Olá amigos e amigas catequistas! Bíblia nas mãos - entraremos agora na segunda parte do livro do Gênesis, refletindo a história dos patriarcas: Abraão será o primeiro deles! Como pai da fé, acreditou sem exigências! Importante para pensarmos nesse ponto neste Ano da fé! Abraços...
LIVRO DO GÊNESIS (IV)
B) HISTÓRIA
DOS PATRIARCAS E HISTÓRIA DE JOSÉ (Gn 12-50)
Ao ler a história dos patriarcas deve-se estar atento ao
fato de que são historias de grupos diferentes, refletindo situações
diferentes, em épocas concretas e diversas. A feição contínua foi dada pelos
redatores finais a fim de elaborar uma história contínua para veicular uma
teologia.
1. O Ciclo
de Abraão: o dinamismo da fé (Gn 12, 1 – 25,18)
De acordo com Vogels (2000, p. 53-54), o texto de Abraão foi
escrito, transmitido e preservado como texto religioso, apesar das diversas
possibilidades de leitura do texto. No entanto, para leitura da fé, é preciso
levar em consideração a presença de uma outra cultura.
Com Abraão começa a história do povo de Deus e desde o
início, o patriarca aparece como homem cuja vida é determinada pela fé, que
consiste em deixar as seguranças (terras, parentes) e ir para uma terra que ele
não conhece. O que motiva esse movimento, conforme afirma Storniolo (1990,
p.37), é a promessa de se tornar um grande povo e possuir uma terra “onde corre
leite e mel” como propriedade; isso era o anseio do seminômade: terra para
todos os rebanhos e descendência para perpetuar o nome e continuar a existência
da família. “Todavia, no clima da fé, o horizonte é maior: tornar-se um povo
numeroso, portador da bênção e, portanto, de uma vida para toda a humanidade
(Gn 12, 1- 4,7)”.
A fé é dinamismo que provoca mudança: o processo de “sair e
ir em busca” não marca um simples movimento geográfico, mas transformação da
realidade; não qualquer mudança, mas aquela que satisfaz às aspirações
legitimas, tanto de Deus como do homem.
1.1. O Chamado (Gn
12, 1 – 4a)
De acordo com Balancin (2009, p. 48 – 59), este trecho é
considerado tradicionalmente texto javista, porém estudos recentes revelam que
é provavelmente pós-exílico, o que seria pertencente à tradição sacerdotal. A
finalidade deste trecho, portanto, é converter Abraão no antepassado dos
exilados que retornam da Babilônia para Israel e legitimar as suas
prerrogativas diante daqueles que permanecerem no país. O povo de Israel, ao
longo da sua história, sempre buscou em suas tradições novas razoes para viver
e esperar.
O chamado de Abraão é marcado por expressões interessantes
para serem analisadas: “saia da tua terra”, “vá para terra que eu lhe
mostrarei”, “farei de você um grande povo, e o abençoarei”, “abençoarei todos
os que abençoarem você”. A saída, a descendência, a terra ; no processo
vocacional do povo de Deus é imprescindível a saída (verbo no imperativo), o
desinstalar-se, e sem tal ação, não se constrói uma grande nação e nem se tem
abertura para o mundo (famílias da terra). O que motiva a desinstalação é a
promessa da benção, da descendência e da terra.
A saída/desinstalação não é irracional, ela se dá em busca
de uma meta: “sê uma benção, que significa comunicação de vida, vigor, força,
fecundidade e paz. E herdar a benção significa entrar numa vida livre e
frutífera, sair da escravidão, do esforço vão e da peregrinação sem destino, do
temor da morte e superar a incapacidade que os povos têm de agir
solidariamente. Diante desse chamado de Abraão, que dá início à formação do
povo de Deus, o “programa geral” dos descendentes de Abraão é ser povo de Deus.
1.2. As delimitações (Gn 13, 14 – 17; 15, 1 – 5; 15 - 17)
Algumas delimitações podem ser notadas no processo da
promessa: e a descendência? E a terra com largueza? A primeira delimitação
encontrada pode ser notada na separação de Abraão e Ló: seriam unidos e se
separam, delimitação que provoca conflitos, já que posteriormente se tornarão
inimigos.
