescimento da fé a partir da vida. A catequese, assumindo a dimensão mistagógico-celebrativa é carregada de momentos fortes de oração (súplica, gratidão, intercessão e perdão), bênçãos, expressões gestuais, fazendo o confronto pessoal e comunitário com a realidade, da fé com a vida e da vida com a fé.  A catequese com celebrações vivenciais favorece uma compreensão e uma experiência sempre rica da liturgia, conduz para uma leitura dos gestos e sinais, e educa a participação ativa nas celebrações dos sacramentos, para a contemplação e para o silêncio (PAIVA, 2008, p. 51-72).

Na dimensão simbólica, a grande tarefa que se impõe é proporcionar uma catequese experiencial dos sinais e símbolos, todos com enraizamento bíblico e antropológico. Os símbolos, fecundados por significações espirituais, são instrumentos privilegiados da comunicação divina no encontro de catequese. Sendo elementos da vida humana, colhidos na realidade natural, são pontes de relação entre o humano e o divino. “Os símbolos expressam de forma especial o mistério, quem nem as explicações racionais nem mesmo as expressões poéticas podem exprimir em plenitude” (BOGAZ, 2001, p. 7-8).

O simbolismo pode ser escolhido e celebrado no encontro de catequese em quatro passos: escolhido a partir do texto bíblico, necessita ser concreto e real (não artificial) e enraizado na cultura; com a ajuda do texto bíblico, destacar a realidade salvífica que tal símbolo produz; revelar o significado e o efeito do símbolo na celebração litúrgica; apresentar o estilo cristão ou testemunho de vida que tal símbolo inspira, levando ao compromisso (LELO, 2009, p.18-9).

Os gestos levam-nos para um mundo diferente, formam um conjunto de significados com uma linguagem profunda e peculiar, além de evangelizadora e educativa. Um elemento sozinho diz muito pouco, mas se associado à Palavra (dimensão bíblico-teológica) e a experiência do grupo produz uma rede de sentidos que põe os interlocutores em contato com o projeto do reino de Deus e a presença do Espírito. No encontro de catequese gestos como abençoar, tocar, sorrir, olhar, abraçar, acender o Círio ou a vela, ouvir atentamente, estender as mãos, traçar o sinal da cruz, sentar-se, ficar de pé, reunir-se ao redor da Mesa da Palavra, beijar ou reverenciar a Bíblia, ser aspergido com água e ungido com óleo, comunica, por meio de uma linguagem intuitiva e afetiva, poética e gratuita a presença divina, introduzem na comunhão com o mistério e fazem com que o interlocutor mais do que entenda, experimente (LELO, 2009, p.16-8).

No tocante a musicalidade, é preciso que a canção ou refrão meditativo escolhido para o encontro, favoreça o diálogo e a comunhão com Deus, uma participação no mistério revelado em Jesus. Portanto, a musicalidade, em consonância com os demais elementos do encontro, expressa o convite a celebrar os mistérios de Cristo e dele participar de forma poética e envolvente; é um convite a ser tocado, por meio de um caminho rico, pela presença divina que impulsiona a dar sentido de fé ao momento celebrado (BUYST, 2008, p. 7-15).

** Roberto Bocalete

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