quinta-feira, 18 de abril de 2013

O ENCONTRO DE CATEQUESE INICIÁTICO (IV)
II. DIMENSÃO BÍBLICO-TEOLÓGICA

A fonte na qual a catequese busca a sua mensagem é a Sagrada Escritura, fruto da experiência de fé de um povo com Deus: nela, a Igreja reconhece o testemunho autêntico da Revelação divina, por isso, é o livro de catequese por excelência (CNBB, 2006, p. 75-6). A dimensão bíblico-teológica no encontro de catequese, portanto, destaca a Sagrada Escritura como livro que ilumina o encontro, fonte favorecedora da experiência humana com Deus, juntamente com o depósito da fé transmitido pelos apóstolos (Tradição) e que conservamos com zelo, dando respostas novas e mais elaboradas depois do surgimento dos desafios.

A catequese deve fazer dessa fonte o seu referencial maior e central, num diálogo permanente com a vida e a história. Não se trata, porém, de tirar da Sagrada Escritura (e também da Tradição) elementos fragmentários a serem inseridos na Catequese, mas de respeitar a natureza e o espírito da Revelação Bíblica. Falar da Escritura como fonte da catequese é acentuar que esta tem que ser impregnada pelo pensamento, pelo espírito e pelas atitudes bíblicas e evangélicas, mediante um contato frequente com os próprios textos sagrados; e é também recordar que “a catequese será tanto mais rica e eficaz quanto mais ela ler os textos com inteligência e o coração da Igreja, e quanto mais ela se inspirar na reflexão e na vida duas vezes milenária da mesma Igreja” (JOÃO PAULO II, 1983, p.34).

O encontro com os Discípulos de Emaús destaca a explicação das Escrituras como fundante para a compreensão da fé: daí renasce a esperança e o desejo de testemunhar o encontro com o ressuscitado (CNBB, 2010b, p.101). Depois de conhecer a realidade, o passo seguinte é despertar perguntas e abrir novos horizontes à luz da Palavra. A Escritura no encontro de catequese deve ser instrumento que provoque a mudança de mentalidade e atitude dos interlocutores: trata-se de um encontro vital com o Senhor, para aprender com ele, ouvir, compreender e aderir aos ensinamentos (CNBB, 2009, p.30-2).

É indispensável a Sagrada Escritura,  sinal sacramental da Palavra de Deus, para um encontro vivo com Jesus Cristo, caminho de autêntica conversão e renovada comunhão de solidariedade. O encontro com o Senhor, com sua história íntima, inicia o processo de discipulado e tal encontro só é possível quando os interlocutores, mediados pelo trabalho evangelizador, escutam, celebram e encarnam a Palavra de Deus, amadurecendo a experiência religiosa.

A Bíblia deve alimentar a identidade cristã e enriquecer a prática de oração. É importante que sua utilização no encontro de catequese esteja a serviço da educação para uma fé engajada e responsável, fecunda e enriquecedora. Portanto, todo roteiro catequético deverá ser iluminado pela Bíblia e ainda incluir estímulos e orientações com vista a uma leitura bíblica, segundo um plano adequado ao leitor (CNBB, 2006, p.77).

A Sagrada Escritura, da qual emerge elementos teológicos e também doutrinais, proporciona ao encontro o seu conteúdo: o sentido para vida, por meio da configuração a Jesus e o desígnio de salvação, que pode ser atualizado no presente, por meio de uma hermenêutica amadurecida dos teólogos e do próprio Magistério, projetando o catequizando no futuro, segundo as promessas de Deus.

A Bíblia introduz a catequese no curso da economia da salvação e faz com que aquele que aprofunda a fé, sinta-se povo de Deus, tome gosto pela leitura orante da Bíblia, pelos círculos bíblicos, pelos encontros das pequenas comunidades, elaborando na realidade a transformação que a Palavra causa. Definitivamente, a catequese não pode não ser bíblica, porque lhe faltaria o essencial da experiência de fé do povo com o Deus que preenche o humano no mais íntimo de seu ser, dando-lhe sentido para esta existência (DICIONÁRIO DE CATEQUÉTICA, 2004, p.524-5).

Uma das finalidades da catequese é introduzir uma justa compreensão da Bíblia e sua leitura frutuosa e fecunda, que permita descobrir as verdades divinas que nela contém e que suscite respostas a mensagem amorosa de Deus dirigida a humanidade: para que a dimensão bíblico-teológica seja saudável, vale alertar para não cair no erro de leituras da Sagrada Escritura de forma fundamentalista, literalista, esotérica, intimista, apologética, reducionista, materialista ou espiritualista.

Na catequese, o aprendizado do uso da Sagrada Escritura deve ser acentuado como encontro com a Palavra de Deus encarnada, educando-se para um encontro vital com a Palavra, tendo-a como alimento saboroso em vista da maturidade em Cristo. Vale ainda uma dica: o texto bíblico escolhido para iluminar o tema do encontro deve ser a fonte para o diálogo entre catequista e catequizandos, para escolha dos símbolos e das músicas, também das orações para o momento celebrativo e do aprofundamento do conteúdo. 

A iniciação à leitura da Bíblia, na catequese, deve levar não só ao contato com a Palavra de Deus na leitura pessoal ou grupal da Escritura, mas principalmente à compreensão da Palavra proclamada e meditada na Liturgia, que também é fonte perene da catequese por ser memorial do mistério pascal, experiência celebrativa, comunicação, vivência do mistério, lembrança e realização, síntese de fé e interiorização da experiência religiosa. A catequese educa a fé que é celebrada na liturgia: uma alimenta a outra, são as duas faces do mesmo mistério.

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