sexta-feira, 12 de abril de 2013

O ENCONTRO DE CATEQUESE INICIÁTICO (II)

OS MODELOS DE ENCONTRO DE CATEQUESE FADADOS AO FRACASSO: PROBLEMAS METODOLÓGICOS

Se a proposta em questão é desenvolver uma reflexão que compreenda que o encontro de catequese precisa ser realmente iniciático, é preciso elaborar uma metodologia que favoreça a experiência com pessoa de Jesus e por consequência um itinerário de adesão ao projeto do reino de Deus. Consideram-se fadados ao fracasso modelos de encontros com abordagem conceitual, preocupação conteudista, metodologia escolar, subjetivismo espiritualista, excesso de dinâmicas, desconsideração dos interlocutores e distanciamento do celebrativo.

A prática catequética que tem suas bases na necessidade de doutrinar, nascida a partir do Concílio de Trento (1545), é desenvolvida em vistas de uma suposta “identidade católica”  e uma compreensão de catequese da Igreja como manual de doutrina a ser ensinado e repassado para um grupo de ouvintes. Decorar um manual não modifica a vida de ninguém, pelo contrário, minimiza o interlocutor dando primazia a um conteúdo que muitas vezes não o interessa e nem responde as suas inquietações.

O problema do ensino doutrinal está na forma conceitual, abstrata e pouco atrativa de transmitir tais conteúdos: o conceito, maneira grega de compreender a realidade, não toca a vida e nem a realidade de muitos dos que buscam a fé, gerando apatia. Responder quem é Deus não estaria numa simples repetição de uma oração formulada e copiada no caderno, mas na maneira como a pessoa experimentou a Deus, na leitura que ela faz da presença de Deus em sua vida, o que tal metodologia não permite saborear.

A mensagem cristã diz mais que doutrina e é comunicação eficaz da pessoa de Jesus. João Paulo II destaca que:  Quem diz mensagem diz algo mais que doutrina. Quantas doutrinas de fato jamais chegaram a ser mensagens. A mensagem não se limita a propor ideias: ela exige uma resposta, pois é interpelação entre pessoas. Entre aquele que propõe e aquele que responde. A mensagem é vida (DNC, 2006, p.71).

A crítica a essa abordagem conceitual e doutrinal é vista pelas consequências de um encontro somente focado no conteúdo, aplicado muitas vezes de forma bem primitiva: os sacramentos são entendidos como objetivo da catequese e olhados de maneira mágica. Assim, tendo feito a “formatura”, já não é mais preciso participar, tudo porque não se cria vínculos com a comunidade, porque não se trabalha a partir da realidade, assim gerando uma espécie de fé mal professada, às vezes piedosíssima ou até indiferente.

O retorno ao sagrado, forte no momento histórico, com busca de uma resposta aos desafios da vida sem frustração diante das dores, fez emergir na catequese uma tendência de encontro focado no subjetivismo, no espiritualismo e numa busca incessante por respostas adocicadas de Deus, que deixem a pessoa tranquila e feliz por ser amada. Jesus Cristo é apresentado somente como salvador divino, um europeu de olhos verdes, completamente desligado do anúncio do Reino, de suas exigências profundas e de suas consequências significativas.

A vida pode dar voltas e exigir um pouco dessa pessoa que foi formada numa catequese subjetivista e a consequência, já que não sabe lidar com contrariedades, será um afastamento da prática da fé, somada a uma revolta ou ainda a busca por outras religiões que respondam as suas necessidades. O resultado infértil do espiritualismo vai se dar neste modelo de cristão que não passou por um processo de experiência pessoal, portanto não  se converte, não tem bases necessárias para uma fé madura e comprometida, “vive aéreo, como se andasse nas nuvens, elevado pelo Espírito que o arrebata deste mundo de pecado” (CARMO, 2012, p. 51).

A catequese não pode também ser fruto de modismos ou da “criatividade inventada” pela cultura ou ainda pelo catequista; a fé é herdada e não inventada. Portanto, propostas de dinâmicas e “encontros diferentes” sem sentido e realizados somente para não tornar a catequese enfadonha ou rotineira, nem cansar o interlocutor com tantos palavrórios, não conduz a lugar algum. A “febre” das dinâmicas na catequese precisa ser substituída por uma maneira orante e celebrativa, que resultaria numa experiência positiva da fé, muito além de simples brincadeira para fortalecer a socialização.

É outro grande erro elaborar encontros catequéticos baseados na pedagogia escolar, como aulas expositivas, sem desbloquear o mistério (mistagogia). “A Catequese não é aula. É iniciação no mistério de Jesus morto e ressuscitado. É algo bem mais circular que linear, mais vivencial que intelectual, mais afetivo que racional” (CARMO, 2010, p. 54). Infelizmente, ainda sobrevive a pedagogia do ensino-aprendizagem em muitos encontros, priorizando o ensino como se o “aluno de catecismo” fosse uma tábula rasa, ou a aprendizagem conforme o modelo construtivista, até com tarefas a serem feitas em casa, com total desconhecimento de muitos catequistas da pedagogia iniciática.

A consequência de tudo isso se torna mais agravante quando se faz do sacramento celebrado o objetivo da catequese (sacramentalismo) e um momento conclusivo e escolar de formatura, fim de um caminho, despedida, com entrega de “certificados”, transformando tal momento sublime num costume sem sentido, desconsiderando a dimensão comprometedora de fé que tal celebração exige (CNBB, 2009, p.38).

Os espaços dos encontros ainda estão frios e pouco acolhedores, sem sinais que favoreçam a mística, a espiritualidade e o processo de iniciação a fé. São como sala de aula, ambientes com única cor, quadro negro, giz, carteiras e a mesa do saudoso “professor”. Os trabalhinhos são expostos no varal que fica na sala de catequese, para destacar como a turminha se dedica as tarefas do encontro. Muitas vezes não há nada que diferencie o momento catequético do momento escolar; não há nada que caracterize o encontro, a não ser a preocupação de cumprir um conteúdo.

A catequese, como educação para a fé não pode ser indiferente à realidade e a vida dos catequizandos, muitas vezes tratados somente como destinatários e não interlocutores de um processo. O referencial do encontro é o educando, que se não for levado em consideração durante os encontros, corre-se o “sério risco de construir a educação do discípulo missionário sobre a areia, portanto, certamente fadado ao desmoronamento” (NERY, 2010, p. 14).

“Não dá para educar, com profundidade, pessoas que a gente não se interessa em conhecer” (CNBB, 2008b, p. 20). A pedagogia da fé que não atender as diversas necessidades e não adaptar a mensagem e a linguagem as diferentes situações de seus interlocutores (DNC, 2006, p. 118; DGC, 1998, p.176-77) não passará de mera reunião formal de manutenção de ideologias alienantes.

Outro problema comum está na ausência de compromissos e gestos existenciais concretos, suprimidos por indicações tarefeiras ou cópias de orações; se a proposta é iniciar num processo de conversão, os encontros de catequese precisam ter indicativos de mudança de valores e atitudes: um agir bem determinado a partir de Jesus Cristo. A catequese, para não ser vazia, deve formar discípulos que assumam ministérios e serviços, educando para a ação sócio-transformadora, a consciência profética e libertadora (CNBB, 2008b, p.44).

Portanto, percebe-se no desenvolvimento de encontros, que há mais desencontros de catequese, ausentes de motivação, sem experiência com a pessoa de Jesus, sem metodologia iniciática e processual no caminho de formação de discípulos e muito aquém de um momento fecundo de reconhecimento vocacional. Há de se corrigir tais erros com urgência.

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