O ENCONTRO DE CATEQUESE INICIÁTICO (II)
OS MODELOS DE ENCONTRO DE CATEQUESE FADADOS AO FRACASSO: PROBLEMAS METODOLÓGICOS
OS MODELOS DE ENCONTRO DE CATEQUESE FADADOS AO FRACASSO: PROBLEMAS METODOLÓGICOS
Se a proposta em questão é desenvolver uma reflexão que
compreenda que o encontro de catequese precisa ser realmente iniciático, é
preciso elaborar uma metodologia que favoreça a experiência com pessoa de Jesus
e por consequência um itinerário de adesão ao projeto do reino de Deus.
Consideram-se fadados ao fracasso modelos de encontros com abordagem
conceitual, preocupação conteudista, metodologia escolar, subjetivismo
espiritualista, excesso de dinâmicas, desconsideração dos interlocutores e
distanciamento do celebrativo.
A prática catequética que tem suas bases na necessidade de
doutrinar, nascida a partir do Concílio de Trento (1545), é desenvolvida em
vistas de uma suposta “identidade católica”
e uma compreensão de catequese da Igreja como manual de doutrina a ser
ensinado e repassado para um grupo de ouvintes. Decorar um manual não modifica
a vida de ninguém, pelo contrário, minimiza o interlocutor dando primazia a um
conteúdo que muitas vezes não o interessa e nem responde as suas inquietações.
O problema do ensino doutrinal está na forma conceitual,
abstrata e pouco atrativa de transmitir tais conteúdos: o conceito, maneira
grega de compreender a realidade, não toca a vida e nem a realidade de muitos
dos que buscam a fé, gerando apatia. Responder quem é Deus não estaria numa
simples repetição de uma oração formulada e copiada no caderno, mas na maneira
como a pessoa experimentou a Deus, na leitura que ela faz da presença de Deus
em sua vida, o que tal metodologia não permite saborear.
A mensagem cristã diz mais que doutrina e é comunicação
eficaz da pessoa de Jesus. João Paulo II destaca que: Quem diz mensagem diz algo mais que doutrina.
Quantas doutrinas de fato jamais chegaram a ser mensagens. A mensagem não se limita
a propor ideias: ela exige uma resposta, pois é interpelação entre pessoas.
Entre aquele que propõe e aquele que responde. A mensagem é vida (DNC, 2006,
p.71).
A crítica a essa abordagem conceitual e doutrinal é vista
pelas consequências de um encontro somente focado no conteúdo, aplicado muitas
vezes de forma bem primitiva: os sacramentos são entendidos como objetivo da
catequese e olhados de maneira mágica. Assim, tendo feito a “formatura”, já não
é mais preciso participar, tudo porque não se cria vínculos com a comunidade,
porque não se trabalha a partir da realidade, assim gerando uma espécie de fé
mal professada, às vezes piedosíssima ou até indiferente.
O retorno ao sagrado, forte no momento histórico, com busca
de uma resposta aos desafios da vida sem frustração diante das dores, fez
emergir na catequese uma tendência de encontro focado no subjetivismo, no
espiritualismo e numa busca incessante por respostas adocicadas de Deus, que
deixem a pessoa tranquila e feliz por ser amada. Jesus Cristo é apresentado
somente como salvador divino, um europeu de olhos verdes, completamente
desligado do anúncio do Reino, de suas exigências profundas e de suas
consequências significativas.
A vida pode dar voltas e exigir um pouco dessa pessoa que
foi formada numa catequese subjetivista e a consequência, já que não sabe lidar
com contrariedades, será um afastamento da prática da fé, somada a uma revolta
ou ainda a busca por outras religiões que respondam as suas necessidades. O
resultado infértil do espiritualismo vai se dar neste modelo de cristão que não
passou por um processo de experiência pessoal, portanto não se converte, não tem bases necessárias para
uma fé madura e comprometida, “vive aéreo, como se andasse nas nuvens, elevado
pelo Espírito que o arrebata deste mundo de pecado” (CARMO, 2012, p. 51).
