SER DO CATEQUISTA: MÍSTICA
Mística o que é?
Ficou famosa a afirmação de Karl Rahner, renomado teólogo
católico de que "o cristão do século XXI ou será místico ou não será
cristão".
Podemos ampliar essa reflexão, lembrando que a mística
sempre fez parte da vida dos seguidores de Jesus, desde seus primeiros
discípulos e discípulas, que vincularam definitivamente sua vida e caminhos à
pessoa e ao projeto do Mestre Jesus e encontraram, nisso, sua alegria
verdadeira. Portanto, mística não é um acessório ou adereço opcional que o
cristão pode ou não pode ter, mas algo inerente ao próprio fato de ser cristão.
Trata-se de algo profundamente experimentado por aquele(a) que insere sua vida na vida de Cristo e aí encontra todo o
sentido de sua existência, a ponto de concluir, como um dia o fez o apóstolo
Paulo: "Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim. A minha vida
presente, na carne, eu a vivo na fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou
por mim"(GL 2,20)
Por mística podemos entender o tempero que dá sabor e
sustento a tudo aquilo que pensa, sente e faz o cristão. "É a motivação
densa e profunda da caminhada cristã. É o ponto de apoio da vida, o gancho onde
a gente prende o sentido da vida. falar em mística é falar do sentido da
existência. É falar da experiência amorosa de Deus, experiência fundante do
cristão. É ser iniciado no Mistério" (Lucimara Trevisan). Desse modo, não
se trata de algo que damos a Deus ou de um movimento de busca de seu amor, mas
de um deixar-se amar por aquele que é fonte do amor e que primeiro nos amou,
vindo ao nosso encontro para nos comunicar a vida em plenitude.
"Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu
seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida
eterna" (Jo 3,16)
Jesus Cristo também tinha uma mística ou, melhor dizendo era
um místico, pois orientou toda a sua vida para o cumprimento da vontade do Pai,
cujo projeto procurou discernir na oração, na contemplação, na intimidade de
Filho. Muitas vezes Jesus se recolhia na oração e no silêncio para refletir e
confirmar sua fidelidade ao Pai: "Naqueles dias, Jesus retirou-se a uma
montanha para rezar e passou aí toda a noite orando a Deus" (LC 6,12). Estava alimentando sua mística, conferindo sentido a seu
projeto e decisões com base em um referencial tão absoluto quanto ele próprio:
o reino dos céus! "Buscai em primeiro lugar o reino de Deus e a sua
justiça e todas estas coisas vos serão dadas ema créscimo" (MT 6,33)
Essa é a mística que Jesus exige de seus seguidores. A
pergunta incisiva que ele fez aos
discípulos: "E VOCÊS, QUEM DIZEM QUE EU SOU?" (MT 16,15) continua a
soar fortemente nos ouvidos e corações dos cristãos, para que cada qual, ao
fazer pessoalmente a experiência do encontro e do amor de Jesus, saiba por si
mesmo quem é o Senhor de sua vida e o testemunhe com alegria e entusiasmo ao
mundo. "Tal propósito implica um compromisso de solidariedade para com os
pobres, pois jesus se contou entre eles e pessoalmente optou pelos
marginalizados das estradas, do campo e das praças das cidades. Implica um
compromisso de transformação pessoal e social, presente na utopia pregada por
Jesus, do reino de Deus que começa a realizar-se na justiça dos pobres e a partir
daí para todos e para toda a criação" (Leonardo Boff)
Catequese e mística
Vivemos numa época em que o cristianismo por tradição deixa
de ser uma realidade, e isso parece ser um caminho sem volta. Quem se torna
cristão para valer, nos dias de hoje, o faz por encantamento pela pessoa de
Jesus, num encontro profundo e definitivo com ele. E esses encontros quase
sempre são mediados por testemunhas alegres e convictas do amor de Deus, que dá
total sentido á nossa existência. São místicos contagiando outras pessoas com
seu exemplo de vida. São homens e mulheres que, entusiasmados com sua vida
cristã, são capazes de tornar-se pontes que conduzem outras pessoas ao coração
amoroso de Deus. A esse processo chamamos de mistagogia.
Catequista místico e mistagogo, portanto, é aquele que está
totalmente envolvido numa experiência fascinante de Cristo, sente-se amado por
ele, "curte" ser cristão e vocacionado com paixão e alegria e
comunica aos outros, especialmente aos
seus catequizandos, a grandeza da sua experiência. Ele já respondeu para si
mesmo quem é Jesus em sua vida, que sentido tem ser cristão; ele já construiu
sua identidade na comunidade-igreja e no mundo, e por isso mesmo é capaz de
partilhar com os outros, tornar-se missionário e profeta da boa-nova. "O
espírito de uma pessoa é o profundo e dinâmico de seu próprio ser, suas
motivações maiores e últimas, seu ideal, sua utopia, sua paixão, a mística pela
qual vive e luta e com a qual contagia" (Dom Pedro Casaldáliga)
Daí a importância de o catequista alimentar sua mística na
vida de oração, na participação assídua e coerente da vida sacramental,
especialmente da eucaristia e da reconciliação, na leitura atenta e
contemplativa da palavra de Deus, na convivência fraterna com os irmãos da
comunidade e na atenção dada à sua realidade, sobretudo aos mais pobres, aos
quais os mistérios do reino são revelados: "Jesus pronunciou estas
palavras: "Eu te bendigo, pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste
estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequenos" (MT
11,25)
Pe Vanildo de Paiva
Fonte: Revista ecoando nº 36
Nenhum comentário:
Postar um comentário