domingo, 28 de outubro de 2012

Olá amigos e amigas catequistas! Bíblia nas mãos - entraremos agora na segunda parte do livro do Gênesis, refletindo a história dos patriarcas: Abraão será o primeiro deles! Como pai da fé, acreditou sem exigências! Importante para pensarmos nesse ponto neste Ano da fé! Abraços...

LIVRO DO GÊNESIS (IV)

B) HISTÓRIA DOS PATRIARCAS E HISTÓRIA DE JOSÉ (Gn 12-50)
 Storniolo (1990, p.36-37) afirma que por trás das personagens individuais dos patriarcas há, na verdade, grupos inteiros; mais do que laços de sangue, o que une esses grupos é um objetivo comum: são grupos que se inscrevem nos grandes movimentos arameus em busca de uma terra fértil para se instalar. Ao contrário de outros grupos já fixados, estes grupos de seminômades em busca de terra professavam a fé num único Deus diferente, chamado Deus dos pais; a característica principal dessa divindade é o fato de não ficar localizada num templo, mas acompanhar o movimento dos grupos, como uma espécie de Deus itinerante.

Ao ler a história dos patriarcas deve-se estar atento ao fato de que são historias de grupos diferentes, refletindo situações diferentes, em épocas concretas e diversas. A feição contínua foi dada pelos redatores finais a fim de elaborar uma história contínua para veicular uma teologia.

1. O Ciclo de Abraão: o dinamismo da fé (Gn 12, 1 – 25,18)
De acordo com Vogels (2000, p. 53-54), o texto de Abraão foi escrito, transmitido e preservado como texto religioso, apesar das diversas possibilidades de leitura do texto. No entanto, para leitura da fé, é preciso levar em consideração a presença de uma outra cultura.

Com Abraão começa a história do povo de Deus e desde o início, o patriarca aparece como homem cuja vida é determinada pela fé, que consiste em deixar as seguranças (terras, parentes) e ir para uma terra que ele não conhece. O que motiva esse movimento, conforme afirma Storniolo (1990, p.37), é a promessa de se tornar um grande povo e possuir uma terra “onde corre leite e mel” como propriedade; isso era o anseio do seminômade: terra para todos os rebanhos e descendência para perpetuar o nome e continuar a existência da família. “Todavia, no clima da fé, o horizonte é maior: tornar-se um povo numeroso, portador da bênção e, portanto, de uma vida para toda a humanidade (Gn 12, 1- 4,7)”.

A fé é dinamismo que provoca mudança: o processo de “sair e ir em busca” não marca um simples movimento geográfico, mas transformação da realidade; não qualquer mudança, mas aquela que satisfaz às aspirações legitimas, tanto de Deus como do homem.

1.1.  O Chamado (Gn 12, 1 – 4a)
De acordo com Balancin (2009, p. 48 – 59), este trecho é considerado tradicionalmente texto javista, porém estudos recentes revelam que é provavelmente pós-exílico, o que seria pertencente à tradição sacerdotal. A finalidade deste trecho, portanto, é converter Abraão no antepassado dos exilados que retornam da Babilônia para Israel e legitimar as suas prerrogativas diante daqueles que permanecerem no país. O povo de Israel, ao longo da sua história, sempre buscou em suas tradições novas razoes para viver e esperar.

O chamado de Abraão é marcado por expressões interessantes para serem analisadas: “saia da tua terra”, “vá para terra que eu lhe mostrarei”, “farei de você um grande povo, e o abençoarei”, “abençoarei todos os que abençoarem você”. A saída, a descendência, a terra ; no processo vocacional do povo de Deus é imprescindível a saída (verbo no imperativo), o desinstalar-se, e sem tal ação, não se constrói uma grande nação e nem se tem abertura para o mundo (famílias da terra). O que motiva a desinstalação é a promessa da benção, da descendência e da terra.

A saída/desinstalação não é irracional, ela se dá em busca de uma meta: “sê uma benção, que significa comunicação de vida, vigor, força, fecundidade e paz. E herdar a benção significa entrar numa vida livre e frutífera, sair da escravidão, do esforço vão e da peregrinação sem destino, do temor da morte e superar a incapacidade que os povos têm de agir solidariamente. Diante desse chamado de Abraão, que dá início à formação do povo de Deus, o “programa geral” dos descendentes de Abraão é ser povo de Deus.

1.2. As delimitações (Gn 13, 14 – 17; 15, 1 – 5; 15 - 17)
Algumas delimitações podem ser notadas no processo da promessa: e a descendência? E a terra com largueza? A primeira delimitação encontrada pode ser notada na separação de Abraão e Ló: seriam unidos e se separam, delimitação que provoca conflitos, já que posteriormente se tornarão inimigos.

