quarta-feira, 17 de abril de 2013

O ENCONTRO DE CATEQUESE INICIÁTICO (III)
1. DIMENSÃO ANTROPOLÓGICO-EXISTENCIAL

Inúmeros são os desafios hoje para iniciação à vida cristã: é preciso encontrar um caminho para a formação do discípulo e esse caminho é perpassado pelo encontro de catequese vivencial, elaborado a partir de três dimensões entrelaçadas em si: dimensão antropológico-existencial, bíblico-teológica e mistagógico-celebrativa.

A dimensão antropológica-existencial, ponto de partida para a elaboração do encontro, baseia-se em conhecer o catequizando interlocutor: é pessoa humana com seus desafios, vivendo numa realidade, num contexto determinante, com uma história de vida, que precisa descobrir-se na ótica da fé; tudo a ser considerado pelo catequista ao projetar o encontro.

O Ano Catequético Nacional (2009) evidenciou essa dimensão a partir do texto dos Discípulos de Emaús (Lc 24,13-35), destacando a preocupação de Jesus ao ouvir a realidade dos caminhantes. “Ele observa, escuta atentamente, interroga sobre o sofrimento deles, sobre o que de tão grave aconteceu para deixá-los assim tão abatidos...” (NERY, 2010, p. 14). Há um estímulo, da parte de Jesus, para que os seus interlocutores abrissem o coração; somente depois de ouvi-los e cuidar da realidade humana, da situação social, política, cultural, religiosa e ideológica dos discípulos, é que o Ressuscitado se posiciona, utilizando-se da Sagrada Escritura para iluminar a realidade.

A dimensão antropológica, seguindo a pedagogia de Jesus presente nos evangelhos, é um impulso para estar atento as pessoas concretas que buscam o processo de educação para a fé, com seus sofrimentos e dores, nas diversas idades (criança, adolescente, jovem, adulto e idoso), segundo a cultura (indígena, afro-descendente) e a situação particular ( rural, urbana, encarcerado, portador de necessidades especiais, marginalizado, universitários), inculturando de forma delicada a mensagem a ser anunciada (cf. DGC 160-1,171-215; DNC 117-40).

Jesus toma a iniciativa de se aproximar, adentra a história das pessoas, acompanha a caminhada, escuta para entender, não interrompe o assunto antes de compreender o que está causando desânimo, não ignora quem está diante dele. (CNBB, 2008b, p. 14-9). Buscar o diálogo, acolher, interessar-se pelos catequizandos é fundamental para encontros realmente concretos e evangelizadores, que tenham como consequência a conversão e o discipulado.

O encontro de catequese deve ser desenvolvido a partir de atitudes de respeito e diálogo com a realidade, buscando-se uma linguagem adequada à comunicação da fé, como também a possibilidade de elaboração de materiais locais, em sintonia com a sensibilidade e o modo de pensar do povo. (ALBERICH, 2004, p.131-3).

Antes de preparar o encontro de catequese é preciso, então, considerar para qual faixa etária e ou situação vital será desenvolvido o momento e como atingir a inteireza dessa pessoa; também ter a clareza de um caminho integrado a ser percorrido, com visão de processo sem fragmentação. Para uma metodologia acertada, não se deve esquecer a reflexão sobre as influências da mudança de época e o ritmo veloz das informações da pós-modernidade na vida dos interlocutores; também o contato que os interlocutores têm com as mídias e o que isso gera em nível de especulação e curiosidade, urgindo daí o diálogo. 

Outros pontos a se considerar referem-se às influências familiares, sobretudo o fato de não haver uma Igreja Doméstica que já tenha elaborado o querigma, o anúncio fundamental da pessoa de Jesus no lar, necessitando englobar nos primeiros passos tal dimensão; considerar também as influências da comunidade, local indispensável para uma catequese saudável e que na realidade pouco tem testemunhado a fé e acompanhado o crescimento dos catequizandos (MANTOVANI, 2010, p. 66-7).

O encontro de catequese não pode ser pensado fora da realidade. Ou ele transforma as pessoas e a sociedade, ou não é fiel a mensagem e ao projeto de Jesus Cristo. Quando não atinge as raízes do ser humano, não o direciona para uma consciência de si e da realidade, quando não une fé e vida na mesma perspectiva, o encontro se torna um verniz superficial.

**Roberto Bocalete

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