O ENCONTRO DE CATEQUESE PARA O PROCESSO DE INICIAÇÃO À VIDA CRISTÃ
(ROBERTO BOCALETE)
Diante de um momento histórico marcado por diversos
problemas existenciais, momento em que o homem encontra-se desmotivado, perdido
diante da falta de um sentido para sua vida, com posturas antirreligiosas,
relativistas e duvidosas diante da fé, é fundamental uma proposta catequética
realmente iniciática, personalizada e performativa que, refletindo a ação
evangelizadora da Igreja, conduza o ser humano a um verdadeiro encontro pessoal
e existencial com Jesus Cristo, para que assim, encontrando-se também,
realize-se como pessoa e responda a si a razão e o sentido para existência.
Encontros de catequese com metodologia iniciática, de
inspiração catecumenal, seriam um caminho para responder aos desafios na
formação do autêntico cristão, levando-o a adesão pessoal a Jesus Cristo e a
comunidade cristã: encontros existências, elaborados a partir do ser humano concreto, com elementos
litúrgicos e mistagógicos, iluminados pela Palavra de Deus, aplicados por
catequistas pedagogos, profetas, testemunhas de Jesus Cristo, mistagogos e
inteiros, são a proposta desse artigo, que destaca experiências concretas existentes
na Diocese de São José do Rio Preto.
Para o momento presente, não basta somente boa vontade, é
preciso desenvolver habilidades para uma catequese iniciática, processual,
celebrativa e experiencial. Assim, partindo da publicação da coleção de manuais
de catequese de Leomar Brustolin (catequese com Leitura Orante), elaboramos uma
maneira própria de desenvolver o encontro de catequese, observamos os
resultados e achamos conveniente colocá-los por escrito, com todo referencial
bibliográfico necessário e com a intenção de propor uma possibilidade diante do
pedido de experiências concretas de iniciação à vida cristã.
A proposta em evidência é possível de ser colocada em
prática, como já tem sido vivenciada. Chega de desculpas e deixar para que o
outro comece um novo trabalho: o novo depende dos passos ousados de cada um. É
urgente uma conversão comunitária para iniciação à vida cristã, o cuidado para
formação de discípulos e missionários e a consciência de uma Igreja como casa
da acolhida, da Palavra e da caridade.
O ENCONTRO DE CATEQUESE
Dar passos na construção de encontros de catequese
iniciáticos exige primeiro destacar a visão de encontro e de catequese que se
deseja delimitar para iniciação a vida cristã.
O encontro pode ser chamado momento de experiência, que exprime, em seu
sentido mais geral, um contato direto com uma realidade, que não é simples
fenômeno transitório, mas alarga e enriquece o modo de pensar e ver a
realidade. Cada experiência amplia o horizonte do conhecimento da realidade,
modifica e aperfeiçoa. A experiência é ato pelo qual a pessoa se assume, isto
é, engloba todos os modos possíveis de experiência: percepção, pensamento,
querer, sentimento, ação (LIBANIO, 2005, p.199-200).
A experiência não se transmite normalmente de modo nocional,
mas pela convivência, e seu alcance tem profundos reflexos com a ação; a partir
da experiência tomam-se decisões; a própria experiência se transforma em
critério de discernimento da verdade ou validez de normas, regras e conselhos.
“Quando uma experiência é importante, fundamental, afeta a totalidade e a
profundidade da existência, permitindo uma interpretação da totalidade da
realidade” (LIBANIO, 2005, p. 205).
Jean Mouroux distingue três níveis de experiência: a
imediata, a experimental dirigida e a existencial. O primeiro nível é o da
experiência cotidiana, vivida, mas não criticada, parcial, superficial,
ingênua, e portanto ambígua: experiência imediata, sem compromisso, sem muita
exigência de transformação. Aqui estariam as consolações, os entusiasmos e
todas as formas de percepções sensíveis do "divino".
O segundo nível é o da experiência consciente, dirigida e
provocada, constituída com elementos capazes de serem medidos e manipulados:
tipo de experiência dirigida. No fundo, é uma experiência provocada, encontrada
nas técnicas religiosas de oração, autodomínio etc.
O terceiro nível é o da experiência pessoal do ser humano
(existencial) em toda sua totalidade, seus componentes estruturais e seus
princípios de ação com Deus – tipo de experiência em foco nesse artigo. É uma
experiência constituída e captada na lucidez de consciência e na generosidade
do amor. Toda experiência espiritual madura e autêntica deve se situa nesse
nível. Os outros níveis são etapas a serem ultrapassadas em direção a uma
experiência que abarque a totalidade da pessoa. Pode-se dizer que é o tipo de
experiência de mudança, adaptação consciente ao projeto de Deus, em síntese,
experiência de conversão, que terá como critérios de interpretação além da fé,
também os frutos produzidos (MIRANDA, 1998, p. 161-181).