A segunda delimitação se refere ao território: “eu te darei toda a terra que está vendo”, só que Abraão foi somente até Hebron, onde se estabeleceu, a posse da terra restrita a uma campo. A outra delimitação, esta bem grande, poda na raiz qualquer possibilidade da promessa se realizar – a descendência impossível: Gn 13,15 “tornarei a sua descendência como a poeira da terra: quem puder contar os grãos de poeira da terra poderá contar seus descendentes” e Gn 15,2 “Continuo sem filhos...”, nota-se aqui uma atitude pessimista sobre a concretude da promessa divina.

Conforme Storniolo (1990, p.38-39) , diante da impossibilidade da descendência, em Gn 15-17, observa-se uma crise de Abraão, que tenta criar um meio para que as aspirações profundas se realizem, viabilizando, segundo a visão humana, aquilo que Deus prometeu. Abraão tem um filho com Agar,a escrava de Sara, um subterfúgio legítimo naquele tempo para que a família não ficasse sem descendência.

Todavia, o caminho não é facilitar as coisas. O que parece impossível para a visão humana, não é impossível para Deus (18,14). A fé exige entrega e confiança total, pois o mais intimo das aspirações humanas só pode ser realizado pela graça de Deus. [...] Deus tem seus próprios caminhos.

As crises de fé mostram bem que a origem e a formação do povo de Deus acontecem por meio da impossibilidade humana,tudo para que o homem compreenda a solução divina que ocorre por pura graça do Deus da aliança.

1.3. A promessa se faz realidade (Gn 21, 1 – 7)
O nascimento de Isaac restabelece a concretude da promessa da descendência. Embora esta passagem seja complexa, pode ser de redação final sacerdotal e continuação de Gn 17,21, coloca assim o nascimento de Isaac dentro do contexto da Aliança.

1.4. O futuro em jogo (Gn 22, 1 – 19)
O relato do não-sacrifício de Isaac, que a tradição judaica chama de “O amarramento de Isaac”, talvez tenha sido uma narrativa independente que pretendia mostrar a superação dos sacrifícios humanos dentro da religião israelita, através do resgate de Isaac que é substituído por um cordeiro.
 Em Gn 12,1, Deus havia pedido a Abraão que fizesse uma saída-desintalação para a realização de uma bela promessa; era a ele pedido que deixasse o seu passado; agora o patriarca será colocado por Deus diante da escolha essencial: pede-lhe que entregue em suas mãos o futuro. Abrão se sentia obediente a voz de Deus ao deixar o seu passado, passara pelo paradoxo da esterilidade, e agora Abraão se depara com um novo absurdo que lhe é incompreensível: “Tome seu filho, o seu único filho Isaac, a quem você ama, vá a terra de Moriá e ofereça-o em holocausto, sobre uma montanha que eu vou lhe mostrar”(22,2). A frase vai acentuando a monstruosidade da ação e nos versículos seguintes, 3-8, a preparação para o sacrifício é narrada de forma lenta e angustiante, fazendo o leitor participar do mal-estar de Abraão, que estava tomando uma decisão que contrariava tudo aquilo que o fez “sair’: a desinstalação parecia inútil e seria a promessa irracional?

A narrativa (VV. 9-10) continua lenta: “chega ao lugar... constrói um altar... arruma a lenha... amarra o filho... coloca-o no altar... em cima da lenha... estende a mão... pega a faca...”. No versículo 11 entra em cena um novo personagem: o anjo de Javé (na verdade uma maneira de expressar a presença de Deus de forma indireta, com respeito a sua soberania). Abraão crê e obedece a Deus e ao mostrar sua disposição em renunciar seu único filho, o patriarca recebe-o de volta e uma união mais profunda começa, tanto entre pai e filho como entre o Senhor e seu obediente seguidor.

Ao depositar o seu futuro nas mãos de Deus, obedecendo-o, Abraão reentra no projeto divino, deixando de lado seu próprio projeto, e assim ele não somente não perde o filho, mas recupera a fonte básica para que a promessa se realize. Inicia-se novo ciclo: o de [Isaac e] Jacó. (BALANCIN, 2009, p.55)

Vogels (2000, p. 182) conclui este episódio destacando que o ciclo de Abraão tem como centro promessas divinas, que lhe conferem uma unidade. A promessa da descendência ocupa lugar especial, já que sem ela as outras promessas não teriam significado. Além disso, a promessa de Deus também está relacionada com a benção, de Deus para Abraão e deste para as nações.

**Roberto Bocalete

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