Iniciamos o mês de outubro, favorável para refletirmos a dimensão missionária de cada cristão, além de saborearmos a abertura do Ano da fé e o Sínodo da Nova Evangelização. Para este mês, caminharemos com esses temas para reflexão, sendo o primeiro a missionariedade! Bom estudo catequistas!
DO DISCÍPULO EMERGE O MISSIONÁRIO
CATEQUESE EM ESTADO PERMANENTE DE MISSÃO
O discípulo é aquele que vivencia
a força envolvente e transformadora de caminhar com Jesus e alarga seu coração
na dinâmica do Reino. Não é o discípulo que escolhe o mestre, mas o Mestre que
convida o discípulo ao seguimento e de maneira intrínseca à missionariedade:
anunciar o Evangelho a todas as nações (cf. Lc 24,46-48) é compromisso
essencial do discipulado. Assim como Jesus faz seus discípulos participarem de
tal dimensão, hoje o convite se estende àqueles que fizeram a experiência do
encontro, de aprender caminhando, ouvindo e agindo com o Mestre: “Conhecer
Jesus Cristo pela fé é nossa alegria; segui-lo uma graça, e transmitir este
tesouro aos demais é uma tarefa que o Senhor nos confiou ao nos chamar e nos
escolher” (DOCUMENTO DE APARECIDA, p.17).
A missão não é tarefa opcional,
mas parte integrante da identidade cristã, é extensão testemunhal da própria
vocação. “A maior alegria do discípulo é colocar-se a caminho para anunciar a
boa nova do Evangelho, indo incansavelmente ao encontro dos outros,
especialmente dos pobres e sofredores [...]” (ANÚNCIO QUERIGMÁTICO E
EVANGELIZAÇÃO FUNDAMENTAL, CNBB).
Na Bíblia o termo missão é
central e está ligado a grande iniciativa salvífica de Deus em Jesus Cristo. A
missão de Jesus é envio que procede do Pai e se realiza sob a ação do Espírito
Santo; esta mesma missão é comunicada aos apóstolos: “Assim como o Pai me
enviou, eu envio vocês” (cf. Jo 20, 21), com o objetivo de evangelizar a todos
os povos. “Este mandato tem sua fonte na Trindade, começa a ser realidade desde
a encarnação e se desenvolve como redenção ou resgate-libertação da humanidade
inteira” (DICIONÁRIO DE CATEQUÉTICA, p.753). A Igreja, portanto, é por
sua natureza missionária : a missão não é algo acrescentado à comunidade
eclesial e ao discípulo, mas é razão de ser, sua própria natureza. A Igreja
existe para evangelizar, levar a boa notícia a todos os ambientes, transformar
a partir de dentro e renovar a própria humanidade; para isso, necessita contar
com os discípulos missionários.
A Igreja é chamada a anunciar a
salvação em Cristo e o Reino de Deus, mas só pode fazê-lo demonstrando sua
solidariedade e sua disposição de serviço para com toda a humanidade, sua
atitude de diálogo na busca da verdade e sua capacidade de gerar comunidades
onde já se vive de algum modo aquela comunhão com Deus e com os irmãos, que é
realização germinal do Reino de Deus.
O mandato missionário, dado aos
doze, é dado a toda a Igreja, que os doze e os demais discípulos constituem no
início. É a Igreja que vai em missão e cada missionário fará sua missão em
comunhão com a Igreja. De fato, Jesus, desde o início de sua vida pública,
mostra que seu projeto é reunir os filhos de Deus. Este povo terá como lei o
amor, o amor a Deus e ao próximo (HUMMES).
No presente contexto, atitudes e
procedimentos missionários bem esclarecidos são essenciais. Os discípulos
missionários precisam desenvolver generosamente uma mentalidade missionária
para o sucesso da evangelização: testemunho pessoal e comunitário; presença
pessoal e caritativa em meio às pessoas; fazer-se amigo dos interlocutores,
diálogo e respeito ao diferente; favorecer abertura às perguntas sobre temas
como o sofrimento, a morte, esperança, o mal; inserir elementos básicos no
anúncio: a misericórdia de Deus, a vocação das pessoas humana à vida eterna no
Reino de Deus, a lei do amor ao próximo, Jesus Cristo e salvação da humanidade
etc.
Outra forma de descrever a missão
de Cristo e da Igreja está no múnus profético como ministério da Palavra de
Deus, o múnus sacerdotal como ministério litúrgico ou do culto, o múnus real
(régio) como ministério do governo ou pastoreio do Povo do Deus.