A catequese é iniciação no seguimento de Cristo para
vinculação à Igreja; tem como meta essencial uma educação para mentalidade de
fé, capacitando a pessoa a ver, sentir e agir como Cristo, amadurecendo e
aprofundando a conversão. O fruto que a catequese deve produzir é o surgimento
de pessoas novas, recriadas, abertas ao Evangelho, sensíveis a realidade,
comprometidas com o estilo de Jesus, adoradoras do Pai, colaboradoras do
Espírito, manifestando a dignidade da pessoa redimida em Cristo (DICIONÁRIO DE
CATEQUÉTICA, 2004, p.515-23).
A catequese é o período no qual se estrutura a conversão a
Jesus Cristo, tem a função de assentar os alicerces do edifício da fé, para
tanto é iniciação ordenada e sistemática na revelação, formação orgânica
centrada na pessoa, educando-a para as experiências mais profundas, fecundada
pela Palavra de Deus (DGC, 1998, p. 63-6).
Como educação para a fé, a catequese tem como
características uma educação orgânica, síntese coerente e orgânica da mensagem
cristã; uma educação sistemática, articulada em processo, não sendo ocasional
ou somente circunstancial; e uma educação integral, em todas as dimensões da fé
cristã: educa para celebrar na liturgia, para oração e espiritualidade, para a
vida comunitária, para o compromisso social (CELAM, 2007, p.103).
A peculiaridade e a originalidade da catequese é a educação
da fé e para tal processo, realiza-se de forma gradual e planejada. Tendo em
vista que a catequese é ministério da Palavra, suas características concretas
são: a iniciação (na vida cristã), a fundamentação (coluna da vida de fé), e
aprofundamento (interioriza a vida cristã).
É tarefa da catequese favorecer a adesão a Jesus Cristo, na
verdade, iniciando um processo de conversão permanente, que dura a vida toda. A
conversão a Cristo é sempre elemento indispensável no dinamismo de uma fé em
crescimento. Favorecer o crescimento da atitude de fé significa concretamente
despertar sentimentos de docilidade, escuta e abandono à palavra de Deus em
Cristo. É importante também favorecer o amadurecimento da esperança, como
dimensão essencial da atitude de fé cristã (ALBERICH, 2004, p. 181-3).
Para tanto, a catequese assumirá um caráter pedagógico
catecumenal quando reunir características como: processo de iniciação integral
que contemple todas as dimensões da vida de fé; processo dinâmico, progressivo,
marcado por etapas de acordo com o ritmo de crescimento do catequizando;
processo marcado por ritos e símbolos, ou seja, processo celebrativo; processo
que leve a comunidade a assumir-se como local da catequese; processo que
comprometa o educando, exigindo uma profunda conversão (CELAM, 2007, p.108-9).
REFERÊNCIAS
ALBERICH, Emilio. Catequese Evangelizadora: Manual de
catequética fundamental. Tradução de Luiz Alves de Lima. 2.ed. São Paulo: Ed.
Salesiana, 2004.
BRUSTOLIN, Leomar. A mesa do pão: iniciação à Eucaristia:
catequista. São Paulo: Paulinas, 2009. Coleção catequese com leitura orante.
DNC. CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Diretório
Nacional de Catequese. Brasília: Edições CNBB, 2006.
______. Iniciação à vida cristã. Um processo de Inspiração
catecumenal. Estudos da CNBB 97. Brasília: Edições CNBB, 2009.
DGC. CONGREGAÇÃO PARA
O CLERO. Diretório Geral para a Catequese.
São Paulo: Paulinas, 1998.
CONSELHO EPISCOPAL LATINO-AMERICANO. Manual de Catequética.
Tradução de Maria Paula Rodrigues. São Paulo: Paulus, 2007.
DICIONÁRIO DE CATEQUÉTICA. Dirigido por M Pedrosa, tradução
de H. Dalbosco. São Paulo: Paulus, 2004.
LIBANIO, João Batista. Teologia da Revelação a partir da
Modernidade. 5. ed. São Paulo: Loyola, 1992. Coleção Fé e Realidade.
MIRANDA, Mario de França. A experiência do Espírito Santo.
Abordagem Teológica. Perspectiva Teológica. Belo Horizonte, Ano XXX n. 81. p. 161-181. maio/agosto 1998.
Nenhum comentário:
Postar um comentário