A segunda delimitação se refere ao território: “eu te darei
toda a terra que está vendo”, só que Abraão foi somente até Hebron, onde se
estabeleceu, a posse da terra restrita a uma campo. A outra delimitação, esta
bem grande, poda na raiz qualquer possibilidade da promessa se realizar – a
descendência impossível: Gn 13,15 “tornarei a sua descendência como a poeira da
terra: quem puder contar os grãos de poeira da terra poderá contar seus
descendentes” e Gn 15,2 “Continuo sem filhos...”, nota-se aqui uma atitude
pessimista sobre a concretude da promessa divina.
Conforme Storniolo (1990, p.38-39) , diante da
impossibilidade da descendência, em Gn 15-17, observa-se uma crise de Abraão,
que tenta criar um meio para que as aspirações profundas se realizem,
viabilizando, segundo a visão humana, aquilo que Deus prometeu. Abraão tem um
filho com Agar,a escrava de Sara, um subterfúgio legítimo naquele tempo para
que a família não ficasse sem descendência.
Todavia, o caminho não é facilitar as coisas. O que parece
impossível para a visão humana, não é impossível para Deus (18,14). A fé exige
entrega e confiança total, pois o mais intimo das aspirações humanas só pode
ser realizado pela graça de Deus. [...] Deus tem seus próprios caminhos.
As crises de fé mostram bem que a origem e a formação do
povo de Deus acontecem por meio da impossibilidade humana,tudo para que o homem
compreenda a solução divina que ocorre por pura graça do Deus da aliança.
1.3. A promessa se faz realidade (Gn 21, 1 – 7)
O nascimento de Isaac restabelece a concretude da promessa
da descendência. Embora esta passagem seja complexa, pode ser de redação final
sacerdotal e continuação de Gn 17,21, coloca assim o nascimento de Isaac dentro
do contexto da Aliança.
1.4. O futuro em jogo (Gn 22, 1 – 19)
O relato do não-sacrifício de Isaac, que a tradição judaica
chama de “O amarramento de Isaac”, talvez tenha sido uma narrativa independente
que pretendia mostrar a superação dos sacrifícios humanos dentro da religião
israelita, através do resgate de Isaac que é substituído por um cordeiro.
Em Gn 12,1, Deus
havia pedido a Abraão que fizesse uma saída-desintalação para a realização de
uma bela promessa; era a ele pedido que deixasse o seu passado; agora o
patriarca será colocado por Deus diante da escolha essencial: pede-lhe que
entregue em suas mãos o futuro. Abrão se sentia obediente a voz de Deus ao
deixar o seu passado, passara pelo paradoxo da esterilidade, e agora Abraão se
depara com um novo absurdo que lhe é incompreensível: “Tome seu filho, o seu
único filho Isaac, a quem você ama, vá a terra de Moriá e ofereça-o em
holocausto, sobre uma montanha que eu vou lhe mostrar”(22,2). A frase vai
acentuando a monstruosidade da ação e nos versículos seguintes, 3-8, a
preparação para o sacrifício é narrada de forma lenta e angustiante, fazendo o
leitor participar do mal-estar de Abraão, que estava tomando uma decisão que
contrariava tudo aquilo que o fez “sair’: a desinstalação parecia inútil e
seria a promessa irracional?
A narrativa (VV. 9-10) continua lenta: “chega ao lugar...
constrói um altar... arruma a lenha... amarra o filho... coloca-o no altar...
em cima da lenha... estende a mão... pega a faca...”. No versículo 11 entra em
cena um novo personagem: o anjo de Javé (na verdade uma maneira de expressar a
presença de Deus de forma indireta, com respeito a sua soberania). Abraão crê e
obedece a Deus e ao mostrar sua disposição em renunciar seu único filho, o
patriarca recebe-o de volta e uma união mais profunda começa, tanto entre pai e
filho como entre o Senhor e seu obediente seguidor.
Ao depositar o seu futuro nas mãos de Deus, obedecendo-o,
Abraão reentra no projeto divino, deixando de lado seu próprio projeto, e assim
ele não somente não perde o filho, mas recupera a fonte básica para que a
promessa se realize. Inicia-se novo ciclo: o de [Isaac e] Jacó. (BALANCIN,
2009, p.55)
Vogels (2000, p. 182) conclui este episódio destacando que o
ciclo de Abraão tem como centro promessas divinas, que lhe conferem uma
unidade. A promessa da descendência ocupa lugar especial, já que sem ela as
outras promessas não teriam significado. Além disso, a promessa de Deus também
está relacionada com a benção, de Deus para Abraão e deste para as nações.
**Roberto Bocalete
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