ENCONTRO DE CATEQUESE (VI)
COMO
PREPARAR O ENCONTRO: PASSOS METODOLÓGICOS E SUGESTÕES DIVERSAS.
Tendo esclarecido os modelos de encontro catequético com
metodologia ineficaz, abordado as dimensões para o encontro iniciático e o
catequista indicado para aplicá-lo, o apontamento de alguns passos para
preparação do encontro, como também para o desenvolvimento são úteis para
ajudar o catequista.
É preciso destacar primeiramente, que o encontro de
catequese faz parte e está inserido em um todo, portanto, antes de prepará-lo,
é preciso elaborar um programa sistemático para cada etapa/fase de catequese,
que tenha conteúdos próprios para se desenvolver, levando em consideração o
objetivo de cada uma das partes do processo e segui-lo, para que não haja um
estímulo para o catequista trabalhar o que quiser ou aquilo que tem mais
facilidade, deixando o processo faccionado por desorganização.
Tendo o programa em mãos, o passo seguinte é pensar em um
plano de encontro. O catequista precisa ter claro o tema do encontro,
selecionar o texto bíblico para em seguida elaborar o objetivo, o ponto de
partida e ponto de chegada do encontro, planejando bem para evitar
improvisação. Após a escolha do tema e do texto bíblico que inspirará todo o
encontro, o próximo passo é fazer a leitura orante desse texto para que fale ao
coração do catequista em primeiro lugar, alimentando-o para que anuncie a
Palavra experimentada e o inspire nos próximos passos.
Delimitando o objetivo do encontro, é importante estudar o
texto bíblico e elaborar questões para serem respondidas no diálogo de
aprofundamento do texto, como também estudar o conteúdo doutrinal que poderá
ser aplicado no encontro. Tendo feito isso, o catequista estrutura a
metodologia que será utilizada, selecionando as músicas, orações, símbolos, a
disposição do ambiente, já pensando no gesto concreto e na celebração.
O
encontro deverá ser pensado também a partir de uma sequencia metodológica
eficaz: ver a realidade, iluminar com a Palavra, celebrar para que a vida e a
fé se inter-relacionem para agir, assumindo compromissos existenciais.
VER A REALIDADE: 1.ACOLHIDA; 2. RETOMADA DO ENCONTRO ANTERIOR; 3. FALAR DO TEMA E DO OBJETIVO; 4.RECORDAÇÃO DA VIDA/ OLHAR A REALIDADE
Sempre é bom prever o começo de tudo: iniciar o encontro com
uma boa acolhida, de preferência na porta da sala ou ainda fora dela,
realizando um momento ritual de acordo com o tema (traçar o sinal da cruz com
água benta, entrar com a vela acesa, celebrar o acendimento do Círio pascal,
lavar as mãos), já falando sobre o objetivo do encontro, o que será
aprofundado, para dar sentido ao ingresso no ambiente de encontro de maneira
orante. Oriente os catequizandos, ao entrarem na sala, para que observem o
espaço previamente elaborado pelo catequista. É importante acalmar a mente e o
coração para vivenciar o encontro com a pessoa de Jesus, para isso não basta
dizer “silêncio”, uma sugestão seria cantar refrãos meditativos com a temática
do encontro para interiorização.
O momento do ver a realidade, próximo passo depois da
acolhida, deve ser elaborado sempre a partir do tema do encontro, sendo passo
importante ouvir os catequizandos para perceber o que trazem de informação
sobre aquele assunto: pode ser chamado de recordação da vida, um olhar para
realidade aprofundando os fatos, causas, consequências do sistema social,
econômico, político e cultural que nos envolve. O olhar a vida é o momento de
ver o chão onde se vive e de preparar o terreno da realidade para depois jogar
a semente da Palavra de Deus. O ver pode ser desenvolvimento de maneira bem
pedagógica, por meio de histórias e fatos contados, notícias, figuras, palavras
destacadas e até recortes de jornais.
