terça-feira, 16 de abril de 2013

SER DO CATEQUISTA: MÍSTICA

Vale a pena, numa breve pausa sobre a metodologia do encontro de catequese par a iniciação à vida cristã, refletirmos sobre a mística, essencial para o catequista que tem como projeto estar a serviço da evangelização!

Mística o que é?
Ficou famosa a afirmação de Karl Rahner, renomado teólogo católico de que "o cristão do século XXI ou será místico ou não será cristão".

Podemos ampliar essa reflexão, lembrando que a mística sempre fez parte da vida dos seguidores de Jesus, desde seus primeiros discípulos e discípulas, que vincularam definitivamente sua vida e caminhos à pessoa e ao projeto do Mestre Jesus e encontraram, nisso, sua alegria verdadeira. Portanto, mística não é um acessório ou adereço opcional que o cristão pode ou não pode ter, mas algo inerente ao próprio fato de ser cristão. Trata-se de algo profundamente experimentado por aquele(a) que insere sua vida  na vida de Cristo e aí encontra todo o sentido de sua existência, a ponto de concluir, como um dia o fez o apóstolo Paulo: "Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim. A minha vida presente, na carne, eu a vivo na fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim"(GL 2,20)

Por mística podemos entender o tempero que dá sabor e sustento a tudo aquilo que pensa, sente e faz o cristão. "É a motivação densa e profunda da caminhada cristã. É o ponto de apoio da vida, o gancho onde a gente prende o sentido da vida. falar em mística é falar do sentido da existência. É falar da experiência amorosa de Deus, experiência fundante do cristão. É ser iniciado no Mistério" (Lucimara Trevisan). Desse modo, não se trata de algo que damos a Deus ou de um movimento de busca de seu amor, mas de um deixar-se amar por aquele que é fonte do amor e que primeiro nos amou, vindo ao nosso encontro para nos comunicar a vida em plenitude.
"Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna" (Jo 3,16)

Jesus Cristo também tinha uma mística ou, melhor dizendo era um místico, pois orientou toda a sua vida para o cumprimento da vontade do Pai, cujo projeto procurou discernir na oração, na contemplação, na intimidade de Filho. Muitas vezes Jesus se recolhia na oração e no silêncio para refletir e confirmar sua fidelidade ao Pai: "Naqueles dias, Jesus retirou-se a uma montanha para rezar e passou aí toda a noite orando a Deus" (LC 6,12). Estava alimentando sua mística, conferindo sentido a seu projeto e decisões com base em um referencial tão absoluto quanto ele próprio: o reino dos céus! "Buscai em primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas ema créscimo" (MT 6,33)

Essa é a mística que Jesus exige de seus seguidores. A pergunta  incisiva que ele fez aos discípulos: "E VOCÊS, QUEM DIZEM QUE EU SOU?" (MT 16,15) continua a soar fortemente nos ouvidos e corações dos cristãos, para que cada qual, ao fazer pessoalmente a experiência do encontro e do amor de Jesus, saiba por si mesmo quem é o Senhor de sua vida e o testemunhe com alegria e entusiasmo ao mundo. "Tal propósito implica um compromisso de solidariedade para com os pobres, pois jesus se contou entre eles e pessoalmente optou pelos marginalizados das estradas, do campo e das praças das cidades. Implica um compromisso de transformação pessoal e social, presente na utopia pregada por Jesus, do reino de Deus que começa a realizar-se na justiça dos pobres e a partir daí para todos e para toda a criação" (Leonardo Boff)

Catequese e mística
Vivemos numa época em que o cristianismo por tradição deixa de ser uma realidade, e isso parece ser um caminho sem volta. Quem se torna cristão para valer, nos dias de hoje, o faz por encantamento pela pessoa de Jesus, num encontro profundo e definitivo com ele. E esses encontros quase sempre são mediados por testemunhas alegres e convictas do amor de Deus, que dá total sentido á nossa existência. São místicos contagiando outras pessoas com seu exemplo de vida. São homens e mulheres que, entusiasmados com sua vida cristã, são capazes de tornar-se pontes que conduzem outras pessoas ao coração amoroso de Deus. A esse processo chamamos de mistagogia.

Catequista místico e mistagogo, portanto, é aquele que está totalmente envolvido numa experiência fascinante de Cristo, sente-se amado por ele, "curte" ser cristão e vocacionado com paixão e alegria e comunica aos outros,  especialmente aos seus catequizandos, a grandeza da sua experiência. Ele já respondeu para si mesmo quem é Jesus em sua vida, que sentido tem ser cristão; ele já construiu sua identidade na comunidade-igreja e no mundo, e por isso mesmo é capaz de partilhar com os outros, tornar-se missionário e profeta da boa-nova. "O espírito de uma pessoa é o profundo e dinâmico de seu próprio ser, suas motivações maiores e últimas, seu ideal, sua utopia, sua paixão, a mística pela qual vive e luta e com a qual contagia" (Dom Pedro Casaldáliga)

Daí a importância de o catequista alimentar sua mística na vida de oração, na participação assídua e coerente da vida sacramental, especialmente da eucaristia e da reconciliação, na leitura atenta e contemplativa da palavra de Deus, na convivência fraterna com os irmãos da comunidade e na atenção dada à sua realidade, sobretudo aos mais pobres, aos quais os mistérios do reino são revelados: "Jesus pronunciou estas palavras: "Eu te bendigo, pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequenos" (MT 11,25)

Pe Vanildo de Paiva
Fonte: Revista ecoando nº 36

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