BÍBLIA E CATEQUESE
A catequese se
estrutura a partir de fontes. Cristo é a fonte por excelência (Revelação), a
Sagrada Escritura é a fonte inspirada e documento principal da fé, a Liturgia é
a fonte celebrativa do mistério cristão, a Tradição é a rica vivência dos
antepassados transmitida para as gerações, o Magistério é a hierarquia
constituída que interpreta e atualiza a Palavra de Deus e o Testemunho é a
vivência da mensagem evangélica em comunidade, um dos melhores recursos para a
catequese . As fontes são lugares e modos nos quais a Palavra de Deus se revela
e nos quais a catequese deve beber constantemente para uma identidade sempre
genuína .
É fundamental
destacar na catequese sua íntima relação com a Sagrada Escritura, que exorta,
ensina, refuta, corrigi, educa na justiça, a fim de que o homem de Deus seja
perfeito (cf. 2Tm 3,16), e a intrínseca ligação com a liturgia, fonte da
memória celebrada do mistério pascal de Cristo e expressão da vida da Igreja. A fonte na qual a
catequese busca a sua mensagem é a Sagrada Escritura, fruto da experiência de
fé de um povo com Deus: nela, a Igreja reconhece o testemunho autêntico da
Revelação divina, por isso, é o livro de catequese por excelência e os diversos
manuais ou textos catequéticos lhe servem de complementação . Por isso, uma
catequese que não assuma a leitura bíblica como característica fundamental, é
uma catequese que caminha para a esterilidade, que não alimenta na fé, no
diálogo profético, na comunhão e na identidade cristã.
Afirmar que a
Bíblia é fonte por excelência da catequese é reconhecer esta palavra escrita,
como Palavra de Deus e da Vida e também assumir a catequese como responsável
por “fazer ressoar” na vida dos catequizandos a Palavra revelada.
A relação
entre Bíblia e Catequese vai se dar no fato de terem nascido juntas, uma sendo
fonte da outra; na finalidade comum, que é
a manifestação escrita do ato vivo de Deus, que se comunica sem cessar as pessoas,
convidando-as a experiência de fé; na pedagogia comum, comunicação de
libertação das pessoas e valor da dignidade que elas têm no projeto do Reino; e
na mensagem comum: o mistério da vida, da história, do Deus sempre imprevisível
que intervém na história humana por meio dos homens e mulheres, dos mártires e
profetas . Os Bispos do Brasil afirmam
que a catequese deve fazer desta fonte o seu referencial maior e central, num
diálogo permanente com a vida e a história. Não se trata, porém, de tirar da
Sagrada Escritura (e da Tradição) elementos fragmentários a serem inseridos na
Catequese, mas de respeitar a natureza e o espírito da Revelação Bíblica. Falar
da Escritura como fonte de catequese é acentuar que esta tem que ser impregnada
pelo pensamento, pelo espírito e pelas atitudes bíblicas e evangélicas,
mediante um contato frequente com os próprios textos sagrados; e é também
recordar que “a catequese será tanto mais rica e eficaz quanto mais ela ler os
textos com inteligência e o coração da Igreja, e quanto mais ela se inspirar na
reflexão e na vida duas vezes milenária da mesma Igreja” .
A Bíblia deve
ajudar a formar comunidades de fé (a Palavra é fonte do conhecimento da vontade
de Deus), alimentar a identidade cristã e enriquecer a prática de oração. É
importante que sua utilização na catequese esteja a serviço da educação para
uma fé engajada e responsável, fecunda e enriquecedora. Portanto, todo roteiro
catequético deverá ser iluminado pela Bíblia e ainda incluir estímulos e
orientações com vista a uma leitura bíblica, segundo um plano adequado à idade
e às condições culturais do leitor .
A Sagrada
Escritura proporciona à catequese o seu conteúdo, o desígnio de salvação, que
pode ser atualizado no presente, por meio de uma hermenêutica amadurecida dos
teólogos e do próprio Magistério, projetando o catequizando no futuro, segundo
as promessas de Deus. A Bíblia introduz a catequese no curso da economia da
salvação e faz com que aquele que aprofunda a fé, sinta-se povo de Deus, tome
gosto pela leitura orante da Bíblia, pelos círculos bíblicos, pelos encontros
das pequenas comunidades, elaborando na realidade a transformação que a Palavra
causa. Definitivamente, a catequese não pode não ser bíblica, porque lhe
faltaria o essencial da experiência de fé do povo com o Deus que preenche o
humano no mais íntimo de seu ser, dando-lhe sentido para esta existência.
A iniciação à
leitura da Bíblia, na catequese, deve levar não só ao contato com a Palavra de
Deus na leitura pessoal ou grupal da Escritura, mas principalmente à
compreensão da Palavra proclamada e meditada na Liturgia, que também é fonte
perene da catequese por ser memorial do mistério pascal, experiência celebrativa,
comunicação, vivência do mistério, lembrança e realização, síntese de fé e
interiorização da experiência religiosa. A catequese educa a fé que é celebrada
na liturgia: uma alimenta a outra, são as duas faces do mesmo mistério.
** Roberto Bocalete, especialista em Pedagogia Catequética
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