LITURGIA E
CATEQUESE
A catequese se
estrutura a partir de fontes. Cristo é a fonte por excelência (Revelação), a
Sagrada Escritura é a fonte inspirada e documento principal da fé, a Liturgia é
a fonte celebrativa do mistério cristão, a Tradição é a rica vivência dos
antepassados transmitida para as gerações, o Magistério é a hierarquia
constituída que interpreta e atualiza a Palavra de Deus e o Testemunho é a
vivência da mensagem evangélica em comunidade, um dos melhores recursos para a
catequese . As fontes são lugares e modos nos quais a Palavra de Deus se revela
e nos quais a catequese deve beber constantemente para uma identidade sempre
genuína .
O DNC destaca
que essas duas fontes regam a catequese: Bíblia e Liturgia. A fonte na qual a
catequese busca a sua mensagem é a Sagrada Escritura, fruto da experiência de
fé de um povo com Deus: nela, a Igreja reconhece o testemunho autêntico da
Revelação divina, por isso, é o livro de catequese por excelência e os diversos
manuais ou textos catequéticos lhe servem de complementação . Por isso, uma
catequese que não assuma a leitura bíblica como característica fundamental, é
uma catequese que caminha para a esterilidade, que não alimenta na fé, no
diálogo profético, na comunhão e na identidade cristã.
A catequese
como educação da fé e a liturgia como celebração da fé são duas funções da
única missão evangelizadora da Igreja. A catequese, sem a liturgia, esvazia-se
da dimensão do mistério e reduz-se a um amontoado de ensinamentos e teorias
sobre Deus e a Igreja, mas sem significado profundo para vida. A liturgia, por
outro lado, sem a catequese, é carente do sentido e conteúdo da fé, que se
consolida no aprofundamento da mensagem cristã, missão assumida pela catequese
.
A liturgia é
fonte inesgotável da catequese, não só pela riqueza de seu conteúdo, mas pela
sua natureza de síntese e cume da vida cristã: enquanto celebração ela é ao
mesmo tempo anúncio e vivência dos mistérios salvíficos; contém, em forma
expressiva e unitária, a globalidade da mensagem cristã. Por isso ela é considerada
lugar privilegiado de educação da fé e os autênticos itinerários catequéticos
são aqueles que incluem em seu processo o momento celebrativo como componente
essencial da experiência religiosa cristã .
A liturgia tem
um enorme potencial evangelizador e catequético, ou antes, que ela própria é,
sem perder a sua especificidade, uma forma excelente de evangelização e de
catequese. Mas não de forma automática e quase mágica: para se tornar catequese
em ação, a liturgia tem de percorrer um longo caminho de renovação, de
avaliação de suas linguagens simbólicas, de inculturação, seguindo as leis de
toda comunicação da fé válida e correta .
A ação
litúrgica faz memória, isto é, torna presente, traz para o momento atual os
acontecimentos da salvação. A liturgia é a celebração dos mistérios de Deus. Os
“mistérios” são os projetos de Deus que se realizam na pessoa de Jesus Cristo:
a redenção e a salvação de todos os homens, a instauração do Reino. O mistério
central da vida de Cristo é o mistério pascal. A liturgia celebra a páscoa do
Senhor e a páscoa de seu povo. Celebra os sofrimentos, a morte, e a vitória de
Cristo sobre a morte, mas celebra também os sofrimentos, as dores, derrotas, e
vitórias do povo, a esperança da concretização do Reino na vida humana .
A liturgia, com
seu conjunto de sinais, palavras, ritos, símbolos, em seus diversos
significados, requer da catequese uma iniciação gradativa e perseverante para
ser compreendida e vivenciada. Os sinais litúrgicos são ao mesmo tempo anúncio,
lembrança, promessa, pedido e realização, mas só por meio da palavra
evangelizadora e catequética esses seus significados tornam-se claros. É tarefa
fundamental da catequese iniciar eficazmente os catequizandos nos sinais
litúrgicos e através deles introduzi-los no mistério pascal .
