Neste mês da Bíblia, momento de amadurecermos nosso discipulado nos alimentando com a Palavra, proponho a leitura do texto da vocação do discípulo! Discipulado é bem dinâmico, não estático, por isso precisamos sempre aquecer nosso coração sendo alimentados da Palavra, da Eucaristia, do compromisso a favor da vida!
DISCIPULADO:
APROFUNDAMENTO DO SEGUIMENTO A JESUS
A catequese em sua diaconia profética
engendra novas conversões, iluminando a vida e história humana com ensinamentos
para que a adesão à pessoa de Jesus seja plena e eficaz. A partir daí, do
seguimento a Jesus, surge uma nova modalidade evangelizadora: o discipulado, o
autêntico seguimento a Jesus que, por meio do compromisso, assume a identidade
de construtor do Reino de Deus.
A VOCAÇÃO DO
DISCÍPULO
Quando se reflete um itinerário, sabe-se que
haverá um ponto inicial, um processo didático de desenvolvimento para se chegar
a um objetivo, que não precisa ser necessariamente um ponto de chegada: a
finalidade do processo iniciático está na formação do discípulo, que não pode
ser considerada etapa final do ser cristão, mas também processo, tendo a
catequese e sua responsabilidade iniciática como um dos pontos essenciais.
Dentro de tal
processo, é preciso que fique evidente quem é o discípulo, qual a sua
fisionomia, o que ele deve priorizar como seguidor iniciado nos mistérios da
fé, enfim, quem é o protagonista de tanta reflexão e para quem a Igreja, em
especial a do Brasil, demanda tanto esforço preocupação, para que as
estratégias pensadas sejam acertadas quando se estrutura um processo que
objetive o nascer de um cristão consciente.
É
imprescindível, para início de análise, evitar o perigo de uma visão redutiva,
fragmentada e estática do discipulado e do próprio seguimento. O seguimento é
expressão cheia de conteúdo teológico e espiritual, é o processo de se por a
caminho em busca de aprofundar o chamado do Mestre, reconhecê-lo e construir a
identidade cristã, por sua vez, o discipulado, no coração da experiência
cristã, é paradigma e fonte absoluta de sentido para toda a existência.
Seguir Jesus e
ser discípulo são duas expressões usadas para designar a totalidade e a
abrangência da vida cristã, que se caracteriza pela relação do cristão com Deus
Pai, por meio de Jesus Cristo, na força do seu Espírito. Seguimento e
discipulado se entrelaçam reciprocamente e se fundem num horizonte comum, ambos
identificados pela ação de caminhar ou seguir, sendo, em geral, usados
indistintamente e como sinônimos (BOMBONATTO, 3ª Semana Brasileira de Catequese).
O seguimento é
sinônimo de conversão que abarca a vida inteira, submergida no mistério de
Jesus até chegar a identificação com ele, vivendo o processo de conversão
contínua, percorrendo o caminho com Cristo como nômade na fé. Os condicionamentos
particulares da existência humana incidem inevitavelmente na experiência cristã.
O seguimento
está situado na relação entre chamado e reposta. Seguimento expressa a relação
entre dois polos: Deus que chama, pronunciando uma Palavra, viva e eficaz, e a
pessoa que responde e compromete radicalmente sua existência. Deus chama
constantemente e de vários modos. A dinâmica da vida cristã implica no
reconhecimento de sua voz, nas diferentes expressões do seu chamado, em meio às
vicissitudes do cotidiano. É no seguimento e no processo de discipulado que vai
sendo construída a identidade cristã. Estabelece-se, assim, entre seguimento de
Jesus e a identidade cristã uma relação íntima e profunda. O seguimento se
transforma em caminho insubstituível para, simultaneamente, reconhecer Jesus e
construir a identidade cristã (BOMBONATTO, 3ª Semana Brasileira de Catequese).
Realizar o
seguimento é viver a tensão sempre presente entre reproduzir a estrutura
fundamental da vida de Jesus (encarnação, missão, cruz e ressurreição) e
atualizá-la, inspirado e animado pelo Espírito de acordo com as exigências do
contexto em que se vive.