ILUMINAR: 1.ACLAMAÇÃO/ REFRÃO PARA LEITURA DO TEXTO; 2. PROCLAMAÇÃO DO TEXTO BÍBLICO (1 VEZ O INTERLOCUTOR, 1 VEZ O CATEQUISTA); 3. DIÁLOGO COM O TEXTO BÍBLICO (REFLEXÃO); 4. MOMENTO DOUTRINAL (APROFUNDAMENTO)
O momento da leitura da Palavra, o iluminar, é de
fundamental importância. Por isso, é muito significativo que se tenha a
preocupação de criar um ambiente favorável ao clima de oração. Para isso,
conforme Brustolin (2009, p. 12-24) é importante que se proceda de uma forma
“ritual”, isto é, procurando conferir solenidade ao que se vai fazer. Solenizando
a leitura da Palavra no encontro da catequese, o catequizando vai compreendendo
e familiarizando-se com o espírito celebrativo da Igreja, a importância e o
significado dos ritos, dos gestos, da postura, dos cantos, dos símbolos, das
cores, enfim, tudo o que faz parte da liturgia cristã.
Para proclamação do texto bíblico, que será feito da Mesa da
Palavra na sala de catequese, canta-se inicialmente a aclamação, se for
Evangelho, ou refrão medidativo para demais textos bíblicos, e todos colocam-se
em pé, como gesto de disposição à escuta atenta da Palavra de Deus. Caso não
tenha sido acesa, pode-se neste momento fazer o acendimento da vela de modo
solene ou ainda acolher a Bíblia, num gesto de gratidão pela Palavra que será
proclamada. O Catequista lê a Palavra, já destacando algumas expressões
importantes na leitura e após a proclamação, apresenta a Bíblia ou faz um gesto
de reverência diante da Palavra proclamada. Pode-se convidar um catequizando
para ler a Palavra mais uma vez (previamente escolhido), preparando para o
aprofundamento do texto bíblico e do conteúdo doutrinal.
A Palavra, neste
momento, é iluminadora e mostra qual a vontade de Deus em relação ao que foi
apontado no ver. Faz-se um confronto com as exigências da fé anunciada por
Jesus Cristo, diante da realidade refletida. Neste momento do encontro,
aprofunda-se com o grupo os apelos que Deus faz para seus seguidores.
Reconstrói-se o texto com a participação de todos, lembrando os cenários, as
personagens, as relações entre personagens, o que foi narrado por meio de
perguntas feitas pelo catequista; cada um pode ainda dizer a parte do texto,
palavra, frase ou gesto que mais lhe chamou atenção.
O catequista, utilizando-se de uma Mesa para partilha (mesa
grande com cadeiras em volta) ou ainda com os catequizandos sentados em formato
circular, explica o contexto da passagem e trabalha alguns versículos
selecionados para explicar o significado do texto (pode-se trabalhar o
bibliodrama neste momento: o que você sentiria se fosse determinado personagem?
O que você teria feito no lugar dele? Como você agiria nessa situação? Quais os
sentimentos mais fortes nesse momento? Você acha que fizeram certo?).
O Resgate do antigo simbolismo de sentar ao redor da mesa
para tomar a refeição é destacado com a utilização da Mesa da Partilha. Neste
caso, crianças, jovens e seus catequistas, sentam ao redor da mesa para
saborear a Palavra que dá vida, sacia toda sede e devolve a alegria ao coração
humano. Usando a mesa pretende-se sair do esquema de escola, da utilização de
cadernos e canetas, e de tudo que lembre uma lição escolar. Ao redor da mesa se
fala, se contemplam os símbolos, se dialoga e se realizam algumas atividades.
Dado o passo do aprofundamento bíblico, segue-se o
desenvolvimento de algum elemento doutrinal, de acordo com o tema,
elaborando-se estratégias e buscando material para esse momento, tais como
documentos do magistério, textos de estudo e até sugestões de reflexão do texto
bíblico ou do tema desenvolvido, muitas vezes presentes nos manuais de catequistas.
CELEBRAR: 1. MOMENTO DA ORAÇÃO; 2. MOMENTO DA BENÇÃO; 3. MOMENTO DA PAZ
Esse
passo já prepara para o celebrar, momento orante fecundo do saborear em
conjunto o que foi visto e iluminado: é hora de favorecer o encontro pessoal ,
ajudando os catequizandos a conversar naturalmente com Deus como um amigo
íntimo. Pode-se rezar usando símbolos, favorecendo o silêncio, por meio de
cantos, gestos, salmos, frases bíblicas repetidas, relacionando sempre ao tema
do encontro com a vida. A partir da celebração do encontro é possível motivar
os catequizandos na participação das celebrações, liturgias, novenas, grupos de
reflexão na comunidade.
