O ENCONTRO DE CATEQUESE INICIÁTICO (IV)
II. DIMENSÃO BÍBLICO-TEOLÓGICA
A fonte na qual a catequese busca a sua mensagem é a Sagrada
Escritura, fruto da experiência de fé de um povo com Deus: nela, a Igreja
reconhece o testemunho autêntico da Revelação divina, por isso, é o livro de
catequese por excelência (CNBB, 2006, p. 75-6). A dimensão bíblico-teológica no
encontro de catequese, portanto, destaca a Sagrada Escritura como livro que
ilumina o encontro, fonte favorecedora da experiência humana com Deus,
juntamente com o depósito da fé transmitido pelos apóstolos (Tradição) e que
conservamos com zelo, dando respostas novas e mais elaboradas depois do
surgimento dos desafios.
A catequese deve fazer dessa fonte o seu referencial maior e
central, num diálogo permanente com a vida e a história. Não se trata, porém,
de tirar da Sagrada Escritura (e também da Tradição) elementos fragmentários a
serem inseridos na Catequese, mas de respeitar a natureza e o espírito da
Revelação Bíblica. Falar da Escritura como fonte da catequese é acentuar que
esta tem que ser impregnada pelo pensamento, pelo espírito e pelas atitudes
bíblicas e evangélicas, mediante um contato frequente com os próprios textos
sagrados; e é também recordar que “a catequese será tanto mais rica e eficaz
quanto mais ela ler os textos com inteligência e o coração da Igreja, e quanto
mais ela se inspirar na reflexão e na vida duas vezes milenária da mesma
Igreja” (JOÃO PAULO II, 1983, p.34).
O encontro com os Discípulos de Emaús destaca a explicação
das Escrituras como fundante para a compreensão da fé: daí renasce a esperança
e o desejo de testemunhar o encontro com o ressuscitado (CNBB, 2010b, p.101).
Depois de conhecer a realidade, o passo seguinte é despertar perguntas e abrir
novos horizontes à luz da Palavra. A Escritura no encontro de catequese deve
ser instrumento que provoque a mudança de mentalidade e atitude dos
interlocutores: trata-se de um encontro vital com o Senhor, para aprender com
ele, ouvir, compreender e aderir aos ensinamentos (CNBB, 2009, p.30-2).
É indispensável a Sagrada Escritura, sinal sacramental da Palavra de Deus, para um
encontro vivo com Jesus Cristo, caminho de autêntica conversão e renovada comunhão
de solidariedade. O encontro com o Senhor, com sua história íntima, inicia o
processo de discipulado e tal encontro só é possível quando os interlocutores,
mediados pelo trabalho evangelizador, escutam, celebram e encarnam a Palavra de
Deus, amadurecendo a experiência religiosa.
A Bíblia deve alimentar a identidade cristã e enriquecer a
prática de oração. É importante que sua utilização no encontro de catequese
esteja a serviço da educação para uma fé engajada e responsável, fecunda e
enriquecedora. Portanto, todo roteiro catequético deverá ser iluminado pela
Bíblia e ainda incluir estímulos e orientações com vista a uma leitura bíblica,
segundo um plano adequado ao leitor (CNBB, 2006, p.77).
A Sagrada Escritura, da qual emerge elementos teológicos e
também doutrinais, proporciona ao encontro o seu conteúdo: o sentido para vida,
por meio da configuração a Jesus e o desígnio de salvação, que pode ser
atualizado no presente, por meio de uma hermenêutica amadurecida dos teólogos e
do próprio Magistério, projetando o catequizando no futuro, segundo as
promessas de Deus.
A Bíblia introduz a catequese no curso da economia da
salvação e faz com que aquele que aprofunda a fé, sinta-se povo de Deus, tome
gosto pela leitura orante da Bíblia, pelos círculos bíblicos, pelos encontros
das pequenas comunidades, elaborando na realidade a transformação que a Palavra
causa. Definitivamente, a catequese não pode não ser bíblica, porque lhe
faltaria o essencial da experiência de fé do povo com o Deus que preenche o humano
no mais íntimo de seu ser, dando-lhe sentido para esta existência (DICIONÁRIO
DE CATEQUÉTICA, 2004, p.524-5).
Uma das finalidades da catequese é introduzir uma justa
compreensão da Bíblia e sua leitura frutuosa e fecunda, que permita descobrir
as verdades divinas que nela contém e que suscite respostas a mensagem amorosa
de Deus dirigida a humanidade: para que a dimensão bíblico-teológica seja
saudável, vale alertar para não cair no erro de leituras da Sagrada Escritura
de forma fundamentalista, literalista, esotérica, intimista, apologética,
reducionista, materialista ou espiritualista.
Na catequese, o aprendizado do uso da Sagrada Escritura deve
ser acentuado como encontro com a Palavra de Deus encarnada, educando-se para
um encontro vital com a Palavra, tendo-a como alimento saboroso em vista da
maturidade em Cristo. Vale ainda uma dica: o texto bíblico escolhido para
iluminar o tema do encontro deve ser a fonte para o diálogo entre catequista e
catequizandos, para escolha dos símbolos e das músicas, também das orações para
o momento celebrativo e do aprofundamento do conteúdo.
A iniciação à leitura da Bíblia, na catequese, deve levar
não só ao contato com a Palavra de Deus na leitura pessoal ou grupal da
Escritura, mas principalmente à compreensão da Palavra proclamada e meditada na
Liturgia, que também é fonte perene da catequese por ser memorial do mistério
pascal, experiência celebrativa, comunicação, vivência do mistério, lembrança e
realização, síntese de fé e interiorização da experiência religiosa. A
catequese educa a fé que é celebrada na liturgia: uma alimenta a outra, são as
duas faces do mesmo mistério.
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