terça-feira, 28 de agosto de 2012

BÍBLIA E CATEQUESE

A catequese se estrutura a partir de fontes. Cristo é a fonte por excelência (Revelação), a Sagrada Escritura é a fonte inspirada e documento principal da fé, a Liturgia é a fonte celebrativa do mistério cristão, a Tradição é a rica vivência dos antepassados transmitida para as gerações, o Magistério é a hierarquia constituída que interpreta e atualiza a Palavra de Deus e o Testemunho é a vivência da mensagem evangélica em comunidade, um dos melhores recursos para a catequese . As fontes são lugares e modos nos quais a Palavra de Deus se revela e nos quais a catequese deve beber constantemente para uma identidade sempre genuína .
É fundamental destacar na catequese sua íntima relação com a Sagrada Escritura, que exorta, ensina, refuta, corrigi, educa na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito (cf. 2Tm 3,16), e a intrínseca ligação com a liturgia, fonte da memória celebrada do mistério pascal de Cristo e expressão da vida da Igreja. A fonte na qual a catequese busca a sua mensagem é a Sagrada Escritura, fruto da experiência de fé de um povo com Deus: nela, a Igreja reconhece o testemunho autêntico da Revelação divina, por isso, é o livro de catequese por excelência e os diversos manuais ou textos catequéticos lhe servem de complementação . Por isso, uma catequese que não assuma a leitura bíblica como característica fundamental, é uma catequese que caminha para a esterilidade, que não alimenta na fé, no diálogo profético, na comunhão e na identidade cristã.
Afirmar que a Bíblia é fonte por excelência da catequese é reconhecer esta palavra escrita, como Palavra de Deus e da Vida e também assumir a catequese como responsável por “fazer ressoar” na vida dos catequizandos a Palavra revelada.
A relação entre Bíblia e Catequese vai se dar no fato de terem nascido juntas, uma sendo fonte da outra; na finalidade comum, que é  a manifestação escrita do ato vivo de Deus, que  se comunica sem cessar as pessoas, convidando-as a experiência de fé; na pedagogia comum, comunicação de libertação das pessoas e valor da dignidade que elas têm no projeto do Reino; e na mensagem comum: o mistério da vida, da história, do Deus sempre imprevisível que intervém na história humana por meio dos homens e mulheres, dos mártires e profetas .   Os Bispos do Brasil afirmam que a catequese deve fazer desta fonte o seu referencial maior e central, num diálogo permanente com a vida e a história. Não se trata, porém, de tirar da Sagrada Escritura (e da Tradição) elementos fragmentários a serem inseridos na Catequese, mas de respeitar a natureza e o espírito da Revelação Bíblica. Falar da Escritura como fonte de catequese é acentuar que esta tem que ser impregnada pelo pensamento, pelo espírito e pelas atitudes bíblicas e evangélicas, mediante um contato frequente com os próprios textos sagrados; e é também recordar que “a catequese será tanto mais rica e eficaz quanto mais ela ler os textos com inteligência e o coração da Igreja, e quanto mais ela se inspirar na reflexão e na vida duas vezes milenária da mesma Igreja”  .
A Bíblia deve ajudar a formar comunidades de fé (a Palavra é fonte do conhecimento da vontade de Deus), alimentar a identidade cristã e enriquecer a prática de oração. É importante que sua utilização na catequese esteja a serviço da educação para uma fé engajada e responsável, fecunda e enriquecedora. Portanto, todo roteiro catequético deverá ser iluminado pela Bíblia e ainda incluir estímulos e orientações com vista a uma leitura bíblica, segundo um plano adequado à idade e às condições culturais do leitor .
A Sagrada Escritura proporciona à catequese o seu conteúdo, o desígnio de salvação, que pode ser atualizado no presente, por meio de uma hermenêutica amadurecida dos teólogos e do próprio Magistério, projetando o catequizando no futuro, segundo as promessas de Deus. A Bíblia introduz a catequese no curso da economia da salvação e faz com que aquele que aprofunda a fé, sinta-se povo de Deus, tome gosto pela leitura orante da Bíblia, pelos círculos bíblicos, pelos encontros das pequenas comunidades, elaborando na realidade a transformação que a Palavra causa. Definitivamente, a catequese não pode não ser bíblica, porque lhe faltaria o essencial da experiência de fé do povo com o Deus que preenche o humano no mais íntimo de seu ser, dando-lhe sentido para esta existência.
A iniciação à leitura da Bíblia, na catequese, deve levar não só ao contato com a Palavra de Deus na leitura pessoal ou grupal da Escritura, mas principalmente à compreensão da Palavra proclamada e meditada na Liturgia, que também é fonte perene da catequese por ser memorial do mistério pascal, experiência celebrativa, comunicação, vivência do mistério, lembrança e realização, síntese de fé e interiorização da experiência religiosa. A catequese educa a fé que é celebrada na liturgia: uma alimenta a outra, são as duas faces do mesmo mistério.


** Roberto Bocalete, especialista em Pedagogia Catequética

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