sexta-feira, 21 de setembro de 2012

BÍBLIA E CATEQUESE
Leitura da Bíblia na catequese – Princípios pedagógicos


A Sagrada Escritura é uma das fontes da Catequese: nela bebemos do conteúdo e da mensagem para uma catequese que leve a experiência com a pessoa de Jesus. Por isso, alguns erros metodológicos, no que diz respeito a utilização da Bíblia na Catequese, precisam ser extintos de nossos encontros de catequese.

1.Como não ler a Bíblia na catequese?
- para conseguir disciplina (“eles só ficam quietos diante de histórias interessantes”)
- para passar o tempo (“quando não temos mais nada para fazer, lemos a Bíblia”)
- para domesticar os catequizandos (normas, proibições, ameaças)
- para mostrar o erro dos outros, para provar um argumento, para confirmar uma idéia (para disputa não vale!).

Sete “pecados capitais” da leitura bíblica

1.Leitura fundamentalista/ literalista
O que é: interpretar o texto sagrado ao pé da letra, sem levar em conta o que o texto diz por trás das palavras (contexto sócio-político-religioso-cultural-econômico-ideológico).
Sintomas: Fanatismo: defesa violenta das próprias ideias sobre a Bíblia; colocá-la acima dos principais valores humanos;  Intolerância com pessoas e grupos que interpretam de forma diferente os mesmos textos.
Como evitar:  Não impor aos outros suas próprias ideias;  Deixar-se questionar pelas ideias dos outros;  Levar em conta o contexto em que os livros surgiram;  Descobrir nos textos o que há de simbólico, poético etc. Não usar da Bíblia para justificar doutrinas pessoais.

2.Leitura apologética
O que é: usar textos para defender idéias ou doutrinas que não estão presentes neles. (Apologia quer dizer defesa).
Sintomas:  Tradicionalismo: colocar a religião, a doutrina e os ritos acima da busca da Verdade e da defesa da vida;  Medo de descobrir nos textos dados novos e diferentes que questionam parte da tradição recebida.
Como evitar:  Abrir-se ao novo trazido pela realidade e pela Palavra; Ler não apenas o trecho selecionado; descobrir livros e textos relacionados para ampliar a visão;  Não ser submisso à interpretação já pronta dos livros; ter espírito de busca e pesquisa; Ser fiel ao conteúdo dos trechos estudados.

3.Leitura intimista
O que é: interpretar os textos exclusivamente em benefício pessoal; ahcar-se único destinatário da Palavra.
Sintomas:  Emocionalismo: ler só com o coração, sem usar a cabeça como se a Bíblia fosse um livro de auto-ajuda;  Absolutizar textos agradáveis e negar textos mais duros.
Como evitar:  Abrir-se à dimensão social e comunitária da Bíblia;  Não ser sozinho, mas buscar as opiniões dos outros; Procurar conhecer amplamente a Bíblia, ler também os textos que parecem, à primeira vista, distantes de sua realidade pessoal;  Respeitar a autonomia do texto, out seja, reconhecer que ele foi escrito para outras pessoas numa situação histórica diferente da sua; Ler com o coração da Igreja.

4.Leitura esotérica
O que é: usar a Bíblia como se fosse um de fórmulas mágicas, de ciências ocultas. (Esotérico quer dizer oculto).
Sintomas:  Misticismo: crer que existem na Bíblia conhecimentos acessíveis somente a poucos privilegiados;
 Citar frases isoladas como se fossem palavras mágicas.  Usar a Bíblia para fazer previsões do futuro. Abrir a Bíblia aleatoriamente para ouvir o Deus tem a nos dizer.
Como evitar:  Não ler a Bíblia para adivinhar o futuro, ou como se os textos do Antigo Testamento fossem apenas anúncios do que aconteceria na época de Jesus;  Ser fiel ao conteúdo dos trechos estudados;  Não usar frases bíblicas isoladas, desvinculadas de seu contexto, como “abracadabra” em situações difíceis;  Ter humildade e reconhecer que toda interpretação da Palavra deve estar de acordo com o projeto de Jesus.

5. Leitura reducionista
O que é: reduzir os textos à dimensão religiosa; desprezar seus aspectos sociais, econômicos, políticos e culturais. 
Sintomas:  Devocionismo ao texto: achar tudo bonito, correto e piedoso, sem levar em conta a fraquezas do povo de Deus.  Conservadorismo religioso, falta de consciência social;  Falta de confiança no ser humano.
Como evitar:  Lembrar-se que Deus é Deus em todas as dimensões da Vida, não só na religião;  Valorizar as diversas dimensões da vida (política, economia, cultura, afetividade etc.) como queridas por Deus e importantes para a felicidade humana;  Interpretar os textos tendo em mente as várias dimensões da vida.

6.Leitura materialista
O que é: interpretar a Palavra de uma forma puramente científica; negar a inspiração divina dos textos.
Sintomas:  Intelectualismo: ler só com a cabeça, sem usar o coração, como se a Bíblia fosse um baú de fósseis;  Usar a Bíblia só para estudar as civilizações antigas, sem interesse nas civilizações humanas de hoje.
Como evitar:  Cultivar a leitura orante da Bíblia, em intimidade com Deus, invocando sempre (na oração ou no mero estudo) o Espírito Santo;  Buscar o bem comum e da defesa da vida em primeiro lugar, em obediência ao Deus da Vida;  Reconhecer com humildade a presença do Deus vivo na história e colocar-se a serviço Dele na luta pela justiça.
  
7.Leitura espiritualista
O que é: ler a Bíblia e a vida com os olhos voltados para a salvação pessoal, sem preocupação com a vida do irmão.
Sintomas:  Moralismo: dar mais importância ao bom comportamento que o bem do ser humano; colocar a lei acima da vida;  Desprezo pelo corpo humano e pela afetividade.
Como evitar:  Ler com os pés no chão, lembrando que não há alma sem corpo nem corpo sem alma;  Ler com a preocupação de melhorar o aqui-e-agora de toda a humanidade, por menos “santa” que ela seja.







** Baseado na Revista Ecoando. Adaptações: Roberto Bocalete

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