Ola catequistas! Continuando nosso estudo do livro das origens, o Gênesis, lembro a todos(as) a importância de estar com texto bíblico na mãos! Não sejam tentados(as) a ler somente o estudo dirigido! No texto, as referências que estão citadas, serão postadas no final do estudo para quem quiser aprofundar o Gênesis! Abraços
LIVRO DO GÊNESIS (III)
3. O pastor e o agricultor (Gn 4, 1 – 16) - Tradição Javista
Caim e Abel são filhos gerados da mulher e representam a
relação social segundo o projeto de Deus: fraternidade. Todavia, a
autossuficiência, a ambiguidade e o pecado introduz o veneno da rivalidade e da
competição que leva até a morte. Neste texto, narra-se a rivalidade do
agricultor (Caim) e do pastor (Abel), talvez um resquício da ideia antiga de
que Deus preferiria vítimas de animais a frutos da terra. O autor vai ainda
mais longe e especifica a diversidade de profissões, demonstrando o ser humano
participando da criação, dominando os animais e cultivando a terra.
O “calcanhar do ser humano está ferido” e a relação com o
outro continua rompida: a relação conflitiva das primeiras profissões
desencadeia na morte de Abel: o que prevalece é a concorrência, a competição, a
rivalidade, o progresso negativo. A violência do fratricídio chega a Deus, que
ouve o grito do oprimido. Por mais que o agressor queira disfarçar, sente
remorsos e anda sempre desconfiado; perdeu-se na arrogância. É a primeira
menção na Bíblia de pecado num contexto social.
4.O
dilúvio: caos, arca e arco-íris (Gn 6, 1 – 9-17) Tradição Javista e Sacerdotal
A narrativa do dilúvio é importante nestes primeiros onze
capítulos do Gn, porque, conforme Schwants (1989, p. 38-44), porque está no centro
da história da humanidade. Embora seja evidente que a narrativa do dilúvio
tenha sido composta de várias tradições diferentes, é melhor ater-se a
composição final realizada na época do Exílio pela tradição sacerdotal.
A narrativa, conforme Storniolo (1990, p. 28-29) inspira-se
nas inundações provocadas pelos grandes rios do Oriente Médio antigo; na sua
base existe certamente uma enchente catastrófica, que o autor a utiliza com um
significado simbólico de volta ao caos primitivo, certamente gerado pela corrupção
desenfreada e a autossuficiência, que o escritor vai explicar servindo-se de
uma lenda de gigantes lendários tidos como heróis que ao quererem ser deuses,
produz uma corrupção do projeto original de Deus.
O dilúvio é um julgamento que se processa dentro das grandes
catástrofes históricas, que são revelação de Deus aos homens que não se
converteram a seu projeto. Alguns justos sobrevivem: Noé é modelo desse homem
que sabe discernir os acontecimentos (6,14-21); é a partir dele que se constrói
um mundo novo (8, 8-14) e uma nova história aberta para Deus, para o homem e
para o mundo.
Conforme Balancin (2009, p. 41) o assunto principal desse
relato continua sendo a descendência, agora de Noé, que gera Sem, Cam e Jafé,
os três personagens que são ancestrais míticos de toda a raça humana conhecida.
A geração de Noé é toda a humanidade que pela complacência divina e pela
justiça de um, terá continuidade. Há uma espécie de paradoxo: a humanidade que
se corrompe é a mesma que será salva.
Outro elemento fundamental é a aliança (marcada pelo
arco-íris), que mostra a fidelidade contínua de Deus em querer preservar a
criação, mas ao mesmo tempo requerendo a fidelidade do seu parceiro, que é o
ser humano.
5. A
globalização e a torre (Gn 11, 1-9) Tradição Javista
De acordo com Anderson (1977, p. 73): A narrativa da construção de Babel/Babilônia (Gn 11, 1-9) é
de importância para uma teologia que considera, por um lado, a nossa comum
humanidade de criatura de Deus, por outro, o pluralismo diverso fixado pelo
Criador. Ela descreve o conflito entre a vontade humana e a vontade divina, um
conflito d forças centrípetas e centrifugas.
Esta narrativa foi reservada para o fim o conjunto bíblico
que propõe a sua versão do progresso humano: o homem chega a um estágio de desenvolvimento
bastante elevado, construindo cidades através de tecnologias, contudo, a
construção da cidade e da torre tem finalidade de fama e fim da dispersão. Os
homens constroem para se vangloriar e adquirir fama, ações que demonstram
sinais de que a vaidade e o desejo de grandeza tenham sido as grandes
motivadoras do progresso. Há também o medo de que a pluralidade e a diversidade
produzam o caos, fazendo com que os homens queiram manter controle sobre os
outros para se manterem protegido. Dominação? Sim e para isso é fundamental
preservar o pensamento único.
Ao escrever tal narrativa, é provável que o escritor esteja
se referindo a grande Babilônia e sua ziggurat, isto é, a pretensão do império
ou das grandes cidades em querer manter todos sob o seu domínio e seu modo de
pensar.
Nos versículos 5-9 há uma ironia: enquanto os homens se
esforçam para construir uma torre que suba até o céu, Javé desce para ver a
cidade, a torre, como se fosse um ridículo e microscópico formigueiro. O que
Javé constata é que o pensamento único se fundamenta não na necessidade de uma
comunicação global, mas de fazer dela um meio de domínio global. Deus desce e
confunde, ou seja, afirma que a diversidade prevalece em seu projeto: a unidade
só é benéfica se preservar a diversidade. A preservação da diversidade étnica
vai ajudar o redator a chegar até o final da descendência de Sem: Abraão.
6. Genealogias
(Gn 5, 1- 32 [Sacerdotal] / Gn 9, 18 – 27 [Javista]/ Gn 10, 1-32 [Sacerdotal]/
Gn 11, 10 – 32 [?])
Toda a pré-história de Israel, na primeira parte do Gênesis
é estruturada dentro do sistema de gerações, ligando a criação ao primeiro
homem, a Noé e a Abraão. Além de determinar as relações ente os povos, o
sistema genealógico tem a finalidade de colocar no tempo, remontando para trás
de geração em geração, toda historia humana. As gerações vão se esparramando
para esclarecer a origem dos arameus (22, 20-24), dos ismaelitas (25, 12-17),
dos edomitas (36).
No contexto do exílio, os exilados encontram disponíveis os
elementos ideológicos e formais para enfrentar o difícil projeto de uma busca
de nova escritura do seu passado nacional, que desse sentido e confiança na
refundação do próprio Israel. Assim, o sistema genealógico se tornou tema
fundamental e estruturante da base teológica do exílio e do pós-exílio: a
promessa da descendência ligada à criação pelo Deus único javé, a
reestruturação do povo judeu e a manutenção de sua identidade na historia da
humanidade.
É da humanidade resgatada por Javé que surgirá, da
descendência de Sem, o povo de Israel (11, 10-32). É dentro dessa história que
acontece a historia do povo de Deus.
**Roberto Bocalete
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