Aquilo que não
é celebrado não pode ser apreendido em sua profundidade e em seu significado
para a vida. A catequese leva em conta essa expressão de fé pelo rito para
desenvolver também uma verdadeira educação para a ritualidade e o simbolismo. Há,
portanto, uma sintonia entre a fé, a celebração e a vida. O mistério de Cristo
anunciado na catequese, isto é, o saber catequético, é assimilado e saboreado,
através da ritualidade, do simbolismo, do ritmo que a liturgia imprime, pelo
seu caráter mistagógico. Portanto, o saber, é capaz de oferecer os elementos
necessários para a compreensão daquilo que é celebrado e dar-lhe sentido e
significado .
A catequese tem
uma tarefa de iniciação na vida litúrgica em três dimensões principais: no
plano da celebração, a catequese inicia nos diversos ritos e formas de
expressão; no plano do mistério, a catequese favorece e ilustra experiências
bíblicas e eclesiais significadas pelos ritos; no plano da existência, a
catequese deve educar na acolhida, no agradecimento, na comunhão, na escuta .
O processo da
formação litúrgica na catequese possui diversos elementos, importantes para a
compreensão intrínseca ligação entre ambas: centralidade do Mistério Pascal de
Cristo na vida dos cristãos e em todas as celebrações; a compreensão dos ritos
e símbolos como reveladores da ação pascal de Cristo e experiências de encontro
com o Ressuscitado; a dimensão comunitária da liturgia com sua variedade de
ministérios; o exercício de preparar boas celebrações, realizá-las adequadamente
e proclamar claramente a Palavra; a participação dos cristãos na Eucaristia; a
espiritualidade pascal, ao longo do Ano Litúrgico; a espiritualidade
penitencial ou de conversão mediante a celebração do Sacramento da Conversão e
Reconciliação; o sentido dos sacramentos, especialmente a Eucaristia, como
sinais da comunhão com Deus, em Cristo, que marcam, com sua graça, momentos
fortes da vida e atualizam a salvação no nosso dia a dia; aprofundamento do
sentido da presença de Maria no mistério de Cristo e da Igreja;
redimensionamento bíblico-litúrgico da religiosidade popular .
Há de se cuidar
para que não haja somente preocupação com a transmissão de conteúdo na
catequese, mas também se enfatize a dimensão celebrativo-litúrgica que
corresponde ao saborear. A liturgia tem mais a ver com sabor, com a experiência
de sentir o toque de Deus na realidade humana, por isso, quanto menos
explicações e comentários, mais o canal de comunicação por meio da linguagem
simbólica, ritual, sonora, gestual será eficaz. É a experiência do mergulho da
inteireza do ser no mistério celebrado.
Para tanto, é
importante que a catequese tenha na celebração o ponto alto do encontro,
momento em que há interiorização, partilha e crescimento da fé a partir da
vida. A catequese litúrgico-celebrativa é carregada de momentos fortes de
oração (súplica, gratidão, intercessão e perdão), faz o confronto pessoal e
comunitário com a realidade, da fé com a vida e da vida com a fé. A catequese com celebrações vivenciais
favorece uma compreensão e uma experiência sempre rica da liturgia, conduz para
uma leitura dos gestos e sinais, e educa a participação ativa nas celebrações
dos sacramentos, para a contemplação e para o silêncio.
A catequese com
expressões celebrativas exige atenção para alguns detalhes: atenção ao corpo
como fonte de sentimento, emoção, experiência, alegria, lágrimas, afeto,
carinho, acolhida; a linguagem simbólica, sempre aberta ás diversas
interpretações, por isso jamais explicada; expressões, cores, posições, gestos,
caminhadas, músicas rituais, danças, olhares: tudo como forma de comunicar o
mistério e envolver o ser religioso no encontro com o Sublime.
Roberto Bocalete, especialista em Pedagogia Catequética PUC-GOIÁS
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