O Povo de Deus participa da
função profética de Cristo pela difusão de seu testemunho vivo, sobretudo
através de uma vida de fé e caridade, e pelo oferecimento a Deus do sacrifício
de louvor, fruto de lábios que confessam o seu nome. À função profética
pertencem as várias modalidades de relação entre a comunidade dos fiéis e a
palavra de Deus: sua acolhida na fé, sua vivência no amor, seu testemunho
exterior, seu aprofundamento pela catequese e pela reflexão teológica, a
denúncia em seu nome, o anúncio pela pregação, sua meditação na oração pessoal,
sua celebração na liturgia comunitária. A pregação da palavra não foi confiada
somente a alguns, mas a todos. A palavra cria e reúne constantemente a Igreja,
despertando nela a fé e a obediência. Aqueles que foram 'chamados' pela palavra
devem não só testemunhá-la, mas pregá-la, segundo o carisma próprio dado a cada
um (MISSÃO E MINISTÉRIOS DOS CRISTÃOS LEIGOS E LEIGAS).
A participação no sacerdócio de
Cristo faz da Igreja um povo sacerdotal. Há, com efeito, um único e indivisível
sacerdócio: o de Jesus Cristo. Nele, todos os cristãos são chamados a oferecer
sacrifícios espirituais agradáveis a Deus, a elevar incessantemente a Deus, por
meio de Jesus Cristo, um sacrifício de louvor e a não se esquecer de fazer o
bem e de praticar a mútua ajuda comunitária, pois estes são os sacrifícios que
agradam a Deus. O sacerdócio comum é, pois, um sacerdócio comum a todos os
fiéis, isto é, a todos os batizados enquanto professam e vivem a fé. Neste
sentido, não é nenhum ministério, mas o culto cristão existencial, que consiste
na transformação da totalidade da vida por meio da caridade divina. É,
portanto, a própria vida cristã, feita de fé, de esperança e de caridade. É a
vivência, suscitada e sustentada pelo Espírito, da vocação universal à
santidade, colocando-se a serviço de Deus e de seu Reino, como prosseguimento,
na força do Espírito, da prática de Jesus.
A função real é a expressão mais
densa das múltiplas e complexas relações que se dão entre a Igreja e o Reino de
Deus: as pessoas, a sociedade, ao mundo inteiro; trabalhar pelo Reino significa
reconhecer e favorecer o dinamismo divino que está presente na história humana
e a transforma; construir o Reino quer dizer trabalhar para a libertação do
mal, sob todas as formas; em resumo, o Reino de Deus é a manifestação e a
atuação de seu desígnio de salvação, em toda a plenitude.
Por meio de diretrizes e do
tríplice múnus comum aos batizados, o discípulo missionário volta-se a
realidade para qual é chamado a tornar visível o amor misericordioso do Pai,
iluminando todos os contra-valores nela presentes com esperança e amor. Sua
vocação consiste em ser fermento novo, fermento de liberdade e de amor;
consiste em ser sal, que dá sabor às pequenas e valorosas coisas; consiste em
ser luz, para clarificar a verdade, por meio da consciência, e ser claridade
nas diversas trevas da ignorância e da corrupção, como também ser sinal de
justiça e solidariedade. A promoção da dignidade humana integral é compromisso
de quem é apaixonado por Jesus, fonte de força para renovar estruturas,
dinâmicas e corações.
Jesus garante a presença e o
auxílio aos discípulos, não os desamparando (cf. Mt 28,20): é o próprio
Espírito Santo que conduzirá ao caminho da verdade, animando a Igreja e seus
discípulos na grandiosa obra de anunciar a Boa nova, curar os enfermos,
consolar os tristes, libertar os cativos (cf. Lc 4,16-21). É grandiosa a obra
missionária: é compromisso e caminho árduo que exigirá do discípulo e
missionário um olhar sempre forte e firme em Jesus, caminho, verdade e vida.
“Alcançar a medida da vida nova
em Cristo, identificando-se profundamente com Ele e sua missão, é um caminho
longo que requer itinerários diversificados, respeitosos dos processos pessoais
e dos ritmos comunitários [...]” (DOCUMENTO DE APARECIDA, p. 132). O círculo vivo do processo de
evangelização não para, é dinâmico e aberto às interpelações da realidade. Ao
germinar a semente da iniciação cristã, permite-se fazer brotar outro semeador
para anunciar o Reino. Portanto, todos os esforços na formação do discípulo
missionário não serão em vão, são, pelo contrário, sementes de esperança para o
amadurecimento dos cristãos e tentativas de fertilizar o processo evangelizador
com estratégias de semeaduras acertadas.
**Roberto Bocalete
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