quinta-feira, 6 de setembro de 2012


Neste mês da Bíblia, momento de amadurecermos nosso discipulado nos alimentando com a Palavra, proponho a leitura do texto da vocação do discípulo! Discipulado é bem dinâmico, não estático, por isso precisamos sempre aquecer nosso coração sendo alimentados da Palavra, da Eucaristia, do compromisso a favor da vida!

DISCIPULADO: APROFUNDAMENTO DO SEGUIMENTO A JESUS

   A catequese em sua diaconia profética engendra novas conversões, iluminando a vida e história humana com ensinamentos para que a adesão à pessoa de Jesus seja plena e eficaz. A partir daí, do seguimento a Jesus, surge uma nova modalidade evangelizadora: o discipulado, o autêntico seguimento a Jesus que, por meio do compromisso, assume a identidade de construtor do Reino de Deus.

A VOCAÇÃO DO DISCÍPULO
   Quando se reflete um itinerário, sabe-se que haverá um ponto inicial, um processo didático de desenvolvimento para se chegar a um objetivo, que não precisa ser necessariamente um ponto de chegada: a finalidade do processo iniciático está na formação do discípulo, que não pode ser considerada etapa final do ser cristão, mas também processo, tendo a catequese e sua responsabilidade iniciática como um dos pontos essenciais.
Dentro de tal processo, é preciso que fique evidente quem é o discípulo, qual a sua fisionomia, o que ele deve priorizar como seguidor iniciado nos mistérios da fé, enfim, quem é o protagonista de tanta reflexão e para quem a Igreja, em especial a do Brasil, demanda tanto esforço preocupação, para que as estratégias pensadas sejam acertadas quando se estrutura um processo que objetive o nascer de um cristão consciente.
É imprescindível, para início de análise, evitar o perigo de uma visão redutiva, fragmentada e estática do discipulado e do próprio seguimento. O seguimento é expressão cheia de conteúdo teológico e espiritual, é o processo de se por a caminho em busca de aprofundar o chamado do Mestre, reconhecê-lo e construir a identidade cristã, por sua vez, o discipulado, no coração da experiência cristã, é paradigma e fonte absoluta de sentido para toda a existência.
Seguir Jesus e ser discípulo são duas expressões usadas para designar a totalidade e a abrangência da vida cristã, que se caracteriza pela relação do cristão com Deus Pai, por meio de Jesus Cristo, na força do seu Espírito. Seguimento e discipulado se entrelaçam reciprocamente e se fundem num horizonte comum, ambos identificados pela ação de caminhar ou seguir, sendo, em geral, usados indistintamente e como sinônimos (BOMBONATTO, 3ª Semana Brasileira de Catequese).
O seguimento é sinônimo de conversão que abarca a vida inteira, submergida no mistério de Jesus até chegar a identificação com ele, vivendo o processo de conversão contínua, percorrendo o caminho com Cristo como nômade na fé. Os condicionamentos particulares da existência humana incidem inevitavelmente na experiência cristã.
O seguimento está situado na relação entre chamado e reposta. Seguimento expressa a relação entre dois polos: Deus que chama, pronunciando uma Palavra, viva e eficaz, e a pessoa que responde e compromete radicalmente sua existência. Deus chama constantemente e de vários modos. A dinâmica da vida cristã implica no reconhecimento de sua voz, nas diferentes expressões do seu chamado, em meio às vicissitudes do cotidiano. É no seguimento e no processo de discipulado que vai sendo construída a identidade cristã. Estabelece-se, assim, entre seguimento de Jesus e a identidade cristã uma relação íntima e profunda. O seguimento se transforma em caminho insubstituível para, simultaneamente, reconhecer Jesus e construir a identidade cristã (BOMBONATTO, 3ª Semana Brasileira de Catequese).
Realizar o seguimento é viver a tensão sempre presente entre reproduzir a estrutura fundamental da vida de Jesus (encarnação, missão, cruz e ressurreição) e atualizá-la, inspirado e animado pelo Espírito de acordo com as exigências do contexto em que se vive.