O termo
discipulado designa a dinâmica processual e transformadora que abarca todas as
dimensões da realidade humana e todo o arco da existência, com o objetivo de
assimilar os ensinamentos de Jesus e tornar-se semelhante a ele, dando
continuidade seu projeto. O discipulado expressa a relação vital entre a pessoa
do discípulo e o mestre Jesus
O discípulo é
alguém escolhido a vincular-se a Jesus e experimenta esta vinculação por meio
de um grupo e na participação da vida de um povo, formando-se para assumir o
estilo e as motivações de Jesus. No seguimento, aprende a praticar as
bem-aventuranças, comprometendo-se com a acolhida aos excluídos e a libertação
dos oprimidos (DOCUMENTO DE APARECIDA, 2008, p.73-5).
A dinâmica do
processo catequético constitui-se em lugar privilegiado para levar a pessoa a
colocar-se na escola do Mestre Jesus e assimilar os seus ensinamentos,
compreendendo-se discípulo no decorrer da caminhada. Ser discípulo implica
renúncia a tudo o que se opõe ao projeto de Deus e diminui a pessoa. Ser
discípulo leva à proximidade e intimidade com Jesus Cristo e ao compromisso com
a comunidade e com a missão.
Ser discípulo é
entregar-se por toda a vida ao projeto do Reino, participando de seu poder para
realizar os prodígios que o constroem na história como antecipação da plenitude
escatológica. [...] não se segue Jesus somente por um tempo. A fidelidade está
no coração do seguimento, ainda que o discípulo esteja sempre exposto à
tentação de desdizer-se. Seguir Jesus é converter-se desde as raízes mais
profundas do próprio ser (DICIONÁRIO DE CATEQUÉTICA, p.1019).
O discipulado é a resposta do encontro com a
pessoa de Jesus, encontro que transforma e dá sentido à vida, favorecido no
querigma, aprofundado na catequese bíblico-litúrgica mistagógica e respondido
no chamado ao seguimento. A categoria do seguimento expressa a resposta ao
chamado de Jesus para segui-lo e o discipulado a relação com Jesus que acontece
ao longo do caminho de seguimento, uma relação de amizade e respeito mútuo.
A relação
mestre-discípulo não se limita ao fato de ensinar e aprender uma doutrina, mas
é uma comunhão vital com Jesus e se traduz na obediência incondicional à sua
palavra. Os seguidores de Jesus participam de sua vida, de suas atividades,
particularmente do anúncio do Reino. Mas, eles dependem plenamente de Jesus e
agem em comunhão com ele. Sem a relação-comunhão vital com Jesus, a pregação da
boa-nova do Reino perde toda sua força de transformação (BOMBONATTO, 3ª Semana
Brasileira de Catequese).
Jesus chamou
seus discípulos para estarem com ele e para que fazendo experiência de estar
com Ele, assimilassem os seus ensinamentos e vivessem como ele viveu: em
constante relação-comunhão com o Pai e a serviço do Reino. Encontrar-se com
Jesus hoje, implica entrar na intimidade com ele, converter-se e comprometer-se
com o projeto de vida do Pai, em todas as suas dimensões pessoal, comunitária,
social, política, econômica, ecumênica e ecológica. Jesus não cessa de chamar mais seguidores,
que por intermédio da Igreja, respondem conforme as propostas que a comunidade
oferece, por isso, a necessidade de na caminhada eclesial um itinerário a ser
amadurecido e acrescido de avaliações periódicas.
Na caminhada de
discipulado, algumas dimensões devem ser sempre revividas, convidando o
seguidor a reencantar-se sempre pelo Mestre, a aquecer o coração e motivar-se mesmo
diante das dificuldades. É relevante recordar também, que no discipulado, há
muitas maneiras de caminhar, portanto, não uma forma pré-estabelecida, mesmo
diante de um só caminho: Jesus. Algumas características vão solidificar a
caminhada, impulsionando o discípulo a configurar-se ao Mestre e manter-se
próximo:
Para ficar
verdadeiramente parecido com o Mestre, é necessário assumir a centralidade do
mandamento do amor, que ele quis chamar seu e novo: “Amai-vos uns aos outros
assim como eu vos amei” (Jo 15,12). Este amor, com a medida de Jesus, com total
dom de si, além de ser o diferencial de cada cristão, não pode deixar de ser a
característica de sua Igreja, comunidade discípula de Cristo [...] (DOCUMENTO
DE APARECIDA, 2008, p. 74).
