O ENCONTRO DE CATEQUESE INICIÁTICO (III)
1. DIMENSÃO ANTROPOLÓGICO-EXISTENCIAL
Inúmeros são os desafios hoje para iniciação à vida cristã:
é preciso encontrar um caminho para a formação do discípulo e esse caminho é
perpassado pelo encontro de catequese vivencial, elaborado a partir de três
dimensões entrelaçadas em si: dimensão antropológico-existencial,
bíblico-teológica e mistagógico-celebrativa.
A dimensão antropológica-existencial, ponto de partida para
a elaboração do encontro, baseia-se em conhecer o catequizando interlocutor: é
pessoa humana com seus desafios, vivendo numa realidade, num contexto
determinante, com uma história de vida, que precisa descobrir-se na ótica da
fé; tudo a ser considerado pelo catequista ao projetar o encontro.
O Ano Catequético Nacional (2009) evidenciou essa dimensão a
partir do texto dos Discípulos de Emaús (Lc 24,13-35), destacando a preocupação
de Jesus ao ouvir a realidade dos caminhantes. “Ele observa, escuta
atentamente, interroga sobre o sofrimento deles, sobre o que de tão grave
aconteceu para deixá-los assim tão abatidos...” (NERY, 2010, p. 14). Há um
estímulo, da parte de Jesus, para que os seus interlocutores abrissem o
coração; somente depois de ouvi-los e cuidar da realidade humana, da situação
social, política, cultural, religiosa e ideológica dos discípulos, é que o
Ressuscitado se posiciona, utilizando-se da Sagrada Escritura para iluminar a
realidade.
A dimensão antropológica, seguindo a pedagogia de Jesus
presente nos evangelhos, é um impulso para estar atento as pessoas concretas
que buscam o processo de educação para a fé, com seus sofrimentos e dores, nas
diversas idades (criança, adolescente, jovem, adulto e idoso), segundo a
cultura (indígena, afro-descendente) e a situação particular ( rural, urbana,
encarcerado, portador de necessidades especiais, marginalizado, universitários),
inculturando de forma delicada a mensagem a ser anunciada (cf. DGC
160-1,171-215; DNC 117-40).
Jesus toma a iniciativa de se aproximar, adentra a história
das pessoas, acompanha a caminhada, escuta para entender, não interrompe o
assunto antes de compreender o que está causando desânimo, não ignora quem está
diante dele. (CNBB, 2008b, p. 14-9). Buscar o diálogo, acolher, interessar-se
pelos catequizandos é fundamental para encontros realmente concretos e
evangelizadores, que tenham como consequência a conversão e o discipulado.
O encontro de catequese deve ser desenvolvido a partir de
atitudes de respeito e diálogo com a realidade, buscando-se uma linguagem
adequada à comunicação da fé, como também a possibilidade de elaboração de
materiais locais, em sintonia com a sensibilidade e o modo de pensar do povo.
(ALBERICH, 2004, p.131-3).
Antes de preparar o encontro de catequese é preciso, então,
considerar para qual faixa etária e ou situação vital será desenvolvido o
momento e como atingir a inteireza dessa pessoa; também ter a clareza de um
caminho integrado a ser percorrido, com visão de processo sem fragmentação.
Para uma metodologia acertada, não se deve esquecer a reflexão sobre as
influências da mudança de época e o ritmo veloz das informações da pós-modernidade
na vida dos interlocutores; também o contato que os interlocutores têm com as
mídias e o que isso gera em nível de especulação e curiosidade, urgindo daí o
diálogo.
Outros pontos a se considerar referem-se às influências
familiares, sobretudo o fato de não haver uma Igreja Doméstica que já tenha
elaborado o querigma, o anúncio fundamental da pessoa de Jesus no lar,
necessitando englobar nos primeiros passos tal dimensão; considerar também as
influências da comunidade, local indispensável para uma catequese saudável e
que na realidade pouco tem testemunhado a fé e acompanhado o crescimento dos
catequizandos (MANTOVANI, 2010, p. 66-7).
O encontro de catequese não pode ser pensado fora da
realidade. Ou ele transforma as pessoas e a sociedade, ou não é fiel a mensagem
e ao projeto de Jesus Cristo. Quando não atinge as raízes do ser humano, não o
direciona para uma consciência de si e da realidade, quando não une fé e vida
na mesma perspectiva, o encontro se torna um verniz superficial.
**Roberto Bocalete
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