A catequese não pode também ser fruto de modismos ou da
“criatividade inventada” pela cultura ou ainda pelo catequista; a fé é herdada
e não inventada. Portanto, propostas de dinâmicas e “encontros diferentes” sem
sentido e realizados somente para não tornar a catequese enfadonha ou
rotineira, nem cansar o interlocutor com tantos palavrórios, não conduz a lugar
algum. A “febre” das dinâmicas na catequese precisa ser substituída por uma
maneira orante e celebrativa, que resultaria numa experiência positiva da fé,
muito além de simples brincadeira para fortalecer a socialização.
É outro grande erro elaborar encontros catequéticos baseados
na pedagogia escolar, como aulas expositivas, sem desbloquear o mistério
(mistagogia). “A Catequese não é aula. É iniciação no mistério de Jesus morto e
ressuscitado. É algo bem mais circular que linear, mais vivencial que
intelectual, mais afetivo que racional” (CARMO, 2010, p. 54). Infelizmente,
ainda sobrevive a pedagogia do ensino-aprendizagem em muitos encontros,
priorizando o ensino como se o “aluno de catecismo” fosse uma tábula rasa, ou a
aprendizagem conforme o modelo construtivista, até com tarefas a serem feitas
em casa, com total desconhecimento de muitos catequistas da pedagogia
iniciática.
A consequência de tudo isso se torna mais agravante quando
se faz do sacramento celebrado o objetivo da catequese (sacramentalismo) e um
momento conclusivo e escolar de formatura, fim de um caminho, despedida, com
entrega de “certificados”, transformando tal momento sublime num costume sem
sentido, desconsiderando a dimensão comprometedora de fé que tal celebração
exige (CNBB, 2009, p.38).
Os espaços dos encontros ainda estão frios e pouco
acolhedores, sem sinais que favoreçam a mística, a espiritualidade e o processo
de iniciação a fé. São como sala de aula, ambientes com única cor, quadro
negro, giz, carteiras e a mesa do saudoso “professor”. Os trabalhinhos são
expostos no varal que fica na sala de catequese, para destacar como a turminha
se dedica as tarefas do encontro. Muitas vezes não há nada que diferencie o
momento catequético do momento escolar; não há nada que caracterize o encontro,
a não ser a preocupação de cumprir um conteúdo.
A catequese, como educação para a fé não pode ser indiferente à realidade e a vida dos catequizandos, muitas vezes tratados somente como destinatários e não interlocutores de um processo. O referencial do encontro é o educando, que se não for levado em consideração durante os encontros, corre-se o “sério risco de construir a educação do discípulo missionário sobre a areia, portanto, certamente fadado ao desmoronamento” (NERY, 2010, p. 14).
“Não dá para educar, com profundidade, pessoas que a gente
não se interessa em conhecer” (CNBB, 2008b, p. 20). A pedagogia da fé que não
atender as diversas necessidades e não adaptar a mensagem e a linguagem as
diferentes situações de seus interlocutores (DNC, 2006, p. 118; DGC, 1998,
p.176-77) não passará de mera reunião formal de manutenção de ideologias
alienantes.
Outro problema comum está na ausência de compromissos e
gestos existenciais concretos, suprimidos por indicações tarefeiras ou cópias
de orações; se a proposta é iniciar num processo de conversão, os encontros de
catequese precisam ter indicativos de mudança de valores e atitudes: um agir bem
determinado a partir de Jesus Cristo. A catequese, para não ser vazia, deve
formar discípulos que assumam ministérios e serviços, educando para a ação
sócio-transformadora, a consciência profética e libertadora (CNBB, 2008b,
p.44).
Portanto, percebe-se no desenvolvimento de encontros, que há
mais desencontros de catequese, ausentes de motivação, sem experiência com a
pessoa de Jesus, sem metodologia iniciática e processual no caminho de formação
de discípulos e muito aquém de um momento fecundo de reconhecimento vocacional.
Há de se corrigir tais erros com urgência.
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