No momento do celebrar, é interessante estimular orações
espontâneas e trabalhar todas as modalidades orantes, não reduzindo somente a
fórmulas prontas (Pai-Nosso, Ave Maria, Salve Rainha). Há de se estimular os
catequizandos à oração para que saiba rezar nas diversas circunstâncias da
vida. Outro ponto muito importante para se resgatar, já concluindo o momento da
celebração, seriam as bênçãos, que podem ser realizadas de várias formas (catequista
põe a mão na cabeça do catequizando em silêncio, os catequizandos abençoam um
ao outro, com a Bíblia em uma das mãos, traça-se o sinal da cruz sobre a fronte
do catequizandos, abençoa ungindo com óleo ou também podem ser utilizadas
fórmulas de benção) e um momento de abraço da paz, ou também oração pela paz e
pelas famílias.
AGIR: 1. GESTO CONCRETO; 2. RECORDAR O ENCONTRO; 3. DESPEDIDA
Todo encontro precisa conscientizar que ser cristão não é
ficar passivo diante da realidade. O momento do agir é transformador e
comprometedor: trata-se de encontrar passos concretos de mudança das situações
onde a dignidade é ferida a partir de critérios cristãos vivenciados no
encontro. O gesto concreto está ligado ao compromisso existencial diante da
Palavra de Deus, que questiona e exige a mudança nas pessoas, famílias e comunidade.
O catequista necessita provocar o seu grupo para ações práticas e os
compromissos podem ser discutidos e assumidos de forma individual ou ainda
grupal. É o momento de guardar para vida a partir do assunto tratado no
encontro.
O encontro de catequese, como caminho de formação na
caridade e no serviço, deve abrir-se ao horizonte da promoção integral do ser
humano e da transformação da sociedade nos diversos níveis: o agir na justiça e
na verdade, a consciência política, a quebra de preconceitos (idoso, mulher,
raças, portadores de deficiências), a opção preferencial pelos pobres e
marginalizados, a luta pela libertação dos vícios do século XXI (drogas,
bebidas, egoísmo, mentira). São práticas que devem estar presentes no
compromisso catequético.
Por fim, o catequista deve colocar tudo que planejou por
escrito em um papel para que não se perca durante a aplicação do encontro
(quanto mais organizado, mais segurança) e também preparar uma página para os
catequizandos com a citação do texto bíblico, as músicas que serão cantadas no
encontro, algum resumo marcante daquele tema e ainda o gesto concreto da
semana, que como já visto, não é tarefa escolar.
ORGANIZAR É PRECISO
Parece simples preparar um encontro, mas como observado,
exige do catequista consciência de seu papel evangelizador, dedicação,
experiência de fé e profunda reflexão para tornar cada encontro um espaço de
crescimento e experiência de fé. O catequista deverá se programar para preparar
bem seu encontro, pensando nos objetivos e finalidades da catequese, como
também deverá chegar com antecedência ao local onde exerce seu ministério
catequético para preparar o ambiente do encontro e com respeito e igual
atenção, receber todos os catequizandos, sem demonstrar preferências.
É importante o cuidado com o ambiente encontro porque ele
também é símbolo e deve contribuir na catequese. Para o encontro iniciático é
preciso que se providencie uma Mesa da Palavra, com a Bíblia em destaque,
toalha de acordo com o tempo litúrgico, velas, flores naturais e outros
símbolos, de acordo com a proposta do dia e a Mesa da partilha. Que o local
seja arejado, com cores vibrantes, sem cartazes pendurados nas paredes (o que é
mais típico de ambiente escolar) e sem quadro negro. Evitar a poluição visual é
essencial para que se destaque o foco do encontro de catequese: Jesus Cristo, a
Palavra de Deus e a pessoa humana.
** Roberto Bocalete - especialista em Pedagogia Catequética pela PUC - GOIAS
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