Além do
configurar-se por meio da prática do amor, o discípulo haverá de permanecer com
o Mestre por meio de uma espiritualidade profunda, encarnada na realidade,
alimentada pela Sagrada Escritura e a vivência litúrgica dos sacramentos, além
do alimento eucarístico, da vida comunitária e da catequese permanente.
A partir da
educação para a Palavra, na catequese, o discípulo é aquele que acolhe a
Sagrada Escritura como luz para o seu caminho, como fonte primordial de
identidade. Assim, a proximidade e o relacionamento com a Bíblia colocam-no em
atitude de escuta, disponibilidade, humildade e compaixão: a Palavra favorece o
encontro existencial com a pessoa de Jesus, interpela a vida do caminhante e
ilumina seu agir nos diversos âmbitos da vida.
O Ano
Catequético Nacional, que tem como texto inspirador a perícope do Evangelho de Lucas 24,13-35, afirma ser a
Palavra aquela que aquece o coração, ilumina a realidade e dá novo estímulo ao
discípulo. Jesus abre horizontes à luz da Palavra, esclarece, muda a realidade
de medo e decepção, por isso, a Palavra deve ser um dos alimentos perenes na
vida do discípulo.
A tarefa
primordial do discípulo consiste em assumir o Reino de Deus como projeto
central do ministério de Jesus. Este compromisso cria nele uma identidade e uma
convicção que o levará a assumir o serviço ministerial da transformação da
realidade. Neste serviço, ele é chamado a celebrar, a alimentar-se do maná que
a liturgia oferece: depois da experiência mistagógica de ser iniciado nos
mistérios, agora o discípulo celebra, vivencia, participa, é embebido da
experiência pascal de Jesus para ser presença de Jesus onde estiver. “O
encontro com Cristo, continuamente aprofundado na intimidade eucarística,
suscita na Igreja e em cada cristão a urgência de testemunhar e evangelizar”.
Para a
maturidade do discipulado é preciso também uma catequese permanente, para se
perseverar na vida cristã e no conhecimento das verdades de fé, uma vida
sacramental assídua, com destaque a Eucaristia e a Reconciliação, e a prática
diária da oração, que possibilita o cultivo de uma relação de amizade com Jesus
(DOCUMENTO DE APARECIDA, 2008, p.118-9). O discípulo também haverá de
preocupar-se com a dignidade humana, tendo a opção preferencial pelos pobres
como uma de suas marcas essenciais.
A alegria, a
esperança, a criatividade no serviço pastoral, a ética cristã, a participação na
vida política, combatendo a corrupção, a defesa da vida e da justiça, da
fraternidade e da solidariedade, o cuidado com o meio ambiente, a participação
na cultura, nos meios de comunicação social, nos centros de decisão, são
compromissos do discípulo, que atento a realidade, defende os valores da fé e
compromete-se com a evangelização.
O dinamismo da
Palavra faz caminho no coração do discípulo, criando a comunidade como espaço
privilegiado para sua ação. O discípulo é sempre convocado a se expressar em sua
cultura e na cultura de seus interlocutores, sendo indispensável, portanto, o
conhecimento da realidade, a compreensão de suas relações benéficas e
destrutivas, os valores, linguagens e comportamentos, para encontrar sementes
ocultas do Reino que o discípulo deve fazer crescer.
Quando o
discipulado é autêntico, consequência da experiência com Jesus e também da
resposta ao seguimento, o discípulo busca amadurecer-se na caminhada e crescer
como pessoa e cristão, para tanto, encontra na missão o compromisso de
seguidor, pois já não pode calar-se diante dos desafios da realidade e de
inúmeras pessoas afastadas do amor do Pai. A missão é inseparável do
discipulado e uma resposta consciente ao chamado para construção do Reino da
vida.
** Roberto Bocalete
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