O termo discipulado designa a dinâmica processual e transformadora que abarca todas as dimensões da realidade humana e todo o arco da existência, com o objetivo de assimilar os ensinamentos de Jesus e tornar-se semelhante a ele, dando continuidade seu projeto. O discipulado expressa a relação vital entre a pessoa do discípulo e o mestre Jesus
O discípulo é alguém escolhido a vincular-se a Jesus e experimenta esta vinculação por meio de um grupo e na participação da vida de um povo, formando-se para assumir o estilo e as motivações de Jesus. No seguimento, aprende a praticar as bem-aventuranças, comprometendo-se com a acolhida aos excluídos e a libertação dos oprimidos (DOCUMENTO DE APARECIDA, 2008, p.73-5).
A dinâmica do processo catequético constitui-se em lugar privilegiado para levar a pessoa a colocar-se na escola do Mestre Jesus e assimilar os seus ensinamentos, compreendendo-se discípulo no decorrer da caminhada. Ser discípulo implica renúncia a tudo o que se opõe ao projeto de Deus e diminui a pessoa. Ser discípulo leva à proximidade e intimidade com Jesus Cristo e ao compromisso com a comunidade e com a missão.
Ser discípulo é entregar-se por toda a vida ao projeto do Reino, participando de seu poder para realizar os prodígios que o constroem na história como antecipação da plenitude escatológica. [...] não se segue Jesus somente por um tempo. A fidelidade está no coração do seguimento, ainda que o discípulo esteja sempre exposto à tentação de desdizer-se. Seguir Jesus é converter-se desde as raízes mais profundas do próprio ser (DICIONÁRIO DE CATEQUÉTICA,  p.1019).
 O discipulado é a resposta do encontro com a pessoa de Jesus, encontro que transforma e dá sentido à vida, favorecido no querigma, aprofundado na catequese bíblico-litúrgica mistagógica e respondido no chamado ao seguimento. A categoria do seguimento expressa a resposta ao chamado de Jesus para segui-lo e o discipulado a relação com Jesus que acontece ao longo do caminho de seguimento, uma relação de amizade e respeito mútuo.
A relação mestre-discípulo não se limita ao fato de ensinar e aprender uma doutrina, mas é uma comunhão vital com Jesus e se traduz na obediência incondicional à sua palavra. Os seguidores de Jesus participam de sua vida, de suas atividades, particularmente do anúncio do Reino. Mas, eles dependem plenamente de Jesus e agem em comunhão com ele. Sem a relação-comunhão vital com Jesus, a pregação da boa-nova do Reino perde toda sua força de transformação (BOMBONATTO, 3ª Semana Brasileira de Catequese).
Jesus chamou seus discípulos para estarem com ele e para que fazendo experiência de estar com Ele, assimilassem os seus ensinamentos e vivessem como ele viveu: em constante relação-comunhão com o Pai e a serviço do Reino. Encontrar-se com Jesus hoje, implica entrar na intimidade com ele, converter-se e comprometer-se com o projeto de vida do Pai, em todas as suas dimensões pessoal, comunitária, social, política, econômica, ecumênica e ecológica.  Jesus não cessa de chamar mais seguidores, que por intermédio da Igreja, respondem conforme as propostas que a comunidade oferece, por isso, a necessidade de na caminhada eclesial um itinerário a ser amadurecido e acrescido de avaliações periódicas.
Na caminhada de discipulado, algumas dimensões devem ser sempre revividas, convidando o seguidor a reencantar-se sempre pelo Mestre, a aquecer o coração e motivar-se mesmo diante das dificuldades. É relevante recordar também, que no discipulado, há muitas maneiras de caminhar, portanto, não uma forma pré-estabelecida, mesmo diante de um só caminho: Jesus. Algumas características vão solidificar a caminhada, impulsionando o discípulo a configurar-se ao Mestre e manter-se próximo: 
Para ficar verdadeiramente parecido com o Mestre, é necessário assumir a centralidade do mandamento do amor, que ele quis chamar seu e novo: “Amai-vos uns aos outros assim como eu vos amei” (Jo 15,12). Este amor, com a medida de Jesus, com total dom de si, além de ser o diferencial de cada cristão, não pode deixar de ser a característica de sua Igreja, comunidade discípula de Cristo [...] (DOCUMENTO DE APARECIDA, 2008, p. 74).
Além do configurar-se por meio da prática do amor, o discípulo haverá de permanecer com o Mestre por meio de uma espiritualidade profunda, encarnada na realidade, alimentada pela Sagrada Escritura e a vivência litúrgica dos sacramentos, além do alimento eucarístico, da vida comunitária e da catequese permanente.
A partir da educação para a Palavra, na catequese, o discípulo é aquele que acolhe a Sagrada Escritura como luz para o seu caminho, como fonte primordial de identidade. Assim, a proximidade e o relacionamento com a Bíblia colocam-no em atitude de escuta, disponibilidade, humildade e compaixão: a Palavra favorece o encontro existencial com a pessoa de Jesus, interpela a vida do caminhante e ilumina seu agir nos diversos âmbitos da vida.
O Ano Catequético Nacional, que tem como texto inspirador a perícope  do Evangelho de Lucas 24,13-35, afirma ser a Palavra aquela que aquece o coração, ilumina a realidade e dá novo estímulo ao discípulo. Jesus abre horizontes à luz da Palavra, esclarece, muda a realidade de medo e decepção, por isso, a Palavra deve ser um dos alimentos perenes na vida do discípulo.
A tarefa primordial do discípulo consiste em assumir o Reino de Deus como projeto central do ministério de Jesus. Este compromisso cria nele uma identidade e uma convicção que o levará a assumir o serviço ministerial da transformação da realidade. Neste serviço, ele é chamado a celebrar, a alimentar-se do maná que a liturgia oferece: depois da experiência mistagógica de ser iniciado nos mistérios, agora o discípulo celebra, vivencia, participa, é embebido da experiência pascal de Jesus para ser presença de Jesus onde estiver. “O encontro com Cristo, continuamente aprofundado na intimidade eucarística, suscita na Igreja e em cada cristão a urgência de testemunhar e evangelizar”.
Para a maturidade do discipulado é preciso também uma catequese permanente, para se perseverar na vida cristã e no conhecimento das verdades de fé, uma vida sacramental assídua, com destaque a Eucaristia e a Reconciliação, e a prática diária da oração, que possibilita o cultivo de uma relação de amizade com Jesus (DOCUMENTO DE APARECIDA, 2008, p.118-9). O discípulo também haverá de preocupar-se com a dignidade humana, tendo a opção preferencial pelos pobres como uma de suas marcas essenciais.
A alegria, a esperança, a criatividade no serviço pastoral, a ética cristã, a participação na vida política, combatendo a corrupção, a defesa da vida e da justiça, da fraternidade e da solidariedade, o cuidado com o meio ambiente, a participação na cultura, nos meios de comunicação social, nos centros de decisão, são compromissos do discípulo, que atento a realidade, defende os valores da fé e compromete-se com a evangelização.
O dinamismo da Palavra faz caminho no coração do discípulo, criando a comunidade como espaço privilegiado para sua ação. O discípulo é sempre convocado a se expressar em sua cultura e na cultura de seus interlocutores, sendo indispensável, portanto, o conhecimento da realidade, a compreensão de suas relações benéficas e destrutivas, os valores, linguagens e comportamentos, para encontrar sementes ocultas do Reino que o discípulo deve fazer crescer.
Quando o discipulado é autêntico, consequência da experiência com Jesus e também da resposta ao seguimento, o discípulo busca amadurecer-se na caminhada e crescer como pessoa e cristão, para tanto, encontra na missão o compromisso de seguidor, pois já não pode calar-se diante dos desafios da realidade e de inúmeras pessoas afastadas do amor do Pai. A missão é inseparável do discipulado e uma resposta consciente ao chamado para construção do Reino da vida.



** Roberto